XXXIV

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Quando finalmente chegamos a Elaria, uma parte de mim sentiu um amargor familiar. Estávamos na floresta atrás do castelo, onde Jin, Oliva e eu caminhava-mos até mais próximo do muro que cercava o mesmo. As árvores sussurravam na noite, e o ar estava frio, trazendo de volta lembranças desagradáveis. Minhas mãos começaram a suar; o nervosismo me invadia, ainda que eu tentasse me concentrar na missão.

Oliva, sempre focada e pragmática, liderava o caminho pela noite que se estendia. "A passagem fica nos fundos do castelo. Não estamos longe, apenas alguns metros nos separam da mata e do muro," ela murmurou, apontando para frente. Comemos os biscoitos dado por Felicia rapidamente antes de prosseguir, o gosto lembrava a castanhas e nozes, nada muito surpreendente. O castelo de Elaria, imponente e ameaçador como sempre, elevava-se diante de nós. Meus pés pesavam a cada passo que eu dava em direção àquele lugar. Anos de sofrimento e crueldade se acumulavam em minha memória como uma tempestade prestes a desabar.

- A passagem fica logo ali - Oliva disse, com o olhar fixo adiante, mas não prestei atenção, sabia exatamente onde ficava.

Meus pensamentos estavam turbulentos. Cada pedra daquele lugar carregava cicatrizes do que eu havia passado. Era como se as paredes, as árvores, o chão soubessem o que aconteceu ali e sussurrassem isso de volta para mim. Minha mente vagava pelos corredores escuros da minha infância, nas celas onde fui deixada, nas mãos que me agrediram. Eu senti um nó se formar no meu estômago.

Mas meus pensamentos neblinosos foram interrompidos novamente por Oliva, que parou abruptamente apontou para uma pequena entrada embaixo de nossos pés bem próxima ao muro.

- O que é isso? - Jin perguntou.

- A entrada, obviamente - respondeu Oliva, com um toque de sarcasmo. Eu não pude evitar rir baixinho, quebrando um pouco da tensão.

- Por favor, não comecem a discutir agora - pedi, tentando manter o foco.

- Relaxa, eu já estou acostumado com as alfinetadas da sua dama de companhia — Jin disse, sorrindo de lado.

Oliva fez uma cara de brava, mas antes que pudesse responder seus olhos se arregalaram em alerta, ela nos mandou calar a boca com um gesto.

- Espera. - Seu rosto ficou sério de repente. - Eu estou ouvindo passos.

Imediatamente, quase prendemos a respiração e ficamos parados como estátuas. Um guarda estava rondando acima de nós, no muro. Suas botas podiam ser vistas através das grades que cercavam o jardim. Ele parecia distraído, mas qualquer movimento brusco e estaríamos descobertos. Oliva fez um sinal para que Jin abrisse a porta escondida, meio camuflada pelo solo e pela folhagem. Com um movimento cuidadoso, Jin abriu a porta que revelava uma escada estreita descendo para a escuridão. Oliva entrou primeiro, descendo rapidamente.

Eu a segui, e logo fomos engolidos pelo breu.

- Não tô enxergando nada - Jin comentou logo atrás de mim.

- Nossa, como se você fosse o único, né? Healyn, tem tochas nas paredes. Acha que consegue acender uma? - Oliva sugeriu.

Eu tateei a parede cegamente com as mãos estendidas, tentando encontrar a tocha. O frio da pedra me fazia estremecer, mas me concentrei, recordando o que Felicia havia me ensinado. Respirei fundo e reuni as energias, deixando o fluxo mágico se estender até a palma da minha mão direita. Quando senti o anel de safira pulsar, uma chama azul acendeu, calorosa e acolhedora. Levantei a tocha e a coloquei em contato com a pequena chama, que cresceu e iluminou a passagem à nossa frente. O túnel era velho e antigo, gotículas de água respingavam do teto algumas vezes deixando as teias de aranha brilhantes e visíveis nos cantos de pedra acima de nós, além da floresta que estava invadindo o subsolo com suas raízes que pareciam se espalhar e crescer em uma velocidade de tempo bem longo.

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