XXVI

16 3 0
                                    

Depois de um tempo, a conversa ao redor da mesa parecia ter se tomado um ruído de fundo, uma mistura de risos e sons indistintos. Eu observei Asher se levantar de maneira súbita, forçando um sorriso. Seus movimentos, no entanto, eram rígidos, e, embora tentasse disfarçar, eu conseguia ver que ele não estava bem. Algo dentro dele fervia, algo que ele tentava esconder atrás de sua compostura. Seus olhos brilhantes evitaram os meus, como se temesse que eu pudesse ver além do que estava à superfície.

- Acho que estou satisfeito. Vou me retirar por agora.

Embora sua postura transmitisse serenidade, algo nos seus olhos me incomodava. Aquilo parecia apenas uma máscara. Fiquei o observando enquanto ele se afastava da mesa, sem conseguir tirar os olhos dele. Algo estava errado, e eu sabia disso.

Mas eu não era a única. Felicia também o observava, seu olhar fixo, mas impassível. Ela parecia analisar cada passo de Asher com uma calma cuidadosa, como se tentasse entender algo que estava além das palavras dele. Porém, assim como eu, ela não disse nada. Preferiu fingir que não havia notado nada fora do comum.

Olhei para Jin. Ele também havia notado algo; seus olhos brevemente seguiram Asher antes de voltarem a encontrar os de Jaeson, como se nada tivesse acontecido. Eles eram experientes em ocultar emoções. Para eles, aquilo era apenas mais uma noite em um mundo onde nada era como parecia. E eu, de certa forma, sentia-me perdida.

Assim que Asher saiu do ambiente, uma inquietação cresceu dentro de mim. Aquele sentimento persistente de que algo estava errado me impelia a segui-lo, a perguntar se ele estava bem, a descobrir o que estava realmente acontecendo por trás daquele comportamento sereno. Mas hesitei. Eu mal o conhecia. Seria invasivo da minha parte interferir assim? E se eu estivesse apenas imaginando coisas? Talvez estivesse confundindo minha curiosidade com outra coisa, algo mais pessoal.

Era uma sensação estranha, uma excitação quase involuntária que eu sentia ao vê-lo. Meu estômago se revirava, minhas mãos suavam levemente, e meu coração batia mais rápido toda vez que nossos olhares se cruzavam. Quando ele me tocava, mesmo que brevemente, o calor daquele toque permanecia comigo por longos minutos. Mas não podia ser nada mais do que uma atração superficial, certo? Ele era bonito, poderoso, misterioso. Claro que isso chamaria minha atenção. Nunca o tinha visto antes da fonte, nunca antes daquele momento. Como, então, eu poderia sentir algo tão profundo por alguém que era praticamente um estranho?

A conversa ao redor da mesa continuou, mas minha mente estava longe. Jaeson e Jin começaram a discutir sobre espadas, lutas e técnicas de combate. Eram tópicos que não me interessavam naquele momento, e pelo jeito, Felicia e Olivia compartilhavam o mesmo desinteresse. Olivia olhava distraidamente para o espaço, e Felicia mexia em um anel no dedo, uma expressão de tédio suavemente estampada em seu rosto.

Eu ainda tentava participar, comendo pequenos pedaços de carne e mordiscando o pão à minha frente, mas minhas preocupações com Asher eram muito mais fortes. Finalmente, tomei uma decisão.

- Vou me retirar também - anunciei, levantando-me da mesa. - Estou cansada, e está de noite...

Jin riu baixinho.

- Aqui sempre é noite.

Sim, claro. Havia esquecido...

Jaeson, com sua habitual curiosidade, se inclinou para frente, interessado na afirmação.

- Por que é sempre noite aqui, afinal?

Jin deu de ombros, mas sua expressão ficou um pouco mais séria.

- O tempo aqui não funciona como no mundo de vocês. É como se estivesse parado, suspenso, mas as horas continuam a passar da mesma maneira. Isso significa que, enquanto estamos aqui, podemos até não envelhecer visivelmente, mas o tempo não deixa de existir. Pode-se passar dias, semanas, talvez até meses, e você não notaria nenhuma diferença em si mesmo ao se olhar no espelho.

Reino de sonhos e sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora