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Assim que entrou no automóvel, Iori foi tomada pelas notas amadeiradas do perfume do loiro, que mantinha as mãos firmes ao volante.
- O lugar não fica muito longe daqui, creio que em 20 minutos chegaremos lá.
Iori assentiu, observando Nanami que se concentrava no trânsito.
- E então, como foi seu dia? - perguntou puxando assunto.
- Agitado. Tive que passar na faculdade quando saí do plantão, acabei me enrolando com alguns papéis.
- Você é professor? - a mulher perguntou surpresa com a informação.
- Sim. Dou aulas de anatomia na faculdade de medicina.
- Poderíamos ter remarcado pra outro dia, eu não iria me importar. Você parece cansado.
- De forma alguma. Já estou acostumado com essa rotina.
Seguiram em silêncio até o lugar, com Iori alternando sua atenção entre as ruas bem iluminadas da cidade e as mãos firmes de Nanami que dirigia concentrado no trânsito agitado da noite da capital.

Estacionou em frente a um pequeno prédio de dois andares e descendo do carro, prontamente abriu a porta para a mulher que o acompanhava.
Se dirigiu à entrada do local onde foram recebidos por um homem baixinho, de barba por fazer e usando um avental preso a cintura que abriu um largo sorriso quando entraram.
- buonna notte, dottore Nanami!
- buonna notte, Guido, come estai?
Nanami cumprimentou a figura simpática que os recepcionava sorridente, e enquanto conversavam Iori observava o lugar. Era uma típica e rústica cantina italiana, uma varanda repleta de mesas de madeira cobertas pelas tradicionais toalhas quadriculadas. Diversas plantas decoravam o lugar, um instrumental suave tocava ao fundo, e o aroma de manjericão e molho de tomate que emanava da cozinha deixava o lugar acolhedor e confortável.
- e questa bellissima donna, è la sua ragazza? - Iori não falava italiano mas sabia que o homem se referia a ela.
- oh no, è solo un amico dell'ospedale .- Nanami respondeu em um italiano impecável. Não sabe dizer por que, mas achava aquilo extremamente atraente.
Guido acenou para que o seguissem, e Nanami tocou gentilmente as costas da mulher, guiando-a em direção ao lugar indicado. Subiram poucos degraus, e se depararam com uma mesa de madeira com uma toalha rendada. Diversos vasos de planta decoravam o chão do terraço aberto, cercado apenas por um muro baixo de pedra dando uma visão encantadora da lua cheia no céu.
Fazia calor, e uma brisa suave balançava as folhas das plantas, quando Kento puxou a cadeira para a moça se sentar. Guido entregou o cardápio, e se afastou.

- Que lugar encantador. Onde aprendeu a falar italiano tão bem?
- Tive que aprender para fazer uma viagem a uns anos atrás. - Nanami respondeu abrindo o cardápio.
- Pra falar a verdade, eu nunca comi uma boa comida italiana, então aceito sugestões.
- Você vai gostar. Este é um restaurante familiar. Guido administra o lugar junto de sua esposa e sua filha. São eles que cozinham inclusive.
- Interessante. Como conheceu aqui? - Iori olhava para o cardápio sem entender absolutamente nada que estava escrito.
- A filha deles sofreu um acidente a mais ou menos três anos, teve múltiplas fraturas e eu estava de plantão quando ela deu entrada. Salvei a vida dela e Guido ficou muito grato, e desde então nos tornamos amigos. - respondeu - por caso tem alergia a algum alimento?
- Não.
- Então já sei o que pedir.
O homem acenou para Guido que foi até eles de imediato. Anotou os pedidos e Nanami olhava para a carta de vinhos.
- Tinto ou branco?
- Tinto. - respondeu a mulher.
Guido serviu o antepasto que consistia em uma tigela de caponata e algumas fatias de pão cortado, juntamente com o vinho que o seu acompanhante escolhera. Guido serviu uma taça para a mulher, que degustou o chiantti clássico aprovando a escolha do homem.
Nanami escolheu para eles uma bistecca alla Fiorentina, acompanhada de salada verde e batatas ao murro.
- Por acaso você é vegana? Desculpe, esqueci de perguntar - o homem indagou, vendo a expressão no rosto de Iori.
- Não, não sou. É só que achei que você iria pelo óbvio, uma massa talvez.
Nanami sorriu.
- Você está anêmica. Uma boa proteína vai te fazer bem.
- Não estou anêmica. Apenas cansada, eu acho.
