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Any Gabrielly

— Quando decidiu ser artista? - Josh questiona ao beber um gole de água.

— Eu meio que estava no fundo do poço, não tinha ânimo pra nada, aí lembrei que gostava de desenhar, fui até uma loja e comprei um caderno, lápis, canetas e tintas, voltei pra casa e fiquei o dia inteiro sentada desenhando. Sem brincadeira, acho que desenhei em umas vinte páginas naquele dia. Depois disso eu quis pintar quadros, postei por diversão nas redes sociais e as pessoas começaram a acompanhar, não eram muitas pessoas, mas as poucas me incentivavam a continuar desenhando e postando.

— Então eles começaram a perguntar se você vendia os quadros que fazia.- Josh supõe.

— Exatamente. E foi nesse momento que uma lâmpada acendeu na minha mente. Fiquei tão eufórica que passei a madrugada pintando e desenhando, acordei com um pincel coberto de tinta grudado na minha testa.

— Ouvir você falar do que gosta faz seu olho brilhar.

— Eu queria ser artista quando criança, mas minha mãe jogou todos os pincéis e tintas que eu tinga fora, dizendo que eu perdia meu tempo com bobagens ao invés de fazer o jantar.

— O quê fazia na sua infância?

— Além de fugir de casa pra poder ser uma criança normal? Eu gostava de ir em papelarias, olhar os matérias, sentir o cheiro dos lápis novos nas caixas. Meu sonho era uma maleta com tintas, pincéis, gis de cera que ficava na vitrine de uma loja perto de casa, aquela maleta era como uma boneca muito cara nos olhos de outra criança. Eu até tentei juntar dinheiro pra comprar a maleta, consegui juntar vinte dólares.

— Quanto era a maleta?

— 800 dolares. - Respondo rindo. — Esses vinte dolares meu pai pegou e comprou bebida.

— Quando digo que você é uma mulher forte acredite, passar por tudo que você passou e ainda sorrir mostra que você é uma mulher forte.

— Eu me sinto uma covarde, uma covarde que se esconde nesse apartamento e não vê o mundo lá fora.

— A nossa zona de conforto nos trás segurança, mas é bom sair e arriscar um pouco as vezes.

— Eu me sinto desregulada e desnorteada quando saio de casa. Eu desacostumei a viver em sociedade, você me entende?

— Posso compreender.

— Pra mim esse apartamento era o lugar mais seguro do mundo, eu acreditava que ninguém poderia entrar por aquela porta e me machucar.

— Você não vai mais se machucar.

— Queria ter tanta certeza assim.

— Tenha confiança em si mesma, e vai dar tudo certo.

— Você fala coisas motivacionais sem camuflar uma crítica, obrigada por isso.

— O Davi fazia isso com você?

— Sim, ele mudou depois que teve alguns problemas com a boate, ele ficou mais frio, eu o considerava um pai pra mim, mas ele foi deixando de ser isso através dos meus olhos, e eu só descobri tarde demais. Ou eu só descobri isso agora, talvez já estivesse estampado na minha frente e eu era cega demais pra ver.

— Você me ensina a desenhar? - Sua pergunta repentina me faz franzir as sobrancelhas.

— Assim, do nada?

— Uhum, você tem os pincéis, as telas e as tintas, o quê falta? Só me falar que eu compro.

— Você não precisa comprar nada.

Old MeOnde histórias criam vida. Descubra agora