O fardo da prioridade

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O escritório de Federico estava mergulhado em uma penumbra de antecipação. A única fonte de luz era a lâmpada de mesa, que projetava sombras dançantes nas paredes de madeira escura e nas estantes repletas de livros e documentos. Federico estava sentado atrás de uma mesa de mogno, coberta por papéis espalhados e uma garrafa de whisky que há muito havia perdido seu brilho dourado. Ele estava imerso em pensamentos turbulentos, seu olhar fixo na cortina escura que cobria a janela, como se a resposta para suas questões mais perturbadoras pudesse se revelar ali.

A tensão no ar era palpável. Federico passava a mão pelos cabelos, já com sinais de cansaço e preocupação, enquanto sua mente girava freneticamente. Ele se lembrava vividamente da noite anterior: o som estrondoso do disparo, o vidro estilhaçando-se, e a sensação esmagadora de impotência enquanto a realidade se desdobrava em caos ao seu redor. A cena era um pesadelo repetido na sua mente, uma tortura interminável.

Izzo ainda não havia chegado, e cada minuto que se passava fazia o nervosismo de Federico crescer. Francesca, sua irmã mais nova, estava na casa no momento do ataque. O pensamento de que ela poderia ter sido ferida — ou, pior ainda, ter perdido a vida — o consumia com um medo paralisante. Ele sabia que a família era a sua prioridade, e qualquer ameaça a ela não era algo que ele podia ou iria tolerar.

Federico se levantou e começou a caminhar pelo escritório, suas passadas rápidas e desordenadas refletindo seu estado interno. Ele parou diante de uma foto emoldurada na estante — uma imagem de sua família em um momento mais feliz. Ele e Francesca sorriam, com seus pais ao fundo. Era um retrato da normalidade que agora parecia tão distante, tão inatingível. As memórias de uma vida tranquila e segura eram como uma fenda dolorosa no presente tumultuado.

Ele tinha uma ideia clara: era preciso encontrar e punir o responsável pelo ataque à sua casa. Mas a verdade é que, antes disso, ele precisava entender a situação de Amy. Sua mente se desviava para ela, para o perigo em que ela poderia estar. O Bellini estava no controle de sua vida, e isso significava que ela estava sob uma sombra que Federico não podia iluminar no momento. Isso o deixava frustrado. Ele se sentia dividido entre o desejo ardente de proteger sua família e a necessidade de garantir a segurança de Amy. A ansiedade o consumia, e ele sentia uma pressão esmagadora para agir, para fazer algo antes que fosse tarde demais

Fabrizio Izzo entrou no escritório com um ar de contenção que, mesmo disfarçado, não podia ocultar o nervosismo que lhe era evidente. Seus olhos espreitavam os cantos da sala com uma inquietação que Federico reconheceu imediatamente. O ar estava carregado de tensão, e Federico fez um esforço consciente para manter a calma. Ele se levantou lentamente de sua cadeira e apontou para a poltrona à sua frente.

— Sente-se, Fabrizio — disse Federico, sua voz controlada, mas com uma intensidade subjacente.

Fabrizio obedeceu, acomodando-se na poltrona com um sorriso forçado que parecia uma máscara frágil. Federico se sentou novamente atrás da mesa, suas mãos repousando com firmeza sobre a superfície de mogno. A situação estava prestes a desmoronar, e Federico estava determinado a confrontar a verdade de frente.

— Onde está o seu filho, Nicolo? — perguntou Federico, a pergunta cortando o silêncio como uma lâmina afiada.

Fabrizio tentou manter um semblante descontraído, um sorriso nervoso esboçado em seus lábios.

— Ah, o Nicolo... — Fabrizio começou, sua voz hesitando levemente. — Às vezes ele fica um pouco rebelde, sabe? Anda viajando para o exterior, buscando diversões e se distanciando das suas responsabilidades. Ele é jovem, precisa se divertir.

Federico o observou com um olhar penetrante, as palavras de Fabrizio soando como uma tentativa desesperada de desviar a atenção. O sorriso do homem não enganava Federico. Ele sabia que havia algo muito mais sombrio por trás das palavras. O instinto de Federico, sempre aguçado quando se tratava de proteger sua família, indicava que a verdade era mais cruel do que o disfarce de Fabrizio.

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