Francesca acordou com o corpo dolorido, os músculos rígidos e o coração ainda pulsando rápido devido ao pesadelo da noite anterior. O chão frio, coberto por uma fina camada de poeira, não oferecia conforto algum. O ar no cômodo estava gelado, e ela sentia o peso do frio em seus ossos. Era o resultado de dormir em um lugar estranho, sem sequer um cobertor para se proteger. "Isso vai passar," repetia para si mesma, tentando ignorar a dor e o cansaço, concentrando-se na missão que Federico lhe confiara.
Ela não podia gritar, nem tentar qualquer forma de resistência. Seu único objetivo era esperar. Confiar que Federico e Vicenzo chegariam. O medo, no entanto, ainda rondava seu peito como uma sombra fria e insidiosa. "E se não chegarem?" A ideia de ser deixada para trás, esquecida em algum lugar distante, a torturava. "Talvez, se tivesse ficado na mansão..."
O pensamento de Bonassera lhe cortou o peito. Ele pedira para ela não sair, para ficar com ele. Mas ela insistiu, o arrastou para aquela tragédia, e agora ele pagava o preço. "Foi minha culpa." O arrependimento se espalhou como veneno em suas veias.
Ela levantou-se, movendo-se devagar, como se o simples ato de caminhar pudesse piorar a dor que sentia. O silêncio dentro do quarto era absoluto. Ela se aproximou da janela, uma janela trancada por dentro, e olhou para o lado de fora. O céu claro e sem nuvens lhe oferecia uma visão do campo vasto e imperturbável que se estendia à sua frente. Ao longe, o mato selvagem parecia se perder na bruma da distância. Havia algo macabro sobre aquela paisagem, algo solitário e desolado. Em frente a ela, um chafariz abandonado exibia o lodo acumulado, imundo, ainda insistindo em sua existência. Mas, ainda assim, ela estava no meio do nada, isolada do mundo.
"Eles vão me encontrar," pensou novamente. A esperança, a única coisa que restava, era frágil. E, por mais que tentasse se convencer do contrário, um nó de preocupação ainda apertava sua garganta.
A porta do quarto se abriu abruptamente, cortando seus pensamentos. Ela virou-se rapidamente. Um homem alto e robusto entrou, com a expressão cerrada e uma postura impositiva. Seus olhos eram duros, sem traços de simpatia.
— Levanta. — ele disse, sua voz áspera e sem emoção. — Desça.
Confusa, Francesca o observou por um instante antes de caminhar em direção a ele. Ela sentiu o olhar de outro homem, que a seguia de perto, seu corpo rígido e pronto para agir a qualquer sinal de resistência. Ambos a acompanharam pelo corredor, e, à medida que avançavam, ela notava os detalhes do ambiente. O carpete surrado, os corredores sombrios e as portas empoeiradas com números envelhecidos. Havia algo desconfortante e decadente naquela atmosfera, mas o mais claro era: ela estava em um hotel.
Quando chegaram ao salão principal, o cheiro do café amargo e da comida fria no ar a fez sentir uma repulsa quase instantânea. Ali, um homem de feições duras estava sentado à mesa, comendo de maneira tranquila, como se fosse dono do mundo. Ao vê-la, ele sorriu sem mostrar os dentes, um sorriso que mais parecia uma ameaça do que um gesto amigável.
— Sente-se. — ele indicou com um gesto impessoal, apontando para a cadeira vazia à sua frente.
Francesca se sentou com um movimento tenso, apoiando-se na mesa. Seus olhos permaneciam fixos nos dele, tentando decifrar o que ele queria.
Sem prestar muita atenção a ela, o homem começou a falar, como se estivesse se divertindo com algo que ela não compreendia.
— Eu não sabia que os Mancini tinham uma reputação tão... interessante. — ele fez uma pausa, analisando-a. — Quando você fez aquela coisa, tão corajosa, tão... arriscada que foi me afrontar, eu precisei saber mais sobre sua família.
Francesca se inclinou um pouco para frente, seu tom desafiador.
— E o que foi que o surpreendeu? O fato de ser óbvio quem somos ou perceber que cometeu um erro ao me trazer até aqui?
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Família Mancini
RomanceFederico Mancini, chefe de uma respeitada família da máfia italiana, vive em constante vigilância para proteger sua irmã, Francesca. Quando Amy Miller é oferecida como moeda de troca, ele recusa, mas o destino os reencontra, obrigando-o a levá-la pa...