29. raivosa

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luiza point of view
📍chácara fernandes – 10:40pm

passei a madrugada inteira acordada basicamente, consegui cair no sono quando já tinha amanhecido. levantei, lavei o rosto e troquei de roupa pra descer.

nem sei descrever como eu me sinto, que sensação péssima. e minha cara mais ainda, parece que faz uma semana que eu não durmo, me sinto um zumbi.

meu celular tava' cheio de notificação que eu tinha visto chegar mas nem fiz questão de ver. o pessoal mandando mensagem perguntando onde eu estava e coisas do tipo. o barreto provavelmente avisou que estava tudo bem e que já estávamos em casa, porquê em algum momento eles pararam de me bombardear com mensagens e ligações.

desci as escadas e já estavam todos na cozinha, tomando café da manhã e conversando. esse pessoal tá' sempre de bom humor e fazendo piada, eu amava isso, me fazia esquecer que a gente tinha problemas lá fora. sentei do lado de ajota e coincidentemente em frente ao apollo.

ajota me abraçou de lado e me deu um beijo no topo da cabeça. apollo me encarou com uma feição que eu não conseguia distinguir e aquilo me despertou curiosidade. mas tu ia conversar com ele? porquê eu não vou. meu deus, nunca quis tanto que essas férias acabassem.

— seloco', lu, chegou bem na hora – bmo diz empolgado — cê' nem imagina quem invadiu o palco ontem.

— mentira! teve' artista surpresa?

— teve eu – schuler diz e o pessoal ri. esse menino é louco — veigh ficou moscando' lá, eu que não ia perder a oportunidade. logo subi no palco!

— mano, cê' é louco – falo e ri, imaginando a cena. top coisas que eu faria se tivesse um parafuso a menos — não apanhou dos seguranças não?

— sou sagaz, óbvio que não – diz todo orgulhoso — ele me deixou cantar no microfone também.

— pior coisa que ele poderia ter feito – neo diz, lembrando — voz feia da porra, bêbado e rouco ainda, até tampei o ouvido na hora.

— agora tá' explicado porque na hora que ele subiu eu vi o pessoal indo embora – bigão diz, comendo seu pão — os cara se recusou a ouvir o schuler cantando.

— até eu, mano – leonardo diz — quase fiz o contratante devolver o dinheiro, paguei pra ver veigh e os cara trouxeram o ajota depois das drogas.

— ih', que tiração hein' – ajota diz — não lembro de quase nada, mano. sei que acordei no tapete agarrado com a garrafa de red.

— que bom a noite foi boa pra algumas pessoas – digo sem pensar e o pessoal me encara. ótimo, pesei o clima — que foi? eu torci o pé, mano.

obviamente era mentira. eu ia falar o que? que vi meu ficante beijando outra? nem morta, ainda mais com ele estando presente.

e falando em presente, a única pessoa que não vi até agora, foi o sem noção do trunks. deve estar na rua até agora, bebendo e comendo puta. é bem a cara dele mesmo.

— pode deixar que eu cuido, coisa linda – tavin diz, arrumando a gravata imaginaria em seu pescoço e o pessoal ri — estudei anos pra isso.

— nossa, até se fosse verdade eu ainda não confiaria – alva diz — preferia morrer de dor mesmo.

— né? – ana concorda rindo — mas já tá' tudo bem com você, amiga?

— acho que eu também – falo e vejo tavin fingir chorar, me fazendo rir — tô' bem sim, nem foi nada demais. só tenho que usar a bota ortopédica por um tempo.

[...]

depois do café o pessoal foi lá pra fora organizar as coisas pra fazer churrasco mais tarde. minha mãe tirou o dia de folga pra ela hoje e disse que não faria comida. nem preciso dizer o drama que os meninos fizeram, né? bmo disse que ia fazer greve de fome, schuler disse que ia pedir o divórcio e o neo falou que não sobreviveria. minha mãe acha graça desses meninos, até gravou eles reclamando e disse que postaria no reels do instagram, que com certeza ia viralizar. não aguento, mano.

— amiga, onde tem tábua pra cortar as coisas do vinagrete?

— pera', vou pegar pra você.

falo e kakau assente, mas é chamada por jota lá fora e sai da cozinha, me deixando sozinha. pelo menos eu achava que estava, até ficar na ponta dos pés pra pegar a tábua no armário alto e a mão dele ser mais rápida e alcançar a tábua pra mim, me entregando.

— valeu.

— você não vai me dar uma chance pra gente conversar, né? – apollo diz, encostando no armário — por favor, lu.

— não tem o que conversar – digo colocando a tábua em cima da bancada, pra kakau pegar — cê' não me deve satisfação, a gente só não vai ficar mais.

— eu sei, eu quebrei o combinado – ele falava enquanto eu procurava pelos legumes na geladeira, quase que o ignorando — mas não foi minha culpa, eu...

— você o que, apollo? pelo amor de deus – digo já sem paciência, isso não ia levar a gente a lugar nenhum — eu já falei que não tem o que conversar, só me deixa em paz e vive sua vida.

— porra, luiza, você é difícil demais mano.

diz e sai do cômodo, me deixando sozinha. eu não queria dar o braço a torcer, por mais que eu quisesse me resolver bem lá no fundo, alimentar isso não ia dar certo.

talvez fosse até melhor assim, aí eu não precisava me preocupar em esconder nada do leonardo e nem de ninguém. ia voltar pra são paulo, continuar a minha rotina de antes e agir como se nada tivesse acontecido. confiança só se quebra uma vez.

— eu escutei a conversa sem querer, desculpa – kakau diz e eu ri, quebrando o clima — ai amiga, que ódio.

— nem fala, kau. eu quebraria a cara dele agora se pudesse – falo e ela ri, me ajudando a pegar as coisas e levar pra área da churrasqueira — ele ainda teve coragem de dizer que não teve culpa.

— meu ódio é por querer vocês juntos – diz e eu dou tapas fracos nela, que ri — não me bate, é meu traço tóxico. ele tava' muito louco amiga, bêbado mesmo, nem reconheci ele ontem trazendo pra casa, parecia travado de droga, credo.

— mesmo assim! ele não é criança, se não sabe beber toma xixi – falo e ela ri, começando a cortar os tomates — e mesmo se eu escutar ele, não vou querer ficar de novo. a não ser que tenha uma desculpa muito boa mesmo, pra conseguir me enganar.

— ó o discurso mudando, luiza – fala e eu ri, percebendo quão boba eu era — você é muito boazinha, mano, consegue ter raiva de ninguém. eu te conheço não é de hoje.

— isso era antes, agora tô' raivosa.

falo por fim e vejo ela rir alto, achando graça. amava essa menina demais, nossa senhora!

mudamos de assunto por causa dos meninos que estavam por perto e poderiam escutar. queria evitar legal que lembrassem que isso um dia aconteceu. mesmo que fosse difícil até pra mim esquecer.

[...]

𝐌𝐀𝐃𝐑𝐔𝐆𝐀𝐃𝐀, 𝖺𝗉𝗈𝗅𝗅𝗈 𝗆𝖼.Onde histórias criam vida. Descubra agora