XI

31 10 21
                                    

Jaeson caminhava com passos firmes ao meu lado, sua voz uma melodia constante que ressoava enquanto ele narrava as intrigas do passado de Elaria. Seus olhos, no entanto, pareciam distantes.

Ele falava sobre a disputa entre os reinos do passado, um conflito que havia quase levado à uma guerra. Eu ouvi, mas minha mente estava em outro lugar, assim como a dele, igualmente. A inquietação que se alojara em meu peito desde que soubera da destruição no Sul não me deixava em paz, se juntando a todos os outros pensamentos que agora se conectavam como um emaranhado de ramos, raízes distintas, carregando suas dúvidas, frustrações, ódio e certa coragem. Finalmente, não consegui mais segurar a pergunta que estava na ponta de minha língua.

- Jaeson, você sabe sobre o Sul? - Minha voz quebrou o fluxo de sua narrativa distante e quase automática. Seus olhos, que estavam vagos, focaram-se em mim com surpresa.

Ele hesitou antes de responder, sua expressão cuidadosamente neutra.

- Princesa, não temos muitas informações concretas. - Ele disse lentamente. - Mas meus guardas estão se preparando, caso algo aconteça.

A resposta, embora esperada, não era suficiente.

- E se forem as sombras? - Minhas palavras foram diretas, a urgência evidente.

Jaeson parou de caminhar, olhando para mim com uma mistura de surpresa e preocupação. Ele respirou fundo antes de responder.

- As armas dos guardas são fortificadas com magia. - Disse ele, tentando me tranquilizar. - Se fossem sombras, seriam evaporadas o quanto antes.

Isso deveria ter me acalmado, mas apenas aumentou minha ansiedade. Não saberia dizer porque, mas acreditava no que Devlin, o mercador, havia dito na noite anterior na taverna.

Eu nunca vi uma sombra, nem mesmo existiam rascunhos ou gravuras que descrevessem bem sua aparência. Apenas sabia do pavor que causavam, e da capacidade de matar uma pessoa em questão de segundos. Sem detalhes a mais.

- O que exatamente são as sombras? De onde vieram?

Ele parou em frente à porta da biblioteca, sua expressão tornando-se séria e distante. Era como se ele estivesse prestes a me contar um segredo antigo e pesado.

- É bom saber que minha aluna tenha interesse e goste tanto de perguntas. - Riu.

- As sombras... - Ele começou, sua voz suave e grave. - São monstros que surgiram dos piores pesadelos da humanidade. Há milhares de anos, emergiram de um ponto de origem desconhecido, devastando tudo em seu caminho. Queriam devorar o mundo, cada vida, cada sonho.

- A sombras também já foram chamadas de Uldras, e com base no que antigos soldados, guerreiros e magos já viram e sabem, elas são aterrorizantes, compostas por uma escuridão pulsante e viscosa que parece absorver toda a luz ao seu redor; suas formas são indefinidas, constantemente mudando e se contorcendo como se estivessem em um estado de metamorfose contínua, com olhos vermelhos brilhantes que emergem das trevas, e garras afiadas como lâminas de obsidiana, capazes de rasgar a realidade; seus movimentos são silenciosos e furtivos, mas cada passo que dão é acompanhado por um frio glacial que suga o calor e a esperança de qualquer um que esteja próximo.

A descrição me fez estremecer. Eu podia quase imaginar da minha forma aquelas criaturas, feitas de escuridão e terror, rastejando pelas terras de Elaria.

- As sombras foram finalmente contidas após o sacrifício de Alyssa, uma heroína cujo poder foi suficiente para selar essas criaturas. Elas desapareceram por muito tempo, mas agora...

Antes que ele pudesse terminar, uma voz interrompeu o momento. Kyler. Sua presença era sempre inconfundível, carregada de uma aura de superioridade e silêncio.

Reino de sonhos e sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora