| 17. Pacote de Desculpas |

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  Agosto de 2012
 
  (Guenevere Blake Lavender)
 
  Acordei cedo novamente hoje. Eu tinha que organizar minhas coisas antes de ir pra West High. Estou levando uma bolsa à parte, onde estão minhas roupas pro ensaio na casa da Blair. Hoje o dia vai ser um pouco mais caótico, eu diria. De verdade, eu gostaria de desistir dessa ideia de dança e tudo mais, mas se eu o fizesse, não conseguiria entrar no clube de teatro. Eu poderia trocar de clube. Ir para o de música. Mas não seria justo comigo mesma. Eu gostava do clube de teatro da O.J Actis, e eu me sentia mais viva do que no clube de música.
 
  Não me leve a mal, eu amo música. Mas não acho que seja minha praia. Eu gosto de viver as coisas. Gosto de ler e entrar no universo que leio. Qual clube melhor senão teatro?
 
  E sobre a carta de ontem que estava no correio, não me impressionou nada. Dentro tinha uma foto minha no estacionamento, sentada no chão justo na poça de tinta verde. Minha vontade era de jogar aquilo fora, mas hoje eu decidi falar com o diretor sobre tudo isso. Não tem como eu resolver sozinha, e ele precisa tomar as decisões cabíveis sobre todos esses ocorridos. Não vou suportar mais nem um dia sequer em West High dessa forma.
 
  Depois de escovar meus cabelos e fazer minha maquiagem, chegou a hora na qual eu mais estava ansiosa: experimentar o uniforme novo.
 
  Eu não faço a menor ideia de como Blair conseguiu acertar meu tamanho. O uniforme serviu direitinho, e agora, estava novo em folha. Não consegui contar para Nate ou pra minha mãe sobre o presente, mas acho que eles vão acabar perguntando de qualquer modo quando me verem.
 
  E quanto às vestes manchadas, eu não sei bem o que fazer. Não quero jogá-las fora. Minha mãe deu duro pra conseguir elas, e estar suja de tinta verde não ameniza esse fato. Acho que vou apenas guardá-la como lembrança.
 
  Uma lembrança de que vou superar qualquer obstáculo que passar no meu caminho.
 
  É uma sobrevivência ao ensino médio, vou esperar menos do que isso?
 
  Abri as janelas do meu quarto, deixando o ar puro entrar junto com o calor extasiante do sol. Observei a vizinhança acordar e o sol tomar seu pico no céu azul. Os passarinhos cantando e voando de um lado para o outro me faziam pensar no quão vai fazer falta nessa estação do ano. Estávamos próximos do outono, e logo logo, as folhas irão começar a mudar de cor, e todas essas árvores irão perder o volume.
 
  A aparência pálida e seca da madeira vão ser as únicas coisas que iremos ver em breve. Mas isso não me abala muito. É o ciclo das estações. Elas vêm e vão.
 
  Depois de amarrar meu cabelo num rabo de cavalo e deixar algumas mechas soltas, eu verifico se minha maquiagem está boa para o dia de hoje. Estou levando lenços umedecidos na bolsa pra tirar ela depois da escola. Eu não quero que escorra durante o ensaio.
 
  — Blake, café tá na mesa! — Escutei a voz de Jude chamando do andar de baixo.
 
  Em uma última olhada no espelho, peguei minha mochila e deixei meu quarto, chegando até o topo da escada sentindo o cheiro maravilhoso dos ovos e torradas que praticamente todo dia infestava a casa.
 
  Desci com meu sorriso costumeiro. Nada como uma boa noite de sono pra recarregar as boas energias. Hoje, tenho a sensação de que o dia vai ser bom. Mesmo nervosa para depois do colégio, ainda acho que vai ser algo bom. Ouvi o pequeno rádio, que ficava em cima do balcão da cozinha próximo a janela, ligado numa música familiar. Quando tive total visão da cozinha, notei que Nate estava ajudando Jude na cozinha. Não havia ninguém na mesa, e a porta da frente estava aberta.
 
  — Céus, Jude, metade da vizinhança vai saber que você gosta de Pink. — Comentei, ouvindo Blow Me num volume mais alto do que o de costume.
 
  Jude e Nate se viraram para me encarar. Ele estava terminando de mexer a pequena frigideira com os ovos, enquanto Jude pegava o restante dos pratos para colocar na mesa.
 
  — I'll dress nice, I'll look good, I'll go dancin' alone... — Ela cantarolou, fingindo que não me ouviu. — O dia precisa começar animado, Blake. A rádio nunca erra, inclusive. — Ela pôs a mesa com um sorriso. Seu cenho franziu quando olhou para minha direção. — Calma aí, tem alguma coisa estranha em você...
 
  Coloquei minha mochila no sofá e olhei para o lado de fora. Não havia ninguém na porta. Nem a senhorita Kaufmann, uma mulher que mora em frente à minha casa, estava por lá para pedir ovos ou açúcar emprestado. Muito menos o senhor e a senhora Portman, que gostavam de discutir sobre as palavras divinas da Bíblia. São umas gracinhas, mas às vezes, chatinhos, admito.
 
  — Cadê a mamãe? — Perguntei, encarando ambos esperando alguma resposta.
 
  Nate colocou um pano de prato no ombro enquanto colocava os ovos mexidos no prato com cautela. Ele raspava a frigideira com uma colher de pau até que não sobrasse nada além dos pequenos tostados. Ele me olhou através das ondulações dos cabelos que caíam em seus olhos.
 
  — Jardim. Ela foi regar e podar algumas plantas. — Ele falou.
 
  — Não sabemos se ela iria demorar, então aprontamos logo o café pra não sairmos atrasados. — Jude complementou. — Voltando ao assunto... seu uniforme está limpo! Tá vendo, Nate?
 
  Eles pareciam bem surpresos, mas felizes por mim, eu diria. Até eu estou feliz. Tudo parece um pouco mais leve hoje. E com meu uniforme novo, nada iria me fazer baixar a cabeça. Hoje o dia é meu.
 
  — Qual a magia você fez? — Jude perguntou, colocando as talheres na mesa e se sentando em seguida.
 
  — Na verdade, ontem, antes do Nate simplesmente sumir do estacionamento, — Um sorrisinho forçado e irônico foi lançado em sua direção. — uma menina veio falar comigo. Blair, irmã mais nova do Alex Rutherford. Ela pediu desculpas pelo ocorrido, em nome dele, claro, e me ofereceu um uniforme novo, já que foi tecnicamente o irmão dela que estragou.
 
  Nate sentou à mesa, ao lado de Jude, e sua cara expressava uma certa estranheza e desconfiança.
 
  — Olha, ela parece ser legal mas... estranho ela simplesmente dar um uniforme pra você assim, sem mais nem menos. — Ele comentou.
 
  Jude me encarou com uma incerteza, já que ela não poderia entrar muito no assunto.
 
  — Acho que ele tem razão, Blake. Pelo que entendi, ela è irmã do cara que foi idiota com você, então...
 
  Dei de ombros, sem ligar muito pra esse quesito. Eu não sinto que Blair tenha outras intenções com o presente. Ela me parece ser diferente de Alex, e eu não gosto de ignorar meus pressentimentos. Blair Rutherford é uma garota boa e gentil.
 
  — Bem, cavalo dado não se olha os dentes. Tenho um uniforme novo e um pedido de desculpas, então acho que basta. — Falei. — Inclusive, Nate, vou falar com o diretor Colleman hoje mesmo sobre as coisas que rolaram. Não vou deixar aquele pessoal de West High me abalar, muito menos o panaca do Alex Rutherford.
 
  Nate exibiu um sorriso satisfeito junto a um suspiro despreocupado. Ele pareceu gostar da minha ideia. Jude serviu-se dos ovos mexidos em sua torrada com manteiga com tranquilidade, mas algo parecia deixá-la irritada, eu diria.
 
  Saí de perto da escada e fui me sentar próximo deles. O chão rangeu, como sempre. Arrastei a cadeira e pousei com calma no lugar. Comecei a passar um pouco de manteiga em uma torrada quando minha mãe entrou em casa e fechou a porta com o pé logo em seguida.
 
  — Ah, bom dia, querida! — Ela sorriu. Suas mãos estavam com as luvas de jardinagem, ambas sujas de terra e lama, e alguns espinhos eu acho. — Vou tirar isso aqui antes que suje o carpete da sala. — Seu cenho franziu enquanto ela analisava o chão da pequena sala de estar.
 
  — Deixe que eu apronte sua xícara de café e o pão com ovos e bacon. — Avisei.
 
  — Não precisa, filha. Apenas coma seu café e não se atrase. — Ela sorriu por um momento, e logo se dirigiu aos fundos para limpar as luvas.
 
  Nate checou o relógio que havia em seu pulso enquanto eu mastigava meu primeiro pedaço da torrada maravilhosa que Jude preparou.
 
  — Acho que ela não vai notar o uniforme novo agora. — Jude comentou. — Mas ela vai ficar surpresa quando ver que não tem mais mancha nenhuma.
 
  — Bem, será menos uma preocupação pra ela. Não quero estressá-la por conta das bobagens do colégio. — Falei, recebendo um chute de leve a canela. Um gemido de dor foi abafado por mim.
 
  Nate me olhou com incômodo, enquanto eu o encarava da mesma forma.
 
  — Para de falar de boca cheia, menina. — Repreendeu ele.
 
  Revirei os olhos e terminei de engolir.
 
  — Credo, desculpa aí, chatão. — Descansei a torrada no prato e me servi um copo de suco de maçã.
 
  Jude prendeu uma risada até voltar sua atenção para mim.
 
  — Mas então, Blake, você e Bryan brigaram de novo? — Ela perguntou.
 
  Franzi o nariz momentaneamente, não gostando do rumo da conversa matinal. Já não basta as inúmeras mensagens e ligações ignoradas, agora tenho que saber como evitar ele nas conversas alheias.
 
  — Você terminou com ele ? — Nate insistiu.
 
  — Ele falou com vocês, por acaso? — Eu os encarei.
 
  Jude e Nate se entreolharam com incerteza. Pareciam esconder algo de mim, estando numa corda bamba entre falar ou não falar, deixando-me curiosa e desconfiada.
 
  — Gente? — Insisti.
 
  — Ele tá tentando falar com você faz um tempinho. Pediu para que falássemos com você. — Jude dissera.
 
  — Olha, eu não terminei com Bryan. Estou brava e não quero falar com ele sobre. Nem com ele, nem com ninguém. Eu tenho que pensar. — Informei, trazendo o copo de suco para perto. — Quando eu me sentir disposta a ouvir as desculpas dele, eu mando mensagem. Não é como se ele fosse me responder no mesmo instante, de qualquer modo. — Bebo um gole.
 
  Eles olharam de relance entre si e não comentaram mais nada. Terminei de comer meu café da manhã de forma breve, ansiosa pelo dia de hoje. Minha mochila estava perto de minha bolsa com a roupa extra, para que eu não esquecesse ela em casa. Hoje, sei que vai ser um dia daqueles. Estou disposta e bem descansada pra aguentar seja lá o que me espera.
 
  — Nate, você pode me cobrir um pouco no turno de hoje no Coffee? — Perguntei, levantando da mesa e limpando algumas migalhas de pão que caíram em minha saia.
 
  — O que você vai fazer desta vez? — Ele revirou os olhos e se levantou da mesa junto a Jude.
 
  — Eu vou ter de treinar na casa da Blair. Ela vai me ajudar com dicas pra dança. — Meu nariz enrugou com certa insegurança. — Isso soa mais estranho quando falo em voz alta
 
  Jude estava com um sorriso divertido para cima de mim. Ela segurava uma risada em sua garganta, posso sentir isso.
 
  — Você vai dançar? Oh céus. — Ela suspirou, fazendo-me revirar os olhos no mesmo instante. — O que esses monstros estão fazendo com vocês dois? Só me falta dizer que Nate vai aprender a sapatear ou fazer tricô.
 
  — Qual é, dá um tempo, Jude. — Bufei, andando para ir até a garagem e pegar minha bicicleta. — É cada sacrifício que eu passo.
 
  — Se puder gravar um vídeo, eu ficaria grata. — Ela riu.
 
  Nate segue bem atrás de mim. Sua bicicleta estava apoiada na caixa de correio. A rua estava meio movimentada hoje, em plena sexta-feira. Alguns carros passavam rapidamente pela estrada, e haviam algumas pessoas que corriam em grupo e passeavam com seus cachorros.
 
  — Te vejo depois. — Nate puxou Jude pela cintura e deu um beijo em sua testa.
 
  — Tchau, Jude. — Virei-me para a porta e tentei procurar pela minha mãe. Creio que ela esteja ainda nos fundos. — Até mais tarde, mãe! — Exclamei para que ela pudesse ouvir mesmo que de longe.
 
  — Até mais tarde, filha! — Ouvi ela exclamar de volta, deixando-me satisfeita.
 
  Jude montou em sua bicicleta, que estava apoiada próximo da garagem, e se despediu com um aceno de mão. Logo, ela saiu pelo lado oposto da calçada. Nate e eu pedalamos pelo mesmo caminho de sempre, sem muita demora para chegarmos logo em West High.
 
  Espero chegar antes de Daniel. Eu gostaria de falar com ele novamente. Não sei exatamente o porquê de sentir essa empolgação subindo pelo meu estômago para o vê-lo, mas sei lá, ele me deixou curiosa sobre muita coisa.
 
 
  (•••)
 
 
  — Adorei aquela foto que você postou no Tumblr, Blake. Eu adoro gatos! — Jessy centavos enquanto andava ao meu lado, entrelaçando seu braço com o meu. — Eu tenho vários em casa. Não aqui, claro, mas no Brasil. Minha irmãzinha ama eles. São cinco, no total.
 
  Jéssica mexia no celular enquanto andávamos, fuçando seu Tumblr, Instagram, Facebook e Twitter. Vez ou outra, mostrava seus filtros no Snapchat, mas nem dava tanta bola. Ela gosta bastante de usar as redes sociais, e acabou comentando sobre a foto de um gato preto que tirei enquanto passeava de bicicleta.
 
  Ele estava deitado num muro de uma casa. Ele não tinha coleira. Parecia não pertencer a ninguém, e seus olhos eram de cores diferentes. Eu o achei muito bonito. Eu sempre quis ter um cachorro ou gato pra cuidar, mas bichos não são brinquedos. Eles dão trabalho, e eu não queria ter de preocupar minha mãe mais do que normalmente eu faço.
 
  Mas nada me impede de sonhar com isso.
 
  — Nossa! São muitos gatos, Jessy. Cuidado com as alergias, ein. — Tyler disse. — Gatos são muito fofinhos, inclusive. Eu gostaria de ter um, mas minha mãe é alérgica.
 
  — Ah, bem, isso é uma pena. — Jessy falou em seguida, desligando o celular e colocando no bolso. — Quando você morar sozinho, pode adotar um gato. Assim você realiza seu sonho.
 
  Tyler sorriu por um instante. Ele pareceu ficar animado pela ideia, e esse poderia ser o ponto de Jessy. Afinal, ele não viveria na casa dos pais para sempre. Nenhum de nós vai.
 
  Paramos em frente ao armário de Tyler. Nate acabou indo com Richy e outros amigos do clube de natação, deixando apenas eu, Jessy e Tyler juntos. Alexa não apareceu até o momento. Hastes falou que ela estava em reunião com o clube de debate, e que depois iria acompanhar a gente para qualquer lugar, como sempre.
 
  — Bem, Tyler... você está por aqui a mais tempo do que nós duas. — Ele abriu o armário e olhou para mim.
 
  — Sim?
 
  — Você sabe alguma coisa a mais sobre o Daniel Novac? — Assim que fechei minha boca, Tyler fechou o armário de forma abrupta, me dando um leve susto.
 
  Ele me encarou com certa estranheza. Jessy ficou tão confusa quanto eu.
 
  — Daniel é aquele garoto bonito que usa um piercing no nariz? — Jéssica questionou genuinamente.
 
  — Por que você quer saber sobre o Novac? — Tyler pareceu curioso demais, e até surpreso. — Pensei que você tivesse namorado. Que safada. — Seus lábios se comprimiam, segurando um sorriso e tentando se manter sério, visivelmente desconfiado.
 
  Senti meu rosto começar a queimar. Minha maquiagem derreteria se continuasse dessa forma, e por mais aborrecida que fiquei ao escutar uma acusação indireta, algo me deixava meio mal.
 
  Talvez eu realmente não devesse ficar perguntando sobre outros garotos assim.
 
  — Deixe de besteria, Tyler. Eu tenho namorado. — Revirei os olhos. — É que eu queria saber mais sobre ele. Sei lá, Novac me parece ser diferente do Alex e do Timothy, simplesmente não entendo porque ele anda com gente que não tem nada haver com ele.
 
  Tyler deu de ombros e suspirou pensativo.
 
  — Ah... esquece. Acho que é errado eu querer saber algo de outro cara tendo um namorado. — Cruzei os braços e me encostei no armário de metal.
 
  — Depende, amiga. Você tá afim do Daniel ou só curiosa? — Jéssica perguntou.
 
  Eu abri a boca por um instante, até perceber que consegui hesitar nessa resposta. Me atrapalhei quando ouvi a cacofonia do corredor aumentar. Olhando do que se tratava, era nada mais nada menos do que a Tríade. Alex, Timothy, Daniel e Diogo andavam juntos, com outros caras do time de lacrosse atrás. Alex e Timothy conversavam entre si e pareciam estar de bom humor, enquanto Dan ouvia, seja lá o que Diogo o contava.
 
  Diogo. Esse nome me fez ter um déjà-vu. Ele não parece ser tão importante quanto os outros. Consegui me esquecer de sua existência rapidamente. Por mais que eu tivesse curiosidade em relação a ele, não era dele que me interessava de fato.
 
  Você tá afim do Daniel ou só curiosa?
 
  Eles passaram por nós como se não existíssemos. Não olharam para ninguém, exceto para os que lhe interessavam e que andavam com eles. Eles pararam no armário do Diogo, há poucos metros dali. Garotas andavam e cochichavam entre si, sem conseguir parar de encarar aquele pessoal.
 
  Daniel colocara as mãos no bolso do casaco do time e, de relance, ele me encarou. Quando senti seus olhos me perfurarem, senti minha espinha arrepiar completamente. Seu sorriso não deixava seus lábios, e isso simplesmente fazia meu coração acelerar sem nenhum motivo tão eminente.
 
  Quando notei, havia mais uma pessoa me encarando. Alex Rutherford. Sua expressão neutra tinha algo que me irritava. Seus olhos distintos me lembravam o passado. Não me lembro de muita coisa, mas o pouco que posso recordar não me agrada nem um pouco.
 
  Olhar para Alex fazia meu sangue ferver. Eu o odeio de todas as formas possíveis e só de olhar pra aquele sorriso ridículo de falso me dava ânsia. O odeio, odeio, ODEIO!
 
  — Curiosa. — Voltei minha atenção para Jessy e Tyler. — Não estou afim do Novac, mas ele parece ser uma pessoa legal. Só quero saber se é confiável ou não ser amiga dele.
 
