| 19. A Rutherford Boazinha |

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Agosto de 2012    (Guenevere Blake Lavender)    O sinal já havia batido, e as salas de aula provavelmente já estavam ocupadas pelos alunos

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Agosto de 2012

(Guenevere Blake Lavender)

O sinal já havia batido, e as salas de aula provavelmente já estavam ocupadas pelos alunos. Todos em aula, com exceção de duas pessoas. Duas cabeças sentadas em frente a uma mesa grande de madeira escura, numa sala parcialmente iluminada e com um barulho infernal do relógio.

Tic-Tac, Tic-Tac.


Que irônico pensar que, em menos de uma semana, consegui fazer minha vida virar de ponta cabeça. Tudo por causa de um moleque que está sentado a menos de um metro de mim, fingindo que nem se importa com o que aconteceu. Fingindo não, na verdade, não se importando mesmo com o que houve.

Meu celular vibrou no bolso, e, por um instante, desejei que fosse Bryan. No momento, eu só queria poder conversar com ele, como fazíamos antes. Em segundos, me arrependo da briga estúpida que tivemos. Eu precisava dele agora, mas estava sozinha...

"Ouvi que aconteceu encrenca no refeitório, mas eu não tava lá. Tá tudo bem? Precisa de ajuda?"

-Nate.

A iluminação da tela estava baixa. Eu responderia, mas foi necessário ignorar. Eu não estou com cabeça pra explicar nada. Meu cansaço queria me derrubar no chão num K.O dramático, digno de luta profissional.

A sala do diretor estava mais densa do que nas outras vezes que já estive aqui. Um cheiro de tabaco pairava no ar, mas não havia nenhum cigarro ou charuto aceso. Olhei pela janela de vidro por um tempo, ignorando completamente a existência de Alex Rutherford ao meu lado. Em minha mente, não havia ninguém. Alex é apenas ninguém.

O senhor Colleman entrou na sala. Ele demorou para voltar devido a razões ocultas. O silêncio reinou até que o mesmo viesse a sentar em sua cadeira, bem na frente de mim e Alex, do outro lado da mesa. Ele largou o caderno com minha foto estampada na madeira escura, bem na direção de Alex, e colocara em meu alcance uma caixa de lenços umedecidos.

— Limpe-se, senhorita Lavender. — Ordenou em tom sério.

Por um instante, fiquei receosa em tirar minha maquiagem justo ali. Mas, até aquele ponto, ela já deveria estar completamente arruinada, com rímel escorrendo e tudo mais. Eu não trouxe nada para refazer. Não tinha saída, senão voltar a ter um rosto nu e cru.

Me estiquei e tirei algumas peças do lenço e comecei a limpar meu rosto.

— É completamente inaceitável o comportamento dos dois no ambiente escolar. — Colleman começou, cruzando as mãos e apoiando-as em cima da mesa. Seu corpo se curvou um pouco em nossa direção.

Seu olhar fazia minha espinha gelar, e com isso, automaticamente inclinei o rosto pra baixo numa vergonha arrependida. O lenço deslizava por minha pele com certo temor.

— Se pensam que tolero esse tipo de coisa, estão completamente enganados. Não aceito isso de ninguém, entenderam? — Seu olhar alternou entre mim e Alex. — De você, senhor Rutherford, eu esperava seriedade. Esperava compromisso, responsabilidade e maturidade. Isso aqui... — Ele apontou, com o queixo, para o caderno em sua frente. — Essa brincadeira ridícula é baixa até pra você. O que diria Vivian se soubesse disso? Acha que ficaria orgulhosa em saber que o próprio filho, herdeiro do grupo Rutherford, está fazendo caso em um colégio sério e renomado?

Alex balançava o joelho esquerdo para cima e para baixo, rápida e impacientemente. Uma respiração funda veio logo em seguida.

— Sua reputação deixou de ser importante, pelo visto. — Colleman disse em um tom de decepção.

— Senhor Colleman, eu não tive nada haver com isso. — O Rutherford se defendeu. — Eu não tenho tempo pra gastar fazendo esse tipo de brincadeira de merda. Eu tentei resolver um problema. Não sei como o fizeram, mas os pacotes foram trocados. — Ele apontou para o caderno na frente do diretor. — Sequer vi isso antes. Isso daí não é meu!

