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  Setembro de 2012        ( Alexander Rutherford Turner )        Talvez eu tenha me incomodado um pouco com a ausência de Blake depois de todos os ocorridos

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  Setembro de 2012
   
    ( Alexander Rutherford Turner )
   
    Talvez eu tenha me incomodado um pouco com a ausência de Blake depois de todos os ocorridos. Mesmo assim, senti que era melhor deixá-la em paz. Agora que fizemos as pazes, tudo vai ficar mais fácil, e eu posso dar início ao meu plano.
   
    — Ela vai matar você. — Daniel comentou, franzindo a testa e surpreso pela minha atitude. — Não cansa de ouvir ela berrando no seu pé do ouvido?
   
    — É, Danizinho, quando o cara tá apaixonado, só sabe agir igual bocó. — Timothy se aproximou e bagunçou meu cabelo como se eu fosse um irmão caçula.
   
    Hoje eu estava de muito bom humor, sorte a deles. Tudo estava sob controle. Meu controle. Logo, ficar pensando no que fiz ou deixei de fazer era irrelevante.
   
    Olhei para Novac com um sorriso mais do que satisfeito. Ele não estava impressionado com minhas atitudes, mas me olhava como se já estivesse de saco cheio por hoje, coisa rara.
   
    — Não me leve a mal, Rutherford. Fico feliz que conseguiu o que queria. — Daniel revirou os olhos e colocou as mãos no bolso, dando de ombros logo em seguida. — Mas não anula o fato de que você terminou discussões com ela só pra começar outra.
   
    — Eu falei pra ela que vou protegê-la. — Meu tom era destacando o óbvio de uma conversa que tivemos. — Questione meus resultados, mas não meus métodos.
   
    Timothy franziu o cenho e cruzou os braços.
   
    — Quanto mais o tempo passa, mais eu acho que você é burro. — Disse ele, respirando fundo. — Vê se não faz merda dessa vez... quer dizer, mais do que você teve que fazer de ontem pra hoje.
   
    — Aposto vinte pratas que ele vai levar, no mínimo, um tapa na cara. — O tom animado de Daniel voltou assim que ele olhou para Myers e lançou sua proposta.
   
    Olhei para os dois um pouco irritado. Qual é? Eles não confiam no meu potencial com garotas? Eu fiz um favor pra Guenevere e facilitei logo as coisas.
   
    — Trinta. — Timothy e Daniel fecharam a aposta num aperto de mãos. — Ela tem cara de que vai chutar o traseiro.
   
    — Vocês não cansam de encher meu saco, não é? — Revirei meus olhos e peguei meu material do armário.
   
    — E você não cansa de apanhar pra mulher bonita. — Daniel falou e seguiu na direção oposta que íamos.
   
    Esse jeito atrevido dele me dá vontade de o socar, vez ou outra. Mas conheço o melhor amigo que tenho, e é proposital. Timothy me irrita tanto quanto Daniel, mas são os únicos que, no fim de tudo, estão lá pra mim e me entendem, com todas as falhas.
   
    São meus irmãos.
   
    — Será que ela também vai puxar sua cueca na frente de todo mundo? — Timothy comentou com um sorriso divertido nos lábios enquanto andávamos pra aula.
   
    Me arrependo sempre que penso algo bom sobre ele, puta merda ein...
   
    — Por que decidiu fazer isso? Pergunta séria agora. — Seus olhos vagavam de mim para os corredores enquanto andávamos por West High.
   
    — Sei lá. Eu gosto dela, já disse isso. — Dei de ombros e continuei. — Não quero que nenhum outro cara chegue perto, e se todos souberem que é minha namorada, não vão mexer com ela.
   
    — Mas ela não é sua namorada, otário. — Seu tom era zombeteiro, me fazendo rir por um instante.
   
    Erguendo a cabeça e mantendo minha postura relaxada de sempre, segui confiante de que esse plano vai dar certo.
   
    — Ela não é minha namorada ainda. — Enfatizei. — Agora muda de assunto porque ainda tô pensando nas coisas que vou fazer.
   
    Ele parou de falar por alguns instantes. Quando entramos na sala, sentamos em nossos lugares próximos e ele cruzou as mãos em cima da mesa.
   
