A manhã chegou com um frio cortante que se infiltrava pelas janelas abertas do meu quarto, o inverno estava se iniciando. A luz pálida da aurora filtrava-se suavemente, criando padrões dourados no chão de pedra polida. Sentei-me na cama com um suspiro, sentindo o peso dos sonhos agitados da noite anterior ainda sobre mim.
Meu quarto, adornado com móveis esculpidos em madeira escura e tapeçarias delicadas, parecia um refúgio tranquilo contra as incertezas do mundo lá fora. Ainda sonolenta fui até o guarda-roupa e dele retirei uma capa de veludo roxa macia ao toque. Enrolei-me na capa e ajustei as pregas enquanto me dirigia a penteadeira. Fiquei em frente ao espelho, observando meu reflexo. Os longos cabelos ruivos caíam em cascata sobre meus ombros, brilhando à luz suave do amanhecer. Minha pele clara contrastava com a vibrante cor de meus cabelos, e meus olhos verdes, profundos como esmeraldas, e as olheiras que sequer sumiriam tão cedo.
Passei os dedos pelos cabelos, sentindo a textura suave entre minhas mãos, elaborei uma simples trança e respirei fundo. Pensava em como tudo poderia ser diferente.
Segui em frente, saindo pela porta do quarto afastando os pensamentos que estavam tumultuados enquanto eu caminhava pelos corredores silenciosos do castelo, rumo à biblioteca. A manhã estava apenas começando, e poucos serviçais já circulavam, ocupados com suas tarefas diárias.
Coloquei o capuz sobre a cabeça escondendo o cabelo, embora mesmo assim, soubesse que receberia alguns olhares frios.
Ao entrar na biblioteca, um calor reconfortante me envolveu, trazendo à tona memórias de tardes passadas na companhia dos livros. Oliva já estava lá, mergulhada em um volume antigo, seus lábios se movendo silenciosamente enquanto lia.
A biblioteca do castelo era um lugar vasto e sombrio, com fileiras intermináveis de prateleiras repletas de tomos antigos esquecidos e novos. Caminhei entre as estantes, meus dedos traçando o contorno das lombadas envelhecidas até me aproximar de Oliva.
- Bom dia, Oli. - Cumprimentei-a, minha voz suave cortando o silêncio.
Ela ergueu os olhos, revelando uma expressão de concentração que se suavizou ao me ver. Havia me dito que estaria aqui antes de sair para a cidade na noite anterior.
- Haelyn, bom dia. - Disse com um bocejo sincero, revelando estar ali a mais tempo do que imaginava.
Vela sempre tão preocupada comigo confortava meu coração em ter uma amiga tão preciosa.
Então reparei o livro de capa de couro em suas mãos, antigo e desgastado pelo tempo tão quanto a folha da profecia que Oliva tinha encontrado sobre a mesa quando ouviu meu pai e Kyler conversando.
- Você encontrou algo novo? - Perguntei curiosa me juntando a ela na mesa.
- Não tenho certeza, encontrei esse livro entre os outros dentro de um baú atrás da última estante. - Ela fecha a capa para me mostrar o título em cor de prata - Ele fala da história do reino, sobre 200 anos atrás...
- Tem algumas páginas rasgadas, fiquei pensando se foi daqui que retiraram a profecia. - Concluiu duvidosa e voltando seus olhos a mim.
- Um livro de história antigo? - Penso em voz alta. - O que mais você achou?
Volto a encarar o livro com o título de "Seraphis e as Sombras", buscando pelo nome do autor, mas aparentemente não havia um.
- Apenas sobre uma tal lâmina das...
Antes que pudéssemos discutir mais, ouvimos passos se aproximando.
Viola entrou na biblioteca com passos rápidos, deslizando a bainha baixa do vestido violeta no chão, sua presença imponente preenchendo o espaço silencioso aparentemente decidida a buscar por algo. Seus olhos varreram o ambiente até se fixarem em mim e Oliva e no livro sobre a mesa. E pude jurar ver seu semblante endurecer ao perceber do que se tratava o livro, mas ela se virou para mim com um sorriso falso nos lábios suavizando a tensão visivelmente aparente segundos antes.
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Reino de sonhos e sombras
FantasyNo místico reino de Elaria, uma antiga profecia assombra a vida de Haelyn, a princesa de cabelos acobreados como chamas. Considerada uma aberração e um presságio de azar, Haelyn cresce entre os muros do palácio, desconhecendo a verdade que a aguarda...