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  Agosto de 2012    ( Alexander Rutherford Turner )      Por que ela?     Maldita pergunta que ficou martelando em minha cabeça

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  Agosto de 2012
 
  ( Alexander Rutherford Turner )
 
 
  Por que ela?
 
  Maldita pergunta que ficou martelando em minha cabeça. Aquela que eu tinha a resposta, mas me recuso a alimentar algo que não deveria existir. Eu deveria mentir até que se tornasse realidade, mas era ridículo tentar me enganar.
 
  Pensei que ela não se lembrava de mim, e deveria ser assim. Ela deve ficar longe, deve me odiar. Por mais que eu odeie saber que ela queira me ver longe, é melhor e as coisas devem ser assim.
 
  Por que ela?
 
  — Porra, Rutherford! Presta atenção! — A voz de Gybson soou do outro lado do campo, me fazendo voltar pra órbita.
 
  Que merda. Treinar de cabeça cheia é uma droga!
 
  Respirei fundo e ajustei o capacete. Preciso focar ou o treinador vai arrancar minha cabeça.
 
  Tenho que ser o melhor. Eu sou o melhor.
 
  Corri rapidamente pelo campo quando ouvi o apito. Minhas mãos seguraram firme o taco enquanto o vento balançava a redinha.
 
  Meus olhos não saíram da bola que era passada pelo pessoal. Os malditos estavam perto do nosso campo de ataque, próximos de conseguir marcar o ponto. Agilmente, me aproximei e colidi a lateral do corpo contra o adversário e consegui pegar a bola quando ela deslizou pra grama.
 
  — Tô livre! — Novac gritou na outra metade do campo, longe o suficiente pra conseguir retomar o nosso ataque.
 
  Me virei e lancei a bola com toda a força e precisão que pude. Daniel conseguiu pegar e continuou o caminho pelo campo. Diogo apontou com o queixo para onde eu deveria ir e puxou Timothy para ficarem próximos de Daniel.
 
  A jogada passada pelo treinador, onde eu era a peça principal, claro.
 
  Minhas pernas não doíam como antes. Vantagem por treinar todo dia. Então correr rápido era fácil. Fazer todos comerem poeira era meu forte.
 
  — Myers! — Gritei, fazendo-o focar e pegar a bola em seguida.
 
  Timothy correu e quando estávamos de cara pra rede, prestes a pontuar, ele lançou a bola de volta para mim. Segurei o taco forte, meus pulmões inflaram e meus olhos se concentraram no objetivo mais ainda.
 
  Preciso ser o melhor do time, e vou ser.
 
 
  C
 
  om toda a força que eu tinha, arremessei a belo assim que vi a trave no meu campo de visão. Quando a rede balançou e o treinador apitou, meu corpo conseguiu relaxar um pouco mais, a euforia descarregou.
 
  — E isso, porra! — Timothy jogou o capacete no chão e esbanjou toda sua adrenalina vitoriosa.
 
  Diogo e Daniel fizeram suas dancinhas bregas pelo campo e o olhar meio decepcionado do outro time era mais do que evidente. Idiotas. Se tivessem se esforçado mais, poderiam ter conseguido.
 
  Ou não. Não conseguiriam me vencer nem se treinassem pelo resto das vidas.
 
  — Esse é meu número 14! — O treinador se aproximou e sua voz esboçava o orgulho.
 
  Seus tapinhas no ombro eram algo que me deixava mais tranquilo. Respirei fundo e tirei as luvas de proteção, tendo que ouvir seu parlapatório de sempre, o que não era ruim.
 
  — Continue assim, filho. Está se saindo muito bem. — Seus tapinhas foram desferidos. — Mas já avisei para não entrar em campo de cabeça cheia. Poderia ter se saído melhor.
 
  Esses dias estão sendo como o inferno em minha cabeça, mas a última coisa que preciso é ouvir sermão por isso. Sei que dei uma bobeada.
 
