Ao entrar no quarto, depois de me despedir de Felicia, senti como se o peso de tudo estivesse desabando sobre mim de uma vez. Me sentei na beira da cama, tentando respirar, mas minha mente era um caos - uma confusão que parecia não ter fim. Desde que saí de Elaria, parecia que meus pensamentos eram jogados de um lado para o outro, como se eu estivesse presa à beira do mar, engolida por ondas que me empurravam antes mesmo que eu conseguisse recuperar o ar. Saber sobre meu passado, a vida que mal me recordo, que tenho apenas metade da minha alma, um poder que sequer sabia da existência em minhas veias, completamente perigoso e descontrolado...e Oliva. Era demais. E como se não fosse suficiente, me dei conta de que finalmente entendo o porquê de tantas vezes me senti impulsionada e determinada a lutar por mim mesma e o que acreditava ser melhor, por mais cruel que o mundo ao meu redor fosse. E, mesmo assim, sempre houve esse outro sentimento, algo sombrio, o desejo de simplesmente desaparecer. Mas agora...
A janela do quarto estava aberta, arejando o ambiente com a brisa da noite que levantava levemente as cortinas, a visão da cidade de Seraphis estava lá. Felicia havia me convidado para um passeio nos próximos dias para conhecer a cidade logo que estava saindo, o que me animará um pouco depois da nossa conversa. Saber que roubar os mapas havia sido uma ideia proveitosa parecia uma pequena vitória também. Felicia estava animada com os planos, e mencionou chamar Jaseon para a ajudar com o conhecimento dele em história. Formariam uma bela dupla, imaginei. E quem sabe, descobrissem mais sobre o mapa e a cidade de Finalis.
Me joguei na cama, com os olhos fechados, tentando aproveitar o conforto sobre o tecido da coberta macia. Mas aquela voz... Estava gravada em mim, como um eco impossível de afastar, era como se estivesse esperando por mim, uma reação minha. Me desconcentrei imediatamente quando ouvi a porta abrir de repente. Sobressaltei, e Asher entrou.
- Espero não ter te assustado. - A voz dele soou grave enquanto entrava e fechava a porta atrás de si.
- Hm, não - menti, estava assustada sim, mas não com ele, viro-me para encara-lo. Ele caminhou até o banheiro com uma expressão descontraída.
- O que está fazendo? - Pergunto.
Ele me devolve o olhar com um sorriso em seus lábios antes de responder:
- Vou tomar um banho. Quer se juntar a mim?
Minhas palavras se perderam por completo quando ele puxou a camisa sobre a cabeça, revelando o corpo que, até então, eu só havia imaginado até agora. Sua pele parecia capturar cada raio de luz do ambiente, destacando cada linha e curva dos músculos que se moviam suavemente a cada respiração. No centro do peito, uma cicatriz circular se destacava, como uma marca de batalha, trazendo uma intensidade quase feroz ao seu semblante tranquilo. Eu não conseguia desviar o olhar, tomada pela mistura de força e beleza que ele exalava, uma presença que fazia o ar ao nosso redor parecer mais denso, mais quente. Senti o calor se espalhando em ondas por todo o meu corpo.
- O que foi, intrusa? - Ele cruza os braços enquanto parece se divertir com minha reação.
Pega em flagrante. Fiz uma careta e ele soltou uma gargalhada, o que só me fez encará-lo ainda mais.
- Você é bonito - deixei escapar, sem me preocupar em disfarçar.
Asher arqueou as sobrancelhas, com um sorriso presunçoso. Não parecia nem um pouco surpreso, na verdade, continha um gesto que exalava provocação sem esforço. Segui em sua direção, decidida a aproveitar aquele momento de paz. Se eu tinha sorte por algo, talvez fosse por ele estar ali. Asher se virou para a banheira e, quando entrei no banheiro, ele já estava nela, abraçado pela água que pareceu amornar no momento que entrou em contato com seu corpo. A magia do teleporte.
Tentando focar em mim mesma, na simplicidade dos meus próprios movimentos. Comecei pelas botas, uma de cada vez, sentindo o chão frio contra os pés, depois puxei a calça e a calcinha, de forma lenta enquanto nossos olhares continuavam fixos, como se cada parte da roupa removida fosse um passo em direção a outro objetivo. Fiquei ali, por um breve momento, apenas com a longa túnica dele me cobrindo, sentindo o tecido macio e o cheiro familiar que me envolvia, o último resquício de sua presença direta em mim. Era quase um ritual de despedida daquele aroma reconfortante. Então finalmente deixei a túnica cair, revelando por completo mais uma vez a mim mesma.
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Reino de sonhos e sombras
FantasyNo místico reino de Elaria, uma antiga profecia assombra a vida de Haelyn, a princesa de cabelos acobreados como chamas. Considerada uma aberração e um presságio de azar, Haelyn cresce entre os muros do palácio, desconhecendo a verdade que a aguarda...