XXXVIII

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Quando Hope saiu, um silêncio pesado tomou conta da cela. Eu tentava absorver suas últimas palavras, que pareciam ainda ecoar pelas paredes frias. Algo nele me incomodava profundamente, uma inquietação que não conseguia nomear.

Não tive muito tempo para digerir o que ele havia dito. Dois guardas abriram a porta da cela com brutalidade, como se mal pudessem conter o desprezo que sentiam por mim. Fui erguida sem cerimônia.

- Para onde estão me levando? Outra prisão?

- Você fala demais - disse um deles, a voz cheia de desdém.

O outro, mais direto, completou:

- Para o Salão. O rei e a rainha querem uma audiência e que você esteja presente.

Aquelas palavras fizeram meu coração acelerar descontroladamente. Uma audiência com eles? Meus "maravilhosos" pais? Apertei os punhos, sentindo o calor subir pelo meu corpo. Sabia que nada de bom sairia disso. A perversidade deles não tinha limites, e o pensamento do que poderiam estar planejando fez minhas cicatrizes pulsarem em um latejar de dor antiga.

- Como está Oliva? - exigi saber, já sendo arrastada pelos corredores do primeiro piso. As escadas para o segundo se aproximavam.

Os guardas suspiraram com impaciência, deixando claro que não gostavam da minha companhia. Mas eu era a princesa gostando ou não, ao menos isso poderiam responder, ou era o que eu achava.

- Verá quando chegar ao salão - foi a única resposta.

Segui em silêncio, meus pensamentos eram uma tempestade. O som das armaduras farfalhando e dos passos pesados eram audíveis ao nosso redor. Quando chegamos à entrada do corredor lateral ao salão, senti meu estômago revirar. De longe, podia ouvir a risada exageradamente falsa e cruel de minha mãe, aquela que sempre dava quando algo ocorria exatamente como ela queria.

Ao entrar no salão, o desprezo era quase palpável. Cada olhar que me atravessava estava carregado de ódio, e a atmosfera era sufocante. O espaço não estava lotado, mas aqueles presentes bastavam para tornar o ambiente ainda mais ameaçador. O rei e a rainha sentados em seus tronos ornamentados com rosas vermelhas e margaridas, flores que em tempos distantes significavam beleza e paz, mas agora pareciam um lembrete macabro, e um motivo a mais do porque ainda não gostava das vermelhas. Kyler estava ao lado de meu pai, sério e imponente. Viola, segurando uma taça de vinho, estava ao lado de minha mãe, rindo como se minha presença não significasse nada. E Hope... Hope me encarava do canto com aquele sorriso nojento, como se já soubesse o que estava por vir. Os demais empregados, guardas e damas de companhia da rainha estavam ao redor.

No centro do salão, meu olhar finalmente pousou em Oliva, e meu sangue congelou de imediato.

Ela estava ajoelhada, suas mãos tocavam o chão, as costas dilaceradas por cortes profundos. O sangue escorria pelos rasgos em seu traje, expondo a carne, e tudo o que consegui sentir foi dor. Ela havia sido chicoteada.

Meu peito se apertou, uma pressão imensa tomou conta de mim. Era como se meu coração estivesse sendo esmagado.

- Oliva! - Gritei, tentando me soltar dos guardas que me seguravam.

- Fique quieta! - Um deles sibilou, me empurrando brutalmente para o chão.

Caí de joelhos, mas continuei lutando, desesperada, até que senti a mão de um deles puxando meu cabelo para trás, forçando-me a erguer o rosto em direção ao rei e à rainha. Eu rangia os dentes furiosa. O ódio crescia dentro de mim como uma chama incontrolável.

- Oh, minha filha, chegou na hora certa - disse meu pai, pegando uma taça de vinho à mesa ao seu lado casualmente, como se a cena à sua frente fosse mero entretenimento.

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