  — Não se preocupe. Estou bem. Ganhei, e é isso que importa. — Dei de ombros e tirei o cabelo da testa, colado pelo suor.
 
  — Vá descansar. Você merece. — Foi tudo que ele disse, pegando sua prancheta e saindo de circulação.
 
  Comecei a andar em direção ao vestiário masculino. Preciso de um banho pra esfriar mais a cabeça. Meus músculos doem o suficiente para ser incomodo, e tudo que eu queria era ocupar minha mente e parar de lembrar dela. Da voz irritante dela.
 
  Por que ela?
 
  Sendo arrancado das bobagens que circulavam em minha cabeça, Timothy e Daniel se aproximaram cantarolando bobagens. E Diogo? Que se dane. Esse cara tá brincando com minha cara esses dias. E com certeza, não tenho paciência pra esse idiota.
 
  — Desencosta. — Não quis soar tão ríspido, mas estou sem saco pra nada.
 
  Os dois reviraram os olhos e tiraram os braços do meu pescoço. Atravessei a porta do vestiário e procurei pelo meu armário.
 
  — Parece que alguém tá de mau humor. — Daniel e seu tom irônico se formou, me fazendo respirar fundo. — Nós vencemos o treino. Deveria estar bem, não é?
 
  — A cabeça dele não estava no campo. Não me surpreende a falta de um sorriso arrogante. — Myers entrou na onda de Daniel, usando o mesmo tom.
 
  Eu não deveria estar de mau humor, de fato. Mas é difícil não estar quando, na sua cabeça, tem uma batalha travada entre razão e emoção, coisa que nem deveria cogitar acontecer comigo. Tudo por culpa de um par de olhos escuros e sardas... várias sardas.
 
  — Bom, não sei vocês, mas essa tarde tem fliperama. — Daniel dizia enquanto trocava de roupa.
 
  — Claro que vamos. — Timothy falou por mim, recebendo um olhar não muito afável de minha parte.
 
  — Não fale por mim. — Deixei claro. — Vou ficar em casa. Não quero nada além de deitar na minha cama e olhar pro teto.
 
  Timothy me olhou como se estivesse cara a cara com um louco ou algo parecido. Parecia tão chocado que me deixou confuso, mas continuei organizando minhas coisas para sair.
 
  — Qual é, cara! Estamos falando disso faz dias. Você estava amarradão na ideia. — Myers insistiu. — Te pago o que quiser.
 
  — Pff, fala como se eu não tivesse condições de bancar meus gastos. Cala a boca, Timothy. — Revirei meus olhos enquanto amarrava os sapatos. — E outra, tenho que ficar de olho na minha irmã. Ela não pode ficar sozinha por aí.
 
  — Blair tem dezesseis anos, não onze. — Retrucou ele, batendo a porta do armário e trancando com sua senha.
 
  Nova suspirou com seu sorriso ladino, seu piercing no nariz brilhou em reflexo da luz e eu franzi o cenho, pensando no que ele estaria prestes a falar.
 
  — Belos dezesseis, se me permite dizer. — Daniel continha o tom ousado na fala, irritando-me como sempre fazia.
 
  — Não permito. — O repreendi com o olhar. — Inclusive, você calado está ótimo pra mim.
 
  Seu corpo se encostou no metal enorme dos armários e as mãos foram no bolso. A pose relaxada e sem problemas que ele sempre tinha. Um pirralho brilhante com pose de problemático. É teimoso, e eu perco a cabeça com ele sempre, mas é um puta amigo incrível que não me arrependo de conhecer.
 
  Às vezes me arrependo um pouco, admito...um pouco...
 
  Merda, mentir na minha cabeça não rola.
 
  — Por que você não leva ela? Assim, ela convida algumas amigas pra ir junto. — Daniel sugeriu, dando de ombros casualmente. — Elas de um lado, nós de outro... e você com os olhos nela, se esse é o problema.
 
  Timothy fez beiço por um momento e bagunçou meu cabelo.
 
  — Irmão mais velho sofre, não é? Agora sabe como funciona comigo e com a Liv. — Ele cruzou os braços.
 
  — A diferença é que a Olívia tem oito. Dar trabalho é a única obrigação dela mesmo. — Rindo leve, Novac cita sobre a irmãzinba de Myers. — Enfim, cara, você deve ir. Vai ser legal, e você está precisando ocupar a cabeça. Sabe-se lá o que tá aí dentro.
 
  — Pensei até que fosse oco. — Assim que Myers solta a piadinha, dou um soco em seu braço, mas não consigo conter um suspiro de humor.
 
  Esses caras são idiotas, mas sabem como levantar o humor de alguém. Essa é minha Tríade, insuperável. Talvez eu precise sair um pouco mesmo, esquecer que quero me sabotar e me aproximar dela de novo. Tenho que ficar longe.
 
 
 
  — Já tá todo mundo lá, Blair. Vai logo! — Avisei, não em um tom rude, mas informativo.
 
  Estávamos em meu Maybach, parados na frente de uma casa de uma das amigas de Blair. Iriam atrás enquanto eu dirigia e Morgana estava ao meu lado, mexendo no celular enquanto sintonizava em alguma rádio local que prestasse.
 
  O dia estava bom o suficiente pra esse passeio. Coloquei meu óculos de sol e admirei pelo espelho. Me senti melhor, relaxado e com problemas a menos em minha cabeça. Porra, acho que era essa saída que eu precisava.
 
  — Blair adora sair com você. Sempre está animada. — A Bittencourt falou enquanto passava alguma maquiagem em seus lábios, olhando no espelho de bolso que levava para todo canto que ia.
 
  Gosto da minha irmã. Blair não é igual a mim, e quero que ela seja a melhor versão dela possível, longe de sanguessugas, longe da pressão e de holofotes, longe de ser obrigada a fazer o que não quer. Ninguém fará ela se sentir mal enquanto eu estiver por perto, e assim vai ser. A mamãe não entende isso, talvez ela nem se importe como eu.
 
  E quando é que ela se importa com algo que eu digo? Essa merda nem é necessária.
 
  — Normalmente é ela que me puxa por aí, você sabe. — Passei os dedos pelo meu cabelo, deixando para trás. — Ela topou e, não faz mal levar alguma amiga que ela goste.
 
  — Você é um doce de irmão. Até acho que a mima um pouco. — Morgana sorriu. — Mas eu estaria mentindo se dissesse que ela não merecesse tudo isso.
 
  Me senti mais aliviado em saber que eu estava fazendo o certo. Sorri para Morgana. Minha melhor amiga sempre sabe o que dizer para me animar em situações não muito agradáveis, e conhecê-la desde pequena era uma vantagem.
 
  Tentamos ter algo mais um tempo atrás, mas não rolou. Não consigo ver ela como uma namorada ou algo do tipo. Morgana é uma amiga incrível, quase como uma irmã mais velha para Blair. Sempre me ajudando e apoiando, e assim faço o mesmo com ela.
 
  — Só não abuse de minha "doçura". Só estou de bom humor. — Estreitei o olhar em sua direção.
 
  — Ora, deixe de ser abusado e apenas aproveite. — Um tapinha em meu ombro foi desferido. — Tem um pessoal por lá que veio de Los Angeles, sabe? Daquela faculdade que eu te falei. Eles são super legais, você precisa conhecê-los.
 
  Não me parecia uma má ideia. Universitários, talvez filhos de gente importante. Um bom contato social é sempre essencial em público, uma imagem forte e confiante. Ser o melhor. Isso vai ser mais interessante do que pensei.
 
  — Desculpa! A Charlotte estava ajudando a Pam com a maquiagem e eu tive que consertar o tom do batom coral dela. — Blair abriu a porta e deixou as garotas entrarem primeiro. — O tom coral estava terrível, parecia mais um terracota sem graça.
 
