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  Agosto de 2012    (Guenevere Blake Lavender)    Depois de um aquecimento um tanto puxado, Blair me ensinou algumas posições para alongar que ajudariam na minha flexibilidade e mobilidade

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  Agosto de 2012
 
  (Guenevere Blake Lavender)
 
  Depois de um aquecimento um tanto puxado, Blair me ensinou algumas posições para alongar que ajudariam na minha flexibilidade e mobilidade. Nesse meio tempo, fomos conversando sobre gostos musicais e o que seria ideal de apresentar na segunda-feira pro clube de teatro. Tinha que ser uma música que chamasse a atenção. Que você pudesse sentir com o corpo ou algo assim. Eu admito não entender praticamente nada sobre dança, então absolutamente tudo, até analogias, para mim, novo.
 
  — Então, vejamos, vamos escolher a música pra começar a pensar nos passos. — Ela pegou o celular e passou pelas playlists que tinha. Fiquei sentada no chão, próxima do espelho enquanto enxugava meu rosto com uma toalhinha de rosto. — Olha, temos Lady Gaga. O Novo albúm dela tá bem em alta esse tempo.
 
  Meu cenho franziu por um momento.
 
  — Acho que não é muito bom pra levar até o palco. — No meu ponto de vista. — A coreografia é meio... ousada, igual a letra.
 
  — Ah, claro, você é mais recatada. — Blair suspirou uma risada e voltou a procurar pela playlist. — Que tal Justin Bieber?
 
  Gesticulei que não com a cabeça. Ela ainda pergunta? Ninguém em sã consciência dançaria Justin Bieber na frente das pessoas de um clube de teatro.
 
  — Maroon Five? Beyoncé? Michael Jackson? — Ela dizia.
 
  — Isso é mais difícil do que imaginei, caramba! — Esfreguei o rosto por um momento. — Dançar talvez não seja minha coisa. Eu deveria desistir desse clube.
 
  Blair se aproximou de mim e afagou meu ombro.
 
  — Mas nem pensar, querida. Dançar não é um bicho de sete cabeças. Nem eu comecei sabendo de tudo. — Suas palavras soavam doce e acolhedoras. — Temos três dias. Pode parecer pouco, mas não subestime as coisas que você pode fazer com seu próprio esforço, ok? Estou aqui pra ajudá-la e é isso que irei fazer.
 
  A encarei com uma incerteza que me incomodava pra caramba. Eu não sou de duvidar da minha capacidade, pelo menos não na maior parte do tempo. Nem sei porque eu estava hesitando em tentar. Pode ser divertido, e eu quero fazer isso. Não quero ter que me esconder mais ou me entregar pra um medo que não me pertence.
 
  — Inclusive, pense nos inúmeros papéis que você vai conseguir depois de verem o quão bem você dança. — Ela me deu um empurrãozinho, tentando me animar um pouco.
 
  Sorri com tamanha gentileza saindo de uma garota como ela. Era praticamente inacreditável que Blair Rutherford pudesse ser alguém tão compreensiva e prestativa. Não tinha absolutamente nada haver com Alex e era maluco pensar nisso. Nessa diferença tão discrepante.
 
  — Obrigada por me ajudar, Blair. Significa muito, de verdade. — Agradeci com sinceridade.
 
  Eu sabia que, no fundo, eu estava certa sobre ela. Sobre a bondade dentro dela.
 
  — Não me agradeça ainda. Quando estiver no topo da lista de aprovados, aí sim você me manda uma mensagem de texto. — Ela solta uma piscadela e me ajuda a levantar. — Tenho uma música perfeita em mente pra você. Que tal Die Young da Kesha?
 
  Minhas sobrancelhas arquearam numa boa surpresa. Lembro da música tocar algumas vezes na rádio enquanto minha mãe cozinhava o almoço e dançava quando ninguém olhava. Bem, quando ela pensava que ninguém olhava.
 
  — Não me parece ser má ideia. — De fato, me agradou até. É animada, não muito chamativa mas contagiante. — Por mim, é essa.
 
  — Ah! Perfeito então. — Blair deu pulinhos animada, indo conectar o celular na caixa de som. — Eu sei alguns passos que vão encaixar super bem na dança, vem.
 