  — Ele quer ser seu amigo?! — Tyler colocou a mão na boca com surpresa. — Por isso ele te chamou pra conversar longe da nossa mesa. Mas, gata, não acho que ele queira só amizade não.
 
  — Sei que ele não quer só amizade. — Falei, recebendo olhares de choque de Tyler e Jessy. — Longa história, enfim... eu já deixei claro que nada vai acontecer.
 
  — Que bom que você tem um cérebro, viu. — As sobrancelhas de Tyler arquearam com alívio. — Olha, Blake, Novac não é um cara ruim. Ele é bem encrenqueiro, eu diria. Se mete em confusão por escolha própria e tem seus amigos que também vão na onda. Acho que isso não o faz ser um idiota igual os outros dois, mas é você que sabe.
 
  Convivi uma parte do meu ensino médio com os meninos da banda. Se tem algo que entendo sobre bagunça e confusão, aprendi com eles. Justin principalmente. Evan, Justin e Trevor não são caras ruins, nem possuem atitudes ruins. Eles só são malucos, e não acho isso ruim. Eles vivem da maneira que gostam, e diversão sempre está incluída. Não há muito espaço pra tristeza ou desânimo quando estou com eles.
 
  Quando eu estava com eles, na verdade. Agora, nossos momentos são curtos, e ainda assim, são muito especiais.
 
  — Não é legal, né? Ser amiga dele. — Questionei. — Acho que Bryan iria pensar errado sobre. Além de que, o que Daniel iria querer com a bolsista de West High?
 
  — Calma aí, garota. — Jessy repreendeu. — Até onde sei, você não está afim do Novac. Você tem o direito de falar com quem quiser e ser amiga de quem quiser. Seu namorado não manda nas suas amizades não. — Ela disse com convicção. — E, bem, até onde vi, quem veio até você foi ele, não o contrário.
 
  — Não acho que Daniel tenha problemas com nenhum tipo de novato. — Tyler complementou a fala de Jessy. — Talvez ele tenha gostado mesmo de você. Ele é amigável com todo mundo, mas pra ter chegado e puxado você pra conversar e esse tipo de coisa, é algo bem inacreditável. Com certeza ele quer algo de você.
 
  A questão não é nem saber o que ele quer comigo, já que ele deixa tão óbvio suas intenções. Mas, porque justo eu? Minhas sobrancelhas se unem com esse pensamento. Não é como se eu fosse me colocar pra baixo numa situação como essa. As pessoas falam que sou bonita, tirando minhas sardas, e eu entendo sobre isso. Mas não tenho nada que chame verdadeiramente a atenção de um cara como Daniel.
 
  Não sou rica, não acho que faço o tipo dele, como as meninas que o rodeiam. Não tenho uma família mundialmente importante ou uma carreira predestinada. Sou só eu e minha aparência comum. Uma garota normal, como qualquer uma. Não sou diferente de ninguém, claro, mas também não sou do mundo dele. Nem de Daniel, nem de Alex ou Timothy, ou Morgana.
 
  Acho que de praticamente ninguém que estuda aqui.
 
  — O que veio a sua mente? — Jessy perguntou curiosa. Quando saí de meus pensamentos, a encarei com passividade.
 
  — Garotos são difíceis. — Dei de ombros.
 
  — O ensino médio é difícil. Os garotos são só chatos mesmo. — Tyler revirou os olhos, puxando-me para sair dali junto com Jéssica.
 
  Andamos em direção ao corredor principal. O lugar não estava muito movimentado, mas isso mudaria dentre poucos minutos. Pedi para que Tyler pudesse me levar até a sala do diretor Colleman, para que eu pudesse falar sobre os problemas que estou tendo com a minha adaptação. Eu não expliquei, com todos os detalhes, para Tyler o motivo de falar com o senhor Colleman, mas não acho necessário o preocupar com nada.
 
  Vou resolver isso sozinha de um jeito ou de outro.
 
  — Jessy e eu vamos deixar nossas coisas na sala de aula e procurar por Alexa. — Hastes informou, deixando-me na porta da sala do diretor. — Até depois, amiga.
 
  — Até depois, gente. — Sorri, vendo eles se retirarem do lugar e desaparecendo ao dobrarem no final do corredor.
 
  Encarei a porta da sala por um momento. Os vídeos eram foscos, e não dava pra enxergar nada senão silhuetas. Entretanto, não tinha nada do outro lado que chamasse atenção. Respirei fundo e toquei três vezes. Em seguida, empurrei a madeira escura para poder entrar.
 
  — Licença, senhor Colleman? — Eu chamei.
 
  Um silêncio se manteve por um curto tempo. Eu o procurei com o olhar, até perceber que sua cara estava enfiada em pastas e papéis, atrás de sua enorme mesa de madeira envernizada. O crachá que ficava próximo de uma pequena lâmpada em cima de sua escrivaninha estranha brilhava em "The Principal".
 
  Seus olhos escuros encontraram os meus. Ele estava com seu charuto na boca. Descansando os papéis e pastas na mesa, sua mão direita foi até o charuto fumegante, o tirando da boca e deixando sair uma espessa fumaça de tabaco sair por sua boca. Posso estar errada, a propósito, mas acho que fumar em ambiente escolar é proibido.
 
  — Sente-se. — Ele falou num tom áspero.
 
  Obedeci automaticamente, sentindo as palmas de minhas mãos suarem com nervosismo.
 
  Céus, ele dá medo.
 
  — O que a trouxe aqui, senhorita...? — Ele pareceu esquecer meu nome.
 
  Há vários alunos por aqui. Comum.
 
  — Lavender. Blake Lavender, senhor. — Eu informei. — Ér, eu gostaria de falar sobre...sobre algumas coisas que estão acontecendo em West High e que, sinceramente... não me agradam.
 
  Seus olhos me analisavam de cima a baixo. Engoli seco sabendo que seus olhos procuravam qualquer imperfeição de minha parte. Não acho que ele vá encontrar nada relevante.
 
  — Bolsista. — Ele disse por fim. — Lembro de você, claro. Prossiga.— Um pequeno sorriso sarcástico estava em seus lábios. Ele não parecia estar, de fato, interessado no que eu tinha a dizer.
 
  Seus dedos levaram o charuto para os lábios mais uma vez.
 
  — Sinceramente, senhor Colleman, os alunos não estão me deixando em paz. — Falei como se tivesse tirado um curativo de um machucado. — Não gostam do fato de eu e meu irmão sermos bolsistas. Falam atrocidades e brincadeiras nada legais. Uma delas passou dos limites. Rasgaram meu livro e meu caderno. Mexeram em meu material pessoal, e isso já foi longe demais. — Eu peguei minha mochila e mostrei o estrago feito pelas pessoas.
 
  Colleman observou-me sem muito interesse. Ficamos nisso por longos segundos, até que seu corpo se moveu. Ele apagou o charuto que tinha em mãos e ergueu sua mão para que eu o entregasse o material estragado. Confusa, fiz o que achei que deveria, entregando a ele o material arruinado.
 
  — Você sabe quem foram? — Ele questionou.
 
  — Infelizmente, fizeram isso em minha ausência na sala de aula. — Mordisquei o lábio inferior com incerteza, até me lembrar. — Mas tenho quase certeza de que Alex Rutherford sabe quem foi, já que ele é o que mais pega no meu pé, de todos os alunos daqui.
 
  As sobrancelhas de Colleman se uniram em confusão. Ele processou a ideia por um momento, até se levantar e começar a procurar algo na estante atrás de sí. Fiquei calada, apenas o observando fazer seja lá o que. Batuquei com o pé no chão, ansiosa por qualquer fala ou ação que fosse. Eu só queria que ele tomasse as devidas providências, e eu não imagino o que dizer caso ele se negue a fazer o mínimo.
 
  Ele não parece ser do tipo...justo.
 