  Suas dicas e comentários sobre moda não me chamavam muita atenção. Eu não entendo de nada disso, deixando Blair ser a encarregada para qualquer situação do gênero. Troquei a marcha e arranquei pela estrada na direção do fliperama.
 
  Demorou poucos minutos para chegarmos no lugar, e como previsto, estava bem movimentado. Vi Timothy e Daniel esperando perto da entrada, conversando com caras do time de Lacrosse e um pessoal com casacos de universidades. Estacionei e virei a chave, colocando no bolso.
 
  — Fiquem por perto. — Falei para as garotas que, provavelmente, nem me deram ouvidos. Saíram entre risadas e cochichos até o lugar.
 
  Ao lado do fliperama tinha uma sorveteria, então era normal a oscilação de pessoas de um lado ao outro.
 
  — Aqui! — Morgana chamou alguém, um casal, que se aproximou de nós.
 
  Analisei ambos de cima a baixo. Universitários. Pareciam ser importantes, tirando o cara que estava mais para um caipira qualquer. Sorri de modo ínfimo, estendi a mão e cumprimentei firme.
 
  — Vannie, esse é Alex Rutherford, meu amigo. — Morgana ficou sem graça.
 
  Há um tempo, sei que ela não lida muito bem com nosso término, mas pela nossa amizade, ela prometeu que ficaria bem. Não me preocupo muito, entretanto, algumas coisas me fazem pensar demais.
 
  — Alex, essa é minha amiga da universidade, Vannie. Nos conhecemos fazendo compras em Ottawa. E esse é o namorado dela...?
 
  — Oh, esse é o Bryan. — A garota chamada Vannie grudou no braço do cara. — Ele é meu namorado. Estamos juntos faz dois meses, e ele é calouro na universidade de Los Angeles.
 
  O cabelo dele era um encaracolado não muito evidente, escuro e estranho. Algo nesse cara era furada...
 
  — Sou Bryan Tropez, prazer em conhecer vocês. — Ele sorriu de forma amigável.
 
  — Que lindos! — Morgana comentou sorridente. — Como vocês se conheceram?
 
  — Num aplicativo online, até descobrirmos que somos da mesma universidade, acredita? Que mundo pequeno. — Vannie riu.
 
  Percebi o olhar dele em mim. Analisando-me de cima a baixo. Provavelmente está tremendo como um medroso, sentindo-se intimidado por minha presença e importância. Todos me conhecem, todos sabem quem sou.
 
  Não seria novidade ver alguém mijar nas calças só por respirar o mesmo ar que estou. E esse cara tinha algo parecido com esse tipo de gente. Ele é estranho, meus instintos gritam isso.
 
  — Novac e Myers me esperam. — Falei, após minutos de conversa entre as garotas. Aceno de cabeça e apenas saio dessa situação desconfortável.
 
  Não vou perder meu tempo com esse cara. Tropez? Que raios de sobrenome é esse? Não está nas empresas, não é famoso, não é importante. E quando é sem importância, não é da minha conta.
 
 
 
  Apostas bobas e latas de Pepsi sendo repassadas pelo resto do dia. Foi o suficiente para me deixar focado em qualquer outro pensamento. O dia de ontem foi melhor do que pensei que seria, e fico feliz em saber que não desisti de fato. Seria uma droga ficar no quarto, preso em minha cabeça como constantemente fico.
 
  Odeio quando Myers ou Novac estão certos sobre algo relacionado a mim. Parecem até que me entendem melhor do que eu, e que ridículo ficar fora do controle, não é? Isso não é pra mim.
 
  Não admito que me ajuda, mas no fundo, sei que eles sabem. Acho que sou péssimo com palavras.
 
  — Tá tudo bem? — Blair, sentada do outro lado da mesa comendo seu cereal colorido com iogurte e frutas, perguntou de cenho franzido. — Mal tocou no café da manhã.
 
  — Acho que está muito cedo, talvez... — Dei de ombros, olhando os ovos e panquecas sem tanto ânimo.
 
