XLII

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Fiquei atordoada, tentando entender. O castelo de Alyssa? O reino de Seraphis? Como era possível que estivéssemos aqui? Minha mente girava enquanto minha boca se adiantava ao pensamento.

- Como assim? - perguntei, a voz saindo antes que eu conseguisse segurar a curiosidade.

Foi nesse momento que a porta da sala se abriu lentamente, e todos os olhares se voltaram para Jaeson. Ele estava imponente, mais uma vez trajando sua armadura reluzente. A espada embainhada balançava levemente ao seu lado, e o som de suas botas pesadas ecoava pela sala. Ele parecia ansioso, como se estivesse pronto para lutar. Será que ele enfrentaria algo lá fora? Do contrário, estava com o semblante sério de sempre. Perguntaria depois.

- Pelo que eles me contaram - começou ele, a voz grave preenchendo o ambiente -, o reino não se desfez completamente, e o castelo ainda está sendo restaurado.

- Restaurado? - eu repeti, sentindo uma pontada de descrença. - Como isso é possível? Você mesmo me contou que Seraphis foi completamente extinta pela guerra.

Aquilo não fazia sentido algum. Seraphis não passava de um lugar deserto, esquecido nos mapas, uma terra arrasada, conhecida apenas pelas histórias. Segundo os relatos que me foram contados, o castelo havia sido completamente tomado e destruído. O que restava de Seraphis eram apenas escombros, as ruínas desmoronadas de uma civilização que, em sua glória, era conhecida por sua grandeza, poder mágico e por seu sangue puro. Era um reino lendário, com uma magia tão antiga quanto o tempo, mas essa era a única coisa que restava dele: memórias e poeira. Apenas fragmentos deixados para nos lembrar da queda.

- É o que todos pensam - disse Asher, com um meio sorriso. Ele se levantou, suas feições suaves, mas enigmáticas. - Nem tudo que está escrito contém cem por cento da verdade.

Eu o encarei, confusa.

- O que você quer dizer? Que tudo é mentira?

- Não, querida - Felicia deu a volta atrás de mim e se sentou ao meu lado, sua presença era sempre reconfortante. - Apenas uma questão de segurança.

As palavras dela caíram como pedras em meus pensamentos já confusos. Segurança? O que estavam escondendo? As histórias de Seraphis sempre foram claras para mim. Eu conhecia o sacrifício de Alyssa, a forma como a guerra devastou tudo o que tocava, e como aquele conflito moldou o futuro de todos nós. Mas agora, tudo o que eu sabia parecia ser jogado para o ar, como cinzas dispersas ao vento.

Eu olhei ao redor, o ambiente agora tomava uma nova forma na minha mente. Era um castelo, isso eu já sabia. A grandiosidade da arquitetura, as paredes altíssimas, as colunas esculpidas com detalhes que lembravam histórias de tempos antigos, tudo indicava que ali fora uma fortaleza magnífica. O quarto em que acordei, os longos corredores, e aquela sala, que mais parecia uma sala de reuniões ou um escritório pessoal. Uma escrivaninha imensa do outro lado do recinto estava adornada com pilhas de papéis e mapas antigos, como se os segredos de eras passadas estivessem sendo constantemente revisados ali.

- Antes da morte de Alyssa e do fim da guerra, a rainha fez um pedido à Fonte - Felicia continuou, a voz suave, mas carregada de significado.

- A fonte dos desejos adormecidos? - perguntei, me lembrando do local onde encontrei o príncipe dos sonhos pela primeira vez, ainda incrédula, mas sentindo a sensação de que estava prestes a ouvir algo grandioso.

- Sim - Felicia assentiu. - O maior desejo de Alyssa era que seu povo pudesse sobreviver. Que eles pudessem viver e se manter seguros. Asher concedeu a realização desse desejo.

Me virei para Asher, ainda com o cenho franzido, o coração batendo forte no peito.

- Então...

- O povo de Seraphis está vivo, Healyn - ele afirmou, sua voz carregada de verdades que pareciam impossíveis. - A cidade, e o castelo.

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