Saio apressada dos aposentos de minha mãe, mais rápido do que imaginei, com o coração batendo em ritmo acelerado e a mente fervilhando de raiva e frustração. Enquanto caminhava pelo corredor, percebendo a tensão que já não era pouca, vejo Viola, a duquesa e irmã de Oliva, vindo em direção contrária. Ela, com seu semblante altivo e olhar superior, sorriu de maneira debochada ao me ver.
Viola trajava um vestido curto, ajustado ao corpo esbelto, de uma tonalidade cinza-claro com detalhes de renda e brilho abaixo das alças.
- Ora, ora, Haelyn - começou Viola, com a voz gotejando sarcasmo. - Já soube da grande notícia? Parece que nossos queridos reis finalmente encontraram um bom partido para você. Quem diria, hein? Uma princesa com cabelos tão... peculiares. Só minha irmã para aceitar um trabalho tão péssimo como cuidar de você, a princesinha ignorada.
Seu tom desdenhoso me atingiu como uma faca. Viola sempre tivera um prazer mórbido em me provocar, e naquele momento eu sentia a raiva borbulhar dentro de mim. Suas palavras eram como veneno, cada sílaba carregada de desprezo.
- Cale-se, Viola. - Rebati com mais força do que pretendia. - Você não sabe de nada.
Ela arqueou uma sobrancelha, pouco alarmada com minha reação passando um dedo sobre os cachos do cabelo. Antes que pudesse responder, a figura de Kyler, o marido de Viola e um dos magos mais poderosos do reino, apareceu. Ele se aproximou com passos silenciosos, seu olhar frio e avaliador pousando sobre mim.
Kyler era alto, usava uma capa vermelha com o símbolo de magia gravado nas costas, uma chama azul entorno de duas asas de fada. Sua pele era um pouco mais intensa do que a de Viola. O duque tinha olhos amendoados, sérios, cabelos curtos e encaracolados de tom acastanhado escuro.
Sua personalidade era de alguém extremamente quieto e calmo, embora também cínico e frio. Era o par perfeito de Viola. Mas a relação dos dois mesmo casados era estranha.
- Viola, querida - disse Kyler com uma voz suave, mas autoritária -, acho que é hora de irmos. A princesa tem assuntos mais importantes para resolver do que ouvir suas provocações.
Com os olhos ardendo de raiva, decidi calar-me, preferindo deixar Viola de lado. A presença de Kyler só aumentava minha sensação de impotência como uma simples mortal, adoraria lançar feitiços em uma víbora como ela. Respirei fundo, tentando controlar minhas emoções enquanto eles se afastavam, deixando para trás uma trilha de tensão no ar.
Em vez de voltar para meus aposentos e contar tudo a Oliva, senti a necessidade de escapar, de encontrar um lugar onde pudesse ficar sozinha com meus pensamentos. Então corri pelos corredores do castelo, descendo escadas e passando por portas até alcançar os jardins.
O ar puro me atingiu assim que meus sapatos tocaram a terra e a grama fofa. Sem pensar muito, os retirei e caminhei sentindo um pouco de liberdade, ainda que limitada. O cheiro da terra molhada, as flores e suas diversas rosas avermelhadas me cercavam, embora eu nunca tivesse gostado muito de rosas vermelhas.
Devagar e um pouco mais calma, continuei a caminhar até os fundos, onde copas de árvores grandes se erguiam.
Havia uma árvore robusta, com galhos fortes e acolhedores que me abraçavam todas as vezes como um refúgio seguro dês de pequena. Escalei a árvore com agilidade, encontrando meu lugar habitual entre os galhos altos. O cheiro da terra e das folhas misturava-se com o perfume das flores, criando uma sensação de paz temporária.
Sentei-me em um galho espesso e deixei que a brisa e o silêncio do lugar permitissem que as lágrimas corressem livremente pelo meu rosto. O mundo parecia desabar sobre mim, e a dor de me sentir rejeitada era como uma faca cravada no próprio coração, sem motivos claros que explicassem de fato. As folhas sussurravam suavemente ao vento, como se tentassem consolar meu coração ferido.
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Reino de sonhos e sombras
FantasíaNo místico reino de Elaria, uma antiga profecia assombra a vida de Haelyn, a princesa de cabelos acobreados como chamas. Considerada uma aberração e um presságio de azar, Haelyn cresce entre os muros do palácio, desconhecendo a verdade que a aguarda...