Após terminar de limpar meu rosto, eu coloquei os lenços sujos no bolso. Não havia uma lixeira perto de mim. Somente próximo da porta da sala. Eu deixaria para jogar quando acabasse por aqui. Eu não falo nada até que seja necessário.

— Seria interessante, pra variar, outro alguém ter maturidade suficiente pra vir até mim e conversar sobre isso sem precisar fazer um showzinho patético na frente de todo mundo. — Ele olhou de relance para mim.

— Ah, claro, igual o que você fez no estacionamento sobre o seu carro? — Rebato com ironia retórica.

— Agora, a situação é bem diferente, Blake. — Ele ficou na defensiva, insistindo em estar certo.

— Não, não é! — E eu também insisti.

A mão de Colleman bateu forte na mesa. Tomei um leve susto com a forma repentina que ele usou para cessar a discussão.

— Chega! — Exclamou Colleman. — Seu comportamento impulsivo e explosivo não colaboram com a situação, senhorita Lavender. É algo igualmente inaceitável! Nada será resolvido com gritos e agressões, principalmente vindos de uma dama. Que tipo de imagem a senhorita quer ter nesse colégio?

Engoli seco e senti seus olhos me encararem com sua raiva crescente. Ele tinha total direito de me dar bronca. Agi no impulso, sei disso. Estou tão errada quanto Alex.

— Eu deveria advertir os dois com a suspensão, de acordo com o regulamento de West High. — Ele disse, fazendo meu coração acelerar com medo. — Até impedir os dois de irem ao baile dos calouros.

Ugh, isso é o de menos agora.

O senhor Colleman estendeu um papel em sua prancheta e, com uma caneta de corpo dourado e tinta preta, começou a escrever. Eu acompanhava o vai e vem dos movimentos com o olhar, sentindo meu pulmão esvair o ar em segundos.

Céus... suspensão não, suspensão não!

— Uma semana de detenção. Começando na segunda-feira. — Ele declarou. — Uma hora. Esse é o tempo que irão ficar depois da aula. Se derem trabalho, o conselheiro escolar pode aumentar o tempo que desejar. Isso já não cabe mais a mim.

Alex deu um supetão pra frente e seus olhos arregalaram.

— Uma hora?! — Ele questionou. — Senhor Colleman, eu tenho treino de lacrosse. O treinador vai me matar!

— Deveria ter pensado nisso antes de arrumar encrenca igual uma criança indisciplinada.

Céus, vou perder uma hora de estudo. Como vou recuperar isso se estarei no Coffee...

— Eu já disse que não tive nada haver com isso!

— Então prove o contrário. — Colleman o encarou e voltou a cruzar as mãos e apoiá-las em cima da mesa.

Alex abriu a boca por um instante, mas logo fora cortado.

— Devo lembrar que sua mãe está de olho em você. Se pensa que pode burlar um castigo por aqui, está muito enganado. Pense muito bem no tipo de fuga que planeja, e saiba que só irá trazer mais problemas. — O diretor discursou. — O que Vivian acharia disso?

Os lábios do Rutherford foram se fechando de forma lenta. Sua mandíbula cerrou logo em seguida. Seu olhar desviou-se para qualquer outro canto e um bufo descontente fora tudo que saiu de sua boca.

— E você — ele se virou para mim — ouça bem: é a última vez que quero vê-la por aqui. Seja o motivo que for, se aparecer novamente em minha sala envolvida em problemas, tomarei providências e ligarei para sua mãe.

Engoli seco. Eu não gosto nem de pensar em trazer problemas pra minha mãe. Nunca fomos ter discussões ou castigos severos, mas não quero ser uma filha ruim. Eu não posso ser uma filha ruim.

— Sim, senhor Colleman. — Fora tudo que respondi.

— Agora voltem para suas aulas... agora! — Ordenou, recolhendo o caderno e o pacote de lenços.

