XXIII

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Felicia e eu caminhávamos de volta ao castelo. O caminho estava silencioso, mas minhas dúvidas gritavam dentro de mim. O que teria feito Asher mudar de comportamento tão repentinamente? O que era tão sério? Outro monstro? As sombras? Para onde havia ido? Felicia, como se adivinhasse meus pensamentos, quebrou o silêncio.

- E então, o que achou do lado de fora? - perguntou ela, olhando para frente cantarolando algo baixinho.

- Encantador - respondi, ainda absorta. - Mas, para onde Asher foi?

Felicia assentiu para a primeira resposta e parou de cantar.

- Ele tem estado mais ocupado. Muitos problemas estão acontecendo, e a profecia está se desdobrando. O tempo é curto, e ele precisa fazer algo logo. Ele já estava perdido, mas quando você apareceu... - Ela hesitou por um momento, olhando para mim com os lábios curvados para cima. - Algo se acendeu dentro dele, como uma possível esperança para...

Então parou de repente, deixando sua frase inacabada. Olhei para ela, intrigada.

- Esperança para o quê? - perguntei, minha curiosidade aguçada na esperança da maga dizer mais.

Felicia sorriu, mas havia uma sombra de mistério em seus olhos.

- Estou enchendo sua cabeça com coisas que provavelmente só vão complicar mais seus pensamentos. Já deve estar explodindo de informações, não é?

Eu ri de forma pouco incomoda, queria que ela continuasse, concordei, mas não pude deixar de sentir uma pontada de frustração. O que ela estaria prestes a dizer? A sensação de que havia algo importante nas palavras de Felicia me deixou inquieta.

À medida que nos aproximávamos do castelo, uma sensação de reverência tomou conta de mim. A grandiosidade da estrutura era incrível. As paredes externas, construídas de uma pedra pálida e reluzente, pareciam quase diamantes sob a luz suave das estrelas, como se o próprio castelo fosse uma extensão do céu noturno. Cada detalhe era meticulosamente trabalhado, desde os arcos altos e graciosos até os delicados arabescos que adornavam as janelas. Essas janelas, vastas e feitas de vidro puro, capturavam e refletiam o brilho das estrelas, criando uma dança de luzes que parecia viva. Varandas majestosas se projetavam da estrutura, como palcos secretos, escondendo mistérios por trás de cortinas invisíveis. Havia algo de hipnótico ao longo das paredes, como se o próprio castelo estivesse guardando segredos há muito esquecidos, prontos para serem descobertos por aqueles corajosos o suficiente para explorá-los. O edifício se erguia imponente contra o horizonte, e eu podia sentir a energia pulsante daquele lugar, um santuário atemporal em uma dimensão própria. Cada pedra, cada curva arquitetônica, parecia sussurrar histórias do passado, convidando-me a desvendar seus enigmas. Era praticamente um castelo de vidro ou diamante em minha visão.

- É incrível - murmurei, a maga parecia concordar.

Assentiu.

- A única forma de chegar aqui é por um portal? - Pergunto, mudando o assunto.

- Sim, este lugar é uma dimensão criada pelo tempo, mas também é possível vir através dos sonhos, como bem sabe, utilizando da água da fonte. - A menção me fez lembrar da senhora Pullman.

Franzi as sobrancelhas. E as lembranças das lições de literatura com Jaeson voltaram à minha mente. Ele falava com uma paixão quase antiga sobre os Deuses, figuras poderosas que, em tempos imemoriais, eram reverenciados como os guardiões do equilíbrio do mundo. Mas, com o passar dos séculos, a fé nessas entidades divinas foi se esvaindo, se tornando apenas um sussurro perdido entre as páginas de livros antigos. A maioria das pessoas tratava esses Deuses como meras fábulas, histórias para entreter crianças antes de dormir. Entretanto, havia uma exceção: os "Filhos das Estrelas", aqueles raros e abençoados com o poder dos próprios Deuses. Eles eram escolhidos, segundo as lendas, para carregar a luz divina e liderar a humanidade em nome dessas forças superiores. Eram seres extraordinários, nascidos sob constelações específicas, destinados a feitos grandiosos. Contudo, muitos desses "Filhos" permaneciam envoltos em mistério, desaparecendo nas sombras do tempo ou sendo relegados ao status de mitos. Assim como o Príncipe dos Sonhos.

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