IV

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Saímos da loja de poções em um silêncio tenso, o som de nossas sapatilhas sob a capa e vestido ecoando nas pedras irregulares das ruas movimentadas. A cidade estava repleta de vida, e o aroma tentador de doces frescos no ar era convidativo, mas meus pensamentos estavam presos na estranha conversa com a Senhora Pullman e nos objetos misteriosos que ela havia colocado em minha mão. Enquanto caminhávamos, Oliva finalmente quebrou o silêncio, sua voz trazendo de volta a tagarelice que parecia ter sido silenciada pela ansiedade.

- Haelyn, desculpe. Achei que a senhora Pullman poderia ajudar, mas acho que ela acabou assustando nós duas, ela é um pouco estranha - disse, caminhando ao meu lado. - Uma vez quando fui...

Continuou Oliva, mas não prestei atenção. Suspirei, sentindo o peso das dúvidas e incertezas que nos cercavam.

- Tudo bem. - Falei. - Ela mencionou o Príncipe dos Sonhos.

Oliva franziu a testa, suas sobrancelhas se unindo em uma expressão de dúvida.

- Sim, mas é difícil acreditar que ele esteja realmente envolvido, não é? Sempre pensei que fosse apenas uma lenda. - Ela pausou, refletindo. - Mas muitas lendas têm um fundo de verdade. Talvez devêssemos levar isso mais a sério.

Hesitei, meus pensamentos se debatendo entre a lógica e o sobrenatural.

- Talvez você tenha razão, mas... - minha voz vacilou. - Preciso de algo mais tangível, algo que realmente explique...

Oliva assentiu lentamente, mas a dúvida permaneceu em seus olhos.

- Vou comprar alguns doces. Vão ajudar a gente a pensar com mais clareza. Já volto.

Lhe lancei um sorriso e a observei entrar em uma loja de tijolos cor-de-rosa claro à nossa frente, decorada com margaridas e lilases e uma placa que dizia "Maraçucar". Sabia quais doces Oliva compraria. Uma pequena esfera dourada, feita de uma fina camada de caramelo crocante. Que ao mordê-la, se quebrava e revelava um recheio de creme de abóbora com especiarias, misturado com pequenos pedaços de maçã caramelizada. O sabor era uma combinação perfeita de doce e levemente picante, com notas de canela e noz-moscada, era um doce aconchegante e surpreendentemente delicioso. Produzido principalmente no outono. Seu nome era base para isso "Encanto outonal".

Enquanto esperava, a curiosidade aumentava cada vez mais. Decidida, olhei. Na palma da minha mão, encontrei um anel de prata delicado com uma safira azul, brilhante e hipnotizante, e um pequeno frasco com um líquido transparente. O rótulo, em letras elegantes e antigas, dizia "Beba-me ao anoitecer". Meu coração acelerou com a desconfiança, mas guardei os dois objetos no bolso interno da capa, decidida a esperar por Oliva antes de tomar qualquer decisão.

Quando ela voltou, seguimos de volta ao castelo, tomando cuidado para não sermos vistas pelos guardas ou criados e evitar qualquer pergunta sobre o que fomos fazer na cidade. Assim que entramos, nos separamos, e eu me preparei para minha aula de história com Jaeson. Ele era não só meu tutor, mas também o guarda real no comando, embora não lutasse mais, treinava novos soldados. Uma figura imponente e de grande respeito. Contudo, naquela manhã, minha mente estava longe da sala de aula e dos textos históricos na enorme biblioteca.

Enquanto mordiscava um dos doces que Oliva havia deixado comigo, Jaeson percebeu minha distração quase imediatamente.

- Haelyn, parece que sua mente está a milhas de distância. Algo a preocupa?

Engoli em seco, hesitando antes de formular minha pergunta. Jaeson era mais velho, os ombros largos e músculos marcados por cicatrizes indicavam anos de batalhas e treinamentos. Seus olhos eram de um castanho claro, e os cabelos, outrora pretos, agora tinham um tom próximo ao grafite com fios brancos em contraste. Não estava com sua armadura nem colete, apenas vestes pretas como se não se preocupasse com um ataque iminente naquele momento.

Reino de sonhos e sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora