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Ao entrar no meu quarto, encontrei Daisy acariciando uma roupa minha, que eu havia deixado largada em cima da cama devido a minha fuga

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Ao entrar no meu quarto, encontrei Daisy acariciando uma roupa minha, que eu havia deixado largada em cima da cama devido a minha fuga. Ambas nos assustamos com nossas presenças.

Seu cabelo estava anormalmente solto e pude ver seus cachos naturais repousarem em seus ombros. Seus olhos estavam inchados e seu rosto sem vestígio da maquiagem leve que usava todos os dias. Não vestia uniforme, mas um vestido solto ombro a ombro, que exibia sua clavícula perfeitamente desenhada. Sua pele negra contrastava a cor verde do vestido. Estava em cima de sandálias de salto, que a deixava com uma postura invencível, mesmo que possuísse um semblante afetado em seu rosto.

Essa era a referência que eu tanto busquei atingir. Era assim que eu queria me assemelhar. Por que não a vi antes?

— Eu não pensei que retornaria para cá hoje, menina May. — Ela disse com sua voz vacilante.

Eu ainda estava na entrada do quarto, parada, encarando a mulher a minha frente. Tantos sentimentos passaram em uma fração de segundos...

Ressentimento.

Tristeza.

Ódio.

Tristeza novamente.

Traição.

Nos encaramos por longos segundos. Por estar fixa em seu rosto, me senti estúpida por nunca ter percebido a semelhança: nossas bocas são avantajadas, nosso nariz harmonicamente arrebitado e os olhos levemente puxados.

Como eu nunca vi isso? Como nunca enxerguei?

Ela abaixou a cabeça, dobrou minha peça de roupa em suas mãos e a deixou em cima da minha cama.

— Eu quero saber a verdade. — Disse firme e seus olhos foram novamente de encontro aos meus — A sua verdade.

Ela pareceu hesitar e o peso da verdade estava quase visível em seus ombros. Seus lábios se comprimiram e uma expressão de pesar marcou seu rosto. Ela olhou para o chão por um momento, como se tentasse encontrar forças para enfrentar o que estava prestes a revelar. Então, com uma elegância quase automática, ela se dirigiu à poltrona do meu quarto. Sentou-se de maneira graciosa, cruzou as pernas e apoiou o cotovelo direito no braço da poltrona, como se estivesse se preparando para uma longa conversa. Seu olhar se fixou em mim, a espera de uma reação. Eu, por outro lado, andei lentamente até a ponta da minha cama e me sentei a sua frente.

— Eu não pedi para me apaixonar pelo Charles. — Falou ao perceber que já estava acomodada. Sua voz era uma mistura de nostalgia e dor — Estava em um dia comum de trabalho, havia acabado de ser efetivada como enfermeira no Mont Sinai Hospital e finalmente consegui provar ao meu pai que era capaz de me virar sem seu dinheiro quando... — Ela ainda olhava para mim, porém seu olhar se desconectou do meu, como se ela tivesse revivendo o momento diante de seus olhos — Charles entrou na emergência, reclamando de fortes dores. O encaminhamos ao pronto atendimento e logo descobrimos que ele estava com diversas pedras no rim direito. O autocuidado nunca foi seu forte... — Ela esboçou um breve sorriso, quase imperceptível — Eu havia acabado de iniciar meu plantão e, devido à influência de Charles, o diretor do hospital determinou que uma equipe inteira fosse dedicada a ele. O procedimento foi simples, mas ele teve que ficar internado para expelir as pedras. Seu olhar esverdeado, seu sorriso, o jeito como falava... tudo isso me atraiu como um ímã. — Ela abaixou brevemente a cabeça e encarou sua mão, com um semblante envergonhado — Passamos dias nos conhecendo. Ele solicitou pessoalmente que eu continuasse o acompanhando até que ele recebesse alta, o que ocorreu cerca de duas semanas depois. Confesso que quando cheguei no hospital e vi o quarto vazio, fiquei profundamente triste. — Ela levantou o olhar e voltou a me encarar — O que eu não contava era que, ao término do meu plantão, ele estaria na porta do hospital, com um buquê de rosas, me esperando encostado em seu carro. Conhecê-lo fora do ambiente hospitalar foi mágico. Começamos a nos encontrar todos os dias e ele passava quase todas as noites no meu apartamento. Em alguns momentos ele precisava se afastar de mim para atender o celular. Até saía do meu apartamento para atendê-lo... E, não, eu não sabia que ele era casado. — Ela lançou um sorriso pesaroso em minha direção — Dias depois, Ruth apareceu no hospital, fingindo passar mal. Ela me encarou de um jeito perturbador, quase como se pudesse me exterminar com o olhar. — Daisy balançou a cabeça, como se tentasse afastar a lembrança — Eu não tinha ideia de quem ela era. Nesse mesmo dia, Charles chegou em minha casa completamente transtornado.

Abelha-Rainha 🐝Onde histórias criam vida. Descubra agora