Antes de sair, joguei as peças de lenços usados que estavam em meu bolso no lixo próximo da porta. Quando ela se fechou atrás de mim e Alex, tudo pareceu voltar a mesma droga de sempre. O Rutherford e eu nos encaramos por alguns segundos, até que eu quebrasse o contato visual e voltasse a fingir que ele não existia.

— Sai da frente. — A voz de Nate veio do lado de Alex. Ele se aproximou de mim em seguida, após passar pelo Rutherford com irritação. — Blake, tá tudo bem? Você não respondeu minha mensagem. Achei que estivesse em apuros.

Quando olhei, Alex havia seguido seu caminho para longe de nós. E, seja lá pra onde ele vá, espero que se perca.

— Estou bem, Nate. Só atrasada pra aula. — Suspirei, andando em busca de minha sala de aula.

Nate me seguiu como normalmente faz.

— Tá todo mundo falando sobre a briga entre você e alex no refeitório. — Insistiu. Seu corpo logo parou bem em minha frente e suas mãos seguraram meus ombros enquanto seus olhos me olhavam com firmeza. — Sua maquiagem saiu. Você chorou, não chorou? O que aconteceu? — Questionou.

Céus, eu não queria o preocupar. Odeio problemas, mas parece que eles se atraem por mim na maior parte do tempo. Meu desejo é ser deixada em paz, sem precisar pensar no que as outras pessoas pensam. Não vou ter Nate comigo para sempre. Nem Justin, Trevor ou Evan. Eu teria que lidar com as coisas sozinha em algum momento.

— Nate, está tudo bem. Alex gosta de arrumar confusão por aí. Não me afeta, eu juro. — Tentei ser o mais convincente possível. — Vou passar uma semana de detenção por causa das besteiras dele, mas não é nada demais.

Os olhos de Hawthorne se arregalaram e suas sobrancelhas uniram-se com indignação.

— Não é nada demais? — Ele me soltou e passou a mão nos cabelos, respirando fundo. — Eu vou arrebentar a cara daquele playboyzinho de merda. Juro que vou fazer ele implorar pela mamãe. Caramba!

— Nate, chega! — Intervi suas falas e pensamentos nada agradáveis. — Você não fará nada. Alex já recebeu a punição também. Não vamos mais entrar em confusão, ok? Já deu.

— Isso não é justo! Nem suficiente. Esse cara tá testando a minha paciência, e é foda você estar protegendo ele. — Nate cruzou os braços.

— Não estou protegendo ele. Estou protegendo você, Nathaniel. Estamos na lista negra de praticamente todo mundo aqui. Se sequer pensarmos em pisar na sala do diretor Colleman com mais problemas outra vez, podemos ser suspensos, ou pior! Expulsos! — Tentei esclarecer o máximo possível.

Nate pareceu analisar a situação por um tempo. Querendo ou não, ele sabia que eu estava certa. Nada por aqui funciona de forma justa, e não havia muito o que fazer sobre isso. Nós precisamos nos adaptar mais rápido.

— Parece que esse inferno não vai acabar nunca. — Resmungou ele, dando-se por vencido. — Se eu soubesse que o ensino médio ia ser tão chato nesse ponto, eu teria continuado estudando em casa. — Ele revirou os olhos. — Vem, vou te deixar na sala. Aparentemente, nossas aulas são totalmente diferentes na sexta.

— Deve ser karma. — Respirei fundo, desanimada. Ainda tinha um longo dia pela frente.

(•••)

Bati a porta do armário ao colocar o livro que faltava. O sinal já havia batido para que todos fossem pra casa. Passei todas as aulas tendo que aguentar a presença de Alex, já que, pelo que parecia, nossas aulas eram iguais a toda sexta-feira. Pude me desestressar mais na educação física. Jessy, Alexa e Tyler me acompanhavam pelos corredores depois de estar pronta pra deixar o colégio e descansar em casa.

— Sabe, no dia que você estiver completamente em paz, o Tyler vai estar namorando. — Alexa zoou, fazendo Jessy e eu rirmos e Hastes revirar os olhos.

— Ha, ha, muito hilário. — Ele debochou. — West High será demolida, e até lá, a paz vai continuar sendo apenas uma palavra no dicionário por aqui.

Jessy acenou com a cabeça.

— Gente, é um colégio de elite. Vocês esperavam o quê? — Comentou. — Enfim, eu vou indo. Tenho que pegar logo o ônibus.

— Richy não vai te dar carona? — Perguntei. Afinal, eles são tipo irmãos postiços.

— Eu e Richard ainda não estamos nos dando bem. — Ela dissera desanimada. — Mas está tudo bem. É no tempo dele, eu acho. Esse fim de semana, a tia Autumn vai fazer um jantar em família. Acho que vai ser uma boa oportunidade de conversarmos e nos conhecermos melhor.

Tyler, Alexa e eu olhamos para a garota com uma surpresa agradável. Seria interessante.

— Olha, parece ser uma boa ideia, amiga. Espero que dê certo. — Alexa disse.

— E se não der, é só dar um chute no traseiro do Richy e seguir a vida. — Tyler abraçou a garota, enlaçando ela pelo ombro com o braço direito. — E você não vai de ônibus coisa nenhuma. Eu te dou uma carona. — Eles andaram em uma direção do estacionamento, deixando a mim e Alexa sozinhas.

— Bem, eu vou indo também, Blake. Preciso levar minha moto pra revisão hoje. Inspeção de rotina. — Ela sorriu, segurando as chaves do veículo.

— Até depois, Alexa! — Me despedi, e a menina tomou seu rumo para outro lado do estacionamento.

Quando olhei em direção ao bicicletário, vi Nate pegando sua bike e me procurando com o olhar.

Que bom que me esperou dessa vez.

Ergui a mão para acenar que eu estava a caminho, mas alguém pegou em meu ombro, fazendo-me virar curiosa.

— Ah, que bom que você não demorou. Meu irmão está esperando no carro. Ele vai ser a carona de hoje. — Blair estava radiante em minha frente, usando o uniforme de West High bem alinhado e seus fios dourados estavam amarrados num rabo de cavalo, enfeitado com presilhas coloridas no topo de sua cabeça.

Acabei me tocando de que eu tinha o compromisso, e que minha bolsa extra estava bem em minhas mãos. O dia foi tão exaustivo que me esqueci completamente do ensaio. E, pelo que pude ver, Blair não sabe que houve discussão. Caso contrário, acho que ela teria falado alguma coisa sobre.

Depois de tudo que aconteceu, a casa dos Rutherford é o último lugar da terra que eu gostaria de estar.

— Blake? Está tudo bem? — Ela me tirou de meus pensamentos.

— Ah, desculpe, Blair. Eu já estava indo embora. — Falei. — Quero dizer, acho que não preciso mais das aulas. Eu não quero incomodar, sabe? — Minha mão apertou a alça da bolsa extra.

Blair olhou confusa para mim, e depois, pareceu entristecer.

— Poxa, eu planejei tudo para as aulas até segunda. Pensei que você fosse gostar. — Ela ficou sem graça, e seu olhar baixou um pouco. — Olha, se o motivo de você não ir for meu irmão por causa das coisas que aconteceram esses dias, eu peço para que repense no convite. Ele não vai mais incomodar você. Só quero poder ajudá-la, não vai precisar se preocupar com nada além da audição de segunda. Eu prometo.

Seus olhinhos tinham um brilho entristecido, e parecia um gatinho abandonado. Isso me fez ficar com certo peso na consciência, admito. Ela é uma Rutherford boazinha. Foi legal comigo até quando não tinha necessidade. Se desculpou pelas idiotices do seu irmãos mais velho e está tentando reparar o erro que nem é dela. Não seria tão justo me afastar por conta de Alex.

Pego-me pensando em quantas pessoas devem ter se afastado dela por conta das coisas que Alex faz. Não tinha nada de importante em ensinar uma bolsista a dançar, mas o brilho que havia sumido de seus olhos dizia outra coisa.

Me enganei com a bondade de Alex. Eu não queria cometer o mesmo erro. Entretanto, era quase impossível dizer não para um rosto desses.

Vamos, Blake. Dispensa ela. Não vale a penas se arriscar de novo, você sabe disso. Você sabe!

— Tudo bem, eu vou. — Suspirei.

Vou pagar caro pela minha maldita língua.