  — Está pensando demais... de novo. — Sua boca de encheu com uma colher moderada de fruta e cereal. Ela tinha razão. — Você já se exercitou?
 
  Acenei com a cabeça, começando a cortar a massa. Eu precisava ter uma boa alimentação praanter o corpo e desempenho. Hoje tem mais treinos e, dessa vez, tenho certeza que vou entrar de cabeça tranquila naquele maldito campo.
 
  — Você sempre come sete da manhã. Cedo seria se fosse cinco. — Ela disse. — Aconteceu alguma coisa? Você e a mamãe discutiram?
 
  Blair também era uma das únicas que poderia me arrancar sorrisos sinceros. Encarei ela com ar ameno.
 
  — Estou bem, abelhinha. Deixe de se preocupar. — Finalmente comi alguma coisa. — Sabia que isso pode causar rugas?
 
  Os olhos da garota arregalaram e ela largou a colher, massageando a face, me fazendo rir pela reação.
 
  — Você acha que vou ficar como a mamãe? — Ela suspirou, sentindo sua pele normal de sempre mas aumentando minha risada pouco mais, me acompanhando em seguida.
 
  — Sem perguntas difíceis no café da manhã. Mas você é você... não vai ser igual ninguém. — Continuei comendoz e esse comentário pareceu deixar ela feliz. Acho que fiz certo.
 
  Falar com Blair, Morgana, Timothy ou Daniel era mais fácil do que qualquer outra pessoa. Por mais que eu tenha dificuldades em achar as palavras necessárias, acho que consigo me virar vez ou outra.
 
  — Vamos logo. Não posso chegar atrasada, já que estou ajudando o Grêmio Estudantil com o baile de boas-vindas nesse sábado! — Blair levantou-se da cadeira animada e buscou suas coisas na sala.
 
  A empregada se aproximou e começou a limpar a sala de jantar, e eu me levantei, pronto para ir também. West High aguarda meu brilho.
 
  E por falar em West High, minha cabeça volta para a maldita coisa que eu queria esquecer. Que inferno!
 
  [•••]
 
  — E então, ela do nada veio com esse papo de namoro e toda essa coisa brega, e eu falei 'mas nem a pau, gata!' — Gybson falava sobre alguma garota que pegou ontem, sendo bem recebido suas histórias com risos e comentários de outros caras do time.
 
  Ter várias garotas era algo que pensavam sobre os caras do time, e não era mentira. Já tive algumas um tempo atrás até perceber que isso não é pra mim. Não posso me prestar o papel de deixar qualquer garota ficar por perto, ter algo comigo. Não sou qualquer cara, e todos sabem disso. Então não acham estranho eu ser tão seletivo com elas.
 
  Sei que estou mais do que certo com isso. Pessoas como eu não podem ficar com qualquer uma. Seria uma piada.
 
  — Que droga, vai ter a aula insuportável da Hillary hoje. — Daniel revirou os olhos.
 
  Com aceno de cabeça, chamei ele e Myers para sairmos desse estacionamento e andarmos pelo corredor, afim de procurar os armários e prepararmos para as aulas, como os fodas que somos.
 
  E eu não aguento mais ouvir esses idiotas falando de comer garotas o tempo todos Parece que nunca viram uma na vida. Haja paciência pra ser capitão de um bando de bundões.
 
  — Tenho música. Não preciso me preocupar com nada. — Myers deu de ombros e chegou no armário.
 
  Me encostei por um momento, esperando por ele e Novac. Suas conversar começaram a ficar inaudíveis para mim, até que nada tinha som. Eu estava dentro da minha cabeça novamente, ocasionado pela presença da pessoa que eu deveria evitar. Acho que repeti isso mais vezes do que posso contar, mas agora não sei de nada.
 
  Ela estava no próprio armário, alguns metros longe. Dispersa, seus cabelos negros soltos, caindo por seus ombros e parando em sua cintura. Aquele uniforme que encaixava em seu corpo como uma luva, comparável a uma boneca. Mas nada de sardas... e eu queria ver todas elas.
 
  Babaca, foi você que a fez as esconder, pensei. E não era mentira. Eu era um babaca prestes a enlouquecer.
 
  Ao lado dela, seu amiguinho convencido, bolsista como ela. Quase sempre juntos, me irritando. Parece até proposital.
 
  E mesmo sendo irritante, eu não queria parar de olhar. Seus movimentos eram delicados, sua boca avermelhada sempre esboçava um leve sorriso e me fazia sentir algo dentro. Cócegas estranhas.
 
  Por um momento, voltei a ser criança.
 
 
 
 
  — E quem é que tem coragem de beijar uma garota feia dessas? Cheia de sarnas no rosto? Credo...
 
  Esse eram os comentários que faziam por toda a parte desde o dia que Alex e Blake foram parar no closet de sete minutos do céu. Não se sabia ao certo se rolou algo ou não, mas todos presumiam coisas.
 
  Alguns diziam que era improvável Alex querer beijar alguém como ela. Outros ficaram com pena dele, pois foi obrigado a ter que entrar lá ou algo parecido. Haviam diversas desculpas mas todas levavam para o mesmo caminho, onde Blake era a culpada.
 
  — Ei, garota! — Alex se aproximou de Jude, não muito paciente. — Onde a Blake está?
 
  Jude tinha o rosto corado pelo sol, mas desanimado pela melhor amiga. Ela esfregou o antebraço não muito confortável, quase que decepcionada, antes de falar. O vento era forte, e as nuvens começaram a cobrir o céu, indicando que uma chuva passageira aconteceria há qualquer momento.
 
  — Ela não quer sair da cabana. — A morena disse, sentindo um pouco de culpa em seu interior. — Eu não deveria ter levado ela para aquela brincadeira de verdade ou desafio... é culpa minha...
 
  — Não quero saber de chororô, garota! — Alex bradou, irritado. Aquela situação o deixava louco. Não pelas coisas que diziam dele, pouco o importava. Mas agora, Blake estava triste. Era tudo que passava em sua cabeça. — Ela está na cabana?
 
  Jude, um tanto amedrontada, acenou com a cabeça, e Alex não demorou para correr até o lugar.
 
  Pisando forte e rápido pela grama verde, tornando-se marrom pela lama das solas, ele sobe as escadas de madeira e olha pelos arredores. Se algum monitor visse, provavelmente o mandaria para outro lugar, fazer as atividades que tinha de ser cumpridas. Todavia, ele nem se importava. Afinal, mandaria nos outros como os peões que eram em sua presença. Nem todos, mas a maioria.
 
  Ele tocou na porta e esperou. Tocou mais uma vez, mas nada.
 
  — Blake? — Ele chamou. — Sua amiga me disse que estaria aqui. Abre a porta.
 
  Nenhuma resposta. Sua impaciência aumentou, sendo na verdade uma preocupação.
 
  — Blake. — Repetiu, tentando fazer seu cérebro funcionar a todo custo para pensar no que dizer. — ...Por favor...
 
  A garota girou a maçaneta, deixando uma pequena fresta para encarar o garoto, que teve os olhos brilhantes acesos assim que a viu bem, mas com olhos avermelhados e pouco inchados.
 
  — O que está fazendo aqui? — A voz delicada soou, e as mágoas pareciam transbordar.
 
  — O que você está fazendo aqui? Está todo mundo se divertindo e você chorando e se escondendo. — Alex abriu mais a porta, encarando a menina. — Foi por causa das coisas que estão dizendo?
 
  Os olhos escuros desceram para o chão. Ela nem conseguia olhar para o garoto. Alex respirou fundo, sabendo que teria que lidar com algo que não era nem um pouco capaz: sentimentos.
 
  — Por que você liga tanto, ein? Deixe de bobagem e vamos sair daqui. — Alex tentou do jeito cotidiano dele.
 
