39. pagando com a língua

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luiza point of view
📍chácara fernandes

estava levemente irritada com a atitude dele, e eu nem sabia se eu poderia. lógico que eu não ia cobrar nada, mas também não conseguia agir como se não me incomodasse e isso chegava até a ser engraçado. fui pro meu banheiro e tomei um banho rápido, só afim de passar uma água no corpo pra poder deitar e finalmente descansar. vesti o pijama mais brega que eu achei no meu guarda roupa e deitei na cama. relaxei meu corpo e senti minha pele se arrepiar por inteiro, dos pés a cabeça. eu 'tava sentindo uma leve dor no corpo, do tórax até a cabeça, mas nada muito exagerado. acho que os efeitos de ter tomado bebida alcoólica quase todos os dias essa semana estão começando a aparecer. antes que eu pudesse fechar os olhos, escutei batidas leves na porta.

— eu posso entrar?

— uai, já entrou né – encaro ele, que 'tava com a metade da cabeça pra dentro do quarto — vem logo antes que o leo veja você aí.

— ele deve ir direto pro rolê, a galera toda já foi – passa pra dentro, nem se certificando se fechou a porta direito mesmo. caminhou até a cama e eu senti ela afundar, indicando que ele sentou ao meu lado — por que 'cê passou na sala daquele jeito? parecia um furacão.

— e agora você quer saber por quê? – me ajeitei e cruzei os braços, vendo ele semicerrar os olhos — vai lá sair de casal com a nakamura.

— eu não sei nem quem é nakamura – diz de uma forma engraçada e eu reprimi o lábio, tentando não rir — 'cê 'tá muito ciumentinha, dona luiza! não 'tô nem te reconhecendo mais.

— eu com ciúmes? até parece – fiz cara de tédio e ele riu, me dando um selinho rápido no qual eu nem tive como negar. acho que a raiva que eu sentia dele acabou de passar — 'cê sabe que a gente tem que resolver nossa vida, né? e eu acho que...

— que 'nóis tem que namorar? – diz e eu até me sento na cama, engasgada com a saliva — nossa lu, assim 'cê me deixa triste. eu nem sou feio.

— e quem disse isso, cara? – ri, achando a maior graça do drama dele — eu ia dizer que 'tô curtindo ficar com você, e acho que posso relevar os acontecimentos da boate mas...

— incrível como sempre tem um mas.

— sim – tento terminar de falar — mas é porquê...

— mano, é que tipo...

— rogério, fica quieto! 'cê não 'tá me deixando falar – digo já sem paciência e ele levanta as mãos em rendição, sussurrando algo que eu não entendi — mas penso que você não quer continuar ficando assim, né?

— assim como? assim distante né, só se for – ele diz e eu ri — você quase não me beija mais, só pisa em mim e me xinga o dia todo.

— nossa, quanto drama.

— nem é drama, sua chata – fez careta e eu ri mais — mas ainda não entendi o que você quis dizer com isso.

— sobre não poder me beijar em público, de ter que ficar escondendo que estamos juntos pra geral – encaro minhas próprias mãos. isso era uma droga mesmo — eu sei que é chato, ninguém quer ter que ficar nas escondidas por causa de terceiros, eu...

— você que não 'tá me deixando falar agora – diz e ri fraco, na tentativa de deixar um clima mais leve — isso não é um problema pra mim, lu. não como você pensa.

— como assim?

— tipo, é foda mesmo não poder te beijar na frente de geral e ter que escutar os cara falando que minha 'mina é gostosa na minha cara – diz e eu ri mais — ri não, cara! é complicado. mas mano, o que me deixa mais suave, é saber que nenhum deles pode te ter, se ligou? você é minha, 'carai.

— sou sua 'mina então? – pergunto brincando com os anéis em meu dedo e ele estala a língua, como se eu tivesse perguntado a coisa mais óbvia do mundo — não 'tava sabendo disso não.

— pois está ciente agora, fica esperta – brinca com as minhas bochechas, como se eu fosse uma criança — mas é só por isso 'memo, de resto, eu acho suave. e outra, é melhor isso do que parar de ficar com você.

— você jura?

— de dedinho se precisar – ele continua e eu sorri largamente — e mano, isso é questão de tempo só, a gente só precisa fazer ele se acostumar com a ideia, não deve ser nada de outro mundo.

— isso eu já não posso te garantir – ri sem jeito, e ele me dá um beijo no topo da cabeça, aproximando mais nossos corpos — sabe que vai precisar ter muita paciência, né?

— nossa, 'cê não acha que 'tá pedindo coisa demais não? – pergunta rapidamente e ri, me fazendo empurrar ele pra longe — pode nem brincar mais, luiza?

— hoje não, nem 'tô boa contigo – fiz bico e ele achou a maior graça, enchendo meu rosto de beijos — se ficar de gracinha vou lembrar que eu 'tava no maior ódio da sua cara. 'cê quer isso?

— já parei, coisa linda – ri e eu também — aí, agora que 'vamo voltar pra 'sampa vai ser mais fácil de esconder essa fita.

— verdade né, eu não tinha pensado por esse lado – digo sincera — é que todo mundo convivendo em uma casa só fica complicado mesmo.

— pior que é, mas eu até que gosto disso – diz e eu encaro ele, achando a maior loucura o que eu tinha acabado de ouvir — a adrenalina é gostosinha e além do mais, eu ainda posso te ver todos os dias e o dia inteiro, é como se morassemos juntos .

— você viaja, cara! – ele não diz mais nada, só ri e me da um selinho demorado — eu 'tava com saudade disso, sabia?

— e se fazendo de maluca, né? pagando de superada – diz e eu ri — o que foi que você me disse hoje mais cedo mesmo? deixa eu ver se eu me lembro...

— ai rogério, vai começar?

— fica com ela, porque comigo, 'cê não fica nunca mais – tenta me imitar, me fazendo rir descontroladamente — você se amarra em pagar com a língua, né?

— se for ficar tirando sarro da minha cara, eu te expulso desse quarto agora – digo e ele segura a risada, escondendo o rosto no meu pescoço — nossa mano, eu 'tô com um sono e um frio absurdo.

— dorme um pouco, coisa linda – beijou minha testa e eu fechei os olhos, sorrindo largamente — daqui a pouco eu te acordo pra gente comer alguma coisa, pode ser?

— uhum.

[...]

𝐌𝐀𝐃𝐑𝐔𝐆𝐀𝐃𝐀, 𝖺𝗉𝗈𝗅𝗅𝗈 𝗆𝖼.Onde histórias criam vida. Descubra agora