08. mancada minha

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luiza point of view
📍supermercado assaí – 11:11pm

fui uma das primeiras a acordar, na real, eu nem dormi. mas tive o azar de descer bem quando minha mãe tava olhando o que tinha na dispensa pra fazer o almoço hoje. lógico que quando ela me viu, fez questão de me pedir pra vir no mercado. eu me neguei? óbvio que não. não nego favor pra ninguém.

apollo acabou se ferrando junto, pois coincidentemente também desceu pra cozinha na mesma hora. talvez minha mãe tenha feito de propósito? talvez, mas a gente releva.

e aqui estávamos nós, no corredor de bebidas e já com o carrinho cheio. pois o inteligente do meu irmão e os amigos dele fizeram questão de levar um bilhão de bebidas, menos qualquer uma que não fosse alcoólica. devia pôr eles pra tomar café da manhã com pão e vodka, pra ver se aprendem.

— me contaram a parada da sua paixãozinha por mim nas antigas – ele diz, acabando com o silêncio entre nós enquanto eu encarava os sucos na prateleira a minha frente — por que cê' nunca me contou?

— e por que eu contaria? – digo pegando as caixas e botando no carrinho — isso foi coisa de criança, eu era novinha. e outra, metade do brasil era apaixonado por você e pelos meninos, pode perguntar pra qualquer garota aí.

— isso é, mas é diferente, porque a gente se trombava' nos rolê e temos idades parecidas – riu enquanto empurrava o carrinho, me acompanhando — tipo, se naquela época você falasse sobre isso, nois' provavelmente teria ficado e pa.

— talvez, mas nunca vamos saber – ri — eu não tinha maldade também, quando cresci mais um pouco, na época do seu estadual, que as coisas mudaram.

— jura mesmo? porra, como eu nunca percebi? – diz e eu dou de ombros, rindo. isso era muito bom — você tava no dia que eu ganhei, não tava?

— sim, lembro que nesse dia o thiago disse que ia arrumar você pra mim – ri — ele sabia como eu queria. mas deixei pra lá, quando vi que você desceu do palco e foi direto abraçar uma garota na plateia.

— nossa lu, que mancada. dessa parte eu lembro, era uma ficante minha da época – ele diz com certo peso na fala e eu ri. tava achando engraçado ele agindo como se aquilo ainda me afetasse — eu quebrei seu coração e cê' tá rindo? não é possível.

— se liga, japonês. você não quebrou meu coração, eu só tava botando expectativa que ia dar um beijinho no meu crush de infância, né – falo assim que chegamos no caixa, pra passar as compras — me zoam por isso até hoje. o leo riu da minha cara e o thiago ficou tentando me consolar. mas agora, quando eu lembro, começo a rir sozinha.

— é né, antigão' isso mesmo, ainda bem que cê não guarda magoa – ele diz enquanto empacotava as compras — po, pior que naquela época geral era doido pra ficar contigo, mano.

— aé? dessa eu não sabia.

fomos andando com as sacolas até o estacionamento, enquanto eu escutava ele falar.

— te juro, po. até hoje sepá'. sabe como seu irmão é né, não deixava ninguém ficar de muita maldade. lembro dele discutir com o trunks por causa disso, ri muito naquele dia. sem contar o vermeio e até o jaya.

— mentira, mano – ri — do trunks eu já sabia. mas é engraçado como essas coisas só vêm a tona depois que passa maior tempão' né? mas eu entendi o quê cê' me disse sobre o leo ontem, antigamente ele tinha até razão, eu era mó' novinha.

— é isso, mano. mas ontem na roda nois' trocou uma ideia, com o tempo ele se acostuma com isso.

— é, isso é verdade.

já estávamos dentro do carro, pouco depois ele deu partida e eu observei ele dirigir a caminho da chácara, todo concentrado. botei a minha playlist pra tocar e relaxei o corpo no banco, enquanto cantarolava a música de fundo.

eu não ia contar pra ele o que realmente aconteceu, eu não queria, já que na minha cabeça ele já sabia de tudo e só tava disfarçando ou sei lá. mas só pelas perguntas, pela forma como ele reagiu, me despertou a vontade de tirar a limpo.

abaixei consideravelmente o volume da música e observei ele me encarar, sem entender o motivo da minha ação.

— você realmente não lembra, né?

— não lembro do que?

— que na seletiva do estadual a gente passou horas conversando, que eu te mandei mensagem na dm te elogiando e dizendo que tinha amado nossa troca de ideia e você se quer respondeu.

— do que cê' tá' falando, luiza? eu não fazia ideia disso.

— te juro, po. eu não ia inventar uma história criativa assim – ri sem graça — cê não respondeu e ainda por cima, quando nos vimos de novo, você nem me cumprimentou. mano, quando a gente conversou, eu senti que eu tava sendo a luiza. no outro dia, parecia que pra você eu só era a irmã do leozin. e se fosse hoje em dia, eu não ia estar nem aí, saca? mas na época eu era louca por ti e aquilo mexeu comigo de verdade.

— porra, luiza. me desculpa mano – ele acaricia minha mão — eu real não lembrava disso, não sabia que tinha sido tão escroto. na verdade, eu nunca fui esse tipo de pessoa, não tô falando isso por causa do deu irmão, to falando que eu jamais agiria assim com qualquer outra garota.

— agora eu sei disso, rogerin. mas antigamente eu não pensava assim.

— e tá' na sua razão, pô. mas ó, cê me perdoa?

— óbvio, né – ri — não guardo magoa disso não cara, hoje em dia é como se nem tivesse acontecido. eu só tô te contando porque realmente pareceu que ce não fazia ideia. mas em outro caso, eu nem contaria.

— não fazia ideia mesmo. nossa mano, cê tem motivo pra me atirar do carro se quisesse.

encarei ele tentando segurar a risada mas sem sucesso. rimos juntos dos absurdos que ele falava e voltei a me concentrar na música. minutos depois, finalmente chegamos na chácara.

[...]

𝐌𝐀𝐃𝐑𝐔𝐆𝐀𝐃𝐀, 𝖺𝗉𝗈𝗅𝗅𝗈 𝗆𝖼.Onde histórias criam vida. Descubra agora