| 23. Você Era Problema |

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  Agosto de 2012      ( Guenevere Blake Lavender )    Senti minha boca secar no mesmo instante que vi ele sair do banco de balanço e ficar de pé bem em minha frente

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  Agosto de 2012
 
 
  ( Guenevere Blake Lavender )
 
  Senti minha boca secar no mesmo instante que vi ele sair do banco de balanço e ficar de pé bem em minha frente. Ele parecia exausto e chateado, e, por algum raio de motivo, eu me sentia péssima e culpada por ocasionar aquilo.
 
  — Tem mais alguma coisa que decidiu mudar e não falar comigo? — Ele cruzou os braços e tirou um dos cachos que atrapalhava sua visão.
 
  — O que você tá fazendo aqui? — Eu tentei focar na pergunta principal. Afinal, ele deveria estar na universidade dele, longe daqui. Mesmo com a sensação de alívio em o ver por perto depois de tanto tempo, eu precisava manter um pé atrás depois de tanta coisa que aconteceu.
 
  Ele suspirou.
 
  — Também não sabia que gostava de motos agora... — Bryan falou num tom de leve deboche.
 
  Fiquei meio sem graça, mas ainda assim ele não respondeu minha pergunta.
 
  — Bryan, não é o que você tá pensando, tá legal? É só que...
 
  — Olha, Blake, eu sei que a gente discutiu e tal... eu sei que fui idiota, mas eu não sabia que a cada briga que tivermos você vai correndo pra garupa de qualquer cara. — O tom dele se sobressaltou um pouco. — Você tem noção de quantas horas eu estou aqui esperando por você? E sua mãe também aqui preocupada.
 
  Meu cenho franziu e eu cruzei os braços.
 
  — Preocupada como? Eu avisei pra ela que iria chegar um pouco tarde... — Quer dizer, eu pedi para o ajudante do Coffee falar com ela... mas é quase a mesma coisa. — Nem está tão tarde assim...
 
  — Nem está tão tarde?! Esse nem é o ponto, Blake! — Bryan continuou. — Passei horas em um ônibus pra vir me desculpar. Trouxe flores pra você, e é assim que sou recebido. Fico plantado por horas aqui enquanto você sai por aí com qualquer carinha.
 
  Tá, agora eu consegui me sentir pior do que antes. Fui muito irresponsável dessa vez?
 
  — Bryan, eu...
 
  — Por que você nunca leva isso a sério? Estou me matando de estudar e trabalhar pra conseguir buscar você algum dia enquanto você sai pra festas por aí! Eu achei que te conhecia. Achei que os meus esforços eram vistos por você. Mas parece que nenhum deles valeu. — Bryan descontava a dor em cada palavra que dizia e eu sentia meu coração afundando.
 
  Eu queria falar alguma coisa, mas eu só conseguia gaguejar em meio tudo aquilo.
 
  — Nem ligações você teve a decência de atender! Tem noção do quão chateado eu fiquei? — Ele me olhou fundo nos olhos, exalando toda sua exaltação e frustração.
 
  Meus olhos se encheram de lágrimas no mesmo momento.
 
  — Me desculpa! Me desculpa, tá legal? Achei que estivesse ocupado demais com as meninas da faculdade que não estava mais tendo tempo pra mim! — Eu joguei em sua cara e recebi um rosto surpreso e confuso. — Não adianta mentir pra mim! Jude me mostrou as fotos. Você está no meio de garotas bonitas, a legenda que você fala delas. Eu vi tudo!
 
  Bryan coçou a nuca e parecia se esforçar para entender as palavras que saíam de meus lábios. Isso me deixava mais chateada ainda.
 
  — Bee... você viu a postagem? — Ele parecia chateado. — Por que não me contou? Por isso não atendia o telefone? Por isso subiu na garupa do primeiro cara que viu por aí? Ainda não deixa de ser burrice.
 
  — Eu estou cansada de discutir, Bryan! Eu não saí com um cara aleatório. Daniel é meu amigo de classe!
 
  — Do mesmo jeito que na foto tinha minhas amigas de classe... e tinha uns caras nas fotos também. — Bryan cruzou os braços. — Você quer saber quem eram? Namorados. Eram os namorados delas.
 
  De repente, uma culpa se instalou em meu peito. Eu estava agindo igual criança, sem maturidade alguma. Estava tudo indo por água abaixo, e eu estava piorando tudo.
 
  É tudo minha culpa.
 
  — Você reclama que mal temos tempo juntos, mas não quero ficar do lado de uma garota que não confia em mim. — As palavras de Bryan fizeram meu peito doer.
 
  — Não! Não é isso, Bryan, eu juro! — Eu tentei me aproximar, mas ele se afastou. Ele pegou o buquê de flores e jogou no lixo da frente.
 
  Meu coração acabou indo junto. Nunca me senti tão estúpida e idiota em toda minha vida.
 
  — Acabou. Isso não daria certo. — Bryan anunciou. — Entre e vá dormir. Vou pegar um táxi e ir embora. Vir aqui foi perda de tempo.
 
  — Não, Bryan. Por favor, vamos conversar...
 
  — Agora você quer conversar? — Seu tom de deboche me fazia sentir a pior pessoa do mundo, e talvez eu merecesse aquilo.
 
  Eu deixei minhas paranoias irem longe demais, e nesse tempo todo, não passavam de meras inseguranças. Fui uma idiota em duvidar de um cara que, no fim de tudo, estava fazendo nosso futuro acontecer. Fui uma completa burra, e não acho que isso vá mudar nunca. Sou mesmo imatura pra esse tipo de coisa...
 
  — Blake. Que bom que chegou. — Minha mãe apareceu e se aproximou, me abraçando aliviada. Ela logo olhou pra situação um pouco preocupada. — Está tudo bem aqui...?
 
  Bryan ficou meio sem graça. Ele tinha uma pequena mala em mãos, que estava descansando um pouco perto da entrada. Ele pretendia ficar...
 
  Mas era tarde.
 
  — Bryan está indo embora... — Eu respondi antes que ele pudesse dizer algo. Não foram necessárias muitas informações para sacar que havíamos terminado.
 
  Me virei e apenas entrei dentro de casa para esconder mais lágrimas que queriam sair. Corri para o meu quarto e fechei a porta, desabando em lágrimas assim que me deitei na minha cama. Bryan foi meu primeiro namorado, e pensar que terminamos de uma forma tão rude me deixava péssima. Saber que foi minha culpa só tornava tudo pior, e meu peito parecia que estava dilacerado.
 
  — Blake...? Querida... — A voz da minha mãe soou do outro lado da porta. — Podemos conversar, meu amor?
 
  Funguei, encarando a porta. Eu não queria encher o saco da minha mãe falando sobre todo esse caos, mas eu precisava de alguém urgente. Eu queria falar e eu precisava colocar pra fora. Minha mãe não era nenhuma estranha, e às vezes, devemos deixar o orgulho de lado em algumas situações.
 
  A porta se abriu lentamente, e quando minha mãe me encarou, eu instintivamente abri os braços. Eu precisava dela mais do que tudo. Quando senti seu corpo quente e acolhedor me envolver, eu chorei muito mais.
 
  — Tá tudo bem, querida... vai ficar tudo bem... — Ela sussurrava enquanto acariciava meu cabelo e me balançava levemente. Me senti como se eu fosse um bebê de novo, e estava protegida com minha mãe.
 
  No fim das contas, acho que era isso que eu realmente precisava depois de um dia tão difícil...
 
  No dia seguinte, não pude evitar de acordar com mau humor. Meus olhos estavam doloridos e eu não dormi nada bem. Levantei e lavei bem o rosto e fiz minha maquiagem pra esconder as sardas estúpidas. Depois de colocar uma roupa, peguei meu celular e quando olhei, Bryan havia me bloqueado em todas as redes sociais possíveis que tínhamos contatos. Acho que ele pensou que eu tentaria falar com ele, mas depois de conversar com minha mãe ontem, ela me explicou que nem tudo acontece como sonhamos em um relacionamento.
 
  Se fosse assim, ela também não teria perdido o amor da vida dela...
 
  Eu preciso tentar ver o lado positivo disso tudo, entretanto, eu estaria mentindo se eu dissesse que não está doendo ainda.
 
  Desci as escadas já sentindo o cheiro do café da manhã. Eu queria comer bem para pelo menos conseguir me concentrar na coreografia que eu e Blair estávamos fazendo juntas. Sábado é um ótimo dia pra ensaiar e eu quero esquecer de toda essa confusão.
 
  — Vou voltar antes do jantar dessa vez, mãe. Prometo. — Falei enquanto comia um bolo de laranja com um copo de suco.
 
  — Me mande mensagem qualquer coisa, querida. Se chegar mais tarde do que ontem, vou ser obrigada a trancar você no sótão e deixar de castigo. — Ela lançou aquele olhar de mãe para mim e eu apenas assenti. Com mamãe a gente não vacila.
 
  Nate e Jude não costumam vir aqui em casa nos sábados ou domingos. Eles ficam ou na casa do outro pra aproveitar o momento de casal. É fofo e eu respeito, claro. De qualquer modo, eu estava esperando o motorista dos Rutherford vir me buscar, como Blair tinha me avisado por mensagens pontualmente às seis da manhã.
 
  Que estranho. Quem acorda às seis da manhã de um sábado?! Vai saber...
 
  Assim que ouvi uma buzina em frente da minha casa, eu sabia que ele havia chegado. Peguei minha mochila com roupa extra e meus pertences e me despedi de minha mãe, caminhando até o veículo preto de janelas fumê. Dessa vez não era o babaca do Alex Rutherford, e sim, um verdadeiro motorista que iria me levar.
 
  — Bom dia, senhorita. — Ele cumprimentou de forma gentil e começou a dirigir.
 
  Sentada no banco de trás e com o cinto de segurança, aproveitei para usar o celular durante a viagem. A casa dos Rutherford não ficava tão longe em minha concepção, mas hoje eu estava tão desanimada que pareceu durar uma eternidade.
 
  Quando chegamos, o motorista abriu a porta pra mim e me guiou até a entrada. Não tinha ninguém na sala dos convidados e passava uma imagem de vazio, já que o lugar era tão grande, mas não tinha ninguém exceto a mim e o motorista.
 
  — Blake! — A voz de Blair soou da escada animada. Sorri confortável de ver ela outra vez, já que essa era a Rutherford boazinha. — Que bom que veio! Está preparada pra continuarmos o ensaio?
 
  Ela se aproximou e me deu um abraço amigável. Eu a encarei em seguida.
 
  — Estou... inclusive, se não se importar... pensei em mudarmos de música. — Sugeri um pouco sem graça, mas no caminho da minha casa até aqui, eu pensei numa música que eu gostava e penso ser mais interessante do que a que estávamos tentando.
 
  — Oh... claro, qual seria ela? — Blair colocou as mãos na cintura e esperou minha resposta.
 
  Eu peguei meu celular e coloquei justo na música que eu gostaria de tentar.
 
  — Nossa... não sabia que você gosta da Taylor Swift. — Blair suspirou uma risada e se virou. — Vamos. Essa música me deu umas ideias interessantes.
 
  Sem questionar, mesmo curiosa com seu comentário, segui ela pelas escadas como ontem. Não vou me perder nesse lugar, já que é fácil decorar os quartos que Blair me apresentou. Quando estávamos passando pela porta de Alex, ela se abre.
 
  Parei no mesmo segundo que vi Alex saindo dela de regata e shorts colocando fones de ouvido. Ele me olhou um pouco surpreso, todavia, nem um pouco feliz a seguir.
 
  — Que surpresa. — Falou em seu tom irônico nada agradável. — Pensei que tinha desistido.
 
  Suspirei sem paciência para suas brincadeiras logo de manhã. Sequer estávamos no colégio. Ele não cansa de me encher o saco não?
 
  — Se eu tivesse, não seria da sua conta, sabia? — Respondi no mesmo tom.
 
  — Mas seria engraçado, de qualquer forma... e previsível. — Ele deu de ombros.
 
  — Já chega. Já deu... — Blair interveio. — Pare de ser rude com minha amiga. Vai acabar assustando-a. — Blair disse um pouco irritada, cruzando os braços.
 
  Eu a olhei um pouco incomodada. Afinal de contas, quem levou um tapa por ser um merdinha não foi eu, e ele sabe bem a onça que cutuca com vara curta. E numa próxima vez, espero que ele também saiba que não será apenas um tapa.
 
  — Desculpe... tenho que ter sensibilidade, não é? — O tom do Rutherford era ácido e provocativo. — Enfim, maninha, tô indo treinar. Me chame se for urgente.
 
  Ele saiu andando de forma casual, mas antes de ir embora, falou em alto e bom som.
 
  — Se a mamãe me ligar, eu não estou em casa. — Falou por fim.
 
  Franzi o cenho por um momento, mas apenas me virei e continuei seguindo Blair até o quarto dela para me trocar e fomos ensaiar.
 
 
 
 
 
  Agosto de 2012
 
 
 
 
 
  Segunda-feira. Normalmente eu estaria me sentindo apenas aborrecida por começar mais uma longa semana, entretanto, hoje não é um dia qualquer. Além de estar super nervosa com a audição pro clube de teatro, este dia é apenas o primeiro de cinco longos dias de detenção junto com o panaca do Alex Rutherford.
 
  Ou seja, do começo ao fim deste dia idiota não vou ter paz comigo mesma de tanta ansiedade e nervosismo. Sábado e domingo, eu e Blair ensaiamos muito a coreografia que vou apresentar e eu sinceramente estou orgulhosa do meu desempenho, mas só de saber que vou ter que dançar na frente de todo mundo me deixa enjoada.
 
  Claro que atuar não é muito diferente de dançar, só que a divergência pra mim entre esses dois pontos é gritante. Eu consigo me virar bem na interpretação, mas a coordenação motora de meu corpo é algo no mínimo instável.
 
  — Blake, abra esta porta e fale tudo! — Ouvi a voz de Jude bater na porta, me fazendo sair da cama atordoada sem entender absolutamente nadica de nada.
 
  Cambaleei até chegar e abrir. Ela estava com o celular em mãos e surpresa. Jude adentrou o quarto e eu fechei a porta.
 
  — Você e o Bryan terminaram?! — Jude perguntou e eu fiquei um pouco surpresa.
 
  — Está tão chocada assim?
 
  — Claro! Quer dizer... depois do que aconteceu, daquelas fotos, você não falou mais nada. Pensei que vocês tivessem resolvido... — Ela mexeu no celular. — Mas simplesmente ele parou de seguir você, a mim e todos os meninos. Parece que ele não quer mais saber de ninguém.
 
  Bem, até eu fiquei surpresa agora. Eu não esperava que ele fosse parar de seguir os meninos. Eles eram muito próximos e bons amigos. Ele ficou tão bravo assim comigo...?
 
  — Bem, não foi um término muito amigável, se quer saber. — Dei de ombros e suspirei, indo escovar meus dentes.
 
  — Poxa... eu sinto muito, Blake... poderia ter conversado comigo. — Jude se apoiou no batente da porta do banheiro e cruzou os braços.
 
  — Eu não queria preocupar você e nem o Nate... mas se você já sabe, então ele também... — Dei de ombros e cuspi a espuma na pia.
 
  Terminei de escovar os dentes e já fui me arrumar.
 
  — Os meninos do Coffee vão querer saber o que aconteceu... você vai contar tudo?
 
  Parei e pensei por um momento. Eu não sabia o que dizer ao certo sobre o término. Na realidade, eu não queria que soubessem que foi tudo minha culpa, e não queria culpar ele. Suspirei.
 
  — Não quero dar detalhes. Apenas aconteceu e não tem o que fazer. Os meninos vão respeitar a falta de detalhes, e por ora, não conte sobre as fotos pra ninguém, tudo bem? — Pedi para Jude e ela assentiu, fazendo um sinal de zíper na boca e jogando ele fora. — Obrigada...
 
  Jude suspirou e sorriu de forma amigável, se aproximando e beijando minha bochecha.
 
  — E vamos ser sinceras... quem perdeu foi ele. — Ela me soltou uma piscadela. — A Tia Felícia fez bolo de laranja pro café. Ou desce logo pra comer ou Nate irá devorar até os farelos.
 
  Estreitei meus olhos.
 
  — Pestinha... guarde um pedaço para mim, já estou descendo. — Andei rapidamente até a penteadeira e fiz minha maquiagem do dia a dia.
 
  Hoje, eu devo encarar o dia de cabeça erguida. A dor de um término ainda pode ser desgastante, mas o importante é a audição de hoje. Preciso manter o foco.
 
  Assim que deixei minha bicicleta ao lado da de Nate, ele me abraçou forte.
 
  — Está tudo bem mesmo? — Perguntou, e eu suspirei profundamente.
 
  — Estou bem... prometo. — Sorri de forma amigável pra ele, para o tranquilizar.
 
  — Vou ver sua audição mais tarde, ein... não pense que vai escapar. — Ele falou enquanto andávamos e eu dei um leve empurrão leve, sentindo meu rosto ficar vermelho.
 
  — Não me lembra disso. Estou cada vez mais nervosa. — Segurei na alça de minha mochila carteiro meio sem graça.
 
  Nate passou um braço pelos meus ombros e falou de bom humor e de forma relaxada.
 
  — Assim que for aprovada, vamos sair e tomar um sorvete pra comemorar. O que acha?
 
  — Não vai rolar. Tenho que cumprir horário de detenção, esqueceu? — Revirei os olhos só de lembrar dessa chatice.
 
  Nate também pareceu não gostar de lembrar dessa notícia idiota.
 
  — Posso esperar você, se quiser.
 
  — Não precisa. Vá pra casa e quando for mais tarde, no Coffee, a gente pede um milkshake com o resto do pessoal. — Sorri com a ideia e senti Nate se afastar um pouco para acenar pro pessoal do time de natação.
 
  — Tudo bem. Qualquer coisa você manda mensagem então. — Ele concluiu. — Vou falar com os caras. Até depois, pirralha Benson.
 
  Fiz uma leve careta com o apelido e segui meu caminho até a entrada de West High. Caminhei pelos corredores até meu armário e percebi que hoje era um dia agitado. Ia ter teste para diversos grupos e o pessoal estava se preparando como eu, e nervosos também.
 
  — Hey, Blake! — Tyler se aproximou junto com Alexa. — Hoje é seu grande dia. — Ele sorriu de forma amigável.
 
  — E aí? Os treinos deram certo? A coreografia está pronta? — Alexa perguntou animada. — Você esteve esse fim de semana com a Rutherford. Tudo deve estar divino, eu aposto.
 
  É como se todo meu nervosismo se acalmasse quando comecei a falar com meus amigos. Alexa e Tyler pareciam animados para me ver, torcendo por mim. Isso me conforta mais do que pensei que iria.
 
  — Olha, eu pensei que eu não iria conseguir, mas Blair me ajudou tanto e me encorajou... — Só de lembrar das palavras gentis e de encorajamento que ela falava durante os ensaios, até quando eu errava, me faz sentir mais confiante. — Tenho certeza de que vou conseguir.
 
  — É assim que se fala. — Tyler me abraçou de lado e beijou minha bochecha. — Não é querendo dizer muita coisa, mas, tirando o Dylan e o talento dele para o audiovisual, você será a melhor do clube... — Ele sussurrou para mim e eu dei um leve empurrãozinho nele.
 
  — Não seja tão cruel, Tyler. Tenho certeza de que todos do clube são incríveis, assim como Clarisse e a Alice. — Falei com um sorriso confiante. — Mal posso esperar para dar o sinal e eu fazer minha audição.
 
  Alexa deu alguns pulinhos, chamando nossa atenção.
 
  — Que tal se... — Antes que ela pudesse falar, o pessoal do time de lacrosse passou pelo corredor e Timothy acabou esbarrando nela sem nem ligar. A movimentação era um pouco caótica como sempre. — Ei! Olha por onde anda!
 
  Alexa ficou irritada por um momento, mas Timothy sequer olhou pra trás. Ele estava acompanhado de vários caras, mas só reconheci Diego. Alex e Daniel não apareceram ainda. E eu agradeço por não precisar ver a cara do babaca...
 
  — Trogloditas mesquinhos. — Tyler revirou os olhos. — Continue, Alexa...
 
  —Que tal irmos pro fliperama no centro depois das audições e comemorar? Podemos comer alguns lanches e jogar naquela máquina de dança, Pump It Up. — Ela sorriu animada. — Lembra, Tyler? Nós dois batemos o recorde dançando Lady Gaga lá.
 
  Tyler deu pulinhos e deslizou pro lado de Alexa.
 
  — Ninguém supera o maior fã da rainha do pop. — Ele soltou uma piscadela e cruzou os braços como se fosse uma estrela.
 
  Suspirei uma risada só de imaginar os dois dançando num brinquedo daqueles. A programação me parece atrativa, mas todos sabem o destino que me condenaram injustamente...
 
  — Seria superlegal, gente, mas tenho detenção hoje, lembram? — Falei, fechando meu armário e segurando meus livros com ambas as mãos. — Vão ser os piores minutos que vou passar naquela sala com aquele paspalho do Rutherford.
 
  Recebi olhares maliciosos dos dois.
 
  — Nossa, que peninha... você viu como ela sofre, Alexa? Vai ficar presa numa sala com o capitão do time de lacrosse. — Tyler faz uma expressão exagerada de sofrimento. — Pobre coitada, eu faço o esforço e sacrifício de trocar com você se quiser...
 
  Olhei de forma estreita pra Tyler, que recebeu um tapinha de Alexa.
 
  — Tyler, pelo amor! Ele não presta! Quantas vezes temos que falar isso pra você? — Alexa comentou.
 
  — E precisa prestar? Um cara bonito daqueles pode ser o próprio diabo, não tem como não gostar de ficar preso numa sala com ele. São fatos! — Tyler tentou se defender.
 
  — Você precisa de terapia... — Comentei. — Você e a Morgana, que namora com um embuste daquele.
 
  Tyler colocou a mão no peito e abriu a boca com certa indignação, até ser cortado por uma risada da Alexa.
 
  — Você tá me colocando no mesmo patamar daquela cara de...
 
  — Morgana namorando o Alex? De onde você ouviu essa? — Alexa disse enquanto ria. — Caraca, isso soa melhor a cada dia que passa...
 
  Eu olhei meio confusa pra ela. Morgana havia me dito isso umas duas vezes se não me engano. E como ela era próxima de Alex, por que não seria verdade?
 
  — Eles sempre andam juntos e ela me disse que eu deveria parar de dar em cima do namorado dela... ou alguma coisa assim. — Dei de ombros.
 
  — Eles não namoram. Morgana só não sabe ouvir um não. — Alexa explicou. — Quer dizer, eles já tiveram algo mas foi muito tempo atrás. Algumas pessoas nunca superam nada, pelo visto.
 
  Por um momento, sinto uma leve pena de Morgana. Terminar e ainda se cercar com a pessoa, criando esperanças pelo visto. Mas logo a pena passa, já que não ligo pra relacionamento alheio, principalmente de uma garota sem escrúpulos como ela.
 
  — Oh... uma pena. — Falei meio sem ligar.
 
  Tyler, Alexa e eu começamos a andar pelos corredores e subir a escadaria para irmos para a sala de matemática, na qual seria nossa primeira aula. Acabamos dando de cara justo com Jessy, mas ela não parecia muito bem. Suas sardas e bochechas rosadas não estavam como todo o dia a dia. Faltava seu sorriso e brilho sem igual.
 
  — Jessy! — Alexa se aproximou com um sorriso, mas logo franziu o cenho. — Está tudo bem?
 
  Ela olhou para nós três e tentou dar um sorriso, mas saiu um pouco forçado.
 
  — Oi pessoa... — Ela limpou a garganta. — Bem, digamos que o fim de semana não foi um dos melhores... — Jéssica suspirou e desviou o olhar meio sem graça.
 
  — O que houve? Aconteceu alguma coisa? — Perguntei um pouco preocupada.
 
  — Meus planos foram um desastre e agora eu tenho certeza de que Richy... que dizer, Richard, me odeia completamente. — Ela esfregou o rosto como se estivesse cansada.
 
  Tentei me lembrar quais eram os planos que Jessy havia comunicado para mim e Alexa na sexta-feira. Foi um pouco difícil até que Alexa falou e me relembrou.
 
  — O que aconteceu? O jantar foi tão ruim assim? — Alexa questionou.
 
  Tyler cruzou os braços e observou a conversa um pouco confuso, mas atencioso.
 
  — Eu e a tia Autumn conversamos sobre e eu decidi cozinhar algumas coisas que minha mãe do Brasil me ensinou. — Jessy contava. — Mas... eu não sei por que, Richard sempre achava algum defeito, e eu me senti super mal. Sabe? Nem cozinhar direito eu consegui pra poder deixá-lo mais confortável na minha presença.
 
  Franzi o cenho um pouco irritada com Richy. Por que ele estava sendo tão duro com Jessy? Ela estava dando o melhor dela desde o dia que chegou, mas ele simplesmente a detesta sem motivo algum. Ela é uma garota tão amável...
 
  — E pra piorar, quando fui servir a sobremesa, ele se levantou muito rápido e acabou derrubando o pudim... e ele caiu justo na roupa dele. Eu estraguei um suéter de lã que a avó dele tinha costurado pra ele. — Jessy se sentia super mal enquanto falava. — Ele falou tantas coisas... me senti uma total idiota. Nunca vamos conseguir nos dar bem, e estou com medo disso atrapalhar todo meu intercâmbio.
 
  Alexa se aproximou e abraçou Jessy, e Tyler fez o mesmo do outro lado. Eu não poderia ficar de fora, me juntei aos três.
 
  — Está tudo bem, Jessy. Isso não vai te atrapalhar em nada... — Tentei a consolar de alguma forma.
 
  — As coisas podem melhorar. Nunca duvide disso. — Alexa disse, se afastando e encarando Jessy. — Richy é complicado... mas podemos falar com ele. Vai ficar tudo bem, ok?
 
  — E se ele continuar sendo babaca, eu prometo bater nele até ele virar gente. — Tyler sorriu e se afastou do abraço, sempre sendo o melhor ao abrir a boca para animar alguém.
 
  Jessy sorriu, provavelmente se sentindo um pouco melhor depois de tudo. Quando parei para observar os amigos que fiz, não tenho dúvidas... fiz a escolha certa de me aproximar deles, e acho que esse não é nem o começo do meu orgulho.
 
  O sinal tocou, e como estávamos do lado de nossa sala, apenas entramos e fomos buscar nossos lugares. Era hora de focar em algo que fosse agregar, e não atrapalhar nossas cabeças avoadas.
 
  O dia voou, praticamente. Acho que fiquei tão nervosa com a audição que só consegui pensar nisso e não vi que minhas anotações saíam tortas no caderno. Eu acabei de deixar minhas coisas no armário e via as pessoas irem embora e outras irem para suas respectivas salas para audições.
 
  — Vamos, Blake. Precisa se trocar e se preparar para arrasar. — Alexa me puxou pelo braço. — Tyler e Jessy, guardem um lugar para mim.
 
  Eles acenaram e foram para a sala do clube de teatro. Alexa foi ao banheiro comigo para me ajudar a me trocar. Coloquei uma roupa mais despojada para conseguir dançar mais livremente e prendi o cabelo num rabo de cavalo.
 
  — Céus, Alexa, sinto que vou acabar vomitando assim que eu pisar naquele palco. — Esfreguei o rosto. — E se rirem de mim? E se o pessoal vaiar e mandar eu sair sem nem me verem apresentar?
 
  Alexa sorriu de forma gentil e se aproximou. Ela afagou meus ombros e olhou dentro de meus olhos.
 
  — Blake, já participei de vários campeonatos e audições na minha vida. Sei exatamente como se sente. — Ela disse. — E o que posso te dizer é, e daí?
 
  Franzi o cenho um pouco confusa.
 
  — Se rirem, e daí? Se vaiarem, e daí? Sua vida não se resume a eles, e sim ao seu potencial. Você tem talento e precisa confiar nisso e focar naquilo que você quer. Não se importe com mais nada além de você mesma, ok? Você consegue isso.
 
  Respirei fundo e sorri um pouco melhor.
 
  — Vou tentar... — Acenei, falando mais para mim mesma do que pra Alexa.
 
  — E vai conseguir. — Ela soltou uma piscadela pra mim e me entregou um lenço umedecido. — E acho melhor você tirar essa maquiagem... vai acabar derretendo até a dança.
 
  Senti um frio na barriga quando ouvi aquilo. Eu não queria ficar na frente de todo mundo com essas sardas estúpidas à amostra. Seria humilhante e com certeza iriam falar algo.
 
  — Blake... — Alexa chamou. — Está tudo bem?
 
  — É que... — Respirei fundo. — Estou... só nervosa. — Sorri sem graça e passei o lenço umedecido no rosto.
 
  Vai ser só hoje... não será ruim, vão ser só uns minutos. Posso fazer isso. Melhor do que ficar com a cara toda borrada na frente deles, eu acho...

S.O.S Adolescentes No Ensino Médio (ORIGINAL)Onde histórias criam vida. Descubra agora