Agosto de 2012
(Guenevere Blake Lavander)
— Parabéns, senhor Hawthorne. Acertou mais uma questão. — O professor Jasper, homem que aparentava estar na casa dos sessenta e pouco e usava óculos quadrado e uma bela roupa social, fazia seu elogio pela quinta vez na sala.
Como era de se esperar, Nate estava fazendo sucesso na aula de exatas. Ele consegue levar bem a sério esse tipo de matéria. Até entendo o porquê. De certo modo, matemática é divertido. Você só precisa imaginar um pouco. Às vezes, usar a lógica e tentar aplicar algumas técnicas ou fórmulas que decoramos, vez ou outra. Se exercitada, vira até rotina. Automático, e acaba se tornando algo fácil no fim.
O professor Jasper pareceu adorar ele. O resto da sala, pelo contrário, não gostava do quão bom ele conseguia ser. Resolver tão rapidamente as questões e, de quebra, ser lindo de morrer. Pelo menos fora isso que pude escutar de alguns cochichos. Mas Nate não dava a mínima. Ele ama ser quem é, do jeito que é, e simplesmente segue assim, sem ligar pra bobagens alheias.
E, só às vezes, eu gostaria de ser um pouco mais como ele. Todo o lance de poder respirar sem se preocupar com o que vai fazer e como vai fazer. Sem se preocupar se tem olhos observando o tempo todo ou não. Sem se julgar internamente por quase vinte e quatro horas e se arrepender das decisões que toma quando não está com cabeça para pensar propriamente nelas.
— Turma, estamos com vinte minutos de sobra. Vou passar as páginas de casa. Podem aproveitar para fazerem uma parte agora e terminar lá, se quiserem. — O professor Jasper sorriu brevemente e começou a anotar as páginas com sua letra meio torta, mas adorável.
Observei por alguns instantes Nate começar a resolver outras questões. A matéria não estava difícil, eu admito. Mas haja cabeça pra fazer tanta conta. Eu senti que meu cérebro iria pifar a qualquer momento. Mas foquei o máximo que pude. Preciso ter notas boas se quiser uma boa grade curricular pra universidade de Toronto.
— Não vou fazer isso agora nem morta. — Descansei o rosto na palma da mão, enquanto meu ombro fica sobre a mesa. Encarei Nate com tédio e cansaço.
— Bem, aproveite o tempo livre e me conte o que está acontecendo entre você e Bryan. — Ele comentou, sem tirar os olhos das atividades.
Meus olhos se arregalaram por um momento. Respirei fundo e tomei a posição comum de se sentar numa carteira.
— Minha nossa! Você viu? Tarefa de casa! Preciso fazer agora mesmo, uau! — Abri o caderno aleatoriamente e enfiei meu rosto nas páginas, forçando uma quebra de assunto.
Ouvi Nate respirar fundo e sorrir minimamente.
— Não vai me contar mesmo? — Insistiu ele. — Digo, vocês estavam bem, e do nada estão mal. Sabe, não é a primeira vez, então sei que está rolando algo.
Droga, realmente não era a primeira vez. Quer dizer, talvez seja a primeira que eu decida fingir que nada está acontecendo.
— Bryan não sabe o que quer. É isso que está acontecendo. — Nem eu sei o que quero também, mas vamos deixar isso nas entrelinhas e se ele entender, entendeu. — Não estou a fim de falar sobre isso. Já não quero falar com ele, muito menos dele.
Revirei os olhos e encarei o relógio da sala, que ficava acima do quadro. Os ponteiros pareciam ter congelados, e isso me deixava agoniada. Eu só quero ir pra casa descansar um pouco antes de ir ajudar minha mãe. Hoje os meninos vão tocar no Coffee Break, e não posso perder por nada!
— Da última vez, ele me disse que você estava com umas paranoias na cabeça. — Nate disse. — Tenta pensar melhor no que está acontecendo e depois, conversa com ele. Sabe, é melhor uma decisão em conjunto do que escolhas precipitadas pessoais.
