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O loiro estava encostado no balcão da cafeteria do hospital, concentrado no trablet em suas mãos lendo o prontuário de algum de seus pacientes quando Iori se aproximou para fazer seu pedido, tendo sua presença passado desapercebida  pelo homem.
Pediu seu costumeiro latte acompanhado de um brioche recheado de creme de avelã. Saboreava sua bomba calórica matinal quando Nanami se aproximou tomando sua atenção.
— Não acha que é muito açúcar para consumir de uma só vez às...- Fez uma pausa olhando no relógio em seu pulso- 07:35h da manhã?
Iori deu um gole em seu café, surpresa com a súbita aproximação do homem.
— Bom dia, Nanami.
O homem tomava apenas um café preto, provavelmente sem açúcar e olhava com ar de julgamento para a mulher que saboreava seu café da manhã.
— é costume, os doces daqui são maravilhosos.
— Provavelmente sentirá fome dentro de algumas horas, açúcar não dá saciedade. Deveria saber disso, Doutora.
— E você deveria comer algo pra acompanhar esse seu café preto sem graça, doutor.
Nanami deu um riso de canto. Era a primeira vez que Iori via o homem sorrir, mesmo que minimamente.
— Já tomei meu café da manhã em casa. Essa é apenas uma dose de cafeína pra começar o dia.
Terminou seu café colocando a xicara para o lado.
— como está sua agenda hoje? - o loiro perguntou para a mulher ao seu lado.
— Ah, apenas duas cirurgias na parte da tarde, nada de mais. Por que?
— tenho uma cirurgia daqui a pouco, e estou sozinho hoje. Yuji precisou tirar o dia de folga pra resolver algumas coisas pessoais. Gostaria de me auxiliar?
A mulher o fitou surpresa, por essa ela não esperava.
— Bom, posso fazer isso desde que não tente me expulsar como da outra vez.
O homem passou a mao pelos cabelos um pouco sem jeito, e percebendo isso Iori complementou
— tudo bem, eu auxilio pra você.
O homem endireitou a postura e limpou a garganta. Pegou o Tablet sobre o balcão.
— sala 7 em 20 minutos. Aguardo você.
A mulher não entendia a mudança de comportamento do loiro, mas enfim, caminhou em direção aos elevadores rumo bloco cirúrgico.

O homem estava na antessala cirúrgica preparando seu material. Usava o scrub azul marinho padrão do hospital e uma touca cirúrgica da mesma cor. Iori chegou em seguida, prendia os longos cabelos em um coque baixo, ajeitando sua touca cirúrgica com estampa de cupcakes.
Se escovava ao lado de nanami em silêncio. Pelo visto o nanami falante ficara lá fora, e ali diante dela estava o Doutor Kento Nanami, deus do trauma.
Reparava discretamente os músculos torneados dos braços do loiro, suas veias grossas e suas mãos grandes.
Vestiram seus capotes e luvas estéreis, entrando em campo cirúrgico.
A sala estava silenciosa. Degermaram o abdômen da mulher sedada à mesa, e então nanami estendeu o bisturi para Iori.
— pensei que fosse apenas te auxiliar. - Iori o encarou confusa.
— mudei de ideia. - respondeu o loiro.
— sendo assim, se importa se eu colocar música?
Nanami a encarou e mesmo relutante concordou. Suas cirurgias quase sempre eram emergências e música não combinava com o clima. Iori sinalizou para o circulante da sala pegar seu celular e conectar sua playlist às caixas de som acopladas dentro da sala.
West coast começou a tocar e a voz de sua cantora favorita logo tomou conta do ambiente.
— Então vamos começar. Lâmina 12.

