Reino de sonhos e sombras

XIX

As palavras de Asher ecoavam em minha mente, reverberando como um sino de morte. "Parte de você está ligada àquele lugar, Healyn." Essas palavras se entranharam em meu ser, como garras afiadas. Era como se ele tivesse acabado de assinar minha sentença, e eu não conseguia escapar das possibilidades infinitas de desgraça que se desenrolavam diante de mim. Cada pensamento era uma nova forma de morte iminente. A floresta me engolindo viva, as sombras me consumindo, a espada nunca sendo encontrada. Tudo isso me esmagava, e eu sentia que estava prestes a sufocar.

O fardo de tudo isso era insuportável. Senti uma onda de pânico e medo, muito mais intensa do que quando descobri a profecia pela primeira vez. Meu corpo começou a tremer incontrolavelmente, cada músculo se retesando em um espasmo de ansiedade. Minhas mãos suavam frio, e meu coração batia tão rápido que parecia que iria explodir. As lágrimas começaram a encher meus olhos, distorcendo minha visão do salão e das pessoas ao meu redor.

Não consegui conter os soluços que rasgavam minha garganta. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, quentes e salgadas, misturando-se com o suor frio que cobria minha pele. O peso de tudo isso era demais para suportar, e eu precisava fugir. Precisava sair dali antes que todos vissem meu colapso, antes que testemunhassem minha fraqueza.

Correndo, fugi do salão, meus passos ecoando pelo chão de pedra. As vozes de Jaeson, Oliva e os outros chamando meu nome se tornaram distantes, quase irreais. Eu não podia suportar a ideia de que me vissem assim, despedaçada e vulnerável. Meus pés me levaram pelos corredores desconhecidos, e eu não sabia para onde estava indo. A única coisa que importava era a necessidade de escapar, de encontrar algum lugar onde pudesse me esconder da dor e do medo.

O ar estava pesado, difícil de respirar, e cada respiração parecia um esforço monumental. O anel em minha mão começou a brilhar, mas eu mal notava. A dor no peito era esmagadora, como se um peso enorme estivesse sobre mim, dificultando ainda mais minha corrida. Meus passos eram erráticos, quase tropeçando, mas eu continuava correndo, determinada a não parar até encontrar algum alívio.

Os corredores eram labirínticos, iluminados apenas pela luz das janelas que contrastava com a escuridão do lado de fora. As estrelas brilhavam no céu, uma visão que normalmente me acalmaria, mas que agora apenas aumentava minha sensação de isolamento. Precisava sair, sentir o ar fresco do lado de fora. Mas onde era a saída? Não podia simplesmente pular de uma janela ou varanda do andar em que estava.

Foi então que vi uma escada. Sem pensar, corri para ela, descendo cada degrau com passos apressados e ansiosos. Cada passo parecia aumentar a ansiedade que já era avassaladora, e minha visão ficava cada vez mais turva pelas lágrimas incessantes. O corredor ao final da escada era mais escuro, mas havia uma porta de arco, que me chamou como uma promessa de refúgio.

Atravessei a porta e me deparei com um interior curioso, quase mágico. O chão era lustroso como um espelho, refletindo cada movimento meu. As paredes eram cobertas por prateleiras brancas cheias de esferas brilhantes e coloridas. A sala inteira parecia um grande espelho, mas eu não me importava com a magia do lugar. Não naquele momento.

Desabei no chão, deixando meu corpo escorregar até ficar de joelhos, os ombros caídos em desespero. Chorei. Chorei como nunca havia chorado antes, soluçando de uma maneira que parecia rasgar minha alma. Não era para chorar, mas tudo aquilo - até agora - e as últimas palavras de Asher acenderam um novo gatilho dentro de mim. As lembranças que eu queria tanto esquecer agora me atormentavam novamente. Não, não, não! Eu não quero lembrar... repetia.

As palavras do príncipe ecoavam na minha mente, misturando-se com minha própria autocrítica. Ele não tinha culpa. Talvez a culpa fosse completamente minha, por ter a vida que tenho, pela má sorte que me segue. Cada soluço era uma liberação de dor acumulada, e cada lágrima parecia levar um pouco da minha sanidade.