Paranoias. Paranoias em minha cabeça.
— Não sabia que ele chamava inseguranças de paranoias. Essa é nova. — Revirei os olhos.
— Então é isso? Ainda se sente insegura com ele? — Nate largou o lápis em cima da mesa e ofereceu toda sua atenção para mim.
Mas eu realmente não quero falar sobre meu relacionamento com Bryan. Ele não gosta muito quando trato desses assuntos com outras pessoas sem ser ele. É algo nosso. Nós temos que resolver entre a gente, e é apenas isso.
— Não vou falar sobre isso, Nate. Se concentre na tarefa, ok? — Eu o dispensei, tentando não ser muito grossa.
Ele não insistiu pelo resto do tempo que nos restava na aula. A sala ficou meio turbulenta por esse momento, mas quando o sinal bateu para que todos pudessem ir embora.
Recolhi minhas coisas e as organizei dentro da mochila. Nate já estava me esperando na porta enquanto isso. Andávamos pelos corredores com alívio pelo dia ter chegado ao fim e termos conseguido sobreviver a mais possíveis catástrofes.
— Você acha que a professora Hillary vai nos odiar? — Mordisquei o lado interno de minha bochecha com incerteza. — De verdade, Nate, eu não quis ser grossa com ela e ter causado todo aquele alvoroço, mas, credo, que insuportável. Nunca pensei que uma professora pudesse agir daquela maneira.
— Muito menos eu. — Ele suspirou. — Agora, que ela vai ficar no nosso pé a partir de hoje, pode apostar que sim. Você e seu senso de justiça que aparece em momentos nada interessantes.
Me senti mal por ter o puxado pro meio dessa discussão. Nate merece ter uma vida pacífica no colégio, e tudo que estou fazendo até agora é estragar.
— Desculpa, Nate. Eu não queria que você se metesse em encrenca justo comigo. Sei que a experiência de estudar num colégio não está sendo uma das melhores pra você, mas...
Ele parou bem na minha frente com seu sorriso natural de sempre. Aquele que faz eu me acalmar em poucos instantes.
— Tá brincando? Isso aqui tá sendo bem maluco, mas incrível. Pensei que eu ia ter que estudar em casa pelo resto da adolescência que já quer me dar um pé na bunda. Só tenho a agradecer você e a Tia Felícia. — Ele enlaçou seu braço em minha volta e bagunçou meu cabelo.
— Nate! — Exclamei entre risadas pelos cascudos.
Ele adorava fazer isso. Mas em público já é pedir demais. Meu cabelo fica ridículo.
— Vamos. Vou chamar a Jude pra ir lá pra casa hoje e depois vamos pro Coffee. Se eu me atrasar, ela corta minha garganta. — Ele me soltou, e seguimos até a saída.
E, por mais estressante que o dia possa ter sido, Nate o finaliza com um sorriso nos lábios. Como isso parece ser tão fácil pra ele, nem eu sei. Mas invejo, e muito. Talvez seja esse contraste entre a gente que nos faz irmãos. Incríveis irmãos. Caóticos também, nas horas vagas. Eu simplesmente não encontro palavras pra descrever o quanto o amo.
Quando chegamos até o estacionamento, vimos Alexa e Jessy entrando num carro, e Tyler se despendido das mesmas. Eles olharam pra gente e acenaram, e com educação, retribuímos da mesma forma.
— Blake! — Uma voz feminina me chamou do lado oposto.
Quando virei para olhar, tive uma boa surpresa até.
— Blair. Oi pra você também. — Os cantos de minha boca se elevaram. Nate nos olhou. — Nate, essa é a Blair. Nos conhecemos faz pouco tempo. Blair, esse é o Nate.
— Oh, prazer, Nate. — Ela acenou de cabeça com seu doce sorriso. — Vocês entraram juntos no colégio, não foi? Que fofo. Vocês, tipo, namoram? — Blair trocou olhares entre a gente.
Céus, essas situações sempre são constrangedoras. Nate coçou a nuca antes de expirar e responder a menina.
— Ela é minha irmã, na verdade. — Ele respondeu.
— A-ah, desculpe. Nossa que embaraçoso. — Ela riu sem graça. — É que vocês são tão... próximos. Não dá pra perceber que são irmãos. Pelo menos, é o que penso. O meu irmão é meio difícil de lidar, então a gente nem fica muito próximo. Sabe, mas costuma ser comum assim.
— Claro, já ouvimos muito isso, não se preocupe. — Ela não precisa se sentir envergonhada por isso. Acontece.
Acho que uma hora vai ser mais comum do que o normal. É isso que ganhamos por sermos os irmãos mais distintos possíveis em questão de aparência.
— Seu irmão é o Rutherford, não é? — Nate pergunta, me fazendo arquear uma sobrancelha.
— Sim, sim. Nada de muito novo. — Blair riu. — Inclusiva, preciso falar com você, Blake.
Eu havia me desfocado completamente do assunto quando ouvi de forma clara aquela confirmação. Irmã. Eu nunca soube disso. Quer dizer, quando éramos crianças, ele nunca mencionou nenhuma irmã. Quando cheguei aqui, só os vi próximos uma vez. Perdi algum burburinho, talvez. Mas... aquilo era novo e estranho.
Como uma garota tão doce e amigável é irmã de um lunático, maluco, babaca e imbecil?
— Blake? — Ela me chamou de volta para a Terra.
Meus olhos piscaram algumas vezes.
— Sobre o que?
— Amanhã, depois da aula, vamos pra minha casa. — Ela dissera. — Vamos ter sua primeira aula de dança antes do seu teste pro clube. Não esqueça de trazer uma roupa mais confortável pra usar durante a aula, ok?
Eu assenti com a cabeça por um momento, até me dar conta de um pequeno detalhe.
A casa dela é a mesma casa do Alex.
Eu vou pra casa do Alex Rutherford.
— Ér, Blair, na verdade... — Preciso rejeitar isso a todo o custo.
— Não terei tempo, senão amanhã depois do colégio. E já me prontifiquei com a Alice sobre isso. — Ela pareceu prever minha intervenção. — Ah, e quase me esqueço. Pegue.
Ela me estendeu uma sacola de papelão, enfeitada com laços e cheirava a alcaçuz. Minhas sobrancelhas se uniram em uma certa confusão. Era um presente, pelo visto. Mas sequer era um dia especial ou coisa do tipo.
Quando olhei para a garota, seus olhos tinham um brilho adorável, realçando seus azulados e delicados.
— Eu soube o que aconteceu no estacionamento... com o Alex. — Explicou a Rutherford. — Havia um pessoal do grêmio por perto, eles me explicaram que a culpa não tinha sido sua, a respeito do carro e da tinta. — Ela se aproximou e sua mão repousou no dorso da minha, que segurava a sacola. — Olha, eu sinto muito pelas coisas que meu irmão possa ter dito a você. Creio que ele tenha ficado bastante irritado e falou muito sem pensar. Agiu de forma nada coerente com a situação, já que não havia sido propriamente sua culpa. Por favor, aceite como um pedido de desculpas.
Quando meus olhos pousaram na sacola, um certo alívio percorreu meu peito. Saber que nem todos que poderiam me cercar eram pessoas tão horríveis, isso me fazia ter alguma esperança em não desistir. Me fazia ter uma visão positiva sobre novos lugares e desafios que eu vou precisar enfrentar daqui pra frente.
E os pequenos gestos demonstram grandes corações. Gentis e acolhedores corações. E pra mim, nada pode comprar isso.
— Não posso aceitar o presente, Blair. — Eu ergui a sacola de volta pra garota. — Eu agradeço pelas desculpas. Honestamente, elas significam muito mais do que um bem material que possa me comprar.
A garota riu por alguns instantes.
— Não é um bem material material, Blake. Por favor, dê uma olhada. — Suas mãos se juntaram atrás de seu corpo, e sua postura demonstrava empolgação.
