Reino de sonhos e sombras

XXII

- Eu não sou uma intrusa. - Disse fazendo careta para o príncipe dos sonhos.

Asher parou por um instante, a expressão suavizada com um toque de curiosidade. Então, seus lábios se curvaram em um sorriso de divertimento, estava claramente me provocando.

- Então diga - Com um sorriso de canto ele continua. -, como você veio parar aqui, princesa?

Minha boca se abriu, mas as palavras hesitaram, presas em algum lugar entre a verdade e a vergonha. Eu queria dizer que estava fugindo dos meus medos que me atormentavam nos corredores do castelo e das sombras que pareciam se fechar ao meu redor. Mas em vez disso, engoli em seco, escolhendo uma resposta mais segura.

- Eu só queria encontrar um lugar para ficar sozinha. - Dei de ombros, realmente não queria lhe impor a necessidade de se importar em como andava minha cabeça.

Asher inclinou a cabeça, seus olhos sempre fixos em mim com uma intensidade que me fazia corar. Maldição, ele era muito bonito. Ele parecia ponderar sobre a simplicidade da minha resposta, antes de permitir que um riso suave escapasse de seus lábios.

- Engraçado, não? De todos os lugares que poderia ter escolhido, você veio parar justo aqui. Se seu quarto não a agradou, eu posso trocar, só não posso permitir que seja nesta sala cheia de esferas, e você já sabe porque.

Ele ergueu uma sobrancelha, adorando nossa interação. E, por um momento, me senti vulnerável sob seu olhar penetrante. Mas o humor em seu tom me trouxe um pouco de conforto. Meu sorriso foi tímido, mas sincero, também sorri para ele.

- O quarto é perfeito, tudo aqui é... belo. Eu só parei aqui por acaso.

Ele assentiu.

- Tudo bem. - Falou, calmamente, sem o tom irônico de antes.

Minha mente, porém, vagava em um território incerto. Havia algo em Asher, algo que eu não conseguia compreender completamente, mas que me parecia familiar, como uma lembrança esquecida há muito tempo. Talvez fosse apenas o caos das minhas emoções, mas algo nele, naquele lugar, fazia com que tudo se tornasse ainda mais confuso e, ao mesmo tempo, impossível de ignorar. E essa sensação começou no momento que vim para cá.

Não tive tempo de pensar nela, embora também não quisesse me importar. Deixei os pensamentos enevoados de lado e fiquei surpresa ao ver que Asher estava a tão poucos centímetros de mim. Era possível sentir o aroma suave e doce vindo dele.

- Ainda não te mostrei o lado de fora do castelo. Gostaria de me acompanhar? - Ele diz.

- Ah, então agora você vai bancar o guia? - Brinco.

- Acredito que isso seja um sim.

Ele respondeu estendendo a mão para mim, seu sorriso revelando covinhas que até então estavam escondidas atrás da fachada séria de momentos antes. Havia algo simbólico e caloroso no gesto, como se tivesse sido traçado.

Coloquei minha mão na dele, e a sala das esferas dos sonhos desapareceu ao nosso redor, como se nunca tivesse existido. No lugar dela, uma nova paisagem surgiu em instantes, e eu me vi presa em uma visão de pura magia.

Ainda precisava me acostumar com portais e teleportes.

Era um jardim, mas não um jardim comum. As flores eram como estrelas caídas do céu, luminosas, cintilando em todas as cores possíveis e imagináveis. Algumas brilhavam como pequenos sóis, enquanto outras dançavam com a leveza de plumas ao vento. Elas se espalhavam pelo chão, trepavam pelas árvores, cujas folhas tinham tonalidades distintas, eram altas e antigas, com folhas que variavam em tons de azul, roxo e prateado, cada uma parecendo pulsar com uma luz suave e misteriosa.