  — Sabe, senhorita Lavender, o senhor Rutherford falou comigo ontem, antes de ir embora. Entregou-me algo para dar a você hoje. — O diretor tirou um pacote não muito grande na estante. Tinha um formato de livro... — Ele me contou do ocorrido. Peço desculpas em nome do colégio, e peço para que não preste nenhum tipo de queixa. Atos assim não irão se repetir, e Rutherford se assegurou disso.
 
  Por um momento, senti que estávamos falando em línguas diferentes. Meu corpo só paralisou e minha mente entrou em um estado de confusão total. Alex Rutherford me pedindo desculpas? Mesmo que indiretamente, ainda assim, pedindo de-s-c-u-l-p-a-s?
 
  Não faz o menor sentido. Por que ele estaria pedindo desculpas agora? Não conversamos nenhuma vez. Não teve brecha alguma para que ele se arrependesse de seus feitos. Não houve pronunciamento algum de sua parte, apenas de Blair. Não faz o menor sentido.
 
  Neste pacote há uma bomba. Não tenho dúvidas.
 
  — Pegue e dirija-se para a sua sala de aula. O sinal irá bater em cinco minutos. — Ele estendeu o pacote até mim.
 
  Eu não queria aceitar. Honestamente, um pedido de desculpas vindo de um cara como o Rutherford não seria bem vindo em minha vida nunca, mas... algo em mim diz que pode ser verdadeiro. Se Blair veio até mim e pediu desculpas, por que ele não poderia fazer o mesmo? Talvez ele tenha visto que passou dos limites. Talvez ele tenha visto que fora rude demais, sem necessidade. Acho que Blair pode até ter falado com ele, quem sabe.
 
  Pelo pouco que me lembro, Alex não é de pedir desculpas de forma clara, olhando pra você e dizendo todas as palavras. Não mudou muito, pelo visto.
 
  — Obrigada, senhor Colleman. — Recebi o pacote em mãos.
 
  Levantei-me da cadeira e me dirigi até a porta, saindo e fechando-a em seguida. Olhei o pacote com incerteza. Meus dedos tatearam de forma sutil o pacotez e eu pude sentir o que parecia ser algo duro e metal em espiral. Bem, sem dúvidas, era algum caderno. Havia também outra coisa dentro, um pouco maior do que o espiral. Tudo indicava que poderia ser um livro.
 
  Os materiais que me tiraram sem pudor. Ainda estava muito estranho toda essa situação, mas nada mais me restava a não ser agradecer... e pedir desculpas também. Eu errei tanto quanto Alex, e ele pediu desculpas. Acho que nada mais justo do que fazer minha parte.
 
  — Hey, docinho. — A voz familiar fez com que meu coração deslizasse.
 
  Virei-me com certa surpresa. Um sorriso surgiu nos lábios de Daniel como sempre, e como uma influência indireta, acabei sorrindo de volta para o mesmo. Ajustei minha mochila nos ombros enquanto segurei meu pacote com a outra mão.
 
  — Ah, oi Daniel. — Falei. — Bom dia pra você.
 
  — Igualmente. — Ele olhou para o pacote em minhas mãos. — Passou na caixa de correio antes de vir pro colégio? — Questionou curioso com seu humor matinal, e um pouco sem graça, eu diria.
 
  — Não mesmo. — Suspirei uma risada fraca. — Na verdade, que bom que apareceu. Pode me ajudar com algo?
 
  Ele cruzou os braços e me encarou de bom humor, esperando que eu falasse algo.
 
  — Você sabe onde o Alex está? — Soltei para ele, esperando mais uma de suas piadas ou algo do tipo.
 
  Seu sorriso diminuiu um pouco, e seus olhos me analisaram por um tempinho, cima a baixo. Ele umedeceus os lábios antes de falar com sarcasmo.
 
  — Engraçado. Adivinha quem me mandou procurar por você...

S.O.S Adolescentes No Ensino Médio (ORIGINAL)Onde histórias criam vida. Descubra agora