Nanami observava as mãos ágeis e habilidosas de Iori enquanto cauterizava o local de  onde tirou parte do intestino da paciente à mesa. Murmurava baixinho a letra da canção que tocava naquele momento, Snow on the beach  quando seu estômago roncou alto. Nanami provocou
— eu avisei. Disse que sentiria fome.
Iori revirou os olhos e se viu obrigada a concordar com o homem.
— tudo bem, eu assumo que não sou um exemplo de boa alimentação. - disse levantando os braços em rendição- Sei cozinhar apenas o básico para nao morrer de fome, e como não tenho tempo prefiro comida congelada pra facilitar a rotina ou pedir delivery.
Nanami parecia chocado com aquela informação.
— então o mato que você come todos os dias no restaurante é o mais próximo que voce chega de uma alimentação saudável.
Iori parou, arqueado uma sobrancelha.
— anda me observando por acaso?
O homem baixou a cabeça e deu de ombros.
— o que eu quero dizer é que você precisa se alimentar de verdade. Deveria fazer alguns exames, você está pálida.
O homem tinha razão. Se sentia fraca, indisposta e sonolenta durante o dia. Talvez fizesse alguns exames de rotina.
— não tenho muito tempo para cozinhar e ainda não achei uma empregada para me ajudar com isso. E também não conheço muitos restaurantes com comida boa aqui em tokyo.
— conheço um bom restaurante italiano não muito longe do centro. Posso te levar pra conhecer um dia desses.
Iori parou incrédula. Era isso mesmo? Nanami a estava convidando pra sair? Seu coração batia forte.
— tudo bem. Podemos combinar.
Terminaram de fechar a paciente em silêncio. Saíram da sala de cirurgia e lavavam as mãos na entressala quando Nanami rompeu o silêncio.
— sobre o restaurante. Na quinta você está livre? Perguntou.
— S-sim, estou. - Iori gaguejou, ainda em choque pelo repentino convite.
Nanami pegou seu celular do bolso do pijama cirúrgico.
— Me passa seu contato, te mando uma mensagem pra pegar seu endereço e combinarmos a hora que irei te buscar.
— não precisa se incomodar, me diz onde é e eu te encontro lá.
— Nem pensar, isso é o mínimo. Alem disso, não quero que desmaie de fome enquanto dirige.
Iori revirou os olhos e por fim cedeu, anotando seu contato na agenda do loiro.

Acordou tarde na quinta feira, logo pegando o celular na mesa de cabeceira verificando se Nanami havia falado algo sobre o jantar. Desbloqueou a tela e rolava as notificações. Havia apenas algumas mensagens no grupo dos médicos, e uma mensagem de sua mãe. Era um print da sua foto postada no dia anterior, acompanhada de uma curta mensagem,

"Filha, você está bem? Parece ter perdido peso, não anda se alimentando direito?"

Ignorou as mensagens recebidas, responderia mais tarde. Nao recebera nenhuma mensagem de Nanami, isso a incomodava. Será que o loiro havia mudado de ideia e desistido?
Levantou da cama indo em direção ao banheiro para fazer sua higiene matinal, quando seu celular vibrou, viu a mensagem de um número desconhecido na tela e logo imaginou de quem era.

*Mensagem de Kento Nanami*
Bom dia, Iori. Por gentileza, Me informe seu endereço completo, te pego às 20h.

Iori rapidamente respondeu, enviando seu endereço. Se sentia estranhamente ansiosa para o "encontro" com Nanami. Abriu o guarda roupas a fim de escolher o look da noite. Experimentou alguns e no final se lembrou. Tinha o vestido ideal para a ocasião. Pegou o vestido que ainda estava com a etiqueta e suspirou.
— vai ficar perfeito. - disse sorrindo.

Tomou um banho demorado. Hidratou os cabelos, esfoliou e hidratou a pele. Optou por usar os cabelos soltos, então secou e escovou os longos fios castanhos.
Enquanto terminava sua maquiagem seu celular vibrou.
*mensagem de Kento Nanami*
Acabei de chegar.  Estou a sua espera.

20h em ponto. O homem era pontual. Se perfumou e deu uma última olhada no espelho. Ajeitou o longo vestido vermelho  que marcava sua fina cintura e seus quadris largos, herança de sua avó materna que era brasileira. pegou sua bolsa e saiu.
Ao sair do lado de fora de seu prédio, encontrou Nanami encostado em seu BMW 320i preto digitando em seu celular. Usava uma camisa social preta com os dois primeiros botões abertos que combinava com a calça social igualmente preta.
Limpou a garganta, chamando a atenção do homem.
— Boa noite, Kento.
Nanami levantou a cabeça e seus olhos foram levados em direção a bela mulher à sua frente.
O loiro a encarou por alguns instantes observando suas curvas bem marcadas e por fim saiu de seu transe.
— Boa noite, Iori. Vamos. - abriu a porta do carro para a mulher que logo entrou. Nanami deu a volta e sentou ao volante, dando partida.
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Obrigada por ler! ❤️

Anatomia - Dr Kento Nanami Onde histórias criam vida. Descubra agora