— Ah, obrigada! Obrigada por dar uma chance. — Ela se aproximou, me abraçando. — Vamo, temos que ir. Alex não gosta muito de esperar. Sabe como são os rapazes. — Ela sorriu, afastando-se e segurando em ambas as alças da mochila.

— Alcanço você logo. Só vou falar com meu irmão antes. — Avisei antes de me virar e andar rapidamente até Nathaniel. Em passadas longas, eu o alcancei, vendo seu rosto confuso me encontrar.

— Tudo bem aí? — Hawthorne perguntou.

— Sim, tudo certo. É só que eu me esqueci que eu marquei ensaio com a Blair. Ela vai me ajudar a passar no teste de segunda-feira. — Expliquei e recebi um olhar surpreso. — Vou de carona e, depois, vou direto pro Coffee.

Suas sobrancelhas se normalizaram e ele pareceu mais tranquilo.

— Certo. Eu aviso pra tia Felícia. — Ele busca o celular em seu bolso e começa a discar pra um número. — Vou pedir pro Justin buscar sua bike aqui.

— Obrigada, Nate. — Me aproximei do mesmo e o abracei.

Ele beijou o topo de minha cabeça antes de se afastar.

— Ligue para mim se acontecer algo, ok? — Ele afagou meu ombro.

Assenti com a cabeça e em seguida, me virei para ir de encontro com Blair novamente.

Andamos em direção ao seu Maybach Exelero. Alex estava encostado na porta do motorista, utilizando seu celular e, provavelmente, esperando por Blair.

— Prontinho, Alex. Podemos ir. — A Rutherford disse.

Quando o olhar de Alexander subiu, um certo deboche e irritação se espalhou pela sua face. Céus, como me irritava esse seu jeitinho ridículo. Eu não julgo muito sua reação. Eu também não ficaria feliz se ele fosse pra minha casa.

— Puta merda. — Ele resmungou, virando-se para abrir a porta.

— Não comece. — Blair cortou de forma séria e firme.

Eles se encararam por uns instantes até que ele cedeu e ficou quieto, entrando no carro e fechando a porta em seguida. Blair voltou com seu sorriso costumeiro e me convidou a entrar no carro. Fui no banco atrás de Alex, bom o suficiente para não precisar o ver a viagem inteira. Blair foi no banco do passageiro, do lado de Alex.

— Vou usar a sala dos espelhos hoje, tudo bem? — Ela perguntou pra Alex.

— Sem problemas. Hoje vou ficar na sala de cinema com os caras. — Ele respondeu.

Ela se virou mais um pouco para Alex, animada.

— Sessão de cinema hoje?

— É, algo assim. — Ele procurava algo no posta-luvas com a mão livre, mas ele se atentava a estrada. — Mas ainda não decidimos o filme. Quer dar alguma sugestão? — Ele retirou uns óculos escuros de onde estava procurando, os colocando e voltando a dirigir com ambas as mãos.

O jeito que ele falava com ela era completamente diferente de como o vejo agir no colégio. A atenciosidade na voz, e seu bom humor, mesmo com o dia estressante que teve. Não tinha nada sarcástico em seu tom, ou ácido, ou irônico. Ele era simplesmente... Alex. Só Alex, e não o "famoso" Alex Rutherford Turner que todos estão familiarizados.

Um frio na barriga me atingiu fazendo com que eu abraçasse minha mochila e permanecesse quieta a viagem toda, apreciando a paisagem pacata e urbana da cidadezinha de Bakersfield.

A verdade, é que esse Alex me lembrava do passado. Me lembrava do pequeno Alex na qual compartilhei conversas, segredos e até sonhos. Suas falas, seus jeitos... Era apenas Alex. Isso não durou por muito tempo em minha cabeça.

Talvez fosse momentâneo. Penso demais em momentos não muito convenientes. Preciso permanecer na realidade e encarar que aquilo era passageiro, como qualquer coisa. Alex não era assim de verdade. Ele é uma pessoa ruim e detestável agora.

Essa é a única verdade.

S.O.S Adolescentes No Ensino Médio (ORIGINAL)Onde histórias criam vida. Descubra agora