Reino de sonhos e sombras

VIII

Meu coração batia descontrolado enquanto olhava para Asher, seus olhos azuis brilhando com uma compaixão distante, embora seu comportamento fosse frio. Essa era a chance que eu tinha em mãos, e talvez a única milagrosamente mágica de estar ali em pé diante dele.

- Você é o Príncipe dos Sonhos! - Exclamei, tentando manter minha voz firme.

- Sim, infelizmente sou. - A tristeza pairou em seus olhos por um instante, como se carregasse um fardo invisível.

- Eu preciso de ajuda, eu... acho que vou morrer em breve e não quero isso. Por favor, não sei nem o que exatamente estou pedindo, só queria...

De repente, o salão antigo ao meu redor começou a se desfazer em sombras e distorções, a realidade desmoronando rapidamente.

- Isso é um sonho?! - As palmas de minhas mãos pareciam estar se dissipando em um aglomerado fantasmagórico de partículas, e logo acreditei que todo o meu corpo também estaria.

Parecia tão real, tudo aquilo, mas era apenas outro sonho. Asher assentiu lentamente, seus olhos fixos nos meus.

- Sim e não. - Respondeu ele, sem se importar muito, encarando toda a cena à sua frente.

Um calafrio percorreu minha espinha. Se eu estava sonhando, significava que logo acordaria.

- Você está em um sonho, mas é mais do que isso. Este é um espaço especial, onde os sonhos podem se tornar realidade por um breve momento. - Completou ele, mas não prestei atenção.

Meus braços e pernas estavam se dissipando junto com a poeira agora, e Asher parecia estar se virando para ir embora como se nada tivesse visto, como se minha presença fosse uma alucinação.

Dei um passo à frente, tentando desesperadamente fazer minha voz ser ouvida.

- Meus pesadelos... eles não são apenas sonhos comuns. Estão ligados a uma profecia que ameaça minha vida. - Mal conseguia ouvir minha própria voz na imensidão que se transformava de mim e ao meu redor. - Por favor, não me deixe voltar sem alguma esperança. Não posso continuar vivendo assim, com medo a cada noite.

O príncipe parou e olhou em minha direção.

- Profecia?

Mas era tarde demais. O mundo ao meu redor começou a desvanecer-se, as luzes e sombras se misturando em uma dança caótica. O rosto de Asher tornou-se um borrão, e tudo o que pude fazer foi lutar contra a escuridão que me envolvia.

🌹🌹🌹

Acordei com um sobressalto, o coração batendo descompassado no peito. O quarto estava mergulhado em penumbra, e a familiaridade das paredes e móveis me deu um estranho conforto. Mas a sensação de enjoo era intensa, e mal consegui me levantar antes de ser engolida por uma onda de náusea.

Corri até uma bacia próxima à banheira, ajoelhando-me enquanto o enjoo tomava conta de mim. Respirei fundo, tentando acalmar meu corpo e minha mente. A experiência que acabara de ter parecia tão real, tão vívida. Sabia que não podia ignorá-la.

Quando finalmente recuperei o controle, levantei-me com dificuldade, caminhando até a janela. A luz da lua ainda brilhava lá fora, um lembrete silencioso do encontro com o Príncipe dos sonhos. O que ele disse sobre os sonhos se tornarem realidade por um breve momento ecoava em minha mente.

Precisava de respostas, e rápido. Mas antes que pudesse formular um plano, ouvi uma batida na porta. Virei-me rapidamente, meu coração ainda acelerado. Oliva entrou no quarto, sua expressão assustada.

- O que aconteceu? - perguntou, se aproximando de mim com um lampião. - Pensei em ter te ouvido vomitar, você está bem?

- Eu estava... sonhando - murmurei, lembrando-me da intensidade do encontro com Asher. - E desta vez foi diferente.

Oliva franziu a testa, claramente confusa.

- Diferente como?

Então decidi contar-lhe tudo, desde objetos misteriosos até o encontro com Asher e a sensação de ser puxada de volta à realidade. Ela me ouviu atentamente, seu olhar sério e triste, claramente decepcionada por eu ter mantido segredo.

- Isso é... impressionante - disse ela finalmente, ignorando minha péssima conduta. - Se realmente falou com o Príncipe dos Sonhos, talvez haja uma maneira de encontra-lo novamente e prometer um acordo em troca de sua ajuda, um desejo.

Concordei com a ideia, mas Asher não parecia ser alguém que realizava acordos, nem mesmo desejos.

Mas...

Naquela noite, eu o havia encontrado, tinha certeza. Uma lenda da magia de milhares de décadas passadas. E que tinha certeza de ter tocado seu coração de alguma forma por tê-lo feito olhar para mim no momento em que me dissipei.

A confusão em seu rosto era clara, ele parecia um pouco assustado quando mencionei a profecia.