XXXV

16 3 0
                                    

O ar parecia mais denso. O baú ornamentado, parecia brilhar sob a luz fraca das tochas que mal iluminavam o local. Minhas mãos tremiam de antecipação enquanto me aproximava dele. Oliva, sempre focada, estava ao meu lado, seus olhos vasculhando cada canto da sala.

E com um leve toque de minhas mãos sob a parte de cima, o baú se abriu sem resistência, como se esperasse por nós. Seu interior estava repleto de mapas antigos, cartas amareladas e, no fundo, um brilho dourado capturou minha atenção. Meu coração disparou. Era a coroa. Ela reluzia, envolta em mistério e poder. Parecia um objeto digno de um conto de fadas, de lendas antigas, mas eu sabia que ela carregava algo muito mais sombrio. A cora realmente estava ali, bem ali...

Fiquei fascinada, estendendo a mão para tocá-la, para sentir o metal frio sob meus dedos. O que será que a coroa representava, além do poder absoluto? Quando meus dedos estavam a um centímetro de distância, Oliva segurou meu pulso firmemente.

- Não! - Ela me puxou de volta, seu olhar sério me despertando daquele transe. — Não toque nas joias da coroa, Healyn.

Eu engoli em seco, sentindo o peso da advertência em sua voz.

- Por quê? - perguntei, ainda encarando a coroa com uma mistura de desejo e receio.

- Essa coroa... - Oliva falou baixinho, como se a própria menção de suas propriedades pudesse invocar algo terrível. - Ela tem um poder imenso, pode te ajudar, mas não toque nas joias ao redor.

- Elas são amaldiçoadas ou algo assim? Por que se for, não vejo o motivo de mim utiliza-la então. - Rebato confusa.

- Só por garantia...

Me afastei um pouco, o peito apertado.

- Como vamos levá-la, então? - pergunto, ainda olhando para o brilho dourado que parecia me chamar.

Oliva olha ao redor novamente, vasculhando a sala com os olhos atentos, até que encontrou algo. Ao lado do baú, havia um manto vermelho, de um tecido grosso e fino ao mesmo tempo.

- Usaremos isso - disse ela, erguendo o manto. - Deve funcionar, perfeito.

Ela enrolou as mãos com o tecido, escondendo completamente a pele, e cuidadosamente pegou a coroa. Não pude evitar prender a respiração enquanto ela a erguia, como se qualquer erro pudesse liberar algum tipo de maldição ou poder oculto. Oliva a embrulhou com cuidado, criando uma espécie de sacola improvisada com o manto vermelho.

- Certo, vamos! - ela disse, me lançando um olhar determinado.

Mas eu não conseguia tirar os olhos do baú. As cartas, os mapas, toda aquela informação ali guardada... Por que meu pai esconderia isso tudo? Quem mais sabia sobre essa sala secreta? A sensação de que algo mais estava acontecendo por trás das sombras me dominou. Eram apenas mapas, certo? Mas eram de exploração... Isso poderia ser útil, especialmente agora.

- Oli - chamei, minha voz saindo quase um sussurro.

Ela se virou rapidamente, já impaciente.

- O que foi?

- Olha isso... - Falei apontando para o conteúdo do baú. — Tem tantos mapas aqui... cartas... Por que ele esconderia tudo isso?

Ela deu um passo em minha direção, mas seu rosto endureceu quando seus olhos recaíram sobre os mapas. Era como se uma sombra tivesse passado por ela. Seus olhos se tornaram frios, e um brilho de preocupação, ou talvez medo, passou por eles.

- Healyn, não temos tempo para isso. Vamos logo.

Olhei para ela, sabia que queria ir logo, mas tinha mesmo de deixar aquelas informações ali?

- Eu sei, mas e se levarmos isso também? - insisti, apontando para os mapas e as cartas. - Podem ser úteis. Explorações, cartas de outros reinos... Podemos precisar disso para os nossos planos.

Por um breve momento, o olhar de Oliva ficou distante, como se ela estivesse considerando algo profundamente. Mas então, sua expressão voltou a ser rígida.

- Healyn, não. Vamos logo. Não precisamos desses mapas. Eles não vão nos ajudar agora - ela disse com firmeza, mas havia algo mais em sua voz. Algo que não consegui identificar.

- Está tudo bem? - perguntei, vendo o desconforto em seus olhos.

Ela hesitou, mas logo respondeu com um tom mais controlado:

- Sim. Só... não acho que mexer nesses mapas seja uma boa ideia. Vamos sair daqui Jin deve estar nos procurando.

Queria entender o que a incomodava tanto, mas o tempo estava contra nós. Oliva já estava começando a se afastar, voltando para a passagem, mas algo me dizia que abandonar aqueles mapas seria um erro.

Esperando que ela estivesse distraída, rapidamente peguei um dos maiores mapas e algumas cartas de papel preto que estavam por baixo dele com uma gravura doirada. Deslizei o mapa pelo decote do meu traje e enfiei as cartas em um bolso lateral da minha calça. Olharia o conteúdo com mais calma mais tarde. Se fossem de fato importantes, eu não poderia deixá-los ali.

- Healyn, anda logo! - Oliva chamou da escada, impaciente.

- Estou indo! - respondi, correndo para alcançá-la.

Subimos as escadas rapidamente, e meu coração batia acelerado, não só pelo esforço, mas pela tensão crescente. Quando chegamos de volta ao quarto dos meus pais, Oliva correu até a porta, pronta para sair e verificar se o caminho estava livre. Mas algo a fez parar abruptamente.

Ouvi uma voz. Uma voz familiar e fria que me fez gelar por dentro.

- Que surpresa agradável encontrar vocês aqui.

Meu sangue gelou no instante em que vi Kyler parado na entrada do quarto. Ele estava sorrindo, mas não era um sorriso comum. Era um sorriso ameaçador, afiado como uma lâmina prestes a cortar.

Oliva parou à minha frente, erguendo o queixo, mas mesmo ela parecia surpresa por vê-lo ali. Eu, por outro lado, senti um calafrio percorrer minha espinha. O olhar dele passou de Oliva para mim, seus olhos escuros parecendo ler cada pensamento que eu tinha.

- Healyn - ele disse com aquela voz macia, cheia de intenções ocultas. - Que belo reencontro, não acha? Seus pais estavam preocupados.

Seus olhos pousaram brevemente na sacola improvisada nas mãos de Oliva, e o sorriso dele se alargou. Ele sabia. Sabia exatamente o que tínhamos feito.

- Vocês duas... estão muito longe de casa, onde está Jaeson? Ele não veio com vocês? - continuou ele, cruzando os braços e inclinando a cabeça de forma casual, como se a situação fosse um jogo para ele.

Der repente o ambiente parecia pesado, como se a presença de Kyler drenasse toda a energia ao redor. Ele deu um passo à frente, seus olhos fixos nos meus, e eu senti a tensão aumentar a cada segundo.

Reino de sonhos e sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora