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Iori estava paralisada diante da porta. Não sabia o que dizer. Sentia como se tivesse levado um soco no estômago, estava sem reação quando Kento apareceu.
— Querida eu achei umas forminhas...- Nanami parou de falar ao ver sua ex mulher ali, em sua porta.
Sentiu o sangue gelar.
— O que você está fazendo aqui, Mei? - disse se aproximando de Iori, colocando-se entre elas.
— Oi, querido. Eu vim te ver. - a mulher disse abrindo mais uma vez aquele sorriso largo.
Nanami encarou-a, e em seguida virou-se para Iori que permanecia sem ação diante daquilo.
— Querida, por que não vai preparando a massa? Eu já vou, tudo bem? - o homem disse afagando seu rosto.
E assim Iori fez. Nanami fechou a porta atrás de si e ficou com a mulher do lado de fora da casa.
Iori estava em choque. O que era aquilo? Nanami era casado? Como ele se envolveu com ela estando comprometido? O que aquela mulher queria? Ele lhe devia uma satisfação.
A conversa de Nanami com a mulher fora breve, e em alguns minutos ele estava de volta. Iori estava encostada no balcão da cozinha, quando Kento se aproximou dela totalmente sem jeito.
— Querida... por favor. - se aproximou e carinhosamente amparou seu rosto com as mãos para que ela olhasse para ele. - me deixe explicar.
— Que merda é essa, Kento? Você é casado? - disse com irritação, se desvencilhando das mãos dele.
— Não... quer dizer, legalmente sim, mas não estamos juntos já faz um tempo e...- começou a se explicar em um tom desesperado enquanto Iori o encarava atentamente.
— É uma longa história, mas prometo que vou resolver...
— então me conte. Eu quero saber. - ela o interrompeu.
Nanami inspirou fundo, e começou a falar.
— Nos conhecemos ainda na faculdade, namoramos durante esse período e após a formatura decidimos nos casar. - Iori ouvia com atenção - Os dois primeiros anos foram bem, mas aí eu resolvi mudar de especialização. - limpou a garganta e prosseguiu. - ela não concordava com isso. Já havia dedicado dois anos como residente em clínica médica, mas não estava feliz. Queria ser cirurgião. Isso significava mais alguns anos de estudo, mais horas no hospital e a Mei queria ser mãe.
Iori ouvia atentamente cada palavra que saía de sua boca.
-Começamos a brigar, porque eu insisti naquilo que eu queria. Me tornei um cirurgião, e tudo ficou mais difícil porque eu nao saía do hospital. Brigávamos sempre que eu chegava tarde do trabalho, eu a deixava sozinha com frequência e sempre discutíamos por causa disso. Até que ela parou. Não reclamou mais. Pensei que finalmente ela tivesse me entendido, e que seria hora de tentar consertar as coisas.
Seu tom de voz foi ficando sombrio.
— um dia resolvi chegar mais cedo em casa para fazer uma surpresa, levá-la para jantar, não sei, queria acertar as coisas com ela. E aí....- ele fez uma pausa, encarando o chão como se não quisesse falar sobre aquilo - e aí quando eu cheguei, eu a encontrei no nosso quarto. Na nossa cama, com outro homem.
A expressão de Iori mudou. Toda a frieza daquele homem, a sua personalidade difícil, tudo fez sentido.
— Eu fui um péssimo marido pra ela.
— Não, Kento... - se aproximou fazendo um carinho em seu rosto - nada justifica uma traição.
Nanami passou as mãos pelos cabelos e prosseguiu.
— Eu sei mas... mas eu poderia ter sido melhor. Eu entrei com o pedido de divórcio rapidamente, mas ela se negou a assinar. Ela disse que eu merecia aquilo, porque neguei à ela uma família, atenção, amor. - aquelas lembranças pareciam dolorosas para ele mas precisava falar, precisava que ela soubesse de tudo. - já faz dois anos que tudo aconteceu, já tentei vários acordos, entrei com recursos mas ela se nega. Ela quer tomar alguns de meus bens, alguns são herança de familia como imóveis, terras. Ela disse que é o mínimo que eu devo à ela.
Iori estava passada com tudo aquilo. Não soube o que dizer, apenas abraçá-lo.
— Me perdoe, por favor, querida. Eu não quis omitir nada disso, eu contratei mais um advogado para tentar resolver as coisas o quanto antes, por favor, não me deixe por causa disso.
— Não vou deixar você. - Iori o manteve ali, junto de si para  confortá-lo.
— Prometo que tudo vai se resolver. - selou seus lábios aos dela finalmente sentindo um peso sair de suas costas.

Para fugirem um pouco de toda aquela tensão, Iori resolveu levar Nanami para encontrar a turma mais tarde naquela noite. Precisavam relaxar.
— Não precisa ir tão formal assim. É apenas um drink com os amigos, Kento. - A mulher encarava o homem que vestia uma de suas típicas roupas sociais com um blazer por cima.
— Mas não significa que eu tenha que ir de qualquer jeito - Nanami protestou.
— Mas também não precisa ir tão formal. Vamos lá, deixa eu ajudar.
Foi na direção do homem retirando seu paletó e abrindo os dois primeiros botões de sua camisa branca. Usava uma calça preta e sapatos sociais. O olhava de cima a baixo, analisando.
— Você tem um tênis?
— Ah, não aí já é demais. Não vai me fazer usar tênis. - Kento disse revirando os olhos.
— Tá, tá bom. Já tá melhor agora. Está lindo.
— E você esta maravilhosa como sempre, querida.
Iori usava um vestido preto justo com um decote em V e mangas compridas, os cabelos soltos como de costume.
Chegaram no barzinho conforme combinado com os seus amigos. Era a mesma turma de sempre. Megumi, Maki, Yuji e as duas mulheres se tornaram grandes amigos, sempre faziam algo juntos. Yuji era um rapaz muito agitado e falante, Megumi era totalmente seu oposto, introvertido e de poucas palavras. Já a jovem de cabelos verdes, uma das herdeiras da família Zenin era uma garota de respostas afiadas, bastante assertiva. Gostava daquela mistura.
Foram recebidos com olhares curiosos devido a presença de Nanami, ainda estranhando o mais novo casal.
— Boa noite, desculpem pelo atraso. Já pediram? - Iori disse se sentando com Nanami ao seu lado.
— Boa noite. - o loiro disse apenas.
— Não, estávamos esperando vocês. - A ruiva respondeu sorridente.
— Bom, a regra é clara- Yuji interrompeu - Quem chega atrasado, paga uma rodada.- falou cruzando os braços e encarando Nanami.
Kento pareceu confuso, mas no fim entendeu.
— Tudo bem. Peçam o que quiserem.
Fizeram seus pedidos e conversavam animadamente como sempre. Nanami tomava sua água com gás com algumas rodelas de limão, já que iria voltar dirigindo.
Continuava tenso por causa do evento com a sua ex mulher, balançava a perna inquieto por debaixo da mesa, quando sentiu a mão de Iori sobre ela, cessando o movimento.
— Relaxe um pouco, querido.
Aos poucos ele foi se distraindo e se enturmando com os demais. Passou a maior parte do tempo conversando com Megumi, e por incrível que pareça o rapaz tímido estava gostando de conversar com o loiro. Iori tomava seu daiquiri de morango,  dando um sorriso enquanto os observava se lembrando da fala de Maki, sobre os dois serem parecidos.

— Não! Você ta roubando! - Yuji protestou depois de perder mais uma rodada de dardos para Nanami.
— Não. O álcool está prejudicando sua mira. Apenas isso. - Kento disse rindo do rosado que se preparava para lançar novamente, e errando.
— Droga! - Yuji bufou, dando um gole em sua cerveja e vendo Nanami acertar o centro do alvo.
— Até que ele não é tão ruim assim. - Nobara disse se aproximando da amiga, que os observava de longe.
— Eu disse que ele tinha um lado bom. - a mulher sorria enquanto olhava para ele.
Kento era um homem lindo, mas o relacionamento dos dois o deixava ainda mais. Ele sorria com mais frequência, e digamos que estava um pouco menos ríspido com as pessoas.

Dirigia de volta para casa, não pôde negar que o passeio o fizera espairecer um pouco.
— E aí? O que achou? - Iori perguntou
— Digamos que eu preferiria ter passado a noite no meio das suas pernas. Mas gostei. - O loiro sorriu, mantendo o olhar atento no trânsito.
— Nanami! - Iori corou fazendo Kento rir- Eles também gostaram de você.
— Ah é? - não pôde conter um pequeno sorriso.
— Sim. Eu disse pra eles que você tinha um lado divertido.
Nanami sorriu, levando a mão da mulher aos lábios e depositando um beijo.

Mais tarde, naquela noite, Iori não conseguia dormir. Ainda pensava em toda aquela situação com a ex mulher de Kento e em  toda a história que ele contou para ela. Sentia medo. Não sabia explicar o por quê, mas dentro dela havia uma angústia crescendo mais e mais. Se aproximou do corpo de Nanami, que a puxou para perto ainda sonolento, e aos poucos Iori foi pegando no sono.
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Obrigada por ler ❤️

Anatomia - Dr Kento Nanami Onde histórias criam vida. Descubra agora