Eu gostaria de manter meu orgulho e devolver o presente, mas minha curiosidade me mata sempre. Afinal, o que poderia estar me aguardando?
Abri a sacola e retirei um papel de seda do meio. Quando notei, meus olhos se arregalaram.
— Um uniforme novo... — Saiu como um murmúrio. — Você...você está falando sério, mesmo?
— Uhum. Bem, por culpa dos rapazes, você acabou pagando o pato. Isso não foi muito justo, e suas roupas não deveriam ter sofrido consequências tão... terríveis. — Ela olhou de relance para a mancha verde em minhas vestes. — Aposente os velhos trapos e volte a estudar como uma verdadeira Dragon em West High. Uniformizada e lindamente maquiada, por sinal. — Seu sorriso aumentou, dando espaço para visualizarmos seu sorriso alinhado e branco.
Ela parecia uma verdadeiro modelo mirim, céus.
— Blair, uniformes não dão em árvore. Isso deve ter saído caro pra você. Eu prometo pagar de alguma forma. — Insisti.
Meu orgulho não vai deixar isso simplesmente passar.
— Não se preocupe muito com isso. Caro pra mim é elogio, não preocupação. — Ela soltou uma piscadela. — Amanhã, quero você me esperando aqui às uma e quinze. Não se atrasa, viu?
Ela deu um beijo de bochecha antes de sair, sem que me desse a palavra final. Nenhuma objeção e insistência. Apenas um consentimento.
O que vou fazer? Caramba, como fui parar nesse fogo cruzado. O cara que mais odeio, e que mais me odeia, vai ter que me ver andando pela própria casa. Admito ficar surpresa se ele não acabar me jogando por alguma janela.
— Nate? — Eu encarei meus arredores, mas não o vi. Ele pareceu simplesmente sumir.
Quanto olhei no bicicletário, sua bicicleta não estava próxima da minha como de costume. Tudo indicava que ele havia ido sem mim.
— Pestinha. — Revirei os olhos e comecei a andar em direção a minha bicicleta.
Não é um veículo de luxo, mas é meu veículo de luxo.
— Ei, Blake, espera! — Uma voz masculina me chamou a atenção.
Me virei curiosa, sentindo meu sorriso genuíno desaparecer por completo e uma cara emburrada reinar. Quando minha mente recordou, a raiva quis ferver meu sangue, como carvão em brasa embaixo dos pés.
— Vocês... — cuspi enojada. — O que vocês idiotas do basquete querem comigo?
Os três garotos do dia no estacionamento pararam bem em minha frente. Eles pareciam preocupados e, de certo modo, amedrontados. Os três ficaram em silêncio por alguns segundos, bem na minha frente.
Minha cabeça fez um gesto de "desembucha logo" pra poder me livrar dos encostos e poder ir embora.
— Se forem ficar aqui parados como imbecis, fiquem sozinhos. — Quando ameacei de me virar e ir embora, um deles se opôs.
— Não! Espere... — insistiu. — É que... nós... ah, fala você, Peter. — Ele se afastou e deu um empurrãozinho no outro, que num grunhido quase inaudível, se aproximou.
Aquela situação estava ficando cada vez mais estranha.
— Blake, nós três queríamos pedir desculpas. O que aconteceu naquele dia foi algo ruim e... — Seu maxilar tensionou antes que ele pudesse terminar.
Ele olhou para os lados por um momento.
— Nós agimos como... cagões e bebezões de merda. — A última parte foi quase imperceptível.
Aquilo me pegou de surpresa, e quase não consegui conter uma risada. Por mais estranho que aquele pedido de desculpas estava sendo, não deixava de ser hilário.
— Como? — Curvei um pouco meu corpo e inclinei a cabeça. — Não consegui ouvir.
Os três exibiram rostos nada agradáveis quando me ouviram falar aquilo.
— Ainda tem a outra parte, vamos logo... — O cara que estava atrás de Peter dissera com impaciência.
