Famílias

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Não me surpreende as famílias pressionarem esse herdeiro, muito menos comentarem sobre a minha vida pessoal. Isso não é uma preocupação genuína muito menos um conselho, é apenas a preocupação dos meus aliados e ao mesmo tempo uma oportunidade de se garantirem no meu lugar. 

As coisas sempre funcionaram assim, devemos dar muitos herdeiros para que a sua família esteja segura, para que um sucessor seja capaz de continuar o legado, caso ao contrário você fica vulnerável e facilmente outra família consiga te liquidar. É o que eu disse, somos uma família até a primeira página.

Francesca jamais poderia assumir, porque além de rigorosos eles são machistas e mesmo se ela pudesse, eu jamais permitiria que ela precisasse lidar com aqueles homens crocoditas.

Não quero uma família. Não posso colocar uma criança nesse mundo sabendo tudo o que eu e a minha irmã passamos. Seria puro egoísmo e irresponsabilidade. 

- Está quieto. - Francesca acusa no banco de trás. 

Vicenzo divide a atenção da rua comigo e permanece em silêncio. Certamente não se envolveria, por mais que fosse o meu conselheiro, ele está em uma posição de liderança dentro da máfia siciliana, ou como eles preferem chamar: consigliere. 

- Não gosto que você vá aos clubes. - Minto. Porém, não muito. - É apenas um pedido de desculpas pelo o que aconteceu na Universidade, mas espero que você compreenda que as vezes essas coisas são necessárias para...

- Para a nossa segurança. - Interrompeu, em um tom de voz do qual já está cansada de ouvir sobre isso. - Eu sei. Mas você também precisa entender que eu quero ter amigos.

- Você tem, eu e o Vicenzo. 

- Vocês estão mais para guarda-costas do que meus amigos. 

- O que falta? Quer contar fofocas e comer sorvete enquanto assistimos um filme romântico? - Vicenzo debocha e eu o encaro sério. 

- Quer assistir filmes românticos com a minha irmã? - Questiono rude e ele ri.

- Ora, Tico, somos apenas bons amigos. Nunca aconteceria algo entre nós dois, Vicent me enxerga como um homem, não é? - Da dois tapinhas no ombro do meu amigo e o sorriso some no mesmo instante.

- Claro. - Concorda. Mas vejo seus dedos inquietos no volante. 

Sinto muito por ele, contudo esse romance jamais aconteceria. Ouvir que você é apenas amigo da mulher que ama deve doer pra caralho, mas perde-la custaria a minha própria vida.

*

Sempre que estamos em clubes a nossa segurança é básica, mas hoje não é um dia qualquer. Reforcei a segurança para que a Francesca permaneça segura, por mais que confie cegamente no meu melhor amigo, não arriscaria nem um fio de cabelo da minha irmã. 

- Isso é incrível! - Francesca da pulinhos de alegria quando entramos no nosso camarote. Está forrado de bebidas e sofás confortáveis de couro.

A luz está baixa, e por mais que eu goste desse ambiente, hoje essa luz me causa preocupação. Vicenzo organiza a nossa segurança enquanto sento ao lado da minha irmã. Olho para as suas pernas de fora e suspiro irritado.

- Não precisava um vestido justo preto e saltos tão altos. Cadê seus moletons e jordan? 

Passo o braço no seu ombro e a trago para mais perto. Francesa se aninha ao meu lado enquanto sorri.

- Sou mulher, Tico. Uma mulher bem bonita e segura com os caras maus do meu irmão. O que é aquilo? - Aponta para o andar de baixo que tem um palco. - Oh, oh não! - Se desfaz do meu braço e levanta indo até o guarda corpo de vidro. - Você me trouxe em um escândalo? 

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