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Os dias se passavam com Iori cada vez mais deprimida.
Por mais que tentasse, não conseguia controlar seus sentimentos. Chorava todas as noites em que dormia em casa, e sempre que o via, mesmo de longe, sentia um nó se formar em sua garganta. Ainda não entendia por quê Nanami fizera aquilo, por que a traiu daquela forma.
Todas as vezes em que ele pediu ajuda em cirurgia ela enviou Nobara em seu lugar, não queria vê-lo de jeito nenhum, muito menos estar perto dele. Mas numa noite, não pôde evitar. O estado do paciente se agravou e Iori não teve alternativas. Precisava encarar o doutor Kento Nanami. Ao receber o chamado, respirou fundo tentando controlar seus batimentos e suas mãos que tremiam.
— É pelo paciente. -  respirou fundo, calçou os sapatos e caminhou em direção ao bloco cirúrgico.

Nanami descontava toda a sua fúria e frustração nos dois pobres residentes que o auxiliavam. Estava nervoso, o paciente tinha muitas aderências na cavidade abdominal e ele simplesmente não conseguia chegar aonde queria. Estava tenso, Iori ignorou todas as vezes em que solicitou sua ajuda, mas agora ele realmente precisava dela. Foi quando a mulher entrou na sala.
— Me passe o caso por favor, Yuji.
Mantinha os olhos fixos no paciente, evitando contato visual com Nanami, ignorando completamente a presença dele no local. Nobara estava ao lado de Yuji e Nanami de frente para os dois, logo Iori se posicionou ao lado de Kento.
O rosado explicava a situação para ela, enquanto Kento ficava cada vez mais nervoso à medida que o rosado falava. Respirou fundo e o interrompeu.
— Doutora Utahime, eu sou o cirurgião titular. Peço que se dirija à mim, não ao meu residente.
Iori o ignorou, focando no paciente enquanto começava a cuidar das aderências sendo auxiliada pelos dois jovens. Ela tinha mãos ágeis e delicadas e aquilo sempre fora algo que Kento admirava.
O seu desprezo e o silêncio que ela lhe inflingia doía em Nanami de uma forma quase física, e durante longos quarenta minutos a sala permaneceu em absoluto silêncio, o único som que se ouvia era o barulho dos instrumentais e as vezes da voz baixa da mulher que pedia algo quando necessário. Yuji e Nobara se sentiam desconfortáveis e trocavam olhares diante daquela situação.
— Bem... acho que agora já conseguimos, não é Nanami? - o rosado disse calmamente, sentindo a energia carregada que emanava de seu preceptor, que apenas observava a mulher com os braços cruzados.
— Sim. - limpou a garganta.- Já pode ir, Doutora. Obrigada.
Novamente Iori não respondeu, apenas se afastou do campo, retirou as luvas e o capote cirúrgico e saiu da sala.
Puxava o ar com dificuldade, tentando conter os tremores e a náusea que sentia, quando Nobara surgiu ao seu lado, a tirando dali.

Iori mantinha os olhos abaixados e os pensamentos distantes, enquanto estavam todos sentados na cafeteria conversando. Sentia a cabeça latejar, e um embrulho no estômago seguido de uma dor.
— Pessoal eu não tô me sentindo bem, vou descansar um pouco no estar.
Disse se levantando, deu dois passos e subitamente sentiu tudo girar, as vistas escureceram e ela caiu no chão.
— Iori?? Caralho, ajuda aqui! - Yuji rapidamente a pegou nos braços enquanto Nobara pedia pra trazerem uma maca, Gojo viu o momento em que Iori desmaiou e correu para ajudar.
—Coloca ela na maca, vamos pra enfermaria!

Iori acordou se sentindo fraca. Havia um cateter em sua mão direita infundindo um soro diretamente em sua veia.
— Que bom que acordou- Iori olhou pro lado e encontrou satoru, que estava sentado numa das poltronas da enfermaria.
— O que aconteceu? Onde eu tô?
— Você desmaiou, Iori. Teve uma hipoglicemia*. - Satoru sentou ao lado dela na cama.
— Há quanto tempo você não come?
— Eu não sei... eu não lembro....
— Precisa se cuidar, gatinha. Você deu um susto na gente.
Iori suspirou pensando em tudo que estava passando, e seus olhos se encheram de lágrimas.
— Ei, não fica assim. - Satoru disse a envolvendo em seus braços - Você quer conversar?
Iori negou com a cabeça. Não queria mais tocar naquele assunto.
— Tudo bem - o albino disse. - mas assim que esse soro acabar, eu vou te levar pra comer alguma coisa.
— Eu não tô com fome...
— Isso são ordens médicas - Gojo a interrompeu- Você precisa se alimentar, meu bem.
Iori concordou, e assim que terminou de tomar o soro, com cuidado Gojo ajudou-lhe a se levantar e caminharam em direção à cafeteria.

Kento estava indo em direção aos elevadores quando viu a cena. Iori sendo abraçada por Satoru, que sorria enquanto segurava sua cintura. Aquilo foi como um soco no estômago. Nanami foi tomado pelo ciúme e pela raiva, mas naquele momento nada podia fazer. Mais do que nunca sentiu medo de perdê-la, e perder para ele. Esperaria os ânimos se acalmarem e tentaria novamente resolver as coisas.
Entrou no estar médico e respirou fundo. Precisava achar um jeito de fazer com que Iori o escutasse. Estava há dias sem dormir direito desde que tudo aconteceu. A forma como ela o desprezou ignorando-o totalmente durante aquela cirurgia não deixava dúvidas de que não seria fácil tê-la de volta. Olhou no relógio e faltava algumas horas para encerrar o plantão. Estava imerso em seus pensamentos quando Mei entrou. Ele rapidamente fechou a expressão.
— Bom dia.
Ele não respondeu.
— O que foi? Vai me tratar assim agora?
— Não tenho nada pra falar com você. Saia.
— Calma, eu só vim pegar um café.
A mulher foi em direção a máquina e se serviu, em seguida apoiou-se na mesa, ficando ao lado dele.
— Por que não pensa no que eu te falei naquele dia? Sobre consertar as coisas. - a mulher levou uma das mãos ao rosto de Nanami, que imediatamente segurou seu pulso para cessar o contato.
— Não tenho nada que pensar, Mei. Só quero o divórcio.
Naquele momento Iori entrou. Seus olhos foram diretamente de encontro na mão da mulher que tocava o rosto de Nanami, que segurava seu pulso. Respirou fundo e entrou, pegou rapidamente suas coisas e saiu.
Nanami passou as mãos pelo rosto imaginando o que Iori havia pensado ao ver aquilo.
— Só me deixe em paz. Não temos nada para conversar.
Se levantou e saiu.

*hipoglicemia: queda de glicose, quando há "pouco açúcar no sangue", que é a nossa  principal fonte de energia.

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Obrigada por ler ❤️

Anatomia - Dr Kento Nanami Onde histórias criam vida. Descubra agora