VI

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Voltei ao meu quarto com passos firmes e coração pesado. A raiva queimava dentro de mim, alimentada pelo Príncipe do Norte e pela duquesa Viola.

- Cretinos, desprezíveis! - Vociferei.

Não conseguia suportar a arrogância e a presunção dele, e cada palavra que ele pronunciava era como veneno escorrendo em minhas veias. Assim que a porta se fechou atrás de mim, não consegui mais segurar. Com um gesto brusco, arranquei a peruca que escondia meus cabelos ruivos, sentindo uma mistura de alívio e frustração ao deixá-los livres.

Joguei-me na cama, tentando acalmar a tempestade em minha mente e fechei os olhos, desejando um momento de paz, mas a paz parecia sempre escapar por entre meus dedos, mas logo, a exaustão tomou conta de mim, e fui tragada para o mundo dos sonhos.

🌹🌹🌹

Estava escuro, mais assustador. Encontrava-me em uma vasta extensão de trevas, e um abismo que parecia não ter fim. O medo começou a rastejar pela minha pele, um frio que me congelava por dentro. Tentei mover-me, mas meus pés pareciam grudados ao chão, como se o próprio solo estivesse conspirando contra mim.

A sombra estava lá, aquela presença maligna que me perseguia em todos os meus pesadelos. Pude sentir seus olhos vermelhos cravados em mim, trazendo à tona todos os meus piores medos. Então uma voz sussurrante emergiu das trevas, baixa e hipnótica.

Pule

Ela disse, repetindo a palavra como um mantra.

Meu corpo tremia. Não queria pular. Não podia pular. Mas podia sentir o abismo me chamando, um convite sombrio para a perdição. As lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto lutava contra a força invisível que me empurrava para a borda.

- Não! - gritei, mas minha voz parecia fraca e distante, perdida na imensidão do pesadelo.

Meu corpo, traidor, continuava avançando. Cada passo era uma tortura, cada centímetro me levava mais perto do fim. Meus dedos tentavam se agarrar a algo, qualquer coisa, mas não havia nada ali. Nada além da escuridão e da sombra que ria silenciosamente atrás de mim.

Quando alcancei a beira do abismo, a voz se intensificou.

Pule!

Olhei para baixo, para o vazio sem fim, e o terror me dominou. Não conseguia controlar meus movimentos, meus pés estavam à beira do precipício, prontos para dar o passo final.

- Não, por favor... - sussurrei, minhas palavras sendo levadas pelo vento frio do abismo. Fechei os olhos, esperando o inevitável, esperando a queda.

E então, um som diferente. Um sussurro mais suave, quase como uma carícia.

Haelyn...

A voz era familiar, reconfortante, mas também distante, como um eco de uma memória esquecida.

Abri os olhos, tentando encontrar a origem daquele sussurro, mas tudo que vi foi a sombra se aproximando, engolindo tudo ao meu redor. O terror voltou com força total, e antes que pudesse reagir, meu corpo deu o passo final.

Caí.

🌹🌹🌹

Despertei com um sobressalto, o coração batendo freneticamente no peito. O suor escorria pela minha testa e minha respiração vinha em curtos e rápidos suspiros. Sentei-me na cama, tentando acalmar o pânico que ainda apertava meu peito. A realidade ao meu redor era reconfortante, mas o eco do pesadelo ainda zumbia em meus ouvidos.

Olhei ao redor e vi Oliva sentada ao meu lado, sua expressão preocupada suavizando ao perceber que eu estava acordada.

- Está tudo bem, estou aqui. - disse ela, sua voz suave como um bálsamo para meus nervos destroçados. - Fiz um pouco de chá logo após que o baile terminou, vou buscar uma xícara quente para você.

Assenti, agradecida por sua presença. Oliva saiu do quarto, deixando-me sozinha com meus pensamentos tumultuados. Não podia mais ignorar os objetos escondidos debaixo do meu travesseiro. A cada pesadelo, a sensação de urgência crescia. Precisava descobrir o que estava por trás daqueles sonhos terríveis e da profecia que pairava sobre minha cabeça como uma espada prestes a acertar meu pescoço.

Com mãos trêmulas, retirei o pequeno frasco e o anel de safira azul. O frasco tinha um rótulo simples e o que quer que fosse aquele líquido, sabia que não podia mais esperar. Se havia uma chance de encontrar aquele que pudesse me ajudar a entender e possivelmente pôr fim aos pesadelos, precisava tentar.

Coloquei o anel em meu dedo, a safira brilhando à luz das velas. Abri o frasco e inspirei profundamente antes de leva-lo aos meus lábios. O líquido tinha um cheiro doce, quase enjoativo. meu coração batia ainda mais rápido com a antecipação. Fechei os olhos e, com um gesto decidido, bebi o conteúdo.

O gosto era surpreendentemente agradável, doce como mel, mas com um toque floral que eu não conseguia identificar. Engoli, esperando algum tipo de reação imediata – uma visão, uma sensação, qualquer coisa.

Mas nada aconteceu. Fiquei sentada, olhando para o frasco vazio em minhas mãos, sentindo uma mistura de decepção e frustração. O que eu esperava? Uma solução mágica instantânea? Talvez fosse tolice da minha parte acreditar que algo assim poderia ser tão simples.

Respirei fundo, tentando manter a calma. Talvez fosse necessário algum tempo para que o líquido fizesse efeito. Ou talvez eu tivesse interpretado tudo errado. Independentemente disso, eu estava determinada a não desistir. Precisava de respostas, precisava agir.

Oliva retornou com uma bandeja, uma xícara de chá fumegante em cima. O aroma doce do chá de camomila com mel e um toque de canela preencheu o quarto, trazendo uma sensação momentânea de conforto. Ela colocou a bandeja na mesa de cabeceira e sentou-se ao meu lado, observando-me atentamente.

- Nunca a vi acordar tão assustada - disse ela, entregando-me a xícara. Sua voz estava cheia de preocupação genuína, seus olhos fixos nos meus.

Assenti, segurando a xícara com as duas mãos, sentindo o calor agradável se espalhar pelos meus dedos.

- Foi horrível, Oli. Eu estava em um lugar escuro, um abismo sem fim, e a sombra estava lá novamente, me perseguindo. E havia uma voz... uma voz que me dizia para pular. - A lembrança ainda era vívida, e falar sobre isso fez meu estômago revirar.

Oliva arregalou os olhos, claramente assustada.

- Isso está ficando mais sério, Haelyn. Seus pesadelos estão se tornando cada vez mais intensos. Precisamos encontrar uma solução antes que eles consumam você completamente.

Tomei um gole do chá, seu sabor doce e reconfortante trazendo um alívio momentâneo à minha tensão.

- Eu sei - murmurei. - Mas não sei mais o que fazer. Já tentei de tudo.

Decidi omitir os detalhes sobre o Príncipe do Norte. Havia algo sobre aquele encontro que ainda me perturbava, mas não era o momento de discutir isso.

Oliva apertou minha mão, seu toque firme e reconfortante.

- Vamos encontrar uma maneira de resolver isso. Prometo.

Assenti, sentindo uma pequena chama de esperançaacender em meu peito. Com Oliva ao meu lado, sabia que não enfrentaria issosozinha. Juntas, encontraríamos uma forma de desvendar os mistérios quecercavam meus pesadelos e a profecia.

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