  Fiquei ao seu lado e, assim que a música começou, Blair dançou e demonstrou alguns passos. Ela pedia minha atenção a todo momento, para que eu soubesse exatamente o que fazer e não me machucar.
 
  (•••)
 
  — Você está indo muito bem! — Blair comemorou ao me ver pegar a sequência dos primeiros passos depois de umas oito tentativas. — E depois quer dizer que não vai conseguir. Olha só pra você!
 
  Ela estava comemorando mais do que eu mesma. Na realidade, eu gostei bastante de dançar. Está sendo uma experiência engraçada, já que Blair está sendo paciente comigo. A Rutherford me guiando e me encorajando fora essencial pra conseguir pegar todos os passos tão rapidamente. Estou feliz e orgulhosa de mim mesma, e muito grata pela ajuda dela.
 
  Talvez eu estivesse errada mesmo sobre minha falta de capacidade. Preciso confiar um pouco mais em mim mesma em relação a essas coisas.
 
  — Ok, está perfeito. — Ela desliga a música. — Uma pausa pro descanso. vou buscar algo pra nos hidratarmos e depois continuar. Temos um bom tempo até que possamos ir embora.
 
  Sorri, indo me sentar um pouco e limpar o suor do rosto. A Rutherford saiu da sala de espelhos e me deixou sozinha pra me recompor um pouco.
 
  Me observei no espelho e, caraca, eu tava vermelha. Isso era engraçado, Nate costuma dizer que pareço um tomate. E por mais cansada que eu me sinta, admito que estou me divertindo pra caramba até. Está sendo incrível demais!
 
  Por um momento, penso estar ouvindo errado, mas quando notei, meu celular estava vibrando. Achei um pouco estranho me ligarem essas horas, e quando vi o visor a estranheza só aumentou. Jude estava me ligando.
 
  Atendi curiosa. Será que aconteceu algo com o Nate?
 
  — Alô, Jude? — Esperei alguma resposta do outro lado da linha.
 
  — Oi, Blake! Que bom que você pôde atender... ou não pode? Estou atrapalhando? — Sua voz emanava um certo nervosismo. Alguma coisa estava errada.
 
  — Estou descansando, mas depois eu volto pra praticar dança. Por que? Aconteceu alguma coisa? — Jude não costuma me ligar. Sempre que nos falamos, ela está com Nate.
 
  É ele quem me liga quando minha rotina muda um pouco de eixo.
 
  — Blake... somos muito amigas... e se você soubesse de algo que eu não sei, você me contaria, não é? — Sua pergunta nada discreta me pegou de surpresa.
 
  — Claro, Jude. Não tem porque guardar segredos. — Me levantei, ficando impaciente e andando de um lado pro outro. — O que tá acontecendo, Jude?
 
  Um silêncio perpetuou por longos segundos até que Jude o quebrasse num suspiro de derrota.
 
  — Olha, Blake, vou te mandar umas fotos porque quero que veja com seus próprios olhos. — Falou finalmente. — Bryan postou no Instagram e apagou uns minutos depois... eu não sei o que significa mas... eu... eu não posso dizer nada por você.
 
  Meu cenho franziu confusa. Fotos do Bryan? O que tinha de tão ruim nas fotos que Bryan posta? Eu definitivamente perdi algo.
 
  O celular vibrou e a mensagem de Jude chegou anexada com três fotos. A legenda do post era 'Nada é melhor do que estar com você'. Quando observei as fotos, tinham alguns caras com Bryan, mas havia uma garota que aparecia em todas as fotos, sempre muito próximo dele. Ela era ruiva e os cabelos estavam ondulados. Céus, era uma garota incrivelmente bonita. As garotas da faculdade pareciam ser tão... inalcançáveis...
 
  — Olha, Blake, eu não estou acusando Bryan de nada. É só que... achei justo que você soubesse que... sei lá, algo está meio estranho nisso tudo. — Explicou Jude, mas eu estava ocupada demais pra entender suas palavras.
 
  Meus olhos estavam úmidos, e eu senti as gotas salgadas descerem pelas minhas bochechas. Não vou mentir e dizer que não parece ser algo que Byran faria. Nós brigamos, e ele tem uma vida. Ele faz escolhas e sabe os caminhos que toma. Todavia, não amenizava a dor em ver fotos assim, com outra garota praticamente em seus braços.
 
  — Blake? Está aí? — A voz de Jude soava, mas eu simplesmente desliguei a chamada e repousei o celular no chão.
 
  No que eu estava pensando? Que Bryan iria querer resolver qualquer discussão comigo? Isso é tolice. Fui uma garota imatura e é isso que ganho por ter sido tão idiota. Eu deveria ter falado com ele, pedido desculpas ou qualquer coisa. Mas fui tola em pensar que ele viria até mim. Fui tola em guardar uma raiva desnecessária. Ele tinha razão, eu não amadureci, só piorei no fim das contas.
 
  — Olha, espero que você goste de limão e laranja com hortelã. Sério isso aqui é... — Blair chega com uma bandeja e dois copos de líquido amarelo. Sucos.
 
  Ela para por um instante e me olha preocupada, e isso me faz lembrar de que estou igual idiota chorando. Rapidamente eu limpo meu rosto.
 
  — Está tudo bem, querida? O que aconteceu? — A Rutherford coloca a bandeja de lado e vem até mim com preocupação.
 
  — Nada, não foi nada é só que... eu preciso ir embora, tipo, agora. — Uma risada sem graça saiu de meus lábios.
 
  — Você tem certeza de que está bem? Aconteceu algo na sua casa? — Ela colocou a mão sobre meu ombro.
 
  — Não, está tudo bem Blair... eu só preciso ir mesmo. Me desculpa. — Me afastei. — Amanhã... amanhã a gente continua, tudo bem? Eu realmente preciso ir pra casa. — Eu não quero que ninguém me veja chorar igual uma pateta.
 
  Blair pareceu preocupada mas não insistiu. Ela foi até a caixa de som e pegou o celular.
 
  — Está tudo bem. Nós retomamos amanhã. Pode ir pegar suas coisas, eu chamo o motorista. — Falou tranquila.
 
  — Não, Blair, não precisa eu posso...
 
  — Você está cansada, não vou deixar ir andando sozinha pra casa. Está ficando de noite, pode até ser perigoso. — A Rutherford não deu nenhuma abertura para negar a ajuda.
 
  Bem, não acho que algo seja perigoso em Bakersfield. A não ser as vizinhas da fofoca que ficam perto da minha rua.
 
  Aceitei sem falar muita coisa. Me virei para ir ate o salão principal e subir as escadas pro quarto de Blair e pegar as minhas coisas pra ir embora. Os meninos já não estavam mais lá, então era bom que não me vissem com uma cara ridícula de choro.
 
  Organizei minha mochila e chequei para não esquecer nada. Lavei meu rosto no banheiro rapidamente, mas tudo que eu queria era continuar chorando até que tudo simplesmente parasse. Céus, como odeio essa sensação. Um machucado seria mil vezes melhor de lidar.
 
  Quando saí do quarto, olhei para a parede à frente do quarto de Blair e me deparei com um detalhe que não havia visto antes. Uma foto de Alex segurando uma medalha de pesca da época do acampamento.
 
  Céus, aquilo simplesmente foi um tiro de memórias. Fechar os olhos e abrir no passado, quando ainda me restava algo novo pra experienciar. O cheiro de grama molhada e as risadas das crianças pareciam vívidas agora, e o vento balançava meus cabelos com delicadeza. Entretanto, eu estava chorando. Chorando muito. Por que eu estava chorando?
 
  Alex estava bem na minha frente. Parecia aborrecido ou angustiado.
 
  "Eu já tirei o ferrão, Blake. Foi só uma dorzinha, já acabou!" Ele tentava explicar. Mas meus olhos não saíam do dedo.
 
  A dor parecia ser tão insuportável que eu não consiga ver nada a não ser ela. A monitora Delart já tinha colocado gelo, passado pomada, mas a dor ainda estava lá. Ela não queria ir embora de jeito nenhum.
 
  "Vamos, Blake, não há nada no seu dedo que possa machucar." Alex parecia agoniado por me ver chorar tanto e não conseguir parar. Me senti mal, de certa forma. Não era culpa dele. Nunca seria culpa dele.
 
  Num longo suspiro, seu corpo se aproximou e o Rutherford se sentou ao meu lado. Sua mão pegou a minha com delicadeza, e ele levou meu dedo anelar até próximo de seus lábios. Ele assoprou o lugar onde havia sido machucado e, antes de devolver minha mão, um doce beijo fora depositado no lugar.
 