E, achando que não poderia melhorar, os três de ajoelharam em minha frente, bem no asfalto. Quando olhei os arredores, diversas pessoas não estavam entendendo muito bem o que estava acontecendo, mas estavam achando engraçado a forma como os jogadores estavam se comportando.
De qualquer forma, aquilo estava peculiar e engraçado pra caramba!
— Nós agimos como tremendos cagões e bebezões, e não deveríamos ter feito isso com você. Por favor, tem como você só...perdoar a gente? — Peter parecia cuspir as palavras com dificuldade.
Meus olhos apertaram por uns instantes.
— Por que estão fazendo isso agora? — Eu os questionei. — Ou melhor, por que não foram falar isso pro Alex, já que foi o carro ridículo dele que vocês estragaram?
Eles se entreolharam com incômodo.
— Porra, menina, apenas aceita a desculpa. — O garoto de topete loiro disse entre dentes. — Já não foi humilhação o suficiente? Pra quê você quer saber nossos motivos?
Meninos imbecis.
— Porque, pra mim, não é o bastante. — Dei de ombros e os encarei. — Vocês nem estão pedindo desculpas de verdade. Não se importam o suficiente pra isso. E eu não preciso das desculpas falsas de garotos como vocês. Podem se levantar e sair se quiser.
Quando me virei para ir em direção a minha bicicleta, fui interrompida mais uma vez. Bufei em tremenda impaciência.
— Não! Você não tá entendendo... — Peter massageou a têmpora. — Você tem que aceitar as desculpas. Por favor.
— Por que vou aceitar algo que nem verdadeiro é? — Um desdém soou de meus lábios com uma facilidade quase que impressionante.
— Essa menina tá começando a me irritar. — O garoto de trás falou.
— Cala a boca, Henderson. — Peter mandou.
Seus olhos pareciam procurar por alguém, até que ele os focou em mim novamente.
— Olha, fomos idiotas pra caralho, tá bem? Não foi justo com você, e não era pra aquilo ter acontecido. A tinta era pra outra coisa, e nunca foi intenção nossa colocar você no meio de nada, entendeu? — Ele explicou.
O amigo oposto ao que me rotulou como irritante também falou algo.
— Foi uma brincadeira bem ruim. Foi mal, Blake. Perdoa a gente, vai.
Eu ainda não fazia ideia do porquê aquilo parecia ser tão necessário pra eles, mas boa parte eu senti uma certa verdade. É claro que eles não se importavam tanto, mas ter que vir e pedir desculpas foi a consequência que arranjaram, e parecem estar desgostando demais dessa cena toda.
Para mim, é o bastante então. Ao menos...
— Aceito suas desculpas, Peter. — Eu disse, olhando para o outro menino que estava ao lado de Henderson. — As suas também. Mas... não acho que Henderson tenha me convencido.
O encarei com certo cinismo. Ele parecia ser o menos convicto dos três. Se não vai ser honesto com as desculpas, vai ser o tolo em conquista-las da forma mais ridícula possível.
— Bem, fizemos nossa parte. — Peter e seu amigo se levantaram.
— Ei! Não é justo você aceitar de todos, menos de mim! — Henderson se levantou.
— Não foi justo o jeito que os três me trataram no estacionamento naquele dia. — O rebati. — E, mesmo assim, arquei com toda a responsabilidade sem reclamar. É melhor você se ajoelhar novamente e continuar me convencendo ou vou embora. — Olhei para os demais garotos. — Não sei o que vão ganhar com esse pedido de desculpas, mas se for assim, Henderson, você vai ficar de mãos vazias.
— E com um nariz quebrado. — O amigo de Peter comentou rindo.
Peter não escondeu uma risada também. Nariz quebrado? Tem alguma coisa rolando por aqui...
— Droga de nariz... — Resmungou Henderson, voltando a ficar de joelhos. — Garota, por favor, me desculpa.
Eu o olhei com certo divertimento. Ele pode ser mais criativo. Eu sei que pode.
— Parece um cachorro, sabia? — Comentei. Os amigos dele riram, e senti uma sensação interessante até. — Que tal isso, você obedece a alguns comandos meus, e então, eu o desculpo.