    — E o Diogo? Como vai ficar? — A pergunta de ouro que não podia faltar.
   
    Ainda nem olhei pra cara do maldito, mas tenho certeza de que fiz um ótimo trabalho. Não consegui evitar de sorrir orgulhoso, espreguiçando-me na cadeira e relaxando no encosto.
   
    — Além de expulsar ele do meu time, vou garantir que ele não chegue perto nem da sombra da Guenevere. Nem na nossa. — E eu até o expulsaria de West High, mas o Diretor Colleman não tem um aluno preferido.
   
    Se os dois tem dinheiro, podem muito bem dançar o tango. Ganha aquele que o subornar mais, e eu não tô afim de dar meu dinheiro de mão beijada. Na realidade, quero que o desgraçado do Diogo Hernandez permaneça bastante por aqui, vendo sua reputação ser pisada, destruída bem lentamente.
   
    — Vívian vai matar você. — Von Myers apontou algo óbvio. — Sabe disso, não sabe?
   
    Seu corpo se virou em minha direção, como se estivesse falando muito sério.
   
    — Quando souber da Guenevere e que você se afastou de Morgana também.
   
    — Não me afastei da Morgana. — Desviei o olhar, não muito feliz por ele ter entrado nesse assunto. — Não quero alguém do meu lado que vá contra o que eu quero.
   
    Morgana, assim como Daniel e Timothy, só quer me ver bem e feliz. Ela nunca me deixou na mão, até o momento que soube sua marcação com Blake. Porra, eu sei os riscos que estou tomando por querer estar ao lado de Guenevere, mas agora, isso é um assunto que só eu vou resolver.
   
    Não ligo mais pra merda nenhuma a não ser ela.
   
    — Vívian não vai me controlar pra sempre. — Cruzei os braços e tentei não ficar tão irritado com esse pensamento. — Posso escolher quem eu quero por perto e quem eu não quero. Se Morgana não aceita isso, ela está do lado da minha mãe, e não do meu.
   
    Timothy suspirou e afagou meu ombro com alguns tapinhas. Ele entendia melhor do que ninguém o que é viver numa família que sufoca e controla até demais. A diferença é que ele aprendeu comigo a não ser imprudente, e eu aprendi com ele a burlar algumas das regras.
   
    Daniel não compreende tão bem, já que teve sorte de crescer com uma família bem sucedida e adorável, que consegue ser minha segunda mãe e pai que nunca tive.
   
    Já Timothy prefere distância de tudo que envolva família em geral, pelo seu passado não muito agradável. Ele confia apenas em mim e Daniel, e é plausível seu motivo. Estamos aqui um pro outro, e é assim que a Tríade se mantém intacta.
   
    Diogo foi o infeliz que tentou entrar. Minha mãe sempre obrigou minha simpatia para o manter perto por conta de sua família, mas agora eu quero que se dane. Perder um contrato não é o fim dos tempos, e o lucro que deixamos de ganhar não faz cócegas no bolso de ninguém.
   
    Infelizmente, é um beliscão no ego de algumas pessoas. Pelo menos, não no meu.
   
    — Isso vai ser complicado. — Ele sorriu de forma maliciosa. — Mas quero ver no que vai dar. Até quando ela vai aguentar o filhinho rebelde?
   
    Sorri de volta, sabendo que ele me entenderia. Me ajudaria no que eu precisasse.
   
    — Não por muito tempo, se depender de mim.
   
    E com certeza vou conseguir o que quero. Porque é sempre assim.
   
   
   
   
    As aulas foram normais na maior parte do dia. Quando o sinal bateu, todos estavam correndo para o intervalo. Como hoje eu estava de bom humor, decidi andar com o pessoal de lacrosse pra discutir algumas jogadas que poderíamos fazer no dia do jogo.
   
    Vamos jogar contra os maiores rivais, claro. Os Juniors da O.J Actis School. Simplesmente o time que tem o número de vitórias igual o nosso. Uns incompetentes, se querem saber minha opinião.
   
    Nossa rixa é restrita aos campos, segundo aos treinadores e tudo mais, mas além de West High ser claramente melhor nos jogos, conseguimos ser melhores em todas as outras coisas. Colégio público é um terror, igualzinho o time patético deles.
   