  Blake nem se mexeu. Ela estava chateada e aborrecida por causa das pessoas. Tinha vergonha do seu rosto, e não queria ouvir os outros rindo. E era bom que Alex também não visse, ou a coisa ficaria feia.
 
  — Como você consegue só ignorar? São coisas tão ruins... as risadas... elas nunca parecem parar. — Blake abraçou o próprio corpo. — Eu não quero que você tenha que ouvir isso. E não quero ouvir mais do que já me disseram.
 
  — Não vão falar nada, Blake. Eu prometo. — Alex disse de uma maneira impaciente.
 
  — Falaram que você só ficou comigo lá dentro por pena. Eu não preciso que você tenha pena de mim... — Blake olhou cabisbaixa para Alex.
 
  Respirando fundo, frustrado por nunca achar as palavras certas, ele deu um passo a frente e ficou acara a cara com a menina. Seus olhos de gato observando as bochechas sardentas avermelharem.
 
  — Eu ignoro porque...porque eu não ligo. — Ele tentava falar. — Eu só ligo pra você. Só o que você pensa já importa, então os outros não são nada, entendeu?
 
  E ela se esforçava pra colocar isso na cabeça. Tentava repetir mil e uma vezes até que alguma delas fosse verdade, mas tudo de ruim ia justo para seu coração enquanto retumbava as palavras num eco infinito. Alex se aproximou e beijou a bochecha da menina. Depois a têmpora, e por fim, a testa.
 
  — Melhor assim? — Ele perguntou, genuinamente curioso em saber se sua tentativa de consolo deixou a garota um pouco mais feliz
 
  Blake estava vermelha, quase sem acreditar no que aconteceu, e seu coração bateu numa alegria sem igual. Ela quase se esqueceu de como respirar.
 
  Alex pegou na mão da menina e a puxou para fora da cabana.
 
  — Vai ter guerra de balões d'água. Vamos, está calor pra caramba! — Ele a puxava enquanto a menina era arrastada de forma meio desengonçada.
 
  Blake se sentia tão bem com ele. Sabia que poderia contar com Alex em qualquer ocasião porque, de fato, ele gostava mesmo dela. Por mais que sua cabeça tentasse sabotar isso, ela acreditava numa parte do garoto onde ele era gentil e amável. Não por pena.
 
  — Alex... — Ela o chamou, o fazendo virar em sua direção.
 
  — Alex... Alex... Alex?
 
 
 
 
  — Alex? Tá aí? — A voz de Myers me tirou dos pensamentos de forma abruptam Pisquei algumas vezes e, quando percebi, Blake havia seguido seu rumo.
 
  Eu estava preso em minha cabeça... de novo.
 
  — Acho que ele perdeu toda a conversa estando nesse mundo estranho da cabeça dele. — Daniel deu um peteleco em minha têmpora, fazendo minhas sobrancelhas unirem.
 
  — Vocês falam demais, que merda ein. — Irritado, apenas segui meu caminho para minha próxima aula.
 
  Para meu azar, ou sorte, era literatura. Sentar ao lado dela era... estranho. Sua mesa tinha a bagunça mais arrumada que já vi, e eu poderia usar a visão periférica para olhar pra ela sem que ninguém notasse, nem mesmo a lerda.
 
  Eu sou Alex Rutherford Turner. Poderia ter qualquer garota que quisesse, com os títulos que eu bem entenderia e me gabar para todos. Posso fazer o que bem entendo, e não ligo pra deslizes no processo. Se não me afeta, então que se foda.
 
  Então, talvez eu volte para o começo e minha cabeça retumbe a porra da mesma pergunta que me fazia querer arrancar meu cérebro fora.
 
  Posso ter tudo e qualquer coisa que eu quero, exceto Güenevere Blake Lavender Benson.
 
  Por que justo ela?!

S.O.S Adolescentes No Ensino Médio (ORIGINAL)Onde histórias criam vida. Descubra agora