Olhos nos Olhos

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 O som distante dos motores cortava o ar pesado do hangar enquanto Federico e seus homens caminhavam em direção ao jato particular. O terno azul marinho de Federico se destacava sob as luzes frias do espaço, sua presença dominadora visível a cada passo firme que dava. Vicenzo e Bonassera o seguiam de perto, com os quatro seguranças mantendo-se atentos nas proximidades, vigilantes como sombras.

Assim que chegaram, foram recebidos por um informante de Bellini, um homem de feições apagadas e nervosas, que indicou o caminho. O interior do hangar era um emaranhado de jatos parados, mas apenas um deles exibia a escada estendida, como um convite sinistro.

— Vamos — ordenou Federico, subindo os degraus com a confiança de quem já estava acostumado a fazer do perigo seu cotidiano.

No jato, Nicolo, que estava à espera do piloto, sentiu a adrenalina subir quando escutou o movimento. A inquietação crescia em seu peito. Quando finalmente viu Federico adentrar a aeronave, seu rosto empalideceu. O terror se apoderou dele como uma nuvem escura.

— Oi, Nicolo — disse Federico, com um tom que oscilava entre o cordial e o ameaçador. — Por que tanta pressa?

Nicolo não conseguiu encontrar palavras. Ele olhou para os lados, buscando um dos seus seguranças, mas a solidão do jato se fez evidente. Bateu no vidro da janela, a urgência crescendo, mas do lado de fora só via os seguranças da Família Mancini, prontos para agir a qualquer momento.

Federico desabotoou o blazer e tomou lugar na poltrona da frente, cruzando as pernas de forma despreocupada, enquanto Nicolo se encolhia na sua própria poltrona, como se tentasse se esconder do olhar impiedoso do Mancini.

— Novamente, por que tanta pressa? — insistiu Federico, sua voz agora mais penetrante.

Nicolo balançou a cabeça, mudo. O pânico se misturava à frustração. 

— O que você quer? — finalmente perguntou, sua voz tremendo.

— Coincidência — respondeu Federico, com um sorriso que não chegava aos olhos.

O nervosismo tomou conta de Nicolo, e ele riu de forma nervosa. Sabia que aquela "coincidência" era uma mentira.

— Vamos, não torne isso mais doloroso do que precisa ser. O que você vai fazer? — ele implorou, a voz se quebrando.

Federico assentiu lentamente.

— Seu pai pediu o seu corpo para enterrar. Mas só entregarei se você cooperar. Assim, pode partir com um pouco de dignidade.

Um silêncio pesado pairou entre os dois. Nicolo sentia o peso das lágrimas, lembrando-se das humilhações de seu pai, que havia decidido enviá-lo para longe, para escapar do que considerava uma mancha na família Izzo. Agora, aqui estava, sem saída, esperando por um desfecho que nunca imaginou.

— Não tenha medo — disse Federico, com uma calma que mais parecia uma ameaça. — Será rápido, enquanto Abruzzo o torturaria.

Nicolo sentiu o coração acelerar. Ele tinha apenas vinte dois anos, e aquele momento era o ápice de suas escolhas ruins. Lembrou-se de como se sentira importante quando os Abruzzo lhe ofereceram proteção, um papel que nunca deveria ter desejado. Ambicioso e burro, é assim que se denominava. Óbvio que Federico o encontraria.

— Abruzzo me procurou há meses — Nicolo começou, a voz hesitante. — Ele queria saber sobre uma filha perdida... eu só aconselhei que fosse aos Mancini, por saberem de tudo. Deu para notar o descontentamento na feição dele, eu apenas ignorei, quando ele me avisou que se algo acontecesse me daria proteção, e como sempre estive na sombra do meu pai... bom, meu ego falou mais alto. Depois naquela noite na boate em que o Vicenzo me acertou com um soco, eu o procurei.

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