    — Ei, Alex. Eu estava procurando você, acredita? — Daniel apareceu pela mesa de repente.
   
    Achei estranho, afinal, nessas horas ele fica com o pessoal da informática conversando sobre os programas de cdf que eles gostam ou algo assim.
   
    Uni as sobrancelhas confuso. Seu tom sugeria um tipo de preocupação. Ele passou um braço em volta de meus ombros e tentou me puxar para outro lugar fora dali.
   
    O impedi, tentando entender que diabos ele já estava inventando.
   
    — Que foi, Novac? Se for alguma brincadeira sua... — Estreitei meu olhar em sua direção e ele coçou a nuca. — Desembucha.
   
    — Estou tentando ajudar. Cala a boca e vem logo antes que... — E sua voz foi cortada.
   
    Me afastei de seu braço e acabei esbarrando sem querer num corpo baixo, bem atrás de mim. Virei incomodado até perceber quem era.
   
    — Guenevere...! — Sorri por um instante até notar que ela não estava nem um pouco sorridente.
   
    Sua expressão era séria, mas percebendo da forma que batucava o pé no chão e olhava, vez ou outra, para os arredores, ela estava nervosa. Impaciente também, eu diria.
   
    — Quero falar com você. — Blake cruzou os braços e eu continuei a encarando, esperando que ela falasse. — A sós.
   
    E o pessoal que estava por perto acabou soltando burburinhos e assobios. Mesmo usando maquiagem pra cobrir seu rosto e as sardas, coisa que me irritava por dentro, era possível notar suas bochechas corando.
   
    Não consegui evitar um sorriso ladino, apreciando aquela cor que caía tão bem nela. Vermelho. Caramba, até irritada essa garota consegue ficar bonita, porra. Vou perder a cabeça desse jeito.
   
    — Depois de você. — Acenei com a cabeça e ela virou o corpo, começando a andar rapidamente para fora do refeitório.
   
    Segui logo atrás, também apreciando aquele corte de cabelo que simplesmente transformou ela em outra pessoa. Não acho que nada consiga arruinar tamanha beleza, e me sinto patético por pensar dessa forma por causa de uma garota. Tenho que ter uma cabeça mais firme.
   
    Esse uniforme cai bem pra caralho nela, inclusive.
   
    Rapidamente, Blake pegou na minha mão e me puxou pra uma sala pequena e levemente estreita. O cheiro era úmido e fresco, como produto de limpeza. Estranho...
   
    Ela acabou de nos fechar dentro do armário do zelador.
   
    — É algo tão ultra secreto assim que precisa me falar? — Satirizei olhando ao redor assim que uma pequena luz foi acesa.
   
    Meus olhos voltaram pra Blake e agora ela parecia muito brava.
   
    — Você perdeu o juízo?! Tá ficando maluco agora!? — Exclamou, enquanto apenas a observei sem muita reação.
   
    Isso já estava previsto em meus planos. Agora, tudo a se fazer é manter a calma e deixar ela falar.
   
    — Onde estava com a cabeça de espalhar pra todo mundo que estamos namorando?! Você tá brincando comigo? — Ela gesticulava com o corpo inteiro praticamente.
   
    Virei um pouco a cabeça de lado e descansei na pequena mesa que tinha próximo dali.
   
    — Bem, não sei porque está tão surpresa. — Comentei e recebi um olhar estreito. — Falei que iria proteger você.
   
    — Falou que iria me proteger, não me namorar, seu mala sem alça! — Blake me deu um empurrão que na verdade, não foi nada demais. — Por que fez isso? Agora tá todo mundo me tratando de forma estranha!
   
    Minhas sobrancelhas franziram, e logo em seguida, cruzei os braços para começar a debater essa ideia.
   
    — Até onde eu sei, não estão incomodando ou fazendo piadas. Não era isso que queria? Ser deixada em paz?
   
    — Alex, todo mundo tá na minha cola depois dessa mentira que você falou. Querendo forçar amizade e fazendo perguntas sobre esse namoro falso! — Agora ela estava agindo como se estivesse desesperada. — Precisa desmentir tudo isso.
   
    — E por que eu faria isso? — Genuinamente gostaria de saber. — É tão ruim ser minha namorada?
   
    Blake revirou os olhos e respirou fundo.
   
    — Alex Rutherford Turner, se você soubesse o tanto que quero bater em você, não estaria brincado com a minha cara. — Seus olhos escuros me encararam irritados.
   
    — Eu te fiz uma pergunta. — Fiquei na defensiva, dando de ombros casualmente, meus olhos não saíam dela. — É melhor que gostem de você do que te façam mal. Deveria me agradecer.
   
    Seu corpo se aproximou numa marcha forçada. Dava pra ver o quão nervosa e impaciente ela estava. Ela precisa relaxar um pouco, não é o fim do mundo. Ela não percebe que estou tentando ajudar?
   
    — Me dá um bom motivo pra não acabar com você depois dessa. — Ela disse entre dentes.
   
    Blake se aproximou o suficiente pra que seu perfume me estrangulasse. Engoli seco, sentindo o aroma da lavanda acabar com o resto da sanidade que eu tinha. Essa garota não tem ideia do que faz comigo, merda.
   
    — Só um? — Alternei o olhar entre seus olhos e esperei uma resposta.
   
    Ela acenou com a cabeça.
   
    — Se você insiste. — E prontamente, puxei ela para mais perto com ambas as mãos em seu quadril.
   
    Seus olhos arregalaram logo em seguida, e ambas as mãos ficaram pressionadas em meu peitoral. Guenevere poderia me afastar a qualquer momento, mas não o fez.
   
    Troquei nossos lugares, e levantando-a brevemente do chão, a coloquei sentada em cima da mesa e me posicionei entre suas pernas. Eu sentia seu nervosismo e o sangue percorrendo seu rosto, o deixando-o corado. Senti o calor irradiar de seu corpo, e eu posso ter quase certeza de que seu coração sairia pela boca a qualquer instante.
   
    — O-o que pensa que tá fazendo? — Blake colocou a mão em meu peito e me afastou por um instante.
   
    — Me pediu pra dar um motivo. Um bom motivo. — Seus lábios semi abertos eram convidativos e eu queria me aproximar cada vez mais.
   
    No momento seguinte, a mão delicada que me empurrava agora desliza pra longe, dando espaço para que eu me aproximasse mais.
   
    Quando finalmente pude sentir seus lábios nos meus, era como se o tempo tivesse parado pra que eu apreciasse cada segundo. E eu não perderia nada disso, já que agora era meu.
   
    Tentei ser calmo no começo, seguindo o ritmo que ela decidisse. Mas foi tudo por água a baixo quando senti suas unhas arranharem minha nuca, puxando-me pra mais perto. Enquanto segurei firme sua cintura, mergulhei para um beijo mais denso, não querendo me separar até precisar de fôlego. E a cada segundo que passava, me via mais sedento pelo seu gosto e seu toque.
   
    Percebi que estava completamente rendido por Guenevere quando senti a mordida lenta soltar meus lábios devagar, e enquanto o ar voltava para nossos pulmões, seus olhos escuros não desviavam dos meus.
   
    Blake me empurrou rapidamente quando a porta se abriu, e por acidente, fomos descobertos pelo zelador. Seu corpo foi para trás do meu, envergonhada.
   
    — Caramba. — Jimmy pareceu surpreso, e não irritado. — É a primeira vez que vejo o senhor aqui, Rutherford.
   
    Acenei com a cabeça um tanto sem graça e bem frustrado.
   
    — Foi mal aí, Jimmy... — Fui sincero. Ele nunca se importou muito com minhas pequenas infrações.
   
    Espero que ele possa ser compreensível. Afinal, ele deve saber como é esse tipo de situação...
   
    — Que nada. Eu cansei de ficar arrastando o Novac pela orelha pra fora daí no meu tempo livre. — Ele respirou fundo, aparentando cansaço. — Só preciso do esfregão e eu caio fora.
   
    Ele apontou para onde estava o esfregão, logo atrás de Guenevere. Me virei e, completamente confusa, ela me entregou e eu dei para Jimmy. Ele sorriu minimamente e antes de sair, deixou um recado.
   
    — Não demorem muito ou vou ter que arrastar você pela orelha dessa vez, Turner. — Seu tom era até paterno.
   
    Dei um tchauzinho e voltei minha atenção para o que realmente importava.
   
