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      Setembro de 2012    ( Guenevere Blake Lavender )        Tyler e Jessy afagavam meu ombro

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Setembro de 2012

( Guenevere Blake Lavender )



Tyler e Jessy afagavam meu ombro. Estávamos sentados em alguns bancos do lado de fora da sala de química, e Alexa estava de pé bem em minha frente. Falei tudo pra eles, tudo que estava se acumulando dentro da minha cabeça, e agora, eles poderiam entender todo o estresse que eu estava sentindo.

— Poxa, Blake, por que não conversou com a gente antes? — Jessy questionou enquanto eu estava respirando fundo e limpando as lágrimas. — Caramba, não tem nem um semestre que está aqui, e sua vida virou uma novela mexicana estranha, sem ofensas.

— Sei que é muita coisa pra digerir, gata, mas não pode ficar guardando tudo aí dentro. Olha o problema que você arranjou. — Tyler comentou. — Alex provavelmente está super irritado. Nem imagino o que vai ser do jogo de lacrosse de amanhã.

Minha boca grande conseguiu estragar o dia de hoje e de quebra, o de amanhã também.

— Vou enlouquecer desse jeito. Eu me sino péssima. Eu não queria falar aquelas coisas, eu só queria que ele me deixasse em paz! — Esfreguei o rosto impaciente e respirei fundo.

Alexa cruzou os braços pensativa, olhando para mim e Tyler. De fato, não havia nada para ser dito em relação a essa situação deplorável que consegui causar. Nem eu sei o que fazer.

— Morgana estava certa. Alex e eu... nunca daria certo. É bobagem tentar consertar algo que só sabe ficar quebrando o tempo inteiro. — Olhei cabisbaixa para o chão.

— Só porque ele foi maluco em inventar essas coisas, e agir como um babaca, não quer dizer que tudo esteja perdido. — Alexa se agachou em minha frente e me encarou. — Agora, você fez uma coisa muito errada, amiga. E ele tem direito de ficar bravo agora.

Assenti, tendo total noção disso. Seria hipocrisia achar ruim que Alex estivesse bravo. As palavras que saíram de minha boca... caramba, nem consigo crer em mim mesma.

— Deveria tentar conversar com ele. Pedir desculpas. — Tyler sugeriu, mas a outra parte de mim quis tomar o controle.

— E do que adianta? É provavelmente a quarta vez que vou fazer isso. E depois? Vamos brigar novamente? — Me levantei e respirei fundo. — Talvez seja melhor assim. Quem sabe nunca mais a gente se fale, e é melhor pra nós dois.

Quem sabe minha mente não pare de pensar nele e naquelas palavras. Minha pele formigante com seu toque... se eu seguir em frente, isso pode parar.

Tyler suspirou exausto, e todos se levantaram.

— Olha, Blake, você decide. Mas no fundo, sabe o que realmente tem que fazer. — Jessy deu de ombros. — Vem, pessoal. Temos aula de história.

E então, eles saíram do lugar, me deixando com milhares de intrigas por dentro. Mas eles não poderia fazer nada, no fim das contas. A pessoa confusa e imbecil sou eu, e nada muda esse fato.



(•••)


Enquanto eu limpava algumas mesas, Justin, Evan e Trevor estavam no palco com seus instrumentos testando o som. Faz alguns dias que eu não vinha por aqui, então achei uma ótima ocupação pra cabeça. Quem sabe aqui, focando em ajudar o café, não posso me distrair um pouco do caos.

Nate estava meio chateado comigo por ter sido rude e não ter conversado com ele, e bem, não posso o culpar. Ele está sério a noite toda, não trocou uma palavra comigo.

— E aí, Benson. Como vão as coisas no colégio dos almofadinhas? — Evan se aproximou com seu sorriso costumeiro, comendo uma bala de alcaçuz.

Sorri nem um pouco animada.

— Tô sobrevivendo, eu acho. — Dei de ombros. — Poderia ser pior.

— Vai ver o jogo amanhã? — Justin se aproximou e sentou em uma das cadeiras do balcão. — Cara, estamos treinando há semanas! Com certeza vamos levar essa vitória.

— E aí, vou poder esfregar minha bunda na cara dos Dragons. — Evan riu convencido.

Revirei os olhos e desamarrei meu avental, o colocando em cima do balcão.

— Olha, eu não sei. Vocês sabem que detesto esportes.

— Por favor, Benson! — Justin fez beiço.

— Você é nosso chaveiro da sorte! Mesmo odiando, sempre que você vai nos jogos, a gente consegue vencer. — Trevor apareceu em meio dos garotos, abraçando eles de lateral. — E você não quer ver esses dois patetas tristes depois do jogo, não é?

Antes que eu pudesse abrir a boca e responder, Nate repôs os guardanapos bem em minha frente num baque que me assustou.

— Desencana. A mulher maravilha anda muito ocupada escondendo as coisas dos outros. — Sua voz deixava nítido seu aborrecimento.

E então, ele saiu de perto e foi organizar os itens das mesas vagas. Franzi o cenho, completamente esgotada de paciência com esse comportamento dele.

— Do que ele tá falando? — Justin questionou confuso.

— Nada. Ele bateu a cabeça quando nasceu. — Revirei os olhos e fui atrás de Nate para conversar com ele.

Talvez eu deva pedir desculpas e explicar o que está acontecendo.

— Me desculpa. — Entrei em sua frente e falei. Seus olhos me encararam, ainda em silêncio. — Está acontecendo tanta coisa nessas semana, e eu não falei nada pra ninguém porque isso tudo anda confuso pra mim. E de tanto calar a boca, acabei explodindo. Você não tem culpa de nada.

Vi sua expressão amenizar aos poucos. Ele assentiu com a cabeça lentamente, e então, seu braço descansou numa mesa enquanto ele olhava para mim.

— Podia falar comigo. Eu sei que não sou expert em conselhos, mas você é minha irmã. — Dizia sério. — E sua mãe me pede pra cuidar de você, porque ela se importa. E eu faço porque também me importo. Pensei que me considerasse como um irmão também, e não precisava esconder essas coisas.

Nate cresceu de orfanato em orfanato. E agora que conseguiu sair para finalizar o ensino médio, nunca me deixou na mão. Nem a mim ou minha mãe, porque éramos uma família, acima de tudo. Não tínhamos o mesmo sangue, ou idade, ou cabeça, mas temos o mesmo coração, e me sinto uma completa estúpida por ter ignorado isso.

Fechei os olhos por um momento, respirando fundo e deixando o estresse se esvair. Eu quero ser sincera e calma, quero ser verdadeira com Nate.

— Você é meu irmão, Nate. Sempre vai ser. — E então, me aproximei para o abraçar. — Me desculpa. Vou contar tudo pra você em breve, eu só... só me deixa organizar melhor as coisas. Tá tudo bagunçado.

Senti seus braços me envolverem, e então, pude me sentir bem e segura naquele momento. Eu amo Nate, e ele é muito importante pra mim. Não posso deixar que minhas ações o atinjam dessa maneira. Nunca mais.

— Tá tudo bem. Vou ser paciente com você. — Respondeu, dando um beijo no topo de minha cabeça. Quando nossos corpos se separaram, ele me olhou com um sorriso sincero. — Conheço a pirralha teimosa que tenho.

E, depois de horas, um sorriso genuíno e sincero brotou em meu rosto. Me senti bem melhor agora, estando aqui com ele.

No outro momento, o sino da loja tocou, alertando a presença de clientes. Quando olhei, me surpreendi com que eu vi.

— E aí, docinho. — A voz de Daniel soou como um bálsamo.

E ele estava lá, parado com as mãos no bolso, o piercing brilhante no nariz, cabelos bagunçados e o seu sorriso costumeiro, que fazia os corações derreterem. Meu amigo, Daniel Novac, que mesmo depois de loucuras minhas, mandava mensagens e vinha aqui quando eu estava por perto. Acho que nunca vou entender ao certo esse apreço que ele tem por mim, entretanto, não questiono, apenas me sinto grata por ter um ombro amigo.

— Já nem tem graça ver você por aqui, cara. — Nate riu, cumprimentando Daniel com um aperto de mãos.

— Eu sou a graça do local. Pensei que já estivesse óbvio. — Dialogou de modo presunçoso que me fazia sorrir. — Preciso falar com a garçonete gatinha. Me permite?

Revirei os olhos e Net me olhou depois de soltar uma risada.

— Toda sua. — Ele deu de ombros, todavia, antes de se virar, ele olhou bem para Novac. — Mas eu tenho olhos por todo esse lugar, então segura a onda.

Daniel fez sinal de rendição com as mãos, mas ainda assim, nada apagava o olhar despreocupado dele. Num sinal com a cabeça, fiz o que ele pediu de modo sublime e o segui para fora do Coffee. Por um lado, eu estava curiosa sobre o que ele quer comigo. Ele não costuma me puxar assim pra falar comigo, pelo menos quando o assunto é comum. De qualquer modo, apenas permaneci quieta e o segui.

Parando em frente a sua moto, seu corpo se encostou no assento e seus olhos vieram de encontro com os meus. O ar estava gelado, e tive a péssima decisão de vestir apenas uma camiseta de banda de rock. Nada inteligente da minha parte, mas até esse ponto, o que de inteligente estou fazendo?

— Como já mencionei uma vez, você é uma raridade na minha vida. São poucas as pessoas que conseguem me deixar embasbacado no dia a dia, e você é uma delas. — Proferiu.

— Então você já sabe, não é? — Cruzei os braços e o encarei não muito feliz. — Minha vida tá uma completa bagunça desde o dia que coloquei os pés em West High.

Seus olhos estreitaram em minha direção.

— Por que não aceitou? — Sua questão me deixou confusa. — Namorar com ele. Por que só não aceitou?

Ri como se fosse uma piada, até que percebi que ele estava um pouco mais sério do que o de costume. Limpei a garganta e pensei numa maneira ortodoxa de explicar isso tudo. Mas era basicamente impossível, já que estou completamente confusa até agora.

— Namorar com alguém que não gosta de você é meio cruel, não acha? — Tentei dar um tom de piada pra coisa, mas não pegou.

— Sabe que não é verdade. — Sua cabeça se inclinou um pouco para o lado. — Não estaria se sentindo culpada se fosse.

Meus olhos se estreitaram na direção dele. Como é que ele conseguia me ler tão facilmente? Sou tão livro aberto assim? Que saco...

— Você sabe que é melhor assim. Alex e eu somos de mundos completamente diferentes, com pensamentos diferentes e... tudo diferente! — Esclareci. — E de qualquer forma, o que ele estava fazendo era errado. Mentir sobre isso.

— Por você. — Pontuou Novac com uma expressão um tanto tediosa. — Ele mentiu por você, porque queria ajudar. Porque gosta de você. E pode até não acreditar totalmente, e ficar surpresa. Mas estou tanto quanto você.

Minhas sobrancelhas se uniram, tentando processar a informação. Daniel conseguia perceber isso também?

— Nunca vi Alex se importar tanto com uma garota, a ponto de nem agir como ele age normalmente. — Seus ombros subiram e desceram. — Mas o que você fez foi cruel, e sabe disso. Porque você também se importa com ele.

Resmunguei baixinho, fechando os olhos e esfregando o rosto com ambas as mãos.

— Eu já nem sei com o que me importo mais, sinceramente. — Suspirei cansada. — Eu não queria o magoar. Eu só... é melhor assim. Separados.

— Melhor pra quem? — Seus braços se cruzaram. — Porque você está estranha faz dias, e ele conseguiu ficar mais mau humorado do que o de costume.

E eu até diria algo se pudesse, mas aquilo me deixou sem ter o que dizer. Completamente sem palavras. Desviei o olhar me sentindo ainda mais estúpida com tudo isso.

— Você gosta dele. Está na cara. — Continuou.  — E ele gosta de você. Fiquem juntos.

— Falar é tão fácil. — Revirei os olhos.

— Mais fácil do que ficar guardando as coisas pra si, não acha? — Respondeu sarcástico. — Conversa com ele. Não pode decidir o que é melhor entre os dois sozinha. É injusto e babaca, se quer saber.

— Eu acabei de sair de uma relação ridículo, pensar sobre... — Novac me cortou.

— Esse tópico não é comigo. Fale com Alex. — Daniel afagou meu ombro por um instante. — Fale ou vai acabar se arrependendo. Seja franca com o que sente e pare de mentir. Ele fez o que fez por você. Faça isso por ele agora.

Respirei fundo e encarei Daniel por um momento.

Ele estava certo. Tudo que ele falou. Basicamente me puxou para fora de minhas mentiras, fazendo meu lado negativo se calar por completo. Passei tempo demais ouvindo as milhares de vozes na minha cabeça, quando na verdade eu deveria ter me concentrado em uma. Apenas em uma. Naquela que o meu coração anseia a ser seguida.

— Não pode se culpar por querer gostar de alguém novamente. — Novac aconselhou. — E mesmo não sendo alguém tão incrível e bonito como eu,  o Rutherford é pra você.

Sorri com seu comentário bobo e o abracei, sentindo sua colônia forte invadir meu olfato. Acho que era tudo que eu precisava ouvir por agora.

Preciso dar um jeito nisso. Preciso me resolver com Alex.


(•••)


— Já trancou as janelas, querida? — Minha mãe passou no quarto pra me desejar boa noite, desligando às luzes no interruptor perto da porta.

— Já. Tá bem frio esses dias. — Cocei os olhos e bocejei, deitando na cama. — Vai precisar de ajuda amanhã no Coffee?

— Nah, que nada. Quero que você descanse um pouco. Não se preocupe comigo, querida. — Ela sorriu e assoprou um beijo para mim. — Boa noite, filha.

