Francesca Quem?

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O carro ultrapassa o portão em velocidade, derrapando ligeiramente antes de retomar a linha reta. A porta do lado do passageiro se abre violentamente, e Bonassera surge de dentro, tentando correr, mas os passos são vacilantes. A camisa social branca, que antes brilhava impecável, agora está manchada de um vermelho intenso, na parte do ombro onde ele aperta a mão, como se tentasse estancar um fluxo de sangue que não cessa.

Com o rosto distorcido pela dor e a respiração ofegante, ele avança, os pés tropeçando no chão enquanto vai murchando, incapaz de sustentar seu próprio peso. Os seguranças, assustados com a cena, se aproximam, mas ele já está dentro do escritório, entrando a duras penas.

Dentro, Federico e Vicenzo estavam sentados, conversando baixinho, mas o som da porta sendo aberta abruptamente os interrompe. O olhar de Federico, inicialmente vazio e distante, se fixa em Bonassera, que já está caindo de joelhos. Um murmúrio rouco escapa de seus lábios: Francesca.

A palavra, como uma lâmina, corta o ar pesado, e Bonassera desaba, seu corpo colidindo com o chão com um estrondo surdo. A pele pálida reflete a luz do escritório, e ele permanece imóvel, a mão ainda pressionada sobre o ferimento no ombro, mas agora sem forças para sequer tentar se levantar.

Federico, ainda sentado, parece estar preso a algo invisível. O mundo ao redor dele começa a se distorcer, como se estivesse assistindo a tudo através de um véu espesso. O rosto de Bonassera, agora imóvel, fica gravado em sua mente. O nome de Francesca ecoa repetidamente em seus pensamentos, mas algo não se encaixa. Ela não pode... não pode ser real.

Os sons ao seu redor se tornam abafados, como se estivesse submerso. A voz de Vicenzo chega até ele, mas parece distante demais para fazer sentido. Vicenzo se abaixa até Bonassera, gritando ordens para os seguranças: Chama a ambulância! Rápido, agora! Mas Federico não ouve. Ele não consegue. Tudo acontece em câmera lenta, a realidade e a ilusão se confundem.

Dentro de seu próprio corpo, Federico sente a dor de maneira quase sobrenatural. Seus dedos batem na mesa com força, como se quisessem quebrá-la, mas ele mal consegue sentir o impacto. Seu corpo treme, um tremor profundo, visceral, que não tem nada a ver com o medo, mas com o terror da impotência. Os dentes estão cerrados, a mandíbula tensa, mas é como se sua mente estivesse fora de controle, incapaz de lidar com a catástrofe à sua frente.

Ele sente a dor latejante em todo o corpo, uma pressão que parece vir de dentro, algo entre o coração e a cabeça. Sua respiração fica mais difícil a cada segundo que passa, como se o ar estivesse desaparecendo e ele fosse forçado a respirar debaixo d'água. O tempo é dilatado e, por um momento, Federico se pergunta se ele mesmo está morto, ainda que soubesse que não seria fácil resistir a ele.

ALGUMAS HORAS ANTES...

— Sempre achei graciosa a forma como o seu nariz se contorce quando você está brava — ele diz, com a voz baixa e quase provocadora.

Francesca cerra os olhos, a respiração mais forte, mas sem perder a postura.

— Não vou cair nos seus encantos, Federico.

Ele apenas sorri, um sorriso que poderia ser tanto um desafio quanto um convite. Ele podia ver o jogo entre os dois se desenrolando, sem pressa.

— Você pode viver sem Vicenzo no caminho da faculdade até em casa por duas semanas — ele fala de forma casual, como se aquilo fosse uma obviedade. A única coisa óbvia era que Federico estava castigando Vicenzo há duas semanas desde que Francesca pegou a Mercedes.

Francesca solta uma risada curta, quase sarcástica, mas não responde imediatamente. Ela o observa com um ar desconfiado, como se ponderasse algo mais profundo.

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