Deu um sorriso de canto, e provou o prato a sua frente. Saboreou a carne macia que desmanchava em sua boca, o vinho era maravilhoso e harmonizava perfeitamente. Terminava sua segunda taça, enquanto Nanami estava com a sua primeira ainda pela metade.
- Não gostou do vinho? - A mulher perguntou
- Vou tomar apenas essa taça já que vou dirigir. Não quero abusar da minha tolerância ao álcool.
A conversa fluía naturalmente. Nanami demonstrava um certo interesse pela vida de sua acompanhante e sua trajetória profissional.
- ... e então terminei minha residência, mesmo meu pai discordando um pouco da área que eu escolhi, segui meu coração e me dediquei ao máximo. Fui a melhor da minha turma.
- E por que seu pai discordou? - Nanami perguntou com certa curiosidade.
- Bem, eu venho de uma família de médicos. Meu pai é cardiologista e chefe de cirurgia do hospital metropolitano da minha cidade. - deu um gole na taça de vinho e prosseguiu. - quando me formei na faculdade de medicina com as maiores notas, ele meio que tentou decidir por mim a minha pós graduação. Quando contei sobre os planos de ir pra Geral, ele se frustrou. Disse que eu tinha capacidade de ir pra neuro ou cardio, mas ao invés disso iria desperdiçar meu talento mexendo com tripas e retirando apêndices.
Nanami arqueou uma sobrancelha, suspirando em seguida.
- Que babaca. - a moça o olhou confusa e o homem prontamente se desculpou. - Perdão Iori, não quis ofender. É que... pais controladores é algo que me tira um pouco do sério.
O homem realmente parecia ter se indiganado com aquilo.
- Mas e então, me fale sobre você. Não tem traços japoneses, de onde você é?
- Eu sou dinamarquês. Quer dizer, meus pais são. Vieram da Dinamarca pro Japão poucos meses antes de eu nascer.
A conversa era agradável, Iori se sentia confortável na presença do homem que aos poucos demonstrava ter um lado atencioso e gentil.
Na hora de pedir a sobremesa, o homem recusara, não era fã de doces. Iori ficou em dúvida se pedia um típico gelatto ou uma panna cotta, acabou optando pela segunda opção.
- Hmmm... - Iori suspirou ao provar o doce - acho que você devia experimentar, Kento. - a mulher disse passando a língua delicadamente sobre os lábios, gesto esse que o loiro observava com atenção. Nanami reparava na forma como Iori saboreava o doce, como colocava a colher na boca e a expressão de prazer que fazia a cada colherada. Desviou o olhar daquela cena, tomando um pouco da sua água.
- Não, obrigada. Não sou muito de comer doces.
- Experimenta, vai. - Iori insistiu, colocando um pouco da sobremesa e levando a pequena colher em direção a ele.
- É sério, estou satisfeito, Iori.
- Só prova, vai. Confia.
Após relutar um pouco, Kento cedeu, e a mulher levou a colher à sua boca, a mesma que usara a poucos instantes. Nanami provou o doce, realmente estava maravilhoso. Balançou a cabeça em concordância
- Realmente, é muito bom. - sorriu discretamente.
Após encerrarem, Nanami acenou para Guido pedindo a conta e em alguns instantes o baixinho retornou com a pequena pasta em mãos.
Iori fez um movimento para pegar sua bolsa enquanto Nanami abria a carteira.
- O que está fazendo? - o loiro a encarava
- Pagando a conta - a mulher respondeu
- Ficou maluca? Eu fiz o convite, é por minha conta. É o mínimo. - A mulher fez menção em discordar, mas o homem a interrompeu tocando gentilmente a ponta dos dedos em sua mão, que segurava a bolsa. - Só aceita, Iori.
Se deu por vencida, Kento pagou a conta e foram em direção a saída.
- Grazie Guido, alla prossima volta.
- Torni spesso, dottore Nanami. buonanotte, bella signora !- O baixinho sorriu acenando para Iori, que retribuiu a gentileza.
- Vamos. - Nanami a guiava novamente até o carro. Iori sentia como se uma corrente elétrica atravessasse seu corpo toda vez que as mãos de Nanami a tocavam, por mais rápido que fosse o contato de seus dígitos sob sua pele.
Entraram no carro e permaneceram em silêncio, até Kento quebrar o gelo.
- E então, gostou do lugar? - o loiro perguntou ansioso pela opinião da mulher.
- Sim, é fantástico. Muito bonito e a comida é maravilhosa. Com certeza voltarei mais vezes.