— Boa noite, mãe. — Assoprei outro beijo pra ela e então, a porta se fechou.

Assim que olhei para o teto, deitada de barriga para cima, respirei profundamente, tomando a coragem que me faltava para fazer o que devia ser feito. Eu preciso ter mais coragem pra isso. Onde está aquela Blake que entrou em West High pra crescer? Porque, sinceramente, me sinto como uma criança novamente, no sentido ruim da coisa. Com medo da minha própria sombra.

Olhei pra tela do celular, com o número de Alex discado. Era uma luta pra decidir se apertava ou não para ligar. Respirei algumas vezes até tomar iniciativa.

O número chamou algumas vezes até que finalmente alguém atendeu. Ele sabia que era eu, óbvio. A chamada se iniciou e ficou em silêncio por alguns segundos.

— Alex? — O chamei, mas não obtive resposta. — Podemos... pode me ouvir, por favor?

Ouvi um suspiro impaciente.

— O que você quer? — Sua voz irritada apareceu, puxada mais pra sem energia.

Senti o frio na barriga, as palavras queriam se perder mas eu não podia deixar isso acontecer.

— Tem cinco minutos. — Avisou, me fazendo franzir o cenho.

— É onze horas da noite. Tem algo mais importante pra fazer? — Satirizei.

— Quatro minutos agora.

Haja paciência, oh céus.

— Me desculpa. — Comecei. — Eu estava estressada e... só explodi. Falei muita coisa que não queria falar, eu admito. Minha cabeça tá tão confusa esses dias e eu falei sem pensar. Eu não quero que fique magoado.

Ouvi uma risada de escárnio.

— Não ligo pro que me chamou. Magoado é a última coisa que podem fazer comigo. — Ele falava sério, num tom nada amigável. — Pelo menos devia ter sido honesta em dizer que me odeia e me abomina. Ou estava ocupada demais com a língua na minha boca?

— Escuta aqui... — Agora ele conseguiu me tirar do sério. — ...Olha, isso não importa! Você começou tudo isso inventando aquela mentira.

— Eu menti pra proteger você! Mas se não quer isso, que se dane. Faça o que bem entender se tem tanta vergonha de mim. — Alex exclamou do outro lado da linha.

Aquilo fez meu coração apertar e minha cabeça virar do avesso de tanta informação incompreendida.

— Pera aí, você acha que tenho vergonha de você?!

— Seus amigos me odeiam. Você me odeia. Seria vergonhoso ser vista comigo depois de tudo que falou, não é? Você podia só ter dito isso na minha cara.

— Alex, para com isso. Eu não tenho vergonha de você, e eu... — Me revirei na cama com certa agonia dessa conversa. — ...não odeio você... não tanto, eu acho. Não consegue ver que isso tudo é confuso demais pra mim?!

— Por que só não admite logo? Porra, jogar seu joguinho é infernal e eu não quero isso! — Colérico, eu escuto sua respiração desregulada.

— Não podemos continuar assim, você não entende? O que as pessoas vão pensar se ver a gente junto? Alguém como você com alguém como eu? Não percebe isso?

A ligação ficou em silêncio por longos segundos.

— Você acha que eu me importo pro que pensam de mim, Guenevere? — Disse entre dentes. — Quantas vezes eu tenho que repetir que tô pouco me fodendo pro que o resto do mundo pensa?! Eu gosto de você! Porra, nada mais importa do que isso!

Fiquei completamente muda depois disso, me sentindo eufórica por um instante, mas ainda assim, com medo. Eu queria parar de ter tanto medo nessas horas, caramba! Minha garganta esquenta de repente, e nem consigo falar.

— Mas você se importa com o que eles pensam. — Agora ele soou decepcionado. — Isso é o mais importante pra você?

Não consegui. As palavras não saiam, eu não conseguia responder isso.

Eu queria tanto dizer que não. Queria falar que nada disso importava e contar como eu realmente me sentia, entretanto, era como se eu estivesse com uma bola de golfe presa bem no meu esôfago.

— Esqueça. — Suspirou impaciente e então, a ligação encerrou.

Ele desligou bem na minha cara.

Que droga de boca que nunca abre quando mais preciso! Enterrei meu rosto no travesseiro me sentindo a pior pessoa do mundo. Meu coração estava murcho e minhas esperanças estavam por um fio. Mas não posso...

Não posso deixar isso do jeito que está. Preciso resolver isso, cara a cara.

Amanhã, depois do jogo.

S.O.S Adolescentes No Ensino Médio (ORIGINAL)Onde histórias criam vida. Descubra agora