  "Estou aqui, Blake. Vai ficar tudo bem, não precisa chorar. Você está bem." Suas palavras agora eram calmas, delicadas.
 
  E como um passe de mágica, a dor pareceu sumir. As lágrimas que escorriam também pararam e eu consegui olhar nos olhos, sentindo que tudo estava normal agora. Não tinha mais nada que pudesse me machucar de fato.
 
  "Abelhas são burras. Se picam alguém, logo morrem. Você não. Eu não deixaria." Ele sorriu minimamente. "Não seja burra igual as abelhas. Sorria. Eu não vou sair daqui até que esteja sorrindo comigo."
 
  E eu demorei um pouco pra, de fato, sorrir e continuar o dia bem. Tudo graças a ele. Eu não conseguia pensar em como ele conseguia me deixar bem em momentos tão ruins, mas ele conseguia... e era tão fácil lidar com isso.
 
  Voltar pra realidade não é muito fácil. Saber que tudo agora são lembranças piorava um pouco a situação. Eu nem sabia que algo tão distante traria sensações tão... reconfortantes.
 
  Mas agora era passado. Eu preciso ir embora daqui.
 
  Quando me virei para pegar o corredor, Alex acabou me assustando por um momento. Ele estava parado, olhando pra mim com certa confusão. Nem notei, mas agora, meus olhos estavam lacrimejando novamente pela lembrança. A quanto tempo ele estaria me vendo chorar? Bem, não faço ideia, e honestamente, é a última coisa que me importa.
 
  — Tá olhando o quê? — Fui ríspida, saindo de perto dele e seguindo meu caminho até o salão.
 
  Depois de descer as escadas, vi Blair na porta, esperando por mim. Limpei meu rosto novamente e me aproximei. Um sorriso gentil me recebeu e, num abraço, ela se despediu.
 
  — Descanse e fique bem, Blake. Desculpa se fiz algo que não a agradou. Não foi minha intenção, ok? — Ela acha que fiquei mal por algo que ela fez.
 
  Céus, protejam essa garota.
 
  — Não foi nada, Blair. Acredite. É só... acho que foi cansaço, você não fez nada. — Deixei bem claro. — Muito obrigada por me ajudar hoje, de verdade. Você é uma garota incrível.
 
  Um sorriso enorme estampou o rosto da garota. Agora ela parecia estar bem melhor, sem nenhum semblante de culpa ou algo do tipo.
 
  — Nos vemos amanhã. Se cuida! — Exclamou enquanto eu andava em direção ao carro que me levaria pra casa.
 
  Acenei assim que entrei no veículo. Ver a mansão dos Rutherford se afastar fora a última lembrança que tive antes de juntar os joelhos para o peito e baixar a cabeça, deixando sair um mar de arrependimento e aliviando a dor que meu peito segurava.
 
  (•••)
 
  Hoje, o pessoal pareceu me dar um pouco mais de espaço no Coffee. Jude e Nate perguntaram se eu estava bem e, pra variar, menti. Acho que consegui disfarçar um pouco melhor. Cortei qualquer papo relacionado a Bryan e fiquei na minha.
 
  Acho que o único que não pareceu engolir muito bem as mentiras foi Justin. A todo momento possível, ele se aproxima de mim e tenta me arrancar algum sorriso, me fazer alguma pergunta e até mesmo checar se estou bem. Se meu coração não estivesse doendo, eu estaria feliz por saber que ele se importa tanto assim comigo.
 
  — Certeza de que não quer ir pra casa, garota? — John, o ajudante que minha mãe contratou pro Coffee, perguntou enquanto secava alguns copos e eu os guardava. — Não precisa ficar se estiver tão cansada. Não tem muita gente hoje e sua mãe me mataria se eu a obrigasse a ficar.
 
  John é um homem respeitoso e legal. Faz piadas bem ultrapassadas... na realidade, ruins. Piadas tão ruins que são boas de ouvir. Ele também cozinha bem, e é um bom ouvinte. Os garotos acham ele demais.
 
  — Estou bem, John. Não quero ir pra casa. Vou ajudar aqui. — Insisti, por mais cansada que eu estivesse.
 
  Ele sorriu gentilmente pra mim e assentiu com a cabeça, indo para a cozinha continuar fazendo as batatas de outro pedido.
 