Seus olhos se encheram de descrança.
— Como é que é?! — Ele exclamou. — Tá de brincadeira, garota?
— Meu nome é Blake! — Eu retruquei. — Tô com cara de quem tá brincando?
— Henderson, só faça logo pra podermos ir embora. — Peter revirou os olhos.
Henderson tensionou o maxilar por alguns segundos e logo, se posicionou no chão igual um cachorro.
— Irônico, não é? Sabe o que falta em mim? — Ele comentou com um humor irônico que me deixou confusa por um momento. Quando seu olhar encontrou o meu, pude entender tudo. — Sardas. Ou melhor... sarnas.
Sardas. Eu estava o tratando da mesma forma que ele poderia me tratar. Me rebaixei ao mesmo nível que eles, e eu simplesmente não consigo acreditar que me deixei levar dessa maneira. Eu havia traído a mim mesma. Eu jamais deveria tratar alguém dessa forma.
Isso é cruel, pra qualquer tipo de pessoa. E eu jamais quero ser equiparada a gente assim. Nunca.
— Levanta. — Mandei. — Só... me falem quem pagou vocês pra virem aqui e fazer isso tudo que vocês podem ir embora.
Os garotos se entreolharam, mas não disseram nada. Henderson me olhou confuso por alguns segundos.
— Não vai me mandar ser um cachorro mais? — Ele questionou.
— Eu posso perdoar as pessoas... mas nunca vou me prestar ao papel de agir igual elas pra me vingar. — Eu o olhei de cima a baixo. — Não espero que você e seus amigos entendam isso. Apenas me fale quem mandou vocês e eu perdoo todos igualmente.
Henderson olhou os dois garotos, que não sabiam exatamente o que dizer. Num tanto faz com os ombros, ele se virou para mim.
— Daniel é amigo do nosso capitão de basquete. Se não tivéssemos vindo pedir desculpas, além de sermos expulsos do time, ele jurou acabar com nós três.
Meu cenho franziu por um momento. Como Daniel acabaria com eles? Olha a altura desses caras...
Mas outra coisa atingiu meus pensamentos com força.
Por que ele fez isso? Como ele encontrou os caras? Quando ele fez isso? Muitas coisas pareciam chacoalhar meu cérebro em desespero, sedento por alguma resposta que faça sentido.
— O cara é tipo, faixa preta em Taekwondo e laranja no Karatê. Eu não quero arriscar em ter um osso quebrado. — Henderson colocou as mãos no bolso do casaco. — Vem gente, vamos dar o fora. Ele já teve o que queria.
Os três olharam rapidamente na mesma direção, e logo, saíram para outro lugar. Curiosa, olhei para o lugar na qual eles tinham encarado antes de ir. Meu coração deslizou um compasso quando notei Daniel encostado em sua moto numa pose relaxada olhando em minha direção. Seu sorriso satisfeito exibiu seus dentes por um segundo, até ele se virar para colocar o capacete e montar em seu veículo.
— Daniel! — Eu exclamei, tentando chamar a atenção dele.
Preciso tirar essa história a limpo, antes que as coisas fiquem mais estranhas. Pelo menos, eu gostaria de agradecer. Não foi ruim da parte dele. Muito pelo contrário.
Infelizmente, só pude ver sua moto sair do estacionamento e sumir pela estrada, levando consigo todas as respostas que eu queria.
Terei de guardar minhas dúvidas até o destino cruzar nossos caminhos novamente. E, se dependesse do Novac, não vai demorar muito. Pelo pouco que conheço, ele é insistente. Engraçado...
Não é muito diferente de mim.
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S.O.S Adolescentes No Ensino Médio (ORIGINAL)
RomanceÉ possível que o ódio desencadeie um amor? Ao conseguir uma bolsa de estudos para um colégio de elite em sua cidade natal, Bakersfield, Güenevere Blake acaba descobrindo as dificuldades que é estudar num ambiente rodeado de pessoas da classe alta. I...