Diante da penteadeira ricamente adornada, observava minha própria imagem no espelho enquanto Oliva, com mãos habilidosas, entrelaçava minhas mechas em uma trança elaborada, que depois prenderia em um coque alto. Esse penteado seria disfarçado sob uma peruca de fios castanhos ondulados que desciam até minha cintura. Era um ritual que se repetia sempre que eu precisava deixar os domínios do castelo ou atender aos chamados dos meus pais, ocultando a intensidade acobreada do meu cabelo, considerado um mau presságio. Era o que diziam.
A sensação de ter que esconder minha verdadeira natureza era um fardo pesado sobre meus ombros, mas era necessário para evitar olhares inquisitivos e murmúrios supersticiosos. Desde criança, aprendi que o cabelo ruivo era sinônimo de desgraça iminente, um estigma que parecia mais pesaroso a cada vez que cobria meus fios emaranhados de cobre com a peruca, transformando-me em uma versão aceitável aos olhos dos outros. No entanto, por baixo da máscara de fios escuros, a chama viva de meu cabelo ruivo continuava a queimar, um lembrete constante de quem eu realmente era.
Mesmo sendo princesa, sempre vivi à sombra do palácio, longe dos olhares de meu povo. E minha mãe, a rainha, não poupava esforços para me manter longe da vista de todos, tentando preservar a imagem da família real.
Os poucos que me viam, mesmo de relance dentro do castelo, murmuravam palavras carregadas de temor e desdém. Cresci cercada por sussurros e olhares de desaprovação, nunca entendendo completamente por que minha aparência provocava tamanha reação. Eu conhecia bem o desprezo, principalmente daqueles que um dia me deram à luz. Suas maiores preocupações era conseguir gerar um herdeiro que não carregasse uma maldição para o trono.
Essa vida de reclusão me fez desenvolver uma força interior que poucos conhecem. Aprendi a ser resiliente, a encontrar alegria nas pequenas coisas e a buscar conhecimento nas vastas bibliotecas do palácio. Cada livro que lia, cada história que absorvia, e estudo me dava um pouco mais de coragem para enfrentar o mundo lá fora. E um dia me foi permitido sair, dês de que não chamasse atenção.
E foi assim que minha melhor amiga apareceu em uma manhã no meu quarto, após dias planejando como me tirar dele e do castelo, ela carregava uma peruca de cor castanha em mãos com longos fios. E essa seria o único e melhor presente para mim, além de poupar o olhar dos demais e meus pais.
- É uma pena ter que fazer isso todas as vezes. - Murmurou Oliva enquanto ajustava a peruca. - É uma cor tão linda e vibrante.
Oliva não era apenas minha dama de companhia; era minha confidente mais próxima, uma amiga verdadeira em um ambiente repleto de formalidades e protocolos, era gentil. Ao contrário de sua irmã mais velha, Viola, que compartilhava traços semelhantes na aparência - a pele negra com um tom profundo e rico que lembrava a elegância do ébano polido, os cachos escuros que rivalizavam com a profundidade da minha própria peruca, e os olhos castanhos claros que evocavam as cores do outono.
No entanto, suas personalidades divergiam drasticamente. Oliva irradiava doçura, delicadeza e alegria, trazendo calor para dentro das paredes frias e imponentes do castelo. Em contraste, Viola parecia ter nascido para a aristocracia, exibindo uma frieza soberba que permeava sua postura e os vestidos luxuosos que mandava confeccionar. Talvez devesse agradecer a Viola por ter se casado com Lord Kyler, o Duque. Pois fico feliz que dessa união, Oliva tenha se juntado a mim, embora com um cargo menor como dama de companhia, sua presença era o que me alegrava e trazia alívio para me esquecer dos sonhos perturbadores que tinha.
Com cabelo pronto, espero que Oliva também termine de passar o leve blush em minhas bochechas e acerte o corpete por de baixo do vestido azul claro escolhido para a ocasião de ir ver a rainha naquela manhã.
- Você dormiu mal de novo, Healyn? Está com olheiras, vou tentar diminuir com um pouco de pó. - Oliva diz já buscando pelo objeto em cima da penteadeira.
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Reino de sonhos e sombras
Viễn tưởngNo místico reino de Elaria, uma antiga profecia assombra a vida de Haelyn, a princesa de cabelos acobreados como chamas. Considerada uma aberração e um presságio de azar, Haelyn cresce entre os muros do palácio, desconhecendo a verdade que a aguarda...