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Any Gabrielly

Enquanto pintava sinto uma grande pressão no pulso, tão grande que deixo o pincel cair e sujar o chão inteiro de tinta.

— Droga.

Me levanto e limpo a pequena sujeira antes que a tinta manche meu carpete.

Lavo minhas mãos e volto a pintar o quadro que me custou dois pincéis, uma dor insuportável no pulso e uma tela cara.

Acho que hoje não é o meu dia.

Olho no relógio e vejo que já são quase meio dia. Eu não tenho nada em casa pra almoçar e Davi está ocupado na boate.

Só me resta sair pra comer, se Davi souber que cogitei em pedir Delivery ele me mata.

Termino de fechar as tintas e vou até meu quarto e coloco minha tala, pego um casaco e saio em busca de um táxi.

Mas dessa vez não tenho sorte, nenhum carro passa por mim.

Está fazendo muito frio e eu não me preparei pra isso, só coloquei um casaco não tão quente. Tenho que pegar a mania de olhar a previsão do tempo antes de sair.

Decido ir caminhando até o restaurante em frente ao meu antigo prédio, a última vez que vi ele foi quando estava em construção há uns três meses atrás.

A antiga proprietária era mão de vaca, gastava quase nada na manutenção do prédio, é de se admirar que o prédio ainda se encontra de pé.

Quando chego no restaurante me apresso em entrar pois lá fora está congelando.

— Olha quem voltou! - A senhora muito simpática diz ao me ver. — Pensei que tinha saído da cidade.

— Eu acabei me mudando de onde estava há um ano, fiquei ocupada com o trabalho e quase nem saia de casa.

— Você é tão jovem e já trabalha tanto...

— Queria ser jovem assim como eu sou nos seus olhos Sra, mas eu estou chegando nos 30 anos.

— Nem parece. Vem, eu vou preparar o seu prato favorito.

— Nossa, que saudade de comer um macarrão feito por uma Italiana nata!

— Se sente aí mocinha, eu vou preparar o seu prato e já volto.

Assinto.

Me sento em uma das mesas e vejo que o restaurante está vazio, ele não era assim há um ano atrás.

Lembro de estar sempre cheio e ter que disputar um lugar com alguém pra poder comer aqui.

Olhava para o lado de fora quando vejo Sabina e Heyoon passarem em frente ao restaurante, desvio o olhar, encarando o menu sobre a mesa.

Escuto o barulho do sino sobre a porta e olho de canto de olho, vendo as duas entrarem.

Pego meu telefone que toca no meu bolso e atendo.

— Alô?

Houve um pequeno problema em relação a data de entrega de um cliente, tem como você terminar um pouco mais cedo o quadro? – O cara questiona me fazendo rir.

— Eu não posso acelerar o processo de secagem das tintas Sr.

Nesse momento vejo que elas me olham assustadas.

Eu sei, mas eu preciso desse quadro pra amanhã.

— Olha, eu vou ser bem sincera com você, o pedido foi de uma tela pintada de tinta a óleo com vários detalhes. A tinta a óleo demora pra secar entre as camadas, mesmo eu estando em um cômodo bem ventilado ela demora pra secar. Eu não sou uma maquina que você coloca na velocidade 2x e faz o trabalho na metade do tempo estipulado. E ainda estou com o pulso machucado, eu nem deveria estar pintando um quadro.

Old MeOnde histórias criam vida. Descubra agora