XLIII

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Uma onda de ansiedade atravessou meu corpo quando Asher começou a falar. Havia algo nas suas palavras, algo que eu não conseguia identificar, mas que ecoava dentro de mim como uma verdade enterrada, escondida atrás de camadas de negação. Não era uma dívida, não era uma obrigação... era algo que existia desde o momento em que nossos olhares se encontraram pela primeira vez, à beira daquela fonte. A certeza de que ele estava destinado a mim, de uma forma que eu mal compreendia.

Eu permaneci em silêncio, cada pensamento na minha mente se embaralhando, sem conseguir formar uma resposta. Asher me observava, hesitante, como se esperasse por uma reação que eu ainda não conseguia oferecer. Talvez a confusão estampada no meu rosto fosse suficiente para mantê-lo quieto.

- Acho que é melhor te levar a um lugar. - Sua voz era firme, mas baixa, como se estivesse prestes a revelar algo que exigia cuidado.

Levantei a cabeça rapidamente quando ele começou a se afastar em direção à porta.

- Onde? - A pergunta saiu antes que eu pudesse impedir.

Ele não respondeu, apenas lançou um olhar de expectativa por sobre o ombro, como se soubesse que eu o seguiria.

- Apenas venha, princesa. - Ele estendeu a mão para mim, e embora meu coração batesse descompassado com todas as dúvidas que eu carregava, não hesitei. Peguei sua mão, a familiaridade daquele toque me trazendo um conforto que eu mal conseguia entender.

E então, num piscar de olhos, a sala desapareceu. Como se nunca tivesse existido. Fui transportada para outro lugar, um lugar que eu conhecia bem demais. As paredes antigas cobertas por trepadeiras, o mármore rachado e desgastado, a vegetação selvagem crescendo nos cantos. E no centro de tudo, a fonte dos desejos adormecidos. O lugar onde tudo começou.

Mas, desta vez, não havia a tranquilidade de uma noite estrelada. Apenas o brilho pálido do dia filtrando-se através dos vitrais quebrados, iluminando o salão com uma luz triste e deserta.

- A fonte! - exclamei, o reconhecimento me impulsionando para frente, meus passos rápidos me levando diretamente a ela.

Asher me seguiu, mas manteve uma certa distância, seus olhos me observando como se soubesse que eu precisaria daquele momento sozinha. Meus dedos tocaram a borda fria da fonte, e eu me abaixei, encarando a água parada, esperando que ela revelasse algo - qualquer coisa - que pudesse fazer sentido.

- Você disse que me conhece. Quis dizer aqui? - perguntei, virando-me para ele, minha mente tentando juntar as peças.

- Não. - A palavra foi carregada de uma emoção que eu não conseguia identificar. Ele deu alguns passos para frente, até parar na beirada da fonte, seus olhos distantes, como se fosse outro tempo. - Aqui foi o lugar onde a reencontrei pela primeira vez... desde muito tempo.

Franzi o cenho. Desde muito tempo?

- Do que está falando? - perguntei, confusa.

Asher suspirou e sentou-se na beirada da fonte, seu olhar fixo na água. Ele parecia perdido, como se estivesse revivendo memórias que eu não poderia acessar.

- Eu não estou entendendo, Asher. Por que viemos para cá? - Minha voz estava carregada de frustração, tentando alcançar alguma clareza em meio ao turbilhão que ele provocava.

- O dia em que você apareceu aqui... - Ele não desviou o olhar da água enquanto falava. - Eu não a reconheci de imediato. Aqueles que bebem desta fonte despertam seu lado espiritual, permitindo que venham até mim para pedir um desejo. É o poder que a fonte oferece. Quando você apareceu naquela noite, seus cabelos não eram ruivos, Healyn. Eram brancos como a neve. Seu vestido também era branco, e você estava cercada por uma luz que parecia emanar de dentro de você.

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