Peso de um legado

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Amy estaciona o carro na frente de um sobrado abandonado. A grama alta tomava conta do terreno, parecendo um mar de verde selvagem que quase escondia o portão de madeira, baixo e quebrado. As janelas estavam cobertas por jornais velhos, e as escadas da entrada, gastas e lascadas, denunciavam o abandono de anos. O lugar exalava desolação, como se o tempo ali tivesse parado em um suspiro cansado de esquecimento.

O carro luxuoso chamava atenção naquele cenário. A rua, estreita e empoeirada, era marcada pela presença de carros antigos e abandonados, alguns sem rodas, outros pichados, com os vidros quebrados e as latarias corroídas. Amy se sentia estranhamente deslocada ali, como uma estranha no seu próprio passado.

Ela havia crescido em um lugar como aquele, convivido com aquelas mesmas pessoas que agora a observavam com olhares carregados de desprezo. As crianças, até então ocupadas com suas brincadeiras sujas, pararam assim que ela desceu do carro. O barulho do motor do veículo luxuoso parecia ecoar de forma inusitada naquela rua suja e desmoronada, uma novidade que não passava despercebida.

Mas Amy já não estava mais acostumada com isso. Antes ela era imune àquelas olhadas. Agora, com a gravidez crescendo em seu ventre, cada passo parecia mais perigoso do que o anterior.

Ela mal conseguira dormir na noite passada. Sua mente estava atordoada com pensamentos de Francesca, de como ela estaria, do medo de que o tempo estivesse se esgotando. Federico também havia passado a noite fora, ele e Vicenzo estavam em uma busca incessante. As famílias Bellini e Bianchi também estavam à procura de Francesca, mas Amy sabia que, se quisesse respostas, havia uma pessoa que poderia lhe dar a localização exata. E ela não poderia perder tempo. A vida da Francesca estava por um fio, e Amy sabia disso com uma clareza dolorosa.

Foi esse medo que a fez aceitar o que Ravi lhe dissera: ir até ele sozinha.

Com os dedos trêmulos, Amy deu duas batidas secas na porta velha. Em questão de segundos, a porta se abriu, rangendo, revelando Ravi. Ele a observava com o mesmo olhar afiado de sempre, como um predador pronto para dar o bote.

Apesar de seu comportamento sádico, havia algo inegavelmente atraente em sua aparência. Tatuagens cobriam a maioria de seus braços e pescoço, mais do que o bom senso permitiria. Seus cabelos pretos caíam em fios pesados sobre o rosto, e às vezes as pontas tocavam os olhos, o que apenas reforçava a aura de mistério e perigo que ele emanava. O nariz reto, os olhos escuros como breu, eram como janelas para uma alma profunda e cheia de trevas.

Ele abriu mais a porta, oferecendo um sorriso irônico e um gesto amplo, como se convidasse Amy a entrar, com aquele tom de "sinta-se em casa" que ela sabia ser apenas um jogo.

Amy entrou sem dizer uma palavra, e logo virou os olhos, cansada da encenação de Ravi. Quando ele fechou a porta atrás dela, ela não pôde evitar encará-lo com um misto de medo e repulsa. Mas não mostraria fraqueza. Não para ele.

Aos 25 anos, Ravi parecia muito mais velho do que sua idade sugeria. A maldade que carregava dentro de si era algo que não se correspondia ao seu corpo jovem e esquelético. Ele parecia ser um reflexo de uma geração perdida, consumida pela droga e pela violência.

Ele desceu o olhar até a barriga de Amy, e um arrepio percorreu a espinha dela. Instintivamente, ela colocou a mão na barriga, e o encarou com uma expressão desafiadora, tentando não demonstrar o medo crescente.

— Não ouse fazer mal a mim — ela disse, a voz firme, embora o coração estivesse acelerado. — Eu cumpri o combinado. Estou aqui.

Ravi não respondeu de imediato. Ele apenas a observava com um sorriso torto no rosto, como se saboreasse a dor dela. Finalmente, ele perguntou com uma calma assustadora:

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