- Que bom. - respondeu apenas, voltando sua atenção ao trânsito.
O trajeto fora mais rápido na volta, e quando deram por si estavam novamente em frente ao prédio de Iori.
- Obrigada pelo jantar, foi incrível.
- Não há de que, Iori. - o loiro respondeu.
Se olharam por alguns segundos. Iori desafivelou o cinto, e antes que o loiro se levantasse para a abrir a porta, a mulher se adiantou.
- Não gostaria de entrar? Eu tenho uma vinho muito bom na minha adega. Não é tão bom quanto o que tomamos, mas também não é ruim.
Nanami ponderou por alguns instantes, olhou para seu relógio e depois para a mulher.
- Não sei Iori... como estou dirigindo ...
- Só uma taça. - a mulher o interrompeu.
- Tudo bem, só uma. - a mulher concordou e caminharam em direção ao elevador.

Iori abriu a porta e em seguida tirou os saltos que tanto apertavam seus pés. Acendeu a luz da sala e Nanami observava o local. A decoração minimalista combinava com a sua personalidade.
- Pode se sentar, fica a vontade. Vou pegar as taças. - Iori sinalizou para o homem se sentar no sofá a sua frente, e assim ele o fez.
Voltou com duas taças nas mãos, apoiando a garrafa entre os braços. Kento se levantou e prontamente tomou de sua mão, servindo as duas taças.
Conversavam agora sobre seus respectivos residentes, e Nanami tecia elogios a Yuji o que a surpreendeu, visto a rigidez com que o médico tratava o garoto.
- Ele é um excelente médico, mas sua hiperatividade e falta de foco atrapalham na hora de tomar algumas decisões. Estamos trabalhando nisso, ele é um bom garoto, sempre escuta o que eu digo.
- ou... ele tem medo de você. - O homem arqueou uma sobrancelha, confuso. Iori prosseguiu.
- Sim, ele te respeita, mas também teme você rejeitá-lo como fez com seus outros residentes.
- Então você já sabe da minha fama . - o homem deu um sorriso ladino.
- Então... já ouvi algumas histórias sobre o carrasco. - se olharam e sorriram. Kento odiava aquele apelido.
- E como está sendo pra você ser uma preceptora? - perguntou o loiro levando a taça aos lábios.
- Tudo certo. Nobara é esperta e quase não precisa de mim. É independente e eu a deixo assumir algumas cirurgias sozinha. Gostamos da companhia uma da outra.
- Sua companhia, de fato é muito agradável. - o loiro disse num impulso, olhando nos olhos da mulher a sua frente.
Não se sabe quem tomou a iniciativa, mas quando deram por si, seus rostos estavam próximos. Kento pôs fim ao espaço que havia entre eles selando os lábios de Iori com os seus, em um beijo calmo e gentil. Se separaram, olhando nos olhos um do outro. Foi a vez da mulher avançar novamente sobre os lábios de Nanami, dessa vez num beijo intenso. Nanami levou uma de suas mãos à nuca da mulher segurando firme a fim de aprofundar o beijo. Se separaram buscando o ar, Iori tomou um gole de sua taça e Nanami fez o mesmo, ambos sem saber como reagir diante do ocorrido.
- Bom, esta ficando tarde, melhor eu ir. - Nanami se colocou de pé, seguido por Iori.
- T-tudo bem, eu te acompanho.
A mulher o levou até a porta, se despedindo com um leve beijo em seu rosto.
- Mais uma vez, obrigada Kento.
O homem se se despediu, indo em direção ao elevador.

Respirou fundo e saiu do prédio da mulher indo em direção ao carro. Eles se beijaram. Ou ele a beijou? Ela retribuiu. Tentava colocar em ordem seus pensamentos enquanto dirigia de volta para casa.
Abriu a porta acendendo apenas a luz da sala, tirando os sapatos e abrindo os botões da camisa. Encheu um copo com água enquanto ainda sentia o gosto dos lábios de Iori. Começou a se lembrar da forma como a mulher saboreava a sobremesa, como passava a língua em seus lábios ... fechou os olhos e sentiu um arrepio na nuca ao imaginar aqueles mesmos lábios macios beijando seu corpo, como seria tê-los em volta do seu membro, enquanto agarrava firme seus longos cabelos...
Esfregou o rosto com as mãos a fim de espantar aquele pensamento impuro, e acalmar a leve ereção que se formara dentro de sua calça.
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Anatomia - Dr Kento Nanami Onde histórias criam vida. Descubra agora