Setembro de 2012
( Alexander Rutherford Turner )
— Para de se mexer! — Blair dizia enquanto penteava meu cabelo e misturava gel e laquê.
— Essa droga tem um cheiro horrível. — Reclamei, porque de fato era um cheiro ruim.
Setembro chegou, e com ele o baile sem graça de boas vindas. West High sempre foi sem graça em relação as festas. A única que todos aguardam ansiosamente de fato é a festa de ouro, feita por mim com a verba dos jogos. Todos sabem como uma boa festa deve ser, e eu sempre inovo a cada uma delas. Lugares diferentes, temas diferentes e não posso deixar de dar um crédito pra Blair que sempre me ajuda em termos de decoração, música e sei lá mais o quê.
Meu propósito é não deixar as coisas saírem do controle, e ao mesmo tempo, não fazer ninguém morrer de tédio. Porém, essa parte divertida é com Novac. Mantenho um olho em Timothy só por precaução e outro em Blair perto de qualquer cara estranho.
Agora, num baile escolar quase não havia necessidade. Sempre tem monitores ou algum professor por perto pra puxar a orelha de algum otário. Casais são proibidos de beijar e nenhuma bebido alcóolica pode entrar no ginásio. Pelo menos nos anos passados...
— Pronto. Agora sim você pode ir. — Blair sorriu satisfeita enquanto olhei o resultado no espelho.
— Você tem mãos mágicas, ein. — Estava ótimo, como sempre. — Mas se eu ter uma convulsão no meio na pista de dança por ter inalado tanto laquê, a culpa será sua.
Revirando os olhos e retocando o batom dela nos lábios, Blair suspirou.
— Deixe de drama ou vou colocar borboletas no seu quarto enquanto dorme.
Franzi o cenho.
— Isso não tem graça! — Exclamei, vendo-a pegar a bolsa em seu sorriso travesso e sair do quarto.
Já são oito e meia. A festa começa em quinze minutos, mas suponho que já tem bastante gente por lá. Anos oitenta... a coisa conseguia ficar cada vez mais brega. Se eu tivesse algum poder de escolha, era melhor ficar em casa assistindo qualquer porcaria da televisão. Mas manter a sociabilidade era mais importante. Ser sociável, aclamado e sempre no pódio. Minha presença talvez fosse a coisa mais importante pra esse lugar sem graça.
— Vamos logo. Não quero me atrasar! — Ela gritou do corredor.
Depois de passar meu perfume, segui meu caminho até a escadaria. Antes que eu pudesse descer, uma empregada tocou meu ombro, chamando minha atenção.
— Desculpe, senhor Rutherford. — Sua cabeça fez uma leve reverência em respeito. — Sua mãe está no telefone.
E o diabo nunca tem hora marcada. Minha pouca animação parece se esvair de meu corpo mais rápido do que se instalou.
— O que ela quer? — A necessidade de esconder meu aborrecimento era desnecessária.
— Não me informou nada. Apenas gostaria de falar com o senhor. — Ela baixou o olhar e se virou para voltar a seus afazeres.
Revirei meus olhos com vontade de os arrancar para fora da órbita. O que ela quer comigo justo agora? Já entreguei os trabalhos que ela pediu e lembro-me que a próxima reunião que eu vou comparecer é daqui uns meses. Não há motivo plausível pra ela me ligar.
Meus passos eram pesados e um pouco apressados. Deixar Blair esperando era assinar contrato com a morte. Essa pontualidade perfeita foi puxada de Vivian com certeza.
— Vívian Rutherford. — Tentei parecer surpreso dessa vez com meu sarcasmo absorto. — Que milagre você lembrar do número de casa.
Ouvi seu suspiro do outro lado da linha.
— Bom saber que seu humor continua o mesmo. — Seu tom não era tão sério. Ela parecia até... normal. — Enfim, estou ligando pra saber se você vai para o baile dos calouros.
E como sempre, sabendo de tudo que acontece mesmo estando do outro lado do mundo. Alguns teriam medo, mas eu tenho raiva.
— Não cansa de sempre ficar colada nas minhas costas? — Que papo cansativo de merda.
— E deixar de ser uma boa mãe? Não me canso. — E agora eu me recordo de quem puxei o sarcasmo. — Só quero o melhor para você e para Blair, e sabe disso. Dê seu melhor e aproveite a noite, está bem?
Se eu não a conhecesse tão bem, diria até que se importa comigo.
— E o mais importante: proteja o nome da família. Você sabe, não se misture com aqueles que querem o puxar pra baixo. Isso vale para Blair também. — Nada novo. Sempre a mesma coisa.
— Eu não sou descuidado. — Meus olhos reviraram. — Só isso por hoje?
— E se divirta filho... você sabe que é importante pra mim. Só quero que tenha cuidado. — Vívian suspirou.
E no fundo, isso me amolecia de alguma forma. Ela conseguia ser sufocante mas necessária quando quisesse, e eu queria aprender um pouco disso. Controlar um pouco mais. Sempre sabe o que dizer, enquanto eu continuo engolindo palavras como se fossem sopa de letrinhas.
— Vou ficar bem, mãe.
— Ligo quando puder. O fuso horário do Japão está acabando com meu sono. Até depois, querido. — E então, ela desligou.
Japão. Quando foi a última vez que a vi fora do trabalho?
— Alexander! — Blair gritou do andar de baixo. — Se você não vir, vou entrar no carro de um estranho e ir sozinha!
— Nem fodendo! — Retruquei, descendo logo em seguida.
Blair não para de falar das novas amigas que fez, e hoje está muito animada pra participar de um tal concurso que vai tar. Não faço ideia do que seja, mas se for por chegar no horário, ela com certeza vai vencer.
É isso ou tenho que acalmá-la para não chorar.
— Caramba, mas tem umas músicas tão irritantes dessa época. — Peterson dizia, encostado na arquibancada enquanto bebia seu ponche vermelho no copo de plástico.
Não foi necessária tantas horas pra começar a encher de gente por aqui. O ginásio está movimentado demais, e parte desse pessoal está perambulando pelos corredores como moscas atraídas pela luz.
— Vou acabar ficando cego com tanta cor assim. — Kaleb Colb deu tapas no ombro de Peterson em uma risada maliciosa. — Tô começando a achar isso tudo coisa de marica.
E os caras do time dão o que tem de melhor: piadas infantis e suas risadas irritantes, como se fossem crianças. Implicando com luzes...
E, por falar nisso, haviam várias delas. Estroboscópicas por cada canto do lugar, os feixes iluminavam onde seria a pista de dança e pequenos holofotes davam ênfase ao estrelato.
Calouros.
Alguns bem vistos, com reputação e dinheiro. Isso moldava West High para chegar ao topo, lugar de elite aonde as famílias ricas colocam seus filhos para, num futuro patético, terem algo para se gabar. Currículo cheio, mente vazia.
Pessoas vazias, e só eu para encher algum ego deles. É pra ser recíproco, mas porra, consegue ser exaustivo pra caralho. Alguém arranca meus ouvidos!
— Se bem que algumas roupas não estão tão ruins... principalmente as garotas. — Kaleb tinha gel grudado em seu cabelo, espetado como naquelas filmes escolares estranhos.
Seus olhos devoravam o corpo de cada garota que entrava pelo lugar com uma saia não muito grande ou um vestido justo. Quase saltava de suas órbitas, e não tinha nenhuma vergonha disso.
Mas porquê teria? É de tapinhas e aprovações regulatórias que ele vive. Que quase todos eles vivem, mas nada é tão necessário quanto a aprovação do próprio capitão.
Ele virou alguns goles e se apoiou em meu ombro. Minhas mãos foram pro bolso de minha jaqueta de couro enquanto eu bufava impaciente, prevendo qual seria a próxima merda a sair de sua boca.
— Carla Johansson, terceiro ano. — Ele apontou para o outro lado do ginásio. — Se ela se inclinar só mais um pouco, aqueles peitos vão sair do decote, e ela não para de olhar pra você. Faz a boa, capitão.
E não era mentira. Aquele vestido rodado tinha um decote de tirar o fôlego desses caras. Me empurrar para várias garotas era diversão para eles. Respirei fundo para não perder minha paciência e sorri de canto.
— Com aquelas pernas? — O olhei não muito apreensivo. — Talvez eu pegasse, se eu fosse instrutor de academia. Ela precisa perder uns quilos, e um decote não muda isso.
Carla não está mal. Na realidade, pouco me importa o que ela veste ou como o corpo dela é. Qualquer comentário maldoso era o suficiente pra encerrar uma situação irritante. Ela nem vai saber disso, não estou magoando ninguém. E, se ela não for tão idiota, não vai ligar de ouvir opinião alheia.
Se deixar abalar por tão pouco é patético. Merda, às vezes sinto que só me cerco com gente burra, mas se essa é a elite, só me resta continuar sendo o melhor. Melhor que eles, por mim, já é suficiente.
— Porra, cadê o Novac? Ele já não devia estar aqui com o Timothy faz o quê, meia hora? — Peterson comentou e acabou recebendo alguns tapinhas meus no ombro.
— Tá aí, a primeira coisa útil que você falou essa noite. — Sorri sarcástico, olhando em volta procurando por eles. — Vou ver se os alcanço em algum lugar.
Novac tava animado pra fazer o trote que mencionou. Se ele não viesse era sacanagem. Confesso que até será divertido ver o que ele planejou, já que não me contou quase nada. Mas era algo que envolvia sabotar o ponche e brincar de Carrie, a estranha. Talvez eu tenha alguma ideia de como isso vai acabar.
E assim que Michael Jackson começou a tocar, eu percebi que tudo que eu queria estar fazendo era deitar na minha cama e esperar o tempo passar. Uma galera gritou e se juntou na pista de dança bem no momento que aproveitei pra passar e ir em direção as corredores. Passos largos mas arrastados, sem qualquer vontade de ouvir essas risadas e gritos. Era irritante, tão irritante ver essa animação desnecessária. É uma porcaria de festa, porém tem aqueles que se contentam com pouco. Tão pouco.
Cumprimentei vários estranhos contra a própria vontade. Enquanto um olho ficava em Blair fofocando com suas amigas estranhas e gatas, o outro procurava pelos caras.
Estou no estacionamento há vinte minutos e nenhum sinal deles. Encostado num poste, bebo uma lata de Pepsi e ainda me pergunto o porquê de não ter ido embora ainda fazer qualquer coisa por aí. Quem sabe Novac não leva eu e o Timothy pra cabana irada que ele menciona vez ou outra, mas que nunca eu realmente quis conhecer.
— Ah, e aí cara! — E quem eu menos queria por perto apareceu. — Fico lisonjeado por esperar por mim. — Sorriu de forma convincente, me fazendo o encarar de forma neutra.
Diogo não era meu amigo. Estávamos longe de ser isso, e ambos de nós sabemos disso, mas pra evitar conflitos familiares, a gente convive junto. Minha mãe tem negócios com a empresa do pai dele, então é importante mantê-lo em meu círculo social.
Por mais que eu queria chutar o traseiro dele na maior parte do tempo.
— Você viu o Von Myers? Ou o Novac? — Ignorei seu humor irritante.
Diogo deu de ombros e colocou ambas as mãos no casaco.
— Viu o Kaleb e o Peterson? — Isso me fez revirar os olhos. Ele sempre misturado com outros imbecis que eu gostaria de chutar a bunda.
— Ginásio. — Respondi e voltei a beber meu refrigerante.
Ele seguiu sem dizer mais nada. Acho que os céus resolveram me poupar um pouco hoje.
— Alex! — Morgana desceu de um carro prata, acenando e vindo em minha direção.
Não há um tema de baile que ela não consiga acertar em cheio. Estava linda e de ótimo humor pelo visto. Atrás dela, figuras conhecidas.
— Vannie me deu uma carona. Já tem um pessoal de umas universidades por aqui, ela não poderia ficar de fora. — Morgana dizia sorridente, indo para o meu lado. — Nos atrasamos porque o namorado dela precisou trocar de roupa.
É, aquele casal que conheci no dia do fliperama. E hoje, o cabelo desse cara tava mais esquisito do que nunca. Brega. Qual nome dele mesmo?
— Bryan e eu vamos nos encontrar com um pessoal. Daqui a pouco vamos pro ginásio. — A tal Vannie comentou, pegando o celular e entrelaçando seu braço com o do cara. — Eles estão lá pelo campo de lacrosse, nas arquibancadas.
— Então vamos. — Bryan falou e sorriu casualmente para Morgana e para mim. — Boa festa pra vocês.
E os dois saíram. Menos mal, mas nem evitei em olhar para as costas desse cara. Estranho.
— E você? O que faz aqui? — Morgana cruzou os braços, olhando-me confusa. — O baile é lá dentro, sabia?
— Hilário seus comentários, ein. — Suspirei sarcástico. — Estou esperando o Bundão Myers e o Panaca Novac. Estou aqui faz quase meia hora.
O cenho dela franziu, ainda mais confusa.
— Eles chegaram junto comigo. Quer dizer, eles estavam de carona com aquele capitão do time de natação, o Richard e uns outros garotos do time de basquete. — Ela informou. — Estavam numa caminhonete cor cobre, eu acho.
Agora é foda eles me tontearem dessa forma, como se eu fosse uma galinha perdida. Impaciente, terminei de beber meu refrigerante e joguei a latinha por aí.
— Vamos, eu te acompanho. — Morgana notou minha irritação e acabou rindo, segurando em meu braço enquanto caminhávamos para dentro de West High.
Os corredores já estavam mais pacíficos, provavelmente porque The Cure estava no volume máximo no ginásio. Não vi nenhum monitor até agora, nem o diretor. Acho que só o pessoal do Grêmio Estudantil estava rondando como guardas de papel. Então, podíamos dizer que estávamos tendo uma liberdade.
— E como a Blair está? Aposto que animada pelo concurso que vai ter hoje. — Morgana comentou.
Confuso, me lembrei que comentaram algo, mas nada me recordava.
— Concurso de?
— Roupa, é claro. — Falou como se fosse óbvio. — Vão ter jurados por todo o ginásio e, no final da festa, vão anunciar o melhor look masculino e feminino. Tenho quase certeza de que será você é Blair. Estão incríveis!
Sorri minimamente satisfeito.
— Ela com certeza ganhará. Está incrível. Ela entende muito dessas coisas de roupa.
E assim que chegamos ao ginásio, vi Timothy e Novac conversando com um pessoal do time de basquete, como Morgana mencionou.
— Vá lá com suas amigas. Preciso conversar com eles. — Pedi e a mesma assentiu.
— Espero que vocês pestinhas não estejam aprontando. — Seu olhar se estreitou, e ela conseguia ler pelas entrelinhas melhor do que ninguém.
—Eu? Jamais. — O cinismo gotejava de minhas palavras facilmente. Morgana se virou com uma risada e se misturou pelo pessoal.
Livre, caminhei rápido até eles. Novac me recebeu com um toque de mãos e Timothy com um abraço.
— Mas que droga, vocês poderiam ter avisado que iriam entrar por outro canto. — Reclamei. — Eu tava a quase meia hora no estacionamento.
— Relaxa, cara. — Novac deu alguns tapinhas no meu braço. — A gente tava resolvendo as coisas pro trote.
E eles não paravam mesmo. Isso tava me deixando curioso e ansioso pelo que estaria por vir. Mesmo assim, algo não parecia comum. Os caras do basquete se afastaram assim que me aproximei, e agora estávamos entre nós. Uma pena, já que quem veio pra cá foi justo Diogo.
— Qual vai ser a boa? — Ele perguntou, tão animado quanto qualquer um de nós.
— O do ponche, vai ser simples. — Explicou Novac. — Pouco antes de anunciarem os vencedores daquele concurso bobo, o pessoal do basquete vai tomar o lugar do grêmio e vai começar a servir o ponche sabotado. Vão ter gostos horríveis e vai manchar a boca das pessoas de azul e preto. — O sorriso dele era completamente malicioso. Parece que ele foi além desta vez.
— Depois disso, vi cair um balde enorme de tinta em cima dos dois que ganharem. Vão ficar completamente sujos de tinta vermelha igual em Carrie, a estranha. — Timothy riu só de imaaginar essa cena. — O balde foi preso em alguns ferros do palco que montaram ontem. Tem uma corda que está solta e que controla a queda do balde, e quem vai puxar são os mesmos caras do basquete.
Meu cenho franziu em confusão, já que, até onde eu saiba, os caras do basquete não suportam o time de lacrosse muito bem. Já tive que dar uns socos por aí pra que parassem de nos encher, e agora, nos ajudando? Isso é muito estranho.
— E porquê os caras do basquete estão ajudando a gente com isso? — Questionei por fim. — Não vou pagar ninguém dessa vez, já vou avisando. Se eles querem grana, que trabalhem por isso.
Novac sorriu daquele jeito, onde parece que o diabo se instalou em seu corpo. Moleque incansável, o melhor de todos.
— Digamos que eles devem pra mim. E vão continuar devendo até eu decidir o contrário. — Ele deu de ombros e olhou os arredores.
— Essa noite vai ser interessante, pelo visto. — Disse Diogo, que parou instantaneamente olhando pra entrada do ginásio. — Puta merda...
Foi quase impossível não olhar. Percebendo do que se tratava, meu corpo tensionou ao ver quem chegou pra festa.
— Puta merda mesmo. — Novac estava feliz demais pro meu gosto.
Guenevere Blake e seus amigos. E pouco me ligava para quem estava perto. Meus olhos só queriam ver ela. A sensação no estômago voltou e meu coração parece acelerar pra caralho. Que droga essa garota faz pra eu sentir tudo isso da forma mais estúpida possível?
Seus cabelos estavam soltos, apenas duas presilhas vermelhas enfeitavam ele. Um vestido vermelho mais escuro abraçava seu corpo como se fosse feito pra ela. Porra, essa cor foi completamente designada pra essa garota. A jaqueta de couro e o coturno mixou seu lado rebelde a uma beleza intensa que nunca vi em qualquer outra garota. E o melhor era suas sardas. Não sei quem a convenceu de não cobrir elas com maquiagem, mas se eu soubesse, poderia dar um prêmio...
Engoli seco, voltando pra minha realidade e parando de encarar. Tenho que deixar de ser um idiota babão por essa garota, caralho. Ficar longe, Alex. Seu plano era ficar longe e não se misturar.
— Coragem dela aparecer aqui assim. — Diogo cruzou os braços. — Incrível como o corpo é uma delícia mas as sardas estragam tudo.
Cala a boca antes que eu arranque cada dente seu e o faça engolir um por um.
Respirei fundo e mordi minha língua. Ficar calado e não esboçar nada era o melhor. Deixem que fale, essa é a verdade. Nem maquiagem pode consertar essa garota...
— Oque você quer ainda está mole, Diogo. — Daniel falou sarcástico. — Se não gosta de mulheres, é só jogar no outro time. Não vamos te julgar por isso, sabia?
Timothy e eu sorrimos satisfeitos. Porra, Daniel sabia quase sempre o que falar. Diogo bufou irritado.
— Pirralho desnecessário você, ein. — Ele cruzou os braços. — Gosto de mulheres, não garotas bobinhas por aí. Sem contar que essa Blake tem namorado. Algum infeliz optou por ser mais infeliz ainda quando aceitou namorar aquele troço.
Timothy observava os dois com puro tédio, um pouco incomodado eu diria, bebendo de sua latinha de refrigerante sem falar muita coisa.
— Namorando? Não mais. — Daniel revelou. — Acho que minhas preces foram muito fortes. Os caminhos se abriram pra mim. — Ele soltou uma piscadela convencida.
Ele tá afim da Blake? Ele quer pegar ela ou algo assim? É sério, tipo? Ele não mencionou nada esses dias, se ele quisesse algo teria falado, não? Por que ela? Será que ela gosta dele também?
Solteira???
— Não só pra você. — Timothy apontou, e observando, ela parecia estar feliz.
Sorrindo e dançando ao som de Queen, Blake se divertia com um cara. Eu lembro dele? Não faço ideia, mas suas roupas eram bem chamativas. Está na ponta da língua...
— Tyler Cranberrie Hastes? — Murmurei.
— Ele não é gay? — Novac questionou confuso.
— Olha, já tem algo em comum com o Diogo. — Timothy satirizou, bebendo outro gole de refri para segurar a risada. Daniel não se aguentou.
Diogo revirou os olhos e deu um leve tapa no ombro de Timothy.
— Vocês são três fodidos. Não me comparem com esses maricas, ou acabo com vocês. — Disse e saiu em seguida, sei lá pra qual rumo. Pouco me importava o que aquele cara fazia. Mas quanto mais longe, melhor. Eu não o afasto, ele já faz esse favor por todos nós. Que medinho que tenho, não é? Tsc...
— Será que ele se magoou? — Timothy fez um beicinho de falsa tristeza.
— Será que dessa vez ele aprende a calar a maldita boca? — Cruzei os braços e suspirei. — Caramba, essa festa vai durar uma eternidade, pelo visto.
Mas se ela seguir dessa forma, dançando com aquele sorriso que faz minha respiração falhar, talvez não seja tão ruim assim...
Puta que pariu, Alex, para de pensar!
— Vamos adorar a companhia das líderes de torcida. — Timothy sorriu ladino e se juntou a Novac. — Vem com a gente?
Essa garota vai me deixar maluco se continuar sorrindo assim pra outro cara.
— Vou. — Virei a cabeça como se fosse um robô e segui com eles. Preciso de distração. Preciso pensar em outras coisas.
Outras garotas. Blake não é lá grande coisa. É, exatamente. Ela não é nada, e posso escolher qualquer outra garota que eu quiser.
— E eles estavam tipo "Nossa, mas eu amo você muito mais" e essa coisa toda melosa, sabe? — Morgana tagarelava sobre suas amizades com outras garotas.
Os caras estavam misturados com elas, líderes de torcida vestidas como as gatas dos anos oitenta ou algo assim. Falavam sobre tudo e, ao mesmo tempo, sobre nada. Eu queria demonstrar até o menor interesse possível, mas eu tava ocupado. Muito ocupado.
Nate Hawthorne, rindo e cochichando sei lá o que no ouvido dela. A brasileira estranha parecia chateada com sei lá o que, resmungando pelos cantos no ombro da garota do clube de debate, Alexa se não me engano. Tyler não saía da pista de dança e estava junto com minha irmã, sei lá o porquê.
Se tocar nela como um maldito pervertido, perde a mão.
E isso estava valendo para o merdinha de Nate, que não saía de perto de Güenevere por nada. Nenhum instante sequer, fazendo meu sangue borbulhar enquanto minha cabeça travava batalhas pra desviar a atenção para outro lugar que não fosse àquelas pernas. Esse vestido vermelho estava um pouco curto demais...
— Alex? Você está ouvindo? — Morgana puxou meu rosto pelo queixo e me fez a encarar. — Estou bem aqui.
Limpei a garganta e e uni um pouco as sobrancelhas, tentando não deixar tão aparente o quão avoado estou essa noite. Droga, eu devia ter ficado em casa.
— Sabe, incrível como você consegue estar aqui mas não consegue permanecer aqui. — Ela juntou os braços e bebeu do ponche em seu copo vermelho.
— Não sei do que está falando. Estou bem na sua frente. — Dei de ombros e olhei de forma lúcida e sarcástica. Sei que a aborreci um pouco não prestando atenção em seu falatório. — Foi mal...
Ela sorriu um pouco menos irritada.
— Obrigada. Enfim, não sei como meus pais se aguentam às vezes, ein. — Seu suspiro era bem humorado. — Mas o resto da noite foi incrível. As crianças do orfanato adoraram os brinquedos novos e a cozinha para as ajudantes está em perfeito estado. Não terão problemas pra cozinhar e não faltará comida até o Natal do próximo ano. Estou feliz que cumpri minha meta pra esse bimestre.
— Não sei como não se cansa de trabalhar com essas coisas. E olha que ainda consegue manter os estudos em dia. — Era algo que genuinamente me impressionava. — Tô te falando, acho que somos irmãos de mães diferentes. — Brinquei.
Morgana revirou os olhos e soltou uma risada abafada por outro gole de ponche, desviando o olhar. Ela me deu alguns tapinhas afobados para que eu prestasse atenção.
— Olhe! Vannie e Bryan juntos. São tão lindos. — A Bittencourt falou melosa com um sorriso nos lábios caramelo. — Ela me disse que ele quer ter o próprio negócio, mas não tem condições pra isso e tal...sabe? Ela está o ajudando, emprestando dinheiro e essas coisas.
Franzi o cenho só de ouvir essa ideia. Emprestar dinheiro pra um coitado, só pode ser piada. Essa tal de Vannie perdeu qualquer parafuso que tivesse na cabeça.
— Ter o próprio negócio tipo... mecânico ou vendedor de picolé? — Não deu pra segurar o escárnio. Morgana cobriu a boca, disfarçando uma risada. — Ah, qual é, essa foi boa.
Ele se veste como um idiota, me cheira como idiota então pra todos os efeitos, ele é um idiota. Acho que coisas baratas e cafonas fazem essa suspeita se elevar pra mim.
Quando menos percebi, haviam aplausos e gritos animados quando uma música parou de tocar. Nossa atenção foi sugada para o centro do ginásio. Minha irmã é Tyler Cranberrie eram o motivo de todo o alvoroço.
— Não duvido que ela ganhe o concurso de hoje. Blair está incrível. — Morgana estava tranquila até seu celular tocar. — Caramba, o que minha mãe quer agora, ein?
E eu não notei tudo isso muito bem, porque de novo, eu prestava atenção em uma pessoa específica, que agora estava um pouco mais isolada.
Nate estava dançando com uma garota que nunca vi na vida, mês eu os cabelos escuros e longos desciam pelas costas. A brasileira estranha havia sumido, Alexa estava com as demais líderes de torcida...
E ela estava lá, bebendo um copo de ponche, sentada e batucando o pé no chão. Havia algo errado. Não estava no ritmo da música, não parecia ser genuíno. Era rápido, algo impaciente. Seus olhos escuros passeavam um pouco inquietos pelo ginásio.
Não se atreva a mexer, Alex.
No que ela estava pensando? Será que ao menos tem um par hoje? Pelo que Novac falou, ela terminou com o namorado.
Não faça porra nenhuma, Rutherford. Fique quieto e engula a droga do ponche.
Ela está incomodada. Algo está a corroendo, a retraindo. Ela não está sorrindo. Por que ela não sorri? Eu quero ver o sorriso.
Porra.
— Não achei que viria. — Meu tom era casual para esconder a surpresa.
Puta merda. Como eu vim parar aqui, caralho!?
— Não inverta os papéis. — Ela não olhou pra mim. Seus dedos cutucavam o zíper aberto do casaco de couro.
Ela tinha cheiro de lavanda. Nunca mudou, porra eu não sentia isso há anos...
— Eu sou a caloura. — Suspirou uma risada sem graça e se levantou, ficando encostada um pouco distante de mim. — Por que você veio?
— Não é uma festa sem a maior estrela. — Dei de ombros e eu notei sua revirada de olhos.
Eu queria estar mentindo agora. Queria poder dizer que as detenções foram uma perda de tempo, e que o ódio é o desprezo corroíam em meu sangue toda vez que eu olho para ela. Mas não consigo. Talvez seja essa a raiva que acumulo. A fraqueza que me deixa confuso e preso em argumentos.
Mas não era ruim conversar com ela como alguém normal. Sem as provocações. Pelo menos pelo curto tempo...
— Não deveria estar com seus amigos? — Questionou.
— E você não deveria estar com os seus? — E eu rebati.
Blake deu de ombros e, pela primeira vez se virou pra mim.
— Pare com isso. — Falou de forma direta.
Minhas sobrancelhas uniram confusas. Essa garota tem cada maluquice que me faz perder o rumo das conversas.
— Falei algo idiota sem saber? — Ironizei.
— Não, e esse é o problema. — Seu corpo se virou em minha direção. — Eu não quero que seja legal comigo. Não quero que se force a me aturar ou sei lá o que se passa nessa sua cabeça oca.
Seu tom era irritadiço, e eu acabei o pegando para mim vendo tamanha petulância. O que essa garota tem?
— Não pode vir aqui com papinho de cara legal como se estivéssemos numa boa por causa da droga da detenção. Porque você é igual a eles, Rutherford. — Ela aponta com o queixo para onde eu estava. — Quando acham que ninguém percebe a forma que vocês olham para as pessoas, como se fossem seus peões e que vocês controlam ela e acham que tem direito de julgar pelas costas. Mas sempre tem alguém que vê por trás disso. E eu não vou ser o peão de ninguém, você me entendeu? Acabou.
E tudo se embolou em minha garganta de novo. Seus olhos estavam fixos nos meus, e eu nunca vi uma raiva como essa. Eu queria falar a verdade. Queria que isso tudo acabasse, e que a droga da minha garganta soltasse o bolo quente de palavras que a sufocava. Mas eu engoli.
Guenevere se afastou, andando e se misturando pela multidão de pessoas no ginásio.
Ela não pode falar assim comigo. Como se soubesse de tudo, como se fosse a dona da razão, porra, essa garota não sabe de nada! Por que caralho eu ainda fico correndo atrás disso?! Enterra essa porra de uma vez, Rutherford!
— Isso tá longe de acabar...
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S.O.S Adolescentes No Ensino Médio (ORIGINAL)
RomanceÉ possível que o ódio desencadeie um amor? Ao conseguir uma bolsa de estudos para um colégio de elite em sua cidade natal, Bakersfield, Güenevere Blake acaba descobrindo as dificuldades que é estudar num ambiente rodeado de pessoas da classe alta. I...