XLVII

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Depois da tempestade, eu sentia o ar mais leve, quase como se uma parte pesada de mim tivesse se dissipado com o vento. Eu e Asher estávamos lado a lado, o silêncio entre nós não era desconfortável. Na verdade, eu gostava desse silêncio.

Algo que agora parecia sempre ter estado ali, mas só agora eu podia sentir. Desde antes. Era um sentimento quase irreal para mim. Como alguém poderia me amar? Eu, com minha bagagem pesada e meus medos. Se tudo o que Asher havia dito era verdade - que tudo o que restava para mim era lembrar, para encontrar as respostas - então, eu não podia negar o quanto isso me fazia feliz. O fato de ter tido alguém que me esperou por tanto tempo, mesmo que sem saber, alguém que ansiava por mim... e agora, eu sentia que esse sentimento era mútuo da minha parte também, assim como ele. Talvez fosse a outra parte de minha alma que estava sentindo, ou talvez fosse as duas, mas estar ao lado dele me trazia uma paz que eu nunca havia experimentado antes, uma leve força que fazia a perda de Oliva parecer amena por um curto tempo e todo o ódio que tinha dentro de mim.

Quando finalmente voltamos ao castelo, a familiaridade daquele lugar me trouxe de volta à realidade. Tele-portamos diretamente para uma enorme sala de jantar. As paredes altas e decoradas com tapeçarias detalhadas contavam histórias que eu sequer lembrava de viver, enquanto candelabros de ouro brilhavam acima de nós. Alguns guardas estavam posicionados ao redor da sala, suas armaduras cintilando sob a luz bruxuleante das velas já acessas naquela hora. Quando avistaram Asher, imediatamente fizeram reverência, o que me lembrou de sua importância naquele reino.

Ele havia me dito que se tornara uma figura vital para Seraphis, um herói. Não era só um filho das estrelas, mas o responsável por proteger todos ali. Isso me fez pensar em como Asher carregava tanto peso nos ombros, um peso incomparável com o meu. Mesmo agora, com tudo o que passamos e descobrimos juntos, ele levava o fardo de já ter perdido muito, e ainda assim ser no fim, uma chave para destrancar uma porta do meu futuro. Um futuro que envolvia mais que apenas eu, e agora eu entendia isso.

Embora soubesse mais de tudo agora, e cada peça se encaixasse, havia mais a compreender. A profecia estava rasgada pela metade quando Oliva a mostrou mim. E eu me perguntava se a segunda parte revelava mais do que sei, ou Asher saiba dizer. Perguntaria mais tarde, pois antes que eu pudesse me perder em pensamentos, Felicia apareceu, quase correndo, com um grupo de pequenas fadas Pixies flutuando ao seu redor. Seus olhos pareciam cansados.

- Pelos Deuses, achei que não iam voltar! - exclamou, aliviada.

Eu sorri para ela, um sorriso tímido, mas genuíno. Havia algo em Felicia que sempre me encantava. Ela estava deslumbrante, como sempre. Seus cabelos castanhos, antes presos em tranças firmes, agora estavam soltos, caindo em ondas sobre os ombros. E aquele vestido... um laranja vibrante com detalhes em verde que realçavam seus olhos verdes. Felicia parecia uma força da natureza, a própria magia personificada.

E eu me dava conta de que, embora tivesse começado a entender melhor Asher e o passado que compartilhamos, Felicia ainda era um enigma para mim. Eu queria conhecê-la mais profundamente, entender sua história, assim como queria conhecer mais sobre Jin, o misterioso elementar que sempre estava ao lado dela.

Como essas pessoas, tão diferentes entre si, haviam se tornado um trio tão interessante? O que uniu Asher a eles? Essas perguntas me rodeavam enquanto eu olhava para Felicia, mas algo dentro de mim me dizia que, com o tempo, todas as respostas viriam. Por enquanto, o que importava era que estávamos todos ali, juntos. E, de alguma forma, isso parecia certo.

Enquanto eu continuava a observar a maga, algo sobre a forma como ela interagia com as fadas me fez refletir. Ela parecia tão à vontade no papel, ajudando-as com uma enorme sobremesa que agora estava posta sobre a mesa. A sobremesa era uma torre impressionante de camadas de bolo com creme branco e frutas cristalizadas, coberta com uma fina camada de pó dourado que cintilava sob a luz. As pequenas Pixies, com suas asas vibrando suavemente, circulavam em torno da mesa, dando os toques finais com magia que fazia faíscas coloridas dançarem no ar.

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