notas da 2ª autora: vá a merda, luana.
boa leitura a todos!
***
O mundo gira devagar nos últimos dias da gravidez. Não tem outro jeito de descrever. É como se a gravidade tivesse mais peso em cada hora, e os segundos resolvessem se alongar, só pra eu perceber a diferença entre o menino que eu fui e o homem que tô virando. Tudo começou rápido demais: aquela relação meio confusa com Giovanna, que explodiu em amor, virou uma casa, um anel no dedo dela, trinta pedidos de casamento por segundo e, agora, uma filha a caminho.
Se me contassem há um ano que minha vida ia estar assim, eu ia rir alto. Hoje, eu só suspiro, grato.
Ela tá linda. Tá mais que linda, na verdade. Tá mágica. Giovanna sempre teve esse jeito de brilhar sem perceber, mas agora, com a barriga grande e os movimentos um pouco mais lentos, ela parece carregar o universo inteiro dentro de si. E, quer saber? Carrega mesmo. Nossa Joana tá ali, crescendo, esperando o momento certo pra virar o centro de tudo. É impossível olhar pra Gio e não pensar que o amor é isso: o jeito que ela esfrega a barriga quando acha que ninguém tá olhando, ou como ela me sorri mesmo quando reclama que tá cansada, que não se gosta mesmo sendo louca por si.
Todo dia eu me apaixono mais por ela. Todo dia ela me prova que tô no caminho certo, mesmo quando fico meio perdido. Porque todo dia ela me prova que amar é uma coisa realmente maluca.
E aí, Joana chegou. Não vou mentir: foi uma maratona. Quando Giovanna começou a sentir as contrações, achei que era pegadinha do destino. Estava me sentindo pronto, mas, na hora H, percebi que nenhum curso de história, nenhum aluno pentelho e nenhuma outra coisa naquela minha vida maluca me preparou pra aquilo.
Gio foi uma guerreira. Um parto longo, doloroso, mas ali estava ela, segurando minha mão com uma força que eu nem sabia que ela tinha. Quando ouvi o primeiro choro da nossa filha, o ar saiu dos meus pulmões como se eu tivesse corrido uma maratona, e nem fui eu que pari aquela gordinha. Meu coração explodiu em felicidade, e pela primeira vez em anos, fiquei sem palavras.
Tivemos aquele momento lindo de nós 3 no parto, o chorinho de Jojô, as nossas lágrimas se misturando, os rostos confusos e alegres demais de presenciar o milagre da vida... Eu me sentia testemunha do que era o bom. Do que significava ser bom. Me perguntei por um momento porque eu merecia isso tudo, mas, ao mesmo tempo, não queria saber a resposta... viver já estava bom demais da conta.
A enfermeira me chamou, quebrando o transe. Joana estava ali, tão pequena e tão frágil, mas cheia de vida. Cheia da gente, nossa realização... e se eu achava que eu conhecia alguma coisa da vida, aquele pingo de gente me provou o contrário, na hora.
— Papai, vem cá. Vamos pro primeiro banho. Você ajuda?
Eu? Ajudar? Por dentro, uma voz gritava que eu ia estragar tudo. Pensei que a menina ia escorregar, cheia de sangue e cheia daquela coisa branca esquisita, mas, por fora, fiz que sim com a cabeça e segui a mulher de avental verde, que parecia mais acostumada com bebês do que com o próprio reflexo no espelho.
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Imponderável
FanfictionMapas, clássicos, classes e conversas. Quando histórias tão diferentes se cruzam para serem escritas, o imponderável acontece. Uma coordenadora de um colégio tradicional em Belo Horizonte tendo que aprender a driblar as investidas do seu novo profes...