  Fiquei usando o celular e lendo tweets enquanto sentia o tempo passar muito lentamente. Aquilo estava tão exaustivo, mas eu me recuso a ir embora tão facilmente. Eu não posso passar o resto da noite chorando por um cara, mesmo que eu tenha errado. Céus, eu deveria ter atendido as chamadas... como pude ser estúpida?
 
  Um barulho familiar chamou minha atenção. Olhei pelo vidro do Coffee e avistei a moto preta sendo estacionada bem em frente a calçada. Eu reconheço aquele capacete muito bem na verdade.
 
  Daniel Novac ataca novamente.
 
  Aquilo fez uma lâmpada acender em minha cabeça rapidamente. Lembrei de algo interessante e que poderia me ajudar em algo. Não demorei para ir até seu encontro. Se ele está aqui, alguma coisa ele poderia querer.
 
  Ele tirou o capacete e ajeitou seu cabelo. Suas mãos usavam luvas de couro sem dedo e ele estava usando a mesma jaqueta de couro quando o vi na casa do Rutherford. Me aproximei, vendo seu sorriso matinal me analisar.
 
  — Novac... — Falei num tom agradável. — O que veio fazer aqui hoje?
 
  — E aí, docinho. — Cumprimentou, colocando seu capacete no banco de couro. — Estou atrás de um bom lanche... e de uma garota bonita. Lembrei que aqui eu posso ter os dois, então... — Ele deu de ombros e me encarou.
 
  Revirei os olhos pelo seu flerte costumeiro.
 
  — Você e seu humor de sempre. — Falei. — O que vai querer hoje?
 
  — O mesmo que pedi da última vez. Pode ser? — Ele retirou o celular do bolso e uma nota de cem dólares, entregando-me em seguida.
 
  Eu não vou discutir novamente sobre. Novac é um caso. Suspirei e o encarei por uns instantes. Eu queria dizer algo, mas não acho que daria muito certo.
 
  — Quinze minutos. — Eu o informei, voltando ao Coffee pra fazer o sanduíche e o milkshake.
 
  Enquanto eu preparava as coisas, pensei bastante no que eu gostaria de dizer para ele. Talvez eu estivesse louca pra pedir algo justo pro Daniel, depois de tudo que aconteceu no colégio hoje. Mas eu preciso ouvir alguma coisa dele. Qualquer coisa.
 
  — John. — Eu o chamei, colocando o avental em cima do balcão. — Vou entregar esse pedido e vou sair. Tem certeza de que não tem problema se eu sair?
 
  Ele me olhou com mais cautela e alívio.
 
  — Vá descansar, Blake. Amanhã o dia é outro.— Ele sorriu. — Apenas avise a sua mãe que eu a liberei, então ela não precisa ficar preocupada e eu vou continuar vivo, ok?
 
  Suspirei uma risada.
 
  — Obrigada, John. Até depois. — Peguei o pacote do sanduíche e o milkshake e saí do Coffee.
 
  Saí pela porta da frente, onde os sinos bateram pela última vez naquela noite e me aproximei de Daniel, escorado na moto enquanto usava seu celular. O entreguei o pedido, vendo o mesmo desembalar e começar a comer ali mesmo.
 
  — Daniel, posso te fazer uma pergunta? — O encarei por um momento.
 
  Ele mastigava, mas gesticulou que sim com a cabeça. Seus olhos oscilavam entre os meus.
 
  — Você sabia sobre aquela foto? Ou... sei lá, sabia que Alex faria aquela brincadeira idiota? — Abracei meu corpo, esperando alguma explicação.
 
  Não me esqueci da briga do refeitório. Alex Babaca Rutherford tinha feito de propósito e eu queria saber. Talvez Daniel soubesse de algo... mas eu não queria ouvir algo assim dele.
 
  — Se eu disser que sim, a faria se sentir melhor por pegar o encrenqueiro? — Seu sorriso desapareceu por um tempo, deixando espaço pra uma expressão séria.
 
  — Não é sobre me sentir melhor. É sobre fazer o que é certo. — Ressaltei. — Alex disse que ele não fez nada. Eu não acredito nele. Também acho que ele não tenha feito sozinho...
 
  Daniel me olhou de cima baixo com certo incômodo.
 
  — Se acha que eu tive alguma coisa haver, de fato, sinto decepcionar. Esse tipo de sacanagem não é comigo. — Ele deu de ombros e mordeu o sanduíche mais uma vez.
 
  Fiquei meio sem graça. Não o acusei de fato, mas tive minhas suspeitas. É difícil conseguir acreditar em alguém de West High por agora. Me adaptar tem sido cada vez mais difícil e insuportável. Todavia, eu não vou desistir. É aquilo que dizem, deixe seus amigos por perto e os inimigos mais perto ainda.
 
  — Desculpa. Eu não quis acusar você... só tive um dia péssimo. — Cocei a nuca e ele me encarou, amassando a embalagem do sanduíche e terminando de beber o milkshake.
 
  Ele se aproximou de uma lixeira e jogou tudo por lá. Seu corpo voltou para perto e ele já estava de partida. Ajustou suas luvas e pegou o capacete.
 
  — Sinto muito pelo que aconteceu hoje no colégio. Tem coisas que não cabem a mim fazer. — Ele informou. — Fui bem idiota não pegando aquele caderno a tempo, desculpa.
 
  — Você tentou ajudar. Não precisa pedir desculpas por isso. — Insisti.
 
  Ele assentiu com a cabeça e preparou-se para montar em sua moto até que eu o impedi. Toquei seu braço, o fazendo olhar para mim de novo. Não faço ideia no que vou estar me metendo, mas eu sinto que preciso disso.
 
  — Daniel... sobre aquela volta que você disse quando veio aqui pela primeira vez... — Apontei com insegurança e um pouco de nervosismo. — Ela... o convite ainda está de pé?
 
  Os olhos de Daniel se apertaram por um instante, e eu pude ver seu sorriso voltar aos poucos. Ele encostou e relaxou na moto, olhando para os lados num semblante pensativo.
 
  — Olha, eu não sei não... o que minha mãe iria pensar sobre o filho dela andar por aí com uma garota bonita na garupa da própria moto? — Ele olhou de soslaio. — Não parece nem um pouco prudente da minha parte.
 
  Revirei os olhos com seu humor irônico. Céus, aquele sorriso me deixava bem, e era impossível negar.
 
  — Não é prudente andar nessas horas por aí sem uma carteira de motorista. Receio que seja um sim? — Talvez eu estivesse com esperanças demais.
 
  — Com uma condição. — Seu corpo prostrou em minha frente. — Eu decido o destino.
 
  Meu cenho franziu por um momento, vendo suas feições brilharem num mistério que me puxava para si cada vez mais. E talvez eu me arrependa muito do que eu responder...
 
  — Feito... eu deveria estar preocupada com essa condição?
 
  Ele pegou o capacete e se aproximou de mim, o encaixando em minha cabeça e levantando um pouco o meu queixo para afivelar a fita. Seus olhos me encararam despretensiosamente.
 
  — Nem um pouco. Apenas confie em mim e sobe. — Ele montou em sua moto e eu fiz o mesmo, passando meus braços pela sua cintura e segurando firme.
 
  Ele ajustou os espelhos e, por alguns segundos, senti que deveria desistir e ir embora agora. Desde o dia que vi Novac perto, eu sabia que seria furada me meter com ele. Eu sabia que tudo poderia mudar se meu caminho e o dele se encontrassem.
 
  Agora era tarde.
 
  — Preciso que faça mais uma coisa quando chegarmos no lugar. Tudo bem? — Ele pediu, antes de dar partida no veículo.
 
  — O que? — Eu o encarei pelo espelho retrovisor.
 
  — Sua versão autêntica. Quero ela. Quero que seja rebelde, e não a garçonete certinha que tem uma quedinha por mim. — Disse ele.
 
  — Eu não sou uma garçonete certinha. — Minhas sobrancelhas uniram. — Nem tenho quedinha por você.
 
  — É, a parte da garçonete eu exagerei um pouco. — Ele soltou uma piscadela.
 
  A risada de Novac fora a última coisa que consegui ouvir. Sua moto deu partida, e nós caímos pela estrada. Eu não fazia ideia para onde estávamos indo, entretanto, eu sabia que poderia acabar me arrependendo no fim.
 
 
 
  Mas o que isso importa? Agora só temos que seguir em frente. O que quer que aconteça, estou pronta pra lidar... do meu jeito.

S.O.S Adolescentes No Ensino Médio (ORIGINAL)Onde histórias criam vida. Descubra agora