Passei longos minutos em silêncio, sem perceber o tempo passar. A única pista de que ele avançava era a luz do sol que se movia lentamente pelo quarto, refletindo nos pés da cama, um lembrete de que o mundo lá fora continuava, indiferente à minha dor, e ao que tudo indicava, era um local diferente do costume. Meu peito estava apertado, o rosto latejando da pressão das lágrimas que já não conseguiam cair. Respirei fundo, tentando recuperar o fôlego que escapava em suspiros entrecortados. O quarto ao meu redor era imenso, um espaço que parecia saído dos contos antigos de realeza, mas com uma vibração estranhamente familiar.
As paredes eram revestidas de madeira escura, e tapeçarias com padrões intrincados pendiam dos cantos. O teto alto parecia engolir o espaço, com vigas expostas que davam um ar rústico, mas nobre. Um grande armário de madeira entalhada repousava contra uma das paredes, suas portas decoradas com flores talhadas à mão, detalhes que pareciam antigos, mas ainda assim vívidos. Uma penteadeira com um espelho oval de moldura dourada estava do outro lado, com pequenos frascos e uma escova de prata cuidadosamente dispostos. Perto da janela, um vaso com lírios brancos e lilases trazia um sopro de vida ao ambiente, contrastando com a atmosfera antiga, mas ao mesmo tempo mantendo uma harmonia natural.
Era impossível não associar aquele lugar a um quarto de uma rainha ou rei. O tamanho, a grandiosidade e a decoração era assustadoramente magnífica. Uma sensação de nostalgia amarga me invadiu ao lembrar de onde vim, e de tudo que perdi. Meus olhos vagaram pelo quarto, fixando-se nos detalhes para desviar da dor.
Mas a mesma estava presente até mesmo ali, doendo a cada piscada, e a visão um pouco embaçada pelo cansaço. Pisquei algumas vezes, tentando me acostumar, e algo estranho aconteceu. Era como se uma onda de conforto me preenchesse, diminuindo a dor nas pálpebras, nos músculos do rosto, e no peito que ainda arfava. Eu suspeitei, no fundo, que Felicia tivesse me socorrido enquanto eu estava inconsciente, provavelmente com uma de suas poções. Por um breve momento, pensei que talvez, se a maga tivesse mais tempo, pudesse fazer o mesmo por Oliva. Mas logo afastei o pensamento. Era irracional. Um desejo egoísta de querer acalmar meu coração.
Respirei fundo algumas vezes, tentando restaurar completamente o controle sobre meu corpo, que ainda lutava para desacelerar a pulsação. Onde eu estava? Não era Elaria. Isso eu sabia. Tampouco o Castelo do príncipe dos meus sonhos, mas tinha certeza de que aquele lugar pertencia a alguém importante.
Devagar, me levantei da cama. As dores que antes me consumiam estavam estranhamente suaves. Olhei para meus braços e pernas, agora cobertos por ataduras bem ajustadas. Enroladas ao redor do tronco, também, sobre meus seios, sugerindo que fui cuidada com atenção enquanto estive desacordada. Estava apenas de calcinha, mas me sentia limpa, sem traços de sangue ou sujeira. Felicia, ou talvez as fadas Pixies, deviam ter me auxiliado com isso também. Eu estava sem o anel, e não sabia o que tinha acontecido com ele, apenas que ele brilhará comigo junto às chamas. Minhas últimas lembranças depois que desmaiei eram fragmentadas, com os rostos de todos ao meu redor no quarto. E Asher...
Sem pensar muito, caminhei até a porta. Não me importava com o estado em que estava. Não me importava que estivessem me vendo assim, quase nua. O que eu queria, o que eu precisava, era respostas. Eu precisava ver Asher, e acima de tudo, Jin. Jin merecia me dar uma explicação de seu desaparecimento, merecia responder como Asher surgira ao meu lado no fim, no momento mais crucial. Se Jin estivesse lá antes... talvez...
Nem terminei o pensamento. A raiva dominou. Marchando pelo curto corredor, ouvi vozes em uma sala próxima com a porta aberta. Entrei.
Asher, Jin e Felicia estavam em discussão, claro, sobre a espada. Aquela maldita espada que parecia ser o foco de tudo.
- Você! - minha voz saiu com um tom agudo de fúria, apontando diretamente para Jin, que virou a cabeça para mim, seus olhos arregalados ao ver minha raiva e meu estado.
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Reino de sonhos e sombras
FantasyNo místico reino de Elaria, uma antiga profecia assombra a vida de Haelyn, a princesa de cabelos acobreados como chamas. Considerada uma aberração e um presságio de azar, Haelyn cresce entre os muros do palácio, desconhecendo a verdade que a aguarda...