Desencontro e Desejos

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Federico Mancini recostou-se no banco de trás do carro, observando o cenário urbano se desdobrar enquanto avançavam pelas ruas. O som dos pneus no asfalto e a visão das luzes criavam um ritmo quase hipnótico, mas seu pensamento estava longe dali. O objetivo daquela tarde não era relaxar ou desfrutar do momento, mas resolver um problema que, se não fosse abordado com precisão, poderia se transformar em uma ameaça ainda maior para a família Mancini.

A notícia trazida por Fabrizio Izzo, de que Abruzzo estava envolvido com o tráfico de heroína e se associava com americanos, era uma ameaça direta à honra da máfia italiana. Federico não tinha paciência para drogas e prostitutas, e a ideia de um mafioso se unir a estrangeiros era uma traição de dimensões ainda maiores. E, sendo Abruzzo um traidor notório e invejoso, Federico não duvidava que ele poderia ter alguma conexão com o ataque à sua casa. Abruzzo sempre olhara para a família Mancini com uma inveja palpável; era um rato, e ratos não mereciam misericórdia.

Enquanto o carro se aproximava da mansão de Abruzzo, Federico não pôde evitar um pensamento inesperado sobre Amy. Por algum motivo, a jovem, que estava com ele no dia do ataque, surgiu em sua mente. Era difícil compreender exatamente por quê, mas talvez fosse o medo que ela demonstrou naquele momento. A mãe de Amy, uma viciada que mal sabia quem era o pai da filha, poderia estar conectada a este mundo sombrio. Federico se questionava se, por acaso, Amy não fosse uma filha ilegítima de alguém da família. A ideia, embora improvável, oferecia uma alternativa para ela escapar da vida miserável na boate do Bellini.

Chegando à mansão, Federico notou a figura de Dom Abruzzo à porta do jardim. O homem era um típico exemplo da opulência mafiosa: baixinho, gorducho, com um bigode bem cuidado e um sotaque italiano pesado que fazia suas palavras soarem como uma declaração.

— Bem-vindo, Federico! É um prazer recebê-lo. Venha, entre.

Federico e seu segurança, Bonassera, seguiram Abruzzo até o escritório. A mansão, com seus móveis luxuosos e decoração extravagante, era o reflexo do status e do poder de Abruzzo. Mas Federico não estava impressionado. A presença de Abruzzo ali era um lembrete de que o mundo dos mafiosos era implacável e repleto de traições.

Ao chegarem ao escritório, Abruzzo ofereceu a Federico um lugar em frente à sua mesa e tomou seu assento.

— Então, Federico, o que o traz aqui esta tarde?

Federico sentou-se com uma calma calculada.

— Houve um ataque a minha casa.

Um leve tremor atravessou a expressão de Abruzzo, um sinal quase imperceptível de inquietação. Ele tentava manter uma aparência tranquila, mas a tensão estava claramente ali.

— Fiquei sabendo do ocorrido. E você já sabe quem é o culpado?

Federico analisou Abruzzo com um olhar penetrante.

— Sim, mas o ataque pode ter envolvido mais pessoas. Gostaria de saber se você tem algo a dizer sobre isso.

Abruzzo, agora claramente nervoso, endureceu o tom.

— Você está insinuando que eu tenha algo a ver com isso?

Federico, com um tom calmo e firme, respondeu:

— Não estou insinuando nada, apenas estou perguntando à família se alguém sabe sobre possíveis traições.

Abruzzo tentou mudar de assunto com um sorriso forçado.

— Você se parece muito com seu pai, Enrico. O rosto, a postura, até mesmo aquele olhar frio... tudo herdado dele.

Federico franziu a testa e se acomodou na cadeira, com uma calma exterior que contrastava com a agitação interna.

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