Quem é o bastardo?

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Federico moveu a cabeça, como se buscasse um novo ângulo para observar Amy. Seus olhos, normalmente firmes e calculistas, estavam carregados de uma intensidade que ela nunca havia visto antes. O sangue corria rápido pelas suas veias, e o silêncio entre os dois era mais pesado do que qualquer palavra que pudesse ser dita. Ele permanecia imóvel, a postura ereta, o terno perfeitamente alinhado, mas dentro de sua mente, uma tempestade se formava.

Amy sentia o peso da tensão no ar. O olhar frio de Federico fazia seu peito apertar. Então, com um fio de voz, ela finalmente quebrou o silêncio.

— Federico, por favor, diga alguma coisa.

Ele abriu a boca, mas, ao invés de palavras, um longo suspiro escapou. Os olhos dele ainda estavam fixos nela, mas sua mente parecia estar em outro lugar, correndo a mil. O silêncio continuava a ocupar o espaço entre eles, até que Federico, com uma calma tensa, perguntou:

— Onde está o Ravi?

Amy deu de ombros, um gesto pequeno, mas cheio de incerteza. Seus olhos estavam marejados, prestes a transbordar em lágrimas.

— Eu não sei — disse ela, sua voz trêmula.

Federico não disse nada, apenas se aproximou dela. A aproximação foi firme, como se cada movimento tivesse sido calculado, mas seus olhos continuavam a fitar os dela com uma força que parecia atravessar sua alma.

— Há mais alguma coisa a ser dita? — ele perguntou, e sua voz foi grave, carregada de uma seriedade implacável.

Amy sentiu o peso da pergunta. O alívio de finalmente contar tudo a fazia chorar. As palavras não eram apenas sobre segredos guardados, mas sobre o pesadelo que ela havia vivido, o medo, o bebê, e, principalmente, Federico. O peso desses sentimentos a fez desabar.

Federico a observou com atenção, sem mover um músculo. Era como se estivesse esperando pela última peça do quebra-cabeça. Quando Amy negou com a cabeça, ele notou a dor nas lágrimas que caíam silenciosamente. Aquilo a estava consumindo.

Ele suspirou, e seus olhos passaram a brilhar com uma determinação que não poderia ser ignorada.

— Fique tranquila, Miller — disse ele, agora com uma suavidade inesperada. — O que for necessário será feito. Você é uma Mancini agora, e eu vou mover montanhas para proteger você e o nosso filho.

O alívio que tomou conta de Amy foi quase físico. Os ombros pareceram se soltar, como se uma carga invisível houvesse sido retirada. A turbulência dos pensamentos que a assombravam desde o início dessa guerra parecia finalmente começar a se acalmar.

Federico se aproximou mais, quase sem fazer barulho, e com mãos grandes e fortes, mas gentis, segurou o rosto de Amy, obrigando-a a olhar para ele. A proximidade era elétrica. Ele suspirou de novo, e o tom de sua voz era agora quase um sussurro, cheio de urgência.

— Amy, você realmente precisa ser sincera comigo. Esse é o momento.

Amy, com o olhar inundado de lágrimas, se apressou a responder.

— Eu contei tudo. Não há mais segredos. Só... só o Ravi ainda não sabe que você matou a mãe nossa mãe. Se é que pode chamar aquele monstro de mãe.

Federico fechou os olhos por um instante, o peso da revelação caindo sobre ele como uma onda. Não havia arrependimento em sua expressão, pois ele sabia o que havia feito e o porquê. Cada bala que havia disparado tinha um alvo, uma razão. Mas naquele momento, algo o incomodava profundamente. A jovem por quem havia se apaixonado era agora órfã e ele era o culpado, e isso... isso não parecia doer nela. Pelo contrário, parecia uma espécie de libertação de uma vida conturbada e cheia de confusão.

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