Reino de sonhos e sombras

XIII

Eu observava a cidade de Elaria em chamas. A visão era surreal, como se um pesadelo tivesse se materializado. As chamas misturavam-se aos gritos de pavor e desespero que ecoavam pelas ruas. Algumas casas e lojas estavam em colapso, consumidas pelo fogo voraz. No horizonte, as sombras grotescas se moviam com uma velocidade assustadora, onde as espadas se chocavam, um contraste sombrio contra o brilho laranja das chamas.

Oliva apertou meu braço, o medo claramente estampado em seus olhos.

A cidade de Elaria era um labirinto de ruínas e desespero. As ruas estavam cobertas de destroços. Pessoas corriam, gritando por ajuda, enquanto as sombras as perseguiam implacavelmente.

Próximo aos portões do castelo vi pessoas desaparecer com uma agilidade sobrenatural. Vi três monstros diferentes, um com garras afiadas que dilaceravam qualquer coisa em seu caminho, outro com olhos brilhantes como brasas que pareciam queimar tudo o que olhavam, e um terceiro que se movia como fumaça, intangível e evasivo. Os guardas tentavam lutar, mas suas espadas cortavam apenas o ar, pois as criaturas desapareciam antes do golpe acertar.

- Haelyn. Não podemos ficar aqui. - A voz de Oliva era um sussurro tenso, quase inaudível acima do caos.

Ela estava certa. Havia pessoas lá fora, e agora muitas dentro do castelo, no salão, pessoas que precisavam de ajuda. Oliva e eu descemos as escadas do castelo apressadamente.

Quando chegamos ao salão do castelo, encontramos Jaeson em meio ao caos. Ele comandava e dividia os guardas para proteger o rei e a rainha, que estavam sendo levados para um local seguro. Hope estava no meio do conflito, discutindo fervorosamente com Jaeson.

- Você está fazendo isso errado.

- Precisamos levar o rei e a rainha para fora daqui! - Hope gritava, a voz cheia de frustração e desespero.

Mas Jaeson estava focado e preocupado demais para dar ouvidos aos desejos e ordens egoístas do príncipe do Norte.

Kyler estava na porta principal, conjurando um feitiço para proteger o castelo. A luz brilhava intensamente, criando uma barreira que parecia segurar as sombras do lado de fora, pelo menos por enquanto. Outros guardas defendiam e monitoravam as outras entradas, prontos para qualquer eventualidade.

Minha presença foi perceptível de início, onde olhares vieram de encontro ao meu. O espanto era visível junto ao medo. Meu cabelo era o principal ponto fixo de seus olhares, todos sabiam. Todos ali sabiam quem eu era agora. E alguns sussuros surgiram entre as demais pessoas que se recolhiam nós cantos, apavoradas, chorosas e preocupadas com o possível futuro.

"Ela é a princesa"

"Cabelo vermelho"

"A aberração"

"Foi ela quem fez isto?"

Podia ouvi-los...

No meio do salão, uma cena terrível chamou minha atenção. Um garotinho estava debruçado no colo de uma mulher que aparentava ser sua mãe, e sua irmã mais velha chorando ao seu lado. Sua perna esquerda estava coberta por uma magia sombria, de uma coloração preta que se enraizava em sua pele, causando uma dor excruciante. Uma tormenta viva, uma entidade malevolente que parecia possuir sua perna, enraizando-se em cada nervo e osso com garras invisíveis. Seus gritos eram agudos, perfurantes, como se a própria essência de sua alma estivesse sendo dilacerada. Seus olhos, cheios de lágrimas, refletiam o terror e a agonia que pareciam intermináveis, uma batalha silenciosa entre vida e morte travada em cada fibra do seu ser.

Oliva e eu nos aproximamos rapidamente. Ela buscou materiais de socorro com outras empregadas assustadas que conduziam as demais pessoas do salão, enquanto eu tentava enfaixar a perna do garoto que gritava de dor.