    — Então, onde estávamos? — A puxei para perto de novo. — Sendo minha namorada, pode me pedir outros motivos quando quiser...
   
    Blake desviou o olhar de forma tímida, visivelmente desconcertada sobre a situação. Não deixava de ser fofo, e eu adorava ver ela desse jeito.
   
    — Volte pra realidade, Rutherford. — Seu corpo se afastou. — Não é assim que um namoro funciona. Isso aqui não é real.
   
    Isso me deixou irritado, por um lado. Não entendi, eu fiz algo errado?
   
    — Então como funciona? — A questionei. — Se quer algo específico, voce pode falar. Quer que eu compre anel e flores e essas coisas bregas?
   
    — Não, Alex, não é isso. — Ela coçou a nuca, parecia completamente perdida nos pensamentos. — Não podemos namorar.
   
    Tá, agora quem tá ficando maluca só pode ser ela. O que tem de errado? Eu pedi desculpas, eu ajudei ela, não tá óbvio que eu escolhi ela?
   
    — Por que não?
   
    — Porque... — Guenevere procurava por respostas, mas mesmo abrindo a boca e esperando as palavras saírem, tudo que ouvi foi um silêncio.
   
    E que maldito silêncio. Conseguiu tirar completamente minha paciência.
   
    — Me odeia tanto assim? — A encarei, sabendo exatamente o que ela pensava, mas não conseguia falar.
   
    — Você deveria me odiar tanto quanto eu te odeio. Mas então, você me beija, e me faz questionar todas as discussões que tivemos e... E então, simplesmente decide que estamos namorando. — Agora ela parecia magoada. — Eu não sei como você quer que eu reaja, mas está me fazendo sentir que sou uma garota idiota de coração mole e iludida.
   
    Eu estou forçando tanto a barra assim? Não quero pressionar ela, eu só achei que seria melhor e que ela pudesse repensar nas coisas. Pensei que estávamos seguindo a mesma linha, no mesmo ritmo, mas agora sinto que estou forçando ela.
   
    — Então me odeia. Mas não completamente, certo?
   
    Ela franziu um pouco a testa.
   
    — Porque se me odiasse tanto, não me deixaria beijar você. Não me deixaria nem chegar perto. — Concluí. — Então tem uma parte sua que gosta de mim.
   
    Blake chegou a separar os lábios para falar alguma coisa, entretanto não saiu nada. Acertei em cheio na minha suposição. Me aproximei de seu corpo e toquei seu rosto, sentindo o calor de seu rosto.
   
    — Vou abusar dessa parte até que reste somente ela aí dentro. — Proferi, vendo sua pupila dilatar. — Porque eu não quero mais ficar ignorando você, fingindo que isso não me deixa mal pra caralho. Não quero dar espaço pra outros caras virem e cercar o que é meu. Nem pensar.
   
    Blake desviou o olhar, pensativa demais sem emitir som algum depois do que eu falei. E foi como se um peso diminuísse de mim.
   
    Eu nunca consigo comunicar o que sinto, nem entender as pessoas muito bem. Mas com ela sempre foi diferente. Blake consegue preencher e alcançar espaços diferentes dentro de mim, e isso me deixa bem. Faz a dor da saudade diminuir e a garganta relaxa para que as palavras pudessem fluir melhor. E eu não faço ideia do porquê só ela consegue ter tantos efeitos positivos em mim.
   
    Só sei que não posso perder isso. Não mais. Porque é meu.
   
    O sinal tocou, e agora, todos deveriam voltar para as classes. Me senti frustrado em não ouvir sua resposta, já que ela pareceu aliviada com o som.
   
    — Conversamos depois. Eu preciso... Eu preciso pensar nisso tudo. — Proferiu, ainda desviando o olhar.
   
    — Então vai me dar uma chance?
   
    — Isso está na lista de coisas que vou pensar. — Blake assentiu e abriu a porta, saindo rapidamente e me deixando sozinho.
   
    A impaciência e ansiedade voltaram com tudo, começando a me estressar. Mas eu sei que pra ganhar essa, preciso ter paciência. Muita paciência.
   
    E por ela, talvez eu possa ter.

S.O.S Adolescentes No Ensino Médio (ORIGINAL)Onde histórias criam vida. Descubra agora