XXXVII

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Os guardas nos arrastavam, e o som de nossas botas se propagava. O que mais me sufocava naquele momento, no entanto, não eram as amarras ou a humilhação física. Era o ódio que fervia dentro de mim, queimando com uma intensidade que não sentia há anos.

Kyler.

Eu o odiava com todas as fibras do meu ser. Era um ódio que queimava tão profundamente que chegava a me consumir, como se fosse um veneno correndo nas minhas veias, escurecendo minha visão, deixando um gosto amargo na minha boca. Lembrava-me de cada vez que Kyler me olhou como se eu fosse inferior, como se minha própria existência fosse uma afronta ao mundo dele. Ele sempre foi a personificação do meu tormento, com aquele sorriso cruel e olhos cheios de malícia. Desde o momento em que fui jogada naquela masmorra pela primeira vez, ele me fez sentir como se eu não fosse nada. Os insultos e as risadas, as humilhações constantes... Eram feridas tão profundas quanto a cicatriz que carrego no ombro.

Aquele lugar, as pedras frias que me cercavam, o cheiro de umidade e podridão, eram lembranças gravadas na minha alma. Era como se a dor física que eu sentia naquela época fosse o menor dos meus problemas. O que realmente me devastava eram as palavras que Kyler e Viola sussurravam enquanto eu estava acorrentada, exausta e desesperada, implorando por uma trégua. Suas palavras eram afiadas como lâminas, cortando-me de dentro para fora. Eles sabiam exatamente como me quebrar. "Fraca", "indigna", "um fardo", repetiam. Eu era tratada como um brinquedo quebrado, algo que poderia ser descartado sem remorso. E eu os odiava por isso.

Meus pais? Guardas? Eles sequer se importavam com o que me acontecia.

Lembro-me das vezes em que fiquei horas, dias, na escuridão daquela cela, sem saber se veria a luz do dia novamente. Cada segundo lá dentro era uma tortura psicológica. A cicatriz no meu ombro, sempre oculta, é um lembrete constante do que eles me fizeram. Uma marca permanente de suas crueldades, e o peso dela me puxa de volta para os dias em que acreditava que jamais sairia dali. Kyler sempre se divertia ao me ver ali, impotente, vulnerável. Ele e Viola gostavam de me deixar com fome, sedenta, fraca, apenas para provar que eu não tinha controle sobre nada, que minha vida era uma peça de teatro patética em suas mãos.

E, no entanto, por mais que tentassem, por mais que me jogassem no fundo daquele abismo de dor, nunca me destruíram completamente. Minha raiva, essa chama que nunca se apagou, me manteve viva. Era essa raiva que, nos momentos mais sombrios, alimentava minha determinação de que um dia eu faria Kyler pagar. Pagar por cada lágrima que derramei naquele chão frio, por cada noite que passei sozinha, assombrada pelas suas risadas enquanto ele se afastava, me deixando na escuridão antes que Oliva chegasse e me salvasse, me ajudasse a recuperar meu senso e direção. Ele iria pagar.

Mas agora, aqui estava eu, sendo arrastada de volta. A raiva crescia a cada passo, pulsando em minhas veias. A única coisa que me impedia de explodir era Oliva. Temia o que poderia acontecer, e a lembrança de cada vez que ela me tirou daquele inferno, quando ninguém mais apareceu, me dava forças. Ela e Jaeson me salvaram quando mais precisava, mas agora, estávamos as duas presas e Jaeson estava longe.

Kyler continuava à nossa frente, sempre com aquele sorriso ridículo. Eu mal conseguia me concentrar em suas palavras; tudo que queria era acabar com ele, de uma vez por todas. Mas quando Oliva, em um sussurro dolorido, começou a pedir desculpas, meus pensamentos se voltaram para ela.

- Healyn... eu... eu sinto muito... - Sua voz era um fio de arrependimento, mal conseguindo se manter firme enquanto andava. - Eu estraguei tudo...

Ela não teve a chance de continuar, nem mesmo eu falar assim que Kyler interrompeu.

- Cale a boca, Oliva! - Ele gritou, sua voz carregada por um tom ameaçador e autoritário.

Oliva se calou imediatamente, desviando o olhar para o chão. Eu podia sentir sua frustração, seu medo. Ela estava se culpando, mas nada disso era culpa dela. Era tudo culpa de Kyler, Viola, meus pais, este reino...

Reino de sonhos e sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora