Revelações

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O sol começava a se esconder atrás dos prédios da universidade, tingindo o céu com tons de laranja e rosa. Vicenzo estacionou o carro em frente ao campus e olhou rapidamente para o relógio. Faltavam poucos minutos para o sinal tocar, sinalizando o fim das aulas e a liberdade temporária de Francesca. Nos últimos cinco dias, a perda de Nicolo Izzo pairava no ar como um manto pesado, e a decisão de Federico de permitir que Francesca voltasse à faculdade parecia uma tentativa de dar a ela um semblante de normalidade em meio ao caos.

Vicenzo olhou pelo retrovisor e viu o carro dos seguranças estacionado atrás dele, os vidros escuros refletindo a luz do final da tarde. Era uma exigência de Federico, uma condição que Francesca aceitou relutantemente, permitindo que os seguranças ficassem do lado de fora, mas sem invadir o espaço da faculdade. Ele suspirou, aliviado e inquieto ao mesmo tempo. O que deveria ser um momento de alegria, a volta de Francesca à rotina acadêmica, era complicado por sentimentos não resolvidos e pela presença vigilante dos seguranças.

Ele acendeu um cigarro, inclinando-se contra o carro enquanto aguardava. O fumo subia, dançando em espirais, como os próprios pensamentos de Vicenzo. A expectativa e o desejo misturavam-se, criando uma tensão que parecia palpável. Quando o sinal tocou, uma onda de estudantes começou a sair apressadamente, mas Vicenzo tinha olhos apenas para uma.

Francesca apareceu ao lado de sua amiga Caroline, ambas conversando e rindo. Caroline, com seu jeito descontraído, logo notou os dois carros pretos parados e comentou: 

— Bonito, não? —  Caroline continuou, um sorriso travesso no rosto. Seu olhar acompanhou Vicenzo, que já estava mais que acostumado a ser observado.

Francesca revirou os olhos, mas não conseguiu conter um sorriso. 

— Ele é da família.

— Família? Se eu fosse você, não pensaria duas vezes. Eu faria uma família com ele também! — Caroline provocou, rindo.

Francesca balançou a cabeça, negando. 

— Impossível. Se Federico não fosse seu irmão, talvez...— Sua voz ficou distante, como se o pensamento a incomodasse.

— Eu também faria uma família com ele. — Caroline brincou, fazendo caretas.

Francesca hesitou, uma expressão pensativa cruzando seu rosto. As duas amigas chegaram perto do carro, e antes de se despedirem, Caroline lhe deu um abraço. Francesca então se virou, caminhando em direção a Vicenzo.

— Por que você veio me buscar? — perguntou, olhando diretamente em seus olhos.

— Federico foi resolver alguns assuntos e me encarregou de te buscar — ele respondeu, dando uma rápida olhada para o relógio. A pressa parecia aflorar um pouco de sua habitual frieza.

Ele contornou o carro, abrindo a porta para ela. 

— Você precisa resolver mais alguma coisa ou já podemos ir?

— Não, já está tudo certo — Francesca meneou a cabeça, a tensão entre os dois era quase palpável.

Francesca subiu, mas a atmosfera carregava um peso quase elétrico. Vicenzo se instalou no banco do motorista e, enquanto olhava para a frente, ela perguntou:

— Deve estar adorando a situação — disse ela, tentando desviar do que realmente sentia.

— Tudo que se refere a você é do meu agrado — Vicenzo respondeu, sem hesitar. A sinceridade nas palavras fez o coração de Francesca disparar.

O silêncio se instalou entre eles enquanto Vicenzo ligava o carro. Era um silêncio carregado de coisas não ditas, de desejos reprimidos que pareciam vibrar no ar. Francesca olhava pela janela, mas seu pensamento estava voltado para Vicenzo, o cheiro masculino do perfume dele a